Mês: dezembro 2020

Você sabe com Quem está falando?

Tratar Deus como uma pessoa visível mudou meu relacionamento com Ele. Na verdade, me fez ter, de fato, um relacionamento com Ele. Percebi o quanto a gente diz que crê em Deus, mas não coloca nEle a confiança que coloca em um ser humano. Por exemplo, se você conhece alguém que pode resolver determinado problema e você entrega aquele problema nas mãos dessa pessoa, garanto que descansa totalmente. “Estou tranquilo, já passei o problema para o fulano e ele conhece o cara que decide isso.” Mas quando “entrega” um problema para Deus, fica lá, se consumindo em medo e dúvida e se perguntando: “mas e se não der certo?”. 

A propósito, a gente tem de parar de mimimi e de draminhas quando descobre que está fazendo algo errado. Sim, você descobriu que não está confiando em Deus. Em vez de pensar: “oh, que pessoa horrível eu sou, não estou confiando em Deus, como Ele vai me perdoar?”, pense: “Ok, não estou confiando em Deus. Como eu reagiria se confiasse? Eu descansaria, como quem entrega algo a uma pessoa que pode resolver. Ok, vou fazer isso”. Pronto. Fé é o que você faz, não o que você sente. Se você sente dúvida, comece a agir como quem crê. 

Eu fiz isso esses dias. Recebi uma má notícia e me vieram pensamentos de medo e dúvida. Imediatamente, fui orar. Entreguei para Deus, e lá vem o medo. Entreguei para Deus, e lá vem a dúvida. Entreguei para Deus e lá vem o “mas, e se…?”. Passei bastante tempo assim, brigando com esses pensamentos (e brigar com os pensamentos não é ficar respondendo a eles, tá? Você não fica argumentando com o Gremlin, você manda ele calar a boca e ir embora em nome de Jesus, e se recusa até a repetir a frase que ele lançou na sua cabeça. Eu tenho um triturador de lixo em um cantinho da minha cabeça e jogo nele qualquer frase do Gremlin — antigamente era só um cestinho de lixo, mas de vez em quando eu revirava antigas falas amassadas —. Ele tem um cadeado também, e o fundo é ligado a um tobogã que desemboca no abismo. É para lá que vão todos os pensamentos gremlinianos, não permito mais que cheguem perto do meu centro de comando). 

Até que Deus me fez lembrar Quem Ele é. Me puxou em um cantinho e disse: “Vanessa, lembra com Quem você está falando”. Tem uma parte no livro de Jó (um livro bem mal interpretado, sobre o qual pretendo falar um dia), no capítulo 41, em que Deus descreve um animal que não existe mais, que Ele chama de Leviatã. O bicho se assemelha a um cruzamento de dinossauro com dragão marinho. Imagino que seja o dinossauro que inspirou a lenda do dragão em tantas culturas diferentes. Era um bicho praticamente indestrutível. 

O Leviatã tem a descrição de um réptil que expele fogo pela boca, cujas escamas eram tão fortes e tão próximas umas às outras que não eram penetradas nem por espadas. Era aparentemente impossível matá-lo (e conhecendo o ser humano perturbado, imagino que isso deva ter sido incentivo suficiente para que homens ávidos por provarem sua masculinidade empreendessem uma caçada a esse animal, por isso foi extinto. Esse, aliás, é um registro comum a diversas culturas: a lenda de dragões que eram mortos por “homens valentes”).

Em todo esse trecho do livro de Jó, você vê Deus descrevendo os detalhes dos animais e dá para perceber que Ele admira a Sua criação. O Leviatã tem Sua admiração especial, porque Ele Se compara a esta fera. É um animal aparentemente pacífico, mas terrível. Não parece sair para agredir ninguém, mas se provocado, é muito perigoso.

“Põe a tua mão sobre ele, lembra-te da peleja, e nunca mais tal intentarás.” (Jó 41.8)

Antigamente eu achava que Ele estava puxando a orelha de Jó nessa parte, tipo “olha como Eu sou grande e poderoso, como ousa reclamar da sua desgraça?”. Mas não é isso que Ele está falando. Deus sabia que quem estava por trás do problema de Jó era o diabo. Parte do discurso de Deus também é dirigido ao diabo, que estava causando toda aquela desgraça na vida de Jó.

E o puxão de orelha que deu em Jó, na verdade, foi algo como: “você acha que é inteligente discutir Comigo? Acha que a força do seu braço vai resolver alguma coisa? Você não sabe Quem Eu sou? Se você sabe Quem Eu sou, então confie em Mim. Nenhum mal pode Me vencer. Não existe ninguém maior do que Eu”. 

 “Põe a tua mão sobre ele, lembra-te da peleja, e nunca mais tal intentarás.” (Jó 41.8) 

“Ninguém há tão atrevido, que a despertá-lo se atreva; quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante de Mim?” (Jó 41.10)

Trechos como esses me mostram que nenhum mal pode se erguer diante de Deus. Se o diabo tentar brigar com Ele, vai se dar muito mal. Isso me dá vontade de me esconder imediatamente nEle. Como Jó, no final, fez. Colocou nEle sua confiança, quando viu com Quem estava falando:

“Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos Teus propósitos pode ser impedido.” (Jó 42.2)

Não é um “o Senhor pode me torturar, eu devia ter me conformado com o sofrimento”, é um “eu fui um idiota em temer e reclamar, eu devia ter confiado no Senhor, porque o Senhor pode tudo e ninguém é capaz de impedir o Seu livramento e o Seu agir”.

Não existe demônio, não existe doença, não existe ameaça, não existe problema capaz de impedir Deus de fazer o milagre que Ele quer fazer na nossa vida. Desde que a gente CREIA. A única exigência é essa: entender com Quem estamos falando e CONFIAR que Ele fará o que prometeu. Ele dará VIDA, Ele dará Seu Espírito, Ele dará saúde, Ele dará vida abundante. Não precisa ter uma fé muito grande, só precisa ter uma fé pura, que chuta as dúvidas e o medo, alicerçada em saber em QUEM tem crido. 

 

 

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 PS. O físico Adauto Lourenço, cristão, também acha que o Leviatã era um dinossauro. Aliás, meio off topic: tem alguns vídeos muito interessantes dele sobre os dinossauros, em que ele dá a visão criacionista, mostrando que eles não morreram pela queda de um asteroide, com evidências de que conviveram com os homens e de que os fósseis que encontramos foram formados pelo dilúvio (os dinossauros teriam se extinguido aos poucos, por não se adaptarem às mudanças das condições climáticas na Terra após o dilúvio). Este vídeo é antiguinho, mas vale muito a pena ver: Os dinossauros e o homem (clique aqui para abrir). Tem essa palestra em versões mais recentes, mas gosto desse vídeo porque é mais objetivo. Essa outra, um pouquinho mais recente, fala sobre os fósseis (clique aqui para assistir).

*É bom reforçar, porém, que indico o trabalho do Prof. Adauto pela questão da defesa científica do criacionismo e do dilúvio. Não endosso todas as opiniões dele em questões espirituais e/ou teológicas, porque a visão não é a mesma. Mas entendo que o trabalho dele de análise científica, na questão informativa, merece ser citado, mesmo que a visão espiritual seja diferente da minha em diversas questões.

PS2. É impressionante que, numa época em que uma civilização mal tinha conhecimento das outras (algumas sequer sabiam que não estavam sozinhas na Terra), a mesma “lenda” e a mesma representação gráfica de um animal supostamente mitológico existissem em tantos lugares diferentes. Alguns dragões mitológicos chegavam a voar. O Leviatã bíblico se arrasta sobre o ventre até a água, como um crocodilo.

Batismo com o Espírito Santo ou Novo Nascimento?

O leitor Fernando me enviou a seguinte pergunta:

“Eu fiquei muito tempo na igreja me enganando, pensando ser batizado com o Espírito Santo. Eu preciso nascer de novo, porque minhas atitudes são as mesmas de quando eu estava lá fora e olha que já são 10 anos de igreja. O que eu gostaria de saber é se eu busco no Espírito Santo o novo nascimento, dirijo todas as minhas orações pedindo para nascer de novo. Ou eu peço o Espírito Santo ao Senhor Jesus, para Ele me batizar. Espero que vc tenha entendido minha dúvida.”

Fernando

Também fiquei 10 anos na igreja nessa situação, Fernando. Graças a Deus você abriu os olhos agora. Reconhecer a situação é o primeiro passo para a mudança. Quanto à sua dúvida, acho que entendi, sim. Esses eventos que precisam acontecer na sua vida, Batismo com o Espírito Santo e Novo Nascimento, são consequência de você se aproximar de Deus e entregar sua vida a Ele. Peça para Deus lhe ensinar tudo de novo sobre a fé, e vá praticando tudo o que Ele te mostrar. E busque o Espírito Santo. Nem precisa se ligar no rótulo “batismo com o Espírito Santo”. Busque intimidade com Deus, queira o Espírito Santo por quem Ele é. 

Dito isso, gostaria de aproveitar a dúvida do Fernando para falar um pouco mais a respeito.

O mais importante é ter essa intimidade com Deus, se interessar por Ele. É claro que, quando a gente chega na igreja, não é por grandes amores por Deus. Geralmente, a gente vem para resolver um problema. Eu vim porque não aguentava mais a depressão. Mas é importante que, em algum momento, a pessoa comece a se interessar em conhecer a Deus como indivíduo. Quem Ele é? Como Ele pensa? Do que Ele gosta? O que Ele espera de mim? E não, não pense que já sabe.

Quando tive um encontro com Deus, em 2009, depois de quase dez anos de Igreja Universal (aos 29 anos de idade e 29 anos de Evangelho), eu queria conhecê-LO. Ia à igreja todos os dias com meu caderninho, para anotar todas as Palavras e reler em casa (para o modo de funcionamento do meu cérebro, escrever é fundamental para entender e gravar). Acreditar foi uma decisão bem consciente. Decidi ouvir tudo como verdade. A Bíblia não era mais um livro, era a verdade irrefutável.

Minha oração era que Deus fizesse de mim a pessoa que Ele queria que eu fosse. E, como eu sabia que precisava fazer minha parte, estava atenta para aprender em que deveria corrigir meu comportamento, meus pensamentos e minhas reações. Uma das primeiras coisas que aprendi foi a ter bons olhos. Também aprendi a entregar as ansiedades a Deus. E aprendi a perdoar o que parecia imperdoável. Entendi que eu não era a guardiã da Justiça Divina. E se Deus tem misericórdia das pessoas que me feriram (e de mim), quem era eu para não ter?

A cada novo aprendizado, eu ia reconfigurando meu interior. E quando o pastor falava como Deus era, eu tinha atenção redobrada. Queria conhecê-LO. Então, eu e meu marido começamos a ler a Bíblia desde o começo. Eu já tinha lido, mas meu trato com Deus tinha sido de esquecer tudo o que eu achava que sabia e começar do zero. Pedi a Ele que me ensinasse tudo de novo, como se eu nunca tivesse sido cristã. Então, já em Gênesis, começamos a entender Deus. O Antigo Testamento foi fundamental para que eu entendesse quem Deus era e o que Ele queria de mim. 

Líamos aos poucos, meditando, para entender mesmo. E tudo se conversava: a passagem que a gente lia, o que a gente ouvia no culto, o post no blog do Bispo… Deus dava spoiler da reunião e dos propósitos da igreja para a gente em casa. Por exemplo, a gente começava a falar sobre a justiça de Deus, lia na Bíblia sobre justiça, ficava a semana inteira com esse assunto na cabeça e nas conversas e, quando chegava domingo, começava a campanha da justiça na igreja! Isso aconteceu várias vezes, com diversas campanhas de assuntos completamente diferentes. 

Conversávamos no carro sobre alguma coisa e, na reunião, o pastor falava exatamente o assunto que estávamos conversando, seja ampliando o entendimento ou respondendo a alguma dúvida que tínhamos tido (e da qual, obviamente, ele não tinha como saber). Na verdade, Deus está ávido para ter esse relacionamento com a gente, participar das nossas conversas, responder às nossas perguntas, compartilhar conosco algum pensamento muito legal e interferir em nossa vida. E você descobre isso porque é só se entregar para Ele e começar a buscar dessa maneira e Ele já começa a falar. 

Conhecendo mais a Deus, minha vontade era ficar grudada nEle por toda a eternidade, como um carrapatinho de amor. Eu não queria mais nada na vida. É claro que eu sabia que em algum momento teria que tomar decisões para o meu futuro, mas naquele momento tudo o que eu queria era viver aquele processo de conhecer a Deus e de alinhar minha vida à vontade dEle. 

Eu nem vi quando nasci de novo, sem brincadeira. Porque fui mudando e me transformando em outra pessoa por oito meses até receber o Espírito Santo. E, como já contei aqui, eu não estava buscando o rótulo “batismo com o Espírito Santo”, eu estava pedindo para Deus me dar capacidade de cumprir uma responsabilidade que me deram. E disse para Ele que eu sabia que não merecia, mas que Ele prometeu o Espírito Santo a quem pedisse. Então, eu pedi o Espírito Santo, mas nem passou pela minha cabeça que era batismo. Eu só queria ter Deus em mim para fazer o que precisava ser feito para ajudar aquelas pessoas. 

 “Finalmente encontrei o meu Amor”…lembra dessa frase? Então, foi o que aconteceu naquele dia. Por causa daqueles oito meses de caminhada, eu já O amava. Lembre-se, eu estava grudadinha nEle como um carrapatinho de amor e já tinha feito um pacto de nunca desgrudar. E não senti nada na hora! Mas saí de lá com a certeza de ter sido respondida. Como tínhamos ficado em vigília, eu estava com sono e só no dia seguinte percebi que estava diferente. E finalmente encontrei Aquele que sempre foi tão importante para mim, minha vida toda, mas de quem eu sempre estive tão distante sem saber.

É isso que eu queria escrever hoje. Não busque o batismo, busque o Espírito Santo. Não busque o Novo Nascimento, busque conhecer essa Pessoa maravilhosa e fantástica que, por acaso, é o Único Deus que existe. O que acontecer como consequência de procurar conhecê-LO e se adequar a Ele, é Novo Nascimento. E o que acontecer como consequência de buscar o Espírito Santo é o batismo. Simples assim. 

 

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 PS. Fiquei tão chocada com a revelação de que a espiritualidade que eu achava que tinha era mera religiosidade, que nunca mais quis fazer nada religiosamente. Eu tiro o rótulo das coisas. “Batismo com o Espírito Santo” e “Novo Nascimento” são termos que Deus criou para facilitar o entendimento, mas a partir do momento em que a gente transforma os termos em distintivos que a gente quer ter (ou que acha que tem), há um problema. Então, eu abro a caixinha e olho o que tem lá dentro em vez de me focar só na embalagem.

PS2. Quando faço um post com a pergunta de alguém, costumo colocar o nome da pessoa que perguntou, mas se não quiser seu nome citado, é só dizer.