Mês: novembro 2015

Como manter o foco

close

Você estabeleceu suas prioridades. Finalmente, se deu conta do que precisa ser feito e em que ordem seus afazeres e interesses precisam vir para que tragam o resultado que você quer. Você anotou tudo direitinho, uma coisa linda.

Então, a correria começa. Todo mundo quer atenção. Não só as pessoas, mas as situações, também. Os aplicativos, as redes sociais, os acontecimentos, as notícias, as fofocas, as inutilidades e milhões de ladrões de tempo aparecem, do nada, como em um jogo de sustos. Tudo é urgente. Absolutamente tudo. Como se milhares de janelinhas pipocassem na sua frente, no grande Windows da vida. O que fazer? Como agir? Como se manter focado no meio de tantas distrações que gritam seu nome e ameaçam se matar se você não se casar com elas?

Simples: mantenha a sua mente e as suas forças direcionadas à sua prioridade. As outras coisas virão, não tem jeito: pensamentos, pessoas, situações, notícias, todas aquelas coisas que citamos no parágrafo anterior e muitas outras. Saiba que elas virão. E será sua responsabilidade dizer “não”. Dizer “não” é fechar a janelinha intrometida. É clicar no “x” libertador. Se precisar muito retornar àquele assunto ou situação, anote na agenda. Marque um compromisso posterior com aquele negócio. Mas se for algo que aparece apenas para colocar você para baixo, não tenha receio de clicar no “x”.

A primeira pessoa para quem você tem de dizer “não” é você mesmo. Dizer não ao medo. Dizer não à vontade de se preocupar com o que os outros vão pensar ou deixar de pensar a seu respeito. Dizer não à vontade de se criticar. Dizer não às dúvidas. Dizer não às fofocas. Dizer não às reclamações. Dizer não aos maus olhos. Dizer não à vontade de pegar um atalho. Dizer não à vontade de manipular as situações. Dizer não ao impulso de agir sem ética. Dizer não às notícias que só querem cutucar suas emoções. Dizer não a conversas fora de hora. Dizer não aos ladrões de tempo.

Lembre-se: tempo e energia são recursos limitados. Escolha bem onde irá empregá-los para que se multipliquem, e não sejam sugados. É como aprender a fazer um bom investimento. Ninguém pega um maço de dinheiro e joga dentro da churrasqueira pensando em poupar. Porém, muitos fazem isso com seu tempo e sua energia, ao colocá-los em coisas que não têm nada a ver com suas prioridades ou com o que dizem querer.

É uma guerra dentro da mente. Dizer “não” dói. E, para pessoas como eu, dizer “não” aos outros dói até mais do que dizer “não” a si. Nessas horas, a fé, a convicção de que você está fazendo o certo e o foco no resultado que irá alcançar o manterão firme. Se você sabe para onde está indo e por que está fazendo o que faz, fica muito mais fácil entender e sustentar as decisões que toma e os sacrifícios que precisa fazer para se manter no caminho.

A polêmica do copo da Starbucks

img_starbucks-706x410

Alguns cristãos norte-americanos estão indignados com a rede de cafeterias Starbucks por causa do copo de natal. Segundo eles, o copo todo vermelho, sem nenhum dos símbolos natalinos tradicionais, seria uma atitude “anticristã” da rede, que tem filiais no mundo inteiro. A tempestade nesse copo de café já conta até com o apoio de cristãos de outros países e adesão de gente famosa, como o empresário e apresentador Donald Trump, que defendeu o boicote à marca. Como se pinheiros, velas, bolas coloridas e papai noel fossem, de fato, símbolos cristãos.

Se o problema dessas pessoas com a Starbucks é o copo não trazer símbolos cristãos no natal, é irônico não se importarem com o logotipo da empresa, que representa uma entidade nada cristã. É uma sereia conhecida como Melusina, um “espírito das águas”. Na cultura africana, a mesma figura aparece em representações de Yemojá (Iemanjá, no Brasil), quando retratada com duas caudas.

Com o passar dos anos, a empresa a modificou para ficar mais apresentável. No início, era bem esculhambada, com os seios à mostra e uma pose pornográfica, com as caudas abertas; cópia de uma ilustração alemã de um livro impresso em 1480. Com o passar dos anos, fez algumas lipos, plásticas, jogou ocabelo sobre os seios…um legítimo makeover, que a transformou em algo mais simpatiquinho e politicamente correto. Mas, se reparar nas laterais…as caudas continuam lá. E a coroa de “rainha do mar”, na cabeça.Mas, afinal, por que uma sereia como símbolo de uma loja de café?starbucks-logo-history

Essa dúvida é tão comum que o site da empresa tem até uma resposta pronta. A inspiração do nome e do logotipo teria vindo da vontade de seus donos de “homenagear a tradição marítima do café”. O nome da cafeteria foi tirado de um personagem do livro Moby Dick, o senhor Starbuck, primeiro-piloto do navio Pequod. Então, eles criaram uma cafeteria com o nome de um personagem masculino e tascaram uma sereia como logotipo…faz sentido? Nenhum! Não há sequer uma personagem-sereia no livro.

Em uma entrevista, o designer responsável pelo logotipo disse: “É uma metáfora para a sedução da cafeína, as sereias que atraíam marinheiros para as rochas”. Estranha metáfora, já que, nos mitos, as sereias atraíam marinheiros para espatifá-los contra as rochas…seria um aviso para que os clientes se mantivessem longe da cafeína antes que ela os matasse? O site dele ainda tenta florear: “Terry Heckler encontrou a metáfora perfeita do ‘canto da sereia’ do café que nos seduz para o copo”. Não faz muito sentido querer vender café usando essa comparação. Se o canto da sereia servia para tirar o autocontrole dos marujos, usá-lo como metáfora para o produto é quase um antimarketing. Mas, então, qual é a dessa sereia?

Não se pode afirmar que os criadores do logotipo sabiam que estavam reverenciando uma entidade, mas em todas as culturas, desde épocas remotas, seres metade gente, metade peixe (ou, em alguns casos, serpente) são a representação de uma mesma divindade, com nomes e gêneros diferentes: entre os cananitas e filisteus, Atargatis, Derketo e Dagom (o mesmo da imagem que Deus fez cair e se espatifar diante da Arca da Aliança, quando raptada pelos filisteus); Oannes, na Babilônia; Matsyāṅganā, na Índia; Mixoparthenos, na Grécia; Kianda, na Angola; Melusina e Lorelei, na Europa; Ningyo, no Japão; Yemojá, na África; Iemanjá, no Brasil, entre outros nomes nesses e em outros lugares.

As divindades femininas dessa lista também eram chamadas de “Rainha do mar” ou “Mãe d’água”, adoradas como deusas da fertilidade. Por aqui, a representação oficial desse espírito ganhou um vestidinho, para sincretizar melhor com as imagens católicas e esconder dos senhores de escravos o culto a essa entidade, mas as representações em que sua cauda aparece são bem comuns.

As lendas e as aparências se modificaram com o tempo, cada cultura desenvolvendo sua tradição, mas o espírito representado permanece. O mesmo espírito de Atargatis, Melusina, Dagom e Iemanjá é reverenciado na imagem da sereia.

O mais incoerente dessa história é que nenhum daqueles cristãos indignados questionou (ou pelo menos estranhou) a presença de uma deusa pagã dando tchauzinho com as duas caudas, bem diante de seus narizes, em seus tão amados copos de café. Pelo contrário, se unem para reclamar de não haver itens pagãos o suficiente neles!

Infelizmente, o “canto da sereia” de nosso tempo, o espírito que envolve esse mundo, tem cegado muitos cristãos a ponto de eles nem conseguirem mais enxergar o que Deus considera importante. É muito mais fácil se apegar a tradições e confundi-las com cristianismo, pois isso não exige nenhum sacrifício, não há preço a se pagar. Por outro lado, também não traz benefício algum para ninguém.

Para quem olha de fora, o movimento pseudocristão contra os copos vermelhos parece fanatismo religioso, sem sentido ou propósito, o que só vacina contra o verdadeiro cristianismo. Garanto que Jesus jamais perderia Seu tempo brigando para colocar o bom velhinho ao lado de Iemanjá no copo da Starbucks.

Dagom
Dagom
Mixoparthenos
Mixoparthenos

bicaudata