Mês: julho 2013

A vida entre parênteses

Tive a felicidade de participar de uma aula com o Moacyr Scliar no  Curso de Formação de Escritores e Agentes Literários (RIP), na Unisinos. Alegres parênteses na minha vida, que se abriram e se fecharam, mas que guardei em uma caixinha importante, colorida e bem decorada, junto com a cena literária gaúcha, as edições da Feira do Livro de Porto Alegre, as oficinas maravilhosas e gratuitas da Feira do Livro (reduz a Bienal a pó), os expoentes da literatura e da ilustração, que estarão para sempre no meu coração, fazendo rimas bregas com o ditongo nasal decrescente “ão”. 🙂

Esse é uma crônica dele de que gosto muito e que precisava compartilhar 🙂 .

 

A VIDA ENTRE PARÊNTESES

(Moacyr Scliar. Jornal Zero Hora, 05/02/1992)

Leitor pergunta por que uso tantos parênteses nas minhas crônicas (leitores inteligentes conseguem descobrir no texto particularidades significativas). A pergunta me fez pensar (não chega a ser um evento raro na minha existência, mas pensar entre parênteses não era algo que eu fizesse com freqüência). E então me dei conta de que os sinais gráficos, mais que as letras (por muito importantes que estas sejam), veiculam emoções. Quanta emoção numa exclamação! E pode haver dúvida maior que a do ponto de interrogação? Sobre isso sempre somos reticentes… Mas temos que admitir que certos sinais, como, por exemplo, a vírgula, esta pequenina serpente que, de espaço em espaço, atravessa o caminho, sempre acidentado, de nossa frase, é uma evidência, não muito clara, decerto, mas evidência, sim, de nossa indecisão.

Já os parênteses (a discussão a respeito foi propositalmente omitida no parágrafo anterior) têm uma significação (alguns não admitirão que é uma significação, mas enfim), os parênteses, dizia eu quando os parêntese me interromperam, traduzem não apenas uma forma de escrever, mas, (o que é mais importante), um modo de viver. Sim, porque se pode viver (ainda que não plenamente) entre parênteses. O garoto (ah, esses garotos) que no meio do tema se distrai pensando na sua coleguinha (aquela lindíssima) está vivendo entre parênteses. O executivo, que no meio da tarde (nessas horas que os americanos chamam de “menores” mas que para muitos são as maiores), sai para uma escapada (e deem a esta escapada a interpretação que vocês quiserem) está vivendo como? (a pergunta era para ficar soando retoricamente, mas não me furto a dar aqui a resposta: entre parênteses).

Sim, confesso: gosto de parênteses (deve ser uma espécie de perversão). Uma vez escrevi um livro chamado (O Ciclo das Águas). O título era assim mesmo, entre parênteses, (eu queria simbolizar com isto um ciclo fechado). Deu tanta confusão que, nas edições seguintes, tive de tirar os parênteses (para escapar dos parênteses, só mesmo assim, em novas edições. Lamentável é que a vida tenha uma única edição. Muitas vezes esgotada. Muitas vezes entre parênteses).

Mais uma vez, Bergoglio

Quase nunca exponho minhas opiniões sobre a igreja católica porque religião é um assunto que desperta paixões…ou seja, toda e qualquer discussão a respeito acaba descambando para o lado emocional. E quando alguém me chama para uma discussão emocional, eu olho, respiro fundo e digo: “amiguinho, tenho mais o que fazer”. Mas passamos uma semana inteira tendo overdose papal e é difícil alguém conseguir não tocar no assunto.

No caso específico do Papa e o meu post que causou – e causa – histeria coletiva, minha indignação foi pela cara-de-pau de vender indulgências em troca de seguidores nas mídias sociais. Além disso, pelo uso de dinheiro público para um evento religioso em um Estado que se diz laico.

Eu não vejo TV. Não tenho tempo, nem paciência, as únicas coisas que acompanho pela TV são os programas The Love School e José do Egito. Minha informação vem de livros, revistas e internet. Mas não teve como não saber da cobertura da JMJ, feita pela mídia. É ainda mais absurdo ver de fora a maneira como a coisa tem sido conduzida. E o lastro que a visita de Bergoglio deixou foi algo do tipo: “oh, como ele é simples” ou, como disse a capa da Veja: “O papa dos pobres”

Não se iludam. Ratzinger saiu por estar com sua imagem desgastada pelos escândalos do Vatileaks. Bergoglio foi escolhido para fazer uma linha de falsa reforma da igreja, com uma maquiagenzinha básica, o papa bonzinho, simples, “do povo” para tentar evitar a diáspora dos jovens católicos para as igrejas evangélicas e diminuir o impacto das denúncias recebidas durante a gestão anterior, como se a mudança de pontífice mudasse a estrutura da igreja romana… Vou acreditar nessa conversa de “simplicidade e pobreza” quando ele abrir os cofres do Vaticano e doar toda a riqueza acumulada para os pobres da África…ou do Brasil, já que ele gostou tanto daqui.

 

 

PS: Para isso tenho um blog e não participo mais de grupos de discussão. Para escrever o que penso, expor minhas opiniões (quase sempre polêmicas, porque o mundo vai na onda do pensamento único) e contribuir com a pluralidade de ideias no mundo do cache do Google. Não para discutir com outras pessoas, porque nem tempo para isso eu tenho.