Mês: janeiro 2016

Os cinemas vazios do UOL

No Market Place: não se fazem mais salas vazias como antigamente... (Foto: Demetrio Koch)
No Market Place: não se fazem mais salas vazias como antigamente…                        (Foto: Demetrio Koch)

A campanha contra o filme Os Dez Mandamentos continua a todo vapor, capitaneada pela dupla dinâmica UOL/Folha de São Paulo. A coisa funciona mais ou menos assim: eles vão a campo, coletam dados já filtrados por seu preconceito e montam o texto de modo a manipular a opinião dos leitores para que se encaixe à deles. Texto 100% opinativo disfarçado de informativo.

A estratégia da vez é divulgar que as sessões que estavam esgotadas na pré-venda ficaram vazias na estreia. Para isso, usaram como exemplo UMA sala de cinema de São Paulo… São Paulo, aquela cidade que tem quase 300 salas de cinema…você leu direito, quase TREZENTAS. Os últimos dados dão conta de 282, mas são de dois anos atrás. Uma em 282 é menos que 1%. Acho que deveriam ensinar estatística no curso de jornalismo.

O texto do UOL tenta jogar com a percepção do leitor: “Em São Paulo, porém, algumas salas que já estavam com as entradas esgotadas não lotaram. (…) o Cinemark do shopping Boulevard Tatuapé, na zona leste de São Paulo, computava quatro sessões esgotadas: 12h45, 15h30, 17h15 e 18h15. O local é um dos preferidos pelo público que mora na região e também um dos mais próximos ao Templo de Salomão, que pertence à Igreja Universal do Reino de Deus”.

As palavras não foram escolhidas por acaso. A intenção é dar a entender que esse shopping fica do ladinho do Templo e que (olha a lógica) seria a escolha mais óbvia para quem é da Universal. Assim, o leitor é induzido a acreditar que se alguma sessão desse cinema estivesse vazia, seria indicativo de que algo estava errado.

No entanto, o Boulevard Tatuapé fica a quase 4 km de distância do Templo de Salomão (mesma distância dos Shoppings Lar Center, D e Center Norte, que também têm cinema). E mesmo se fosse perto: qualquer deslocamento em São Paulo é um parto e a proximidade das coisas vai depender do meio de transporte que você costuma usar, do horário e do dia em que se aventura a sair e de onde você vem. E, não sei se os repórteres do UOL sabem, mas os pastores não nos mantêm guardados em potinhos dentro do Templo de Salomão. Sei que deve ser um choque para o UOL essa informação, mas cada membro da Universal mora em sua respectiva casa.

A matéria “analisa” duas sessões: exatamente na hora do almoço (11h45 e 12h45) em um dia de semana. Segundo o redator, na bilheteria restava apenas um ingresso para compra, mas a sala não chegou à metade da lotação (sim, o que eles chamam de “vazio” é uma sala meio cheia). No entanto, segundo a gerência do cinema, “a reportagem do portal entrou em uma sala que não fazia parte da pré-venda, e sim com ingressos vendidos hoje de forma avulsa, na qual os espectadores ainda entravam quando foi tirada a foto”.

Sinceramente, pelo nível de apuração do jornalismo do UOL, confio muito mais na informação da gerência do cinema. E esse dado (que o jornalista não apurou ou ignorou conscientemente?), desmonta todo o argumento do texto: se a sala não fazia parte da pré-venda, então não pode dizer que “salas cujos lugares se esgotaram na pré-venda” estavam vazias. Não visitou nenhuma sala cujos lugares se esgotaram na pré-venda. E algum outro jornalista visitou? Como saberemos?

Aí você analisa o restante da mídia e dá vontade de se mudar para Marte. Todo mundo reproduzindo a matéria do UOL e a matéria da Folha (que, veja só que lindo, também cita a matéria do UOL), em uma demonstração do pior jornalismo-preguiça que você pode imaginar. Ninguém apura nada, ninguém pesquisa nada, ninguém vai atrás de novas informações. É o jornalismo-fofoca em último grau. Estado terminal. Eu teria vergonha de assinar uma matéria assim.

Alguém já viu repórteres contando o número de pessoas nas salas de cinema na estreia de algum outro filme nacional?  Quem está acostumado a ir ao cinema em estreia, sabe que há sessões que lotam e há sessões que não lotam e isso é tão natural que jamais seria notícia. Com o aumento da procura, novas salas foram liberadas e, com isso, mais lugares vazios à disposição para serem comprados.

É possível que algumas das pessoas presenteadas com ingressos por membros da igreja não tenha ido ao cinema? É possível, mas se isso realmente tivesse acontecido em massa, o pobre jornalista do UOL não precisaria ir láááá no shopping Tatuapé na hora do almoço em um dia de semana para conseguir o clique de metade dos bancos vazios. Nem o outro precisaria recorrer a um cinema cuja projeção parou no meio e foi vaiado pelo público (o escriba deu a entender que o público vaiou o filme…pensa…o filme é tão ruim que o público vaia quando a exibição é interrompida? Se fosse ruim, o pessoal teria aplaudido o problema técnico rs). O problema, na verdade, é mais embaixo…e, para entendê-lo, precisaremos descer à crítica da Folha de São Paulo.

O texto do crítico de cinema da Folha, Inácio Araújo, é deprimente. O cidadão comete um texto tão mal estruturado que parece ter sido rabiscado no pacote de pipoca. E no escuro. Diz que o filme deveria se chamar “Os Dez Mandamentos – O Pesadelo”, possivelmente por ter dormido durante toda a exibição, a julgar pela análise superficial em parágrafos tão mal conectados que nem merecem comentário, exceto pela frase final, que mostra com clareza qual lente ele usou para assistir ao filme: a do preconceito. Segundo ele, não era para ser um bom filme, um bom divertimento ou um ato de fé, “era para ser uma demonstração de força da Igreja Universal proporcional à torniturante e onipresente trilha musical”.

[Confesso que não sei o que me incomoda mais: se a clara demonstração de preconceito ou se um texto ruim terminar pior ainda, no mais canino eco: universAL proporcionAL musicAL… AL…AL…AL.

Who let the dogs out?]

Essa frase é reveladora. Nela está a razão de todos os ataques que o filme vem recebendo. Quem critica Os Dez Mandamentos não está indo assistir a ele como assistiria a outro título, porque acha que o objetivo não era fazer um filme e, sim, mostrar a força da Universal. Logo, não se importa em avaliar o filme, mas em atacar, na tentativa de reduzir a força da Universal. Por isso, o desespero em mostrar salas vazias, em tentar dizer que não temos tanta força assim, afinal.

Por isso, os argumentos deles parecem nonsense para nós. Estamos indo ver uma coisa, eles estão indo ver outra. Mas qual é o interesse de veículos de comunicação em atacar uma igreja? Por acaso são representantes de outra igreja que serve a um senhor diferente? Seria a única explicação a fazer sentido.

Porque os ataques não são contra a Record. Ela entra no balaio por causa da igreja (tanto é que, sempre que há menção da Record, vem junto de “a emissora do Bispo Edir Macedo” ou “a emissora da Igreja Universal”), mas não é ela o alvo principal. Não se trata de uma briga entre emissoras ou grupos de comunicação. Os veículos de comunicação são apenas a voz. A mente por trás dessa voz é que tem extrema necessidade (beirando o desespero, como se vê) de fazer com que as pessoas acreditem que não há força na Universal. O grupo Folha (do qual o UOL faz parte), a Globo et cetera estão ali apenas de papagaio de pirata.

Sabemos que, não importa se a mensagem do filme é positiva, se a produção foi boa, se a novela foi um sucesso incontestável e se o filme bateu recordes de bilheteria, não tem como agradar quem está do lado negro da força. E nem temos interesse nisso (aqui falo como membro da Universal, mas acho que a igreja tem essa opinião, também). Mas, por uma questão de ética, é nossa obrigação divulgar a verdade, mostrar os fatos como eles são. A mídia, infelizmente, há muito tempo não tem esse compromisso.

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PS: No final das contas, o desespero fez com que passassem vergonha na internet. A Record já respondeu e o pessoal começou a mandar fotos das salas lotadas (clique aqui para ver a resposta e a galeria de fotos no portal Universal.org).

ATUALIZAÇÃO: Para provar que sempre tem como piorar, alguns anos depois, vários jornais repetiram a farsa, no lançamento do filme Nada a Perder. Sobre isso escrevi um artigo no R7: Nada a Perder: um filme que incomoda muita gente

Sobre o filme Os Dez Mandamentos

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Assisti ao filme Os Dez Mandamentos e não poderia deixar de dar minha opinião aqui. Primeiro, a edição foi excelente. Eu temia que pudesse ficar com cara de trailer e perder partes importantes, mas não foi o que aconteceu. A direção de conteúdo privilegiou a narrativa bíblica, o que faz desse o filme mais fiel ao original de todos os que já assisti sobre Moisés. Aliás, se você quiser aproveitar melhor o filme, aconselho que esqueça a novela, os personagens secundários (e alguns principais) e as tramas paralelas e tente assistir como se não tivesse visto nenhum daqueles personagens ainda. Entenda cada um deles do modo como o filme os apresenta e não da forma como a novela retratou. A experiência será bem mais completa.

Acho que uma das coisas mais legais dessa versão de Os Dez Mandamentos (tanto o filme quanto a novela) é que é a primeira vez que eu vejo um Moisés coerente com a descrição que a Bíblia dá sobre ele. Um Moisés mais contido, o homem mais manso que havia na terra.

Sempre que lia, ficava imaginando que tipo de líder ele seria. Que terreno fértil e rico para a imaginação de um escritor é um líder manso, educado e civilizado à frente de um povo rebelde, cabeça-dura e um tanto selvagem. As vezes em que Moisés perde a paciência estão muito acima do nível de tolerância que costumamos ter. Em outras palavras, já teríamos arrancado a cabeça de todo mundo e Moisés ainda estava começando a se irritar.

A produção da Record conseguiu levar para a tela exatamente o que eu imaginei. E a interpretação de Guilherme Winter deu o tom exato do Moisés bíblico. Os personagens, aliás, foram um dos (muitos) pontos altos da trama.

Antes de pensar em ser escritora, eu queria ser atriz. Estudei interpretação e uma das similaridades que vejo entre o trabalho do escritor e o do ator é a construção de personagem, que começa por dentro. Você entende a mente do personagem, a maneira de pensar, as lentes que usa para ver o mundo. Daí, parte para suas ações e palavras. Muito do mundo do personagem é interior e nunca será visto pelo público ou pelos leitores, mas é o que faz diferença na credibilidade que ele terá. E isso a gente percebe nos personagens de Os Dez Mandamentos. É isso que dá profundidade às cenas.

O filme é, basicamente, a história da libertação dos hebreus contada ao povo por Josué (com algumas narrações em off que ajudam a avançar a história). Assim, o foco se mantém nos principais acontecimentos, que são mostrados em uma sequência bem montada.

Fora a vontade de que o filme não acabasse nunca, a principal razão de eu realmente achar que poderia ter uns 30 minutos a mais era para mostrar melhor as pragas, pois senti falta do link que a novela fez entre cada uma e as crenças egípcias, mostrando claramente que Deus estava esmigalhando uma a uma das mitologias daquele povo. Essa explicação ficou restrita apenas à das trevas espessas. Mesmo assim, a apresentação das pragas teve um bom ritmo. Todas foram mostradas, sem pular nenhuma (como aconteceu no filme de Cecil DeMille) e sem o modo videoclipe (como aconteceu na animação Príncipe do Egito).

No entanto, até pelo filme ter apenas duas horas, não há enrolação. As cenas são ágeis e os acontecimentos seguem a Bíblia (o mínimo que se espera de um filme baseado em um livro é fidelidade ao original, apesar das recentes adaptações bíblicas de Hollywood se esquecerem desse “detalhe”). E, como na novela, os diálogos foram muito bem escolhidos. Nas palavras de Anrão ao filho, nas palavras de Moisés ao povo, a cena do clamor… é fácil perceber o quanto os seres humanos são parecidos, não importando a época. Os conflitos humanos são os mesmos há milhares de anos.

A teimosia, o medo, o orgulho, as dúvidas, a coragem, o amor, a fé, a gratidão, a fidelidade…o que temos de mais forte em nós, tanto para o bem quanto para o mal, acompanha os humanos desde que vivemos neste mundo. E, para aprender a lidar com todo esse pacote, eliminando o que é ruim e fortalecendo o que é bom, precisamos da disciplina representada pelos Dez Mandamentos, pela Palavra dada por Deus.

Não se trata de um conjunto de regras moralistas para aplacar a ira de um deus malvado (como muitos mal informados pensam), mas, sim, princípios éticos capazes de transformar um povo semisselvagem em uma nação estruturada e correta. Um presente de um Deus misericordioso, para dar a possibilidade de futuro que eles jamais teriam sem legislação, disciplina e instrução.

Da mesma forma, com a mente escravizada por uma mídia corrupta (o quarto poder, que é o verdadeiro Faraó deste planeta), o povo hoje sofre, mergulhado na injustiça que ele mesmo ajuda a criar quando acredita naquilo que ouve.

A libertação é apenas o primeiro passo. A jornada de Moisés e dos hebreus foi longa e complicada porque a escravidão física é muito mais fácil de resolver do que a escravidão mental. E a mente daquele povo ainda estava no Egito. A escolha que temos de fazer hoje não é diferente da escolha do passado. É necessário romper com os conceitos antigos, com a velha maneira de pensar, para seguir em frente em uma nova vida. Caso contrário, estamos condenados à morte. Não à morte do corpo, mas a viver como os zumbis deste mundo, guiados pelas circunstâncias, sem razão para viver, sem o foco em nada maior do que eles mesmos.

Os Dez Mandamentos é um filme atual. Nunca houve um tempo em que tantos reclamadores, murmuradores, críticos vazios e irresponsáveis preguiçosos tiveram voz e espaço nas redes sociais e na mídia formal, apontando dedos e fazendo análises rasas sobre questões que desconhecem.

O filme não fala de religião. Fala dessa escolha entre nos conformar com o que nos empurram diariamente ou fazer o sacrifício necessário para mudar. Abrir mão da mentalidade de escravo não é fácil, principalmente porque nos obriga a assumir responsabilidade por nossas escolhas. E essa é a essência de Os Dez Mandamentos: a responsabilidade pessoal.

O responsável pelas pragas não cessarem foi o Faraó inflexível. O responsável pelo sofrimento do povo por tanto tempo foi o próprio povo que se afastou e deixou de clamar ao Único que poderia livrá-lo. A responsabilidade de proteger sua casa com o sangue do cordeiro era de cada um. A responsabilidade de estender o cajado para abrir o mar foi de Moisés. A responsabilidade de se manter firme no deserto era do povo, ao aprender a confiar e manter a certeza de que Deus providenciaria tudo. Deus manteve Sua palavra até o fim, mesmo diante de um povo que não queria fazer sua parte. Que insistia em jogar sobre os outros a responsabilidade que era sua, reclamando, murmurando e desobedecendo continuamente.

A obediência à Palavra que receberam era a prova da confiança de que Deus faria a Sua parte na Aliança. Viver nessa fé era responsabilidade pessoal e intransferível de cada hebreu que saiu do Egito. Era a única garantia de liberdade e a única garantia de vitória sobre os inimigos. Por isso, a história foi registrada. Por isso, ela deveria — e deve — ser contada e compreendida.

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PS: Achei que o post com minhas impressões deveria vir antes do post chutando o UOL (neste final de semana, sem falta). O filme é mais importante que os haters da mídia.

PS2: Ok, o filme não fala sobre mídia, mas esse assunto está na minha cabeça e, assim, não tem como desvincular. A gente assiste ao filme com as lentes que leva para a sala de cinema. Entenda isso ao ler qualquer crítica. Quais lentes a pessoa usou para assistir ao filme? As lentes do preconceito? As lentes do ateísmo? As lentes da religiosidade? Todo ser humano carrega consigo sua bagagem sociocultural e emocional (e espiritual) e lê o mundo através dela. É possível contorná-la e lidar com ela ao conhecê-la bem. Mas não tem como deixar do lado de fora.