Categoria: Livros que não são o que parecem

Livros que não são o que parecem – Oração A Chave do Avivamento

O livro “Oração: a chave do avivamento” (Prayer that brings revival), de Paul Yonggi Cho, é um clássico pentecostal. Recebi um alerta do Bp. Marcelo Pires, sobre o autor dizer, na introdução, que o “avivamento” (muitas aspas aí) ocorrido em Pensacola, na Flórida, foi resultado de suas orações. Acontece que esse “avivamento” foi um marco da fanerose, o popular “cair no poder”.

Olhei a introdução em português e não encontrei nada a respeito. No entanto, ao ler o mesmo livro em inglês, fiquei surpresa ao constatar que a editora brasileira retirou nada mais, nada menos do que SEIS páginas da introdução original! Será que acham que adianta tirar o mofo de cima do alimento embolorado? Se você pensa assim, aviso: fungos liberam toxinas. Mesmo que os retire e não os veja mais, há, digamos assim, “raízes invisíveis” que contaminam todo o alimento. Uma vez que a coisa começa a mofar, a única saída segura para a sua saúde é jogar tudo fora.

Yonggi Cho parece muito “espiritual” e diz algumas coisas que são verdade, misturadas com muita toxina, capaz de imobilizar sua fé. Começo com alguns trechinhos da introdução em inglês traduzida (página 10 à página 17):

Em 1991, depois de uma temporada de intensa oração e jejum, uma visão profética começou a se desenrolar diante de meus olhos.(…). Na direção do Espírito Santo, eu estendi um mapa da América e permiti que o Espírito guiasse minha mão até a área onde esse avivamento despontaria. Meu dedo parou em Pensacola, uma cidade da Flórida nada associada a fervor espiritual.

Me parece aquela prática de comunicação com espíritos, chamada de “Tabuleiro Ouija”, em que a pessoa utiliza uma superfície plana com letras ou outros símbolos e deixa que seu dedo, copo ou qualquer outro objeto seja guiado pela entidade espiritual, para enviar mensagens.

Naquela noite em 1991, eu acreditei ter ouvido a voz do Senhor, alta e clara: “Eu vou enviar o avivamento para a cidade costeira de Pensacola, e ele se espalhará como fogo até que toda a América tenha sido consumida”.

“Ele se espalhará como fogo até que toda a América tenha sido consumida” me parece uma espécie de ameaça, não parece?…rs…

Após isso, ele conta que quando o Pastor Kilpatrick soube da “profecia”, e em vez de procurar saber se aquilo realmente vinha de Deus, começou, em suas orações, a pedir que aquele “avivamento” viesse logo. A mãe desse pastor adoeceu, e quando ela morreu, ele estava “fisicamente e emocionalmente esgotado”. Acredito que esse ambiente de fragilidade emocional do pastor responsável tenha sido importante para a ação desse espírito enganador.

Kilpatrick sentiu a sensação de vento no santuário. Uma pessoa após a outra caiu no chão assim que Hill orou por elas. Outros choravam, alguns sacudiam violentamente. Hill fez uma oração simples para Kilpatrick já que ele estava no palco. “Mais, Senhor”, disse ele, e o pastor caiu no chão, onde ficou por quase quatro horas.

Isso foi em junho de 95. Tenha em mente que em janeiro de 94 havia acontecido o que chamam de “bênção de Toronto”, outro marco do movimento do “cai-cai”. Sabendo disso, o povo de Pensacola recebeu a Fanerose de braços abertos, sem questionar.

“Quando eu bati no chão, me senti como se eu pesasse dez mil libras,” Kilpatrick disse à revista Charisma. “Eu sabia que algo sobrenatural estava acontecendo. Deus foi nos visitar.”

O fato de algo sobrenatural estar acontecendo não significa que seja Deus, ainda mais quando você sente como se pesasse quatro toneladas e meia! Isso não está certo e não é bíblico. Quem caiu na Bíblia, ou caiu porque desmaiou – ou quase desmaiou – de medo ou de susto (Daniel descreve como “desfaleceu a minha formosura”), ou caiu endemoniado, mesmo.

Sempre que alguém tenta usar um versículo fora de contexto como base bíblica para o cai-cai, eu me lembro de Ezequiel. Ele teve uma visão espiritual assustadora, até que se deparou com o trono do próprio Deus e Sua glória. Apavorado, caiu com o rosto em terra. Os entusiastas da fanerose terminam aí. Acham que ele caiu por não suportar a glória de Deus. O que acaba com todas as dúvidas em relação a um provável apoio ao cai cai como manifestação do Espírito de Deus são os dois versículos seguintes. Com Ezequiel estatelado diante dele, qual foi  reação de Deus?  (Ezequiel 2:1,2)

Esta voz me disse: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo. Então, entrou em mim o Espírito, quando falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava.

Amigos, não está bem claro? Quando recebeu o Espírito Santo, Ezequiel ficou de pé. E Deus ainda colocou a condição: “põe-te em pé, e falarei contigo”. O espírito manifestado em Pensacola com certeza não é Aquele que falou com Ezequiel.

Bem, daí para diante, a igreja de Pensacola inchou, e Cho cita esse fato como se fosse prova de que era de Deus. Número de pessoas na igreja não significa aumento de pessoas salvas. O ser humano é doido por um showzinho, e é isso que a manifestação emocional/demoníaca (uma coisa leva à outra, não duvide) traz.

O autor ainda tenta me convencer a ser educadinha com o diabo:

Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda. Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas cousas se corrompem. “(Jd 1: 8.10.).

Yonggi Cho diz:

Os versos citados revelam um fato muito significativo sobre nosso adversário, o diabo. Satanás é um príncipe com um poder considerável. E Judas diz também que ele não pode ser tratado levianamente, como alguns crentes costumam fazer. Embora seu poder sobre a propriedade divina tenha sido destruído, ele ainda é um oponente muito perigoso.

Judas não está dizendo que temos que respeitar o diabo! Está falando de um grupo de pessoas dissimuladas dentro da igreja (o autor tirou os versículos do contexto!). “O Senhor te repreenda” é exatamente o que fazemos quando usamos o nome de Jesus. Nossa atitude diante do diabo não deve ser: “oh, ele é um oponente muito perigoso, não podemos tratá-lo levianamente, vamos expulsá-lo com cuidado, para que não se ofenda”.  Davi, diante de Golias, que representava ali o próprio satanás, disse: “Quem é esse incircunciso filisteu, para afrontar o Exército do Deus vivo?” Essa é a reação do nascido de Deus diante do diabo. Se você está com Deus, qualquer ataque contra você é feito contra o próprio Deus!

Fora isso tudo, o livro tem vários outros problemas. Vários. Eu não terminaria hoje se copiasse um por um. Mas vou falar de um deles. Cho substitui tudo (obediência, fé, confiança, amor, novo nascimento) por uma oração religiosa. Não me entenda mal, oração e jejum são necessários, mas o autor os explica de forma ritualística e religiosa, como se houvesse um código secreto para se chegar até Deus.

Esse era um dos grandes problemas que eu tinha nas outras igrejas. Você aprende a “receita” da “oração eficaz” e procura indícios emocionais que lhe “provem” que recebeu alguma resposta. Não ensinam a usar a fé. Não fazem a menor ideia do que ela significa. Sem convicção e certeza, a oração é ineficaz, são palavras vazias. A oração pode ser um aparelho para se comunicar com Deus, mas a fé é a linha telefônica. Se o pastor não ensinar o povo a usar sua fé, não adianta ensiná-los a orar, pois será como ter um iPhone sem ter uma linha habilitada. No caso de Cho, um iPhone quebrado.

A pessoa não deve seguir um manual religioso ao orar, basta conversar com Deus, com suas palavras, com sua simplicidade, mesmo que não seja muito eloquente. A Bíblia diz que Moisés falava com Deus como quem fala com um amigo. A pessoa é capaz de passar horas me contando seu problema, explicando com detalhes seu sofrimento, mas quando eu lhe digo para falar com Deus, ela não sabe como fazer. Ué, mas não acabou de contar toda a sua vida para mim? E nem adianta me dizer que é porque não vê Deus, pois hoje em dia as pessoas têm a maior facilidade em desabafar pela internet com quem nunca viram na vida. Pense que é como se você tivesse um Msn na cabeça e Deus estivesse online 24 horas. Você não falaria com Ele o tempo todo? Não é muito mais simples do que a religião faz parecer?

A forma desse livro explicar a oração afasta as pessoas de Deus. Mesmo que o autor diga que você também pode fazer o que ele faz, deixa toda a experiência tão mística, emocional e distante, que parece totalmente impossível ter uma comunhão decente com Deus! Ele diz que antes de cada reunião, leva horas de oração religiosa…

Antes de subir ao púlpito para pregar, tenho que passar pelo menos duas horas em oração. Quando vou pregar no Japão (…) tenho que passar pelo menos de três a cinco horas em oração. Como sempre prego em japonês, sinto com muita nitidez a grande oposição espiritual (…) Portanto, tenho que passar todo este tempo em oração, para conseguir impedir a ação das forças espirituais do mal, e preparar meu coração para o ministério da Palavra. Com uma comunhão tão intensa, não disponho de tempo para dedicar à convivência com outros crentes, como certamente gostaria de fazê-lo.

Me diz se esse parágrafo não te faz achar que esse tipo de “comunhão intensa” é apenas para Super Crentes? Me pergunto se Paul Yonggi Cho sobreviveria se tivesse de fazer reuniões de libertação com milhares de pessoas, programas de televisão, evangelização em presídios e ainda atender pessoas com diversos tipos de problemas depois de cada reunião em uma igreja aberta de domingo a domingo, de manhã até à noite,  e que é atacada, odiada, alvo de todos os tipos de trabalhos espirituais do mal absolutamente o tempo inteiro.

Para dizer a verdade, esse foi um dos piores livros que já resenhei até agora, pois sem aquele pedaço da introdução, pode passar como um alimento espiritual positivo, já que fala muitas coisas certas, o cara parece super espiritual, enaltece seu ministério de todas as formas possíveis  e se “Bom dia, Espírito Santo” enganou muita gente boa, creio que Yonggi Cho tem um potencial destrutivo bem maior.

Vanessa Lampert

Para ler as resenhas arquivadas, Clique aqui. E para ler as recentes, clique aqui.

PS: Fiz um texto explicando detalhadamente essa passagem de Judas, sobre Miguel e o diabo, caso alguém ainda tenha dúvida. Clique aqui para ler.

PS2: Repito o que disse em outra resenha: Antes que alguém me venha com “reter o que é bom”, se o livro é inspirado por espírito enganador, como reter o que é bom? Vamos aprender a não retirar os versículos de seu contexto. Paulo diz: “Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal” (I Tessalonicenses 5:20-22)

Update: Nem todos os livros que não são da IURD são “do mal”. Esta série fala de não se deixar levar pelas aparências. Quanto ao fato de eu apoiar quem limita sua leitura espiritual aos livros da IURD, escrevi a respeito aqui. Clique para ler.

Originalmente publicado no blog Cristiane Cardoso. Clique aqui para ver a postagem original.

Livros que não são o que parecem – Bom dia, Espírito Santo

Para quem não conhece, Bom dia, Espírito Santo (Good Morning, Holy Spirit) é um best-seller de Benny Hinn, pregador que se tornou famoso por derrubar as pessoas. Eu li esse livro na pré-adolescência (tinha uns 12 ou 13 anos), época em que estava em outra denominação e não conhecia o Espírito Santo, nem tinha muito senso crítico, então entrei na onda de todo mundo e achei o máximo, mas o tempo passou e eu nem me lembrava mais dele.  Então, há alguns anos, depois de ter recebido o Espírito Santo e de conhecer a Deus, resolvi reler, para saber o que acharia agora, depois de ter tido minhas próprias experiências com Deus. Gastei meu tempo e compartilho aqui a experiência para que você não precise gastar o seu e possa orientar a quem lhe perguntar a respeito dele.

O que este livro diz que é? Vamos ler a sinopse:

“Em “Bom Dia, Espírito Santo”, Hinn apresenta descobertas e verdades que Deus lhe tem ensinado através dos anos. Você irá adquirir um conhecimento mais profundo da Divindade e como os membros da Trindade interatuam entre si e conosco. “

Nãããão!!! Não acredite nessas palavras bonitas. Você não vai descobrir nada, nem adquirir coisa nenhuma, e já te explico o porquê.  Quem Benny Hinn “encontra” é uma entidade que se faz passar pelo Espírito Santo. A experiência que ele descreve é 100% emocional e, sinceramente, se alguém me dissesse que passou por aquilo, eu o encaminharia a uma reunião de libertação, com urgência.

Ele foi a uma reunião em que viu uma mulher manifestada com o que ela dizia ser o Espírito de Deus.

O culto só começaria dali a uma hora. Tirei o casaco, as luvas e as botas. Enquanto relaxava, percebi que tremia mais que antes. Não conseguia parar. As vibrações percorriam meu braço e pernas, como se estivesse ligado a uma espécie de máquina. A experiência era nova para mim. Para ser sincero, sentia medo.

Ele continua explicando a sensação, mas olha que esquisito:

Enquanto o órgão tocava, eu não conseguia pensar em outra coisa além do tremor em meu corpo. Não era uma sensação de “doença”. Não era como se estivesse pegando um resfriado ou uma virose. Na verdade, quanto mais continuava tanto mais bela parecia.

Afinal de contas, ele estava com medo, o tremor o incomodava tanto que não conseguia pensar em outra coisa, mas “quanto mais continuava tanto mais bela parecia”? O que significa isso? Não vi nada de belo em ter uma tremedeira descontrolada, incômoda e assustadora, do nada! Sabe o que é isso? A valorização da sensação. Já entro em detalhes quanto a isso.

Nesse momento, como se saísse do nada, Kathryn Kuhlman apareceu. Num instante a atmosfera naquele prédio ficou carregada.

“A atmosfera naquele prédio ficou carregada”. Mais um que precisa urgentemente de uma sessão de descarrego.

A evangelista continuou chorando por um período de mais ou menos dois minutos. Depois jogou a cabeça para trás. Ali estava ela, a alguns passos de mim, com os olhos chamejantes. Estava viva.

Desculpe, amigos, mas tenho que interromper. A linguagem deste livro é totalmente emocional, mais até do que a do “A Cabana”, mas o espírito é bem parecido.  Mas veja só por quê. O espírito que estava nessa mulher (e depois passou para o autor do livro) é extremamente teatral, performático. Ficou chorando convulsivamente por dois minutos, depois jogou a cabeça para trás.

Naquele momento ela mostrou uma ousadia que eu nunca vira em outra pessoa. Apontou com o dedo em riste, com enorme poder e emoção e até mesmo sofrimento. Se o próprio diabo estivesse lá, ela o teria derrubado com um simples golpe.

Ousadia, poder, emoção, sofrimento? Essa foi uma das cenas mais bizarras do livro. Só detalho aqui porque é a origem de todo o “Ministério” desse indivíduo. Vê-se com clareza que esse espírito é estranho.

Foi um instante de incrível dimensão. Ainda soluçando, Kathryn olhou para a audiência e disse em agonia: – por favor. – Ela pareceu esticar a palavra: – Por fa-a-vo-or, não entristeçam o Espírito Santo. –  Ela suplicava. Se você puder imaginar uma mãe rogando a um assassino que não mate o seu bebê, terá uma ideia do quadro. Ela pedia e suplicava.

Note que o autor evoca a imagem mais emocionalmente tocante o possível. Ele não se importa com o fato da coisa toda ser completamente desprovida de sentido, ele apenas quer que você “sinta” e para isso coloca essas frases sentimentais e sensoriais. Agora, como assim “uma mãe rogando a um assassino que não mate o seu bebê?” Veja que o Espírito Santo é colocado aqui em uma posição de fragilidade, como um bebê indefeso, o que contraria completamente o que a Bíblia diz que Ele é.

Ela disse então: – Vocês não compreendem? Ele é tudo o que eu tenho! Pensei comigo mesmo – Do que ela está falando? Sua súplica apaixonada continuou, e disse:

– Por favor! Não o magoem. Ele é tudo o que eu tenho. Não magoem o meu Amado! – Jamais esquecerei estas palavras. Posso lembrar ainda como sua respiração ofegava ao pronunciá-las.

Consegue ser mais dramático, emocionalmente carregado e pretensamente manipulador do que qualquer um dos livros anteriormente analisados nesta série jamais sonhou em ser. Se você não conhece o Espírito Santo, um aviso: Ele não é assim. Aqui sou obrigada a copiar e colar o que já escrevi sobre Ele em outra resenha: “Realmente, não tem nada a ver com o Espírito Santo que eu conheço

Aí me lembro de quando o Espírito de Deus se apossava de Sansão…a Bíblia diz que ele matou um leão com suas próprias mãos, lembra? E mil homens com uma queixada de jumento. ”

Quando Paulo disse “Não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Efésios 4:30) Não disse isso chorando, em agonia, com peninha do coitadinho do Espírito Santo indefeso. Preste atenção no versículo. É um alerta: não entristeçam o Espírito Santo, pelo bem de vocês mesmos, ou perderão a salvação. Nele nós fomos selados para o dia da redenção. “Entristecer” aqui tem o sentido de luto. Só se está de luto por quem já morreu. Entristecer o Espírito de Deus é se afastar dEle através do pecado e se aproximar da morte eterna. Não façam isso, para o seu próprio bem.  A coisa é bem mais racional do que parece.

Ela apontou então seu longo dedo para mim e disse com grande clareza:

– Ele é mais real do qualquer coisa neste mundo!

Quando ela olhou para mim e proferiu essas palavras, algo me agarrou literalmente por dentro. Gritei dizendo:

– “Eu preciso conseguir isso”.

Então esse é o ponto inicial do livro. Sua sede era de ter aquilo que ele viu ali. Descreve essa reunião mega emocional e irracional, com muita música e oração da mulher manifestada. Impressionado com a experiência (porque ele “sentiu” várias coisas durante a reunião e viu milagres), ele chega em casa e diz: “Eu quero ter o que a Kathryn Kuhlman tem!” Baseado nisso, busca, com toda a força, não o Espírito Santo da Bíblia, mas o espírito que ele viu manifestado em Kathryn Kuhlman, o que ele viu naquela reunião, para ter a experiência que ela teve.

Logo em seguida, começa a tremer, como tremeu na reunião. Depois descreve o que me parece um choque elétrico. O rapaz foi eletrocutado pela entidade e realmente acredita que aquilo era o Espírito Santo. Nada do que ele descreve parece o Espírito Santo que eu conheço. É só uma descarga elétrica emocional que o faz ser um super-crente que derruba os outros ao jogar seu paletó. O restante do livro por diversas vezes faz você ter uma vontade sincera de levar o rapaz a uma sessão de descarrego.

Ao contar sua história, Benny Hinn te faz crer que ele é um “escolhido”, cuja mãe católica pediu “Deus, se me deres um menino, eu o devolvo ao Senhor”. Assim, Hinn quer se mostrar mais do que um Profeta Samuel pós-moderno, um ser especial com experiências sobrenaturais desde a infância (ele diz ter visto Jesus e após a visão ficou imóvel e…adivinha? Sentindo choques elétricos! Que espírito é esse que trabalha com eletrochoque?).

Eu vi Jesus entrar em meu quarto. Ele usava trajes mais alvos que a neve e um manto vermelho escuro drapejado sobre a veste. (…) Quando isso aconteceu, eu estava dormindo, mas de repente uma sensação incrível, que só pode ser descrita como “elétrica”, tomou conta do meu pequeno corpo. Era como se alguém tivesse me ligado numa tomada. Senti um formigamento como de agulhas – milhares delas-percorrendo meu organismo. (…) Quando acordei, a sensação extraordinária ainda perdurava. Abri os olhos e olhei ao redor, mas o sentimento intenso e poderoso continuava em meu íntimo. Sentia-me totalmente paralisado, não podia mover nenhum músculo. Nem uma pestana. Achava-me completamente congelado ali.

Por algum motivo as pessoas anseiam por esse tipo de coisa, por “sentir” fisicamente Deus. Minha teoria é que elas têm tanta dificuldade de crer em Deus, que uma sensação física é como se trouxesse Deus até o mundo material, é quase uma “prova” de sua existência. Por isso esse espírito de engano tem tanto espaço. E substitui o espiritual pelo sensorial/sentimental. E líderes que digam “olha, eu senti isso, eu senti aquilo, eu vi Jesus,  fui arrebatado, vi o céu, vi o inferno, etc. etc.” tentando passar super santidade acabam ganhando mais do que admiração do povo sedento.

Isso é normal entre alguns líderes evangélicos que ao mesmo tempo em que dizem que todos podem ter acesso a Deus, se colocam como seres especiais que têm contato e experiências com Deus quem ninguém mais tem.  Você vê as palavras “sentimento”, “torpor”, “me senti”, “chorar” com muita frequência. Para quem não tem intimidade com Deus, aquele relato emocional convence…mexe com seus sentimentos, afinal de contas,  quer ver Jesus, quer sentir o Espírito Santo, alguma sensação física que lhe faça ter certeza de que Ele existe! É um caminho bem mais fácil do que o da fé.

Muitas vezes, quando meus amigos vinham ver-me, eles começavam a chorar por causa da presença do Espírito Santo.

Agora me diz: quantas pessoas cheias do Espírito Santo, que você conhece, fazem seus amigos chorarem ao se aproximar? Eu te digo quantas conheço: nenhuma. Nem vemos isso na Bíblia. Note que ao mesmo tempo em que se esforça para parecer “humilde”, e que diz que você também pode ter aquela “unção”, Benny Hinn faz questão de se colocar em uma posição tão superior ao restante da humanidade, para jamais ser questionado.

Infelizmente, as pessoas têm sido facilmente enganadas pelas emoções, pelas sensações. O Espírito Santo não é uma sensação, um sentimento ou um amigo imaginário. Se você se contentar com isso, será para sempre enganado por um espírito que nada tem de santo, perdendo a oportunidade de ter uma experiência real com o verdadeiro Espírito Santo, através da fé racional. Se você tentar desenvolver uma intimidade com Deus através desses esforços emocionais, não conseguirá.

É um livro que eu considero perigoso para a fé. Primeiro, porque há um espírito ali. Um espírito enganador. Mistura verdade com mentira, coisas certas com coisas erradas e pode fazer uma grande confusão na cabeça de quem é sincero. Se quiser ter um relacionamento íntimo e verdadeiro com o Espírito Santo, busque diretamente nEle, e não queira ter experiências “como as de fulano”, nem se deslumbre com pirotecnias espirituais.

Não adianta um livro que fale coisas lindas a respeito do Espírito Santo se não é do Espírito Santo que ele está falando. Pode dizer coisas lindas, mas misturadas a outras que te trarão mais para perto de experiências emocionais e carnais (ou mesmo demoníacas) do que exatamente espirituais.

É o grande problema da igreja evangélica atual: a busca por emoções e sensações que não preparam a ninguém para os problemas que eventualmente irão enfrentar, apenas abrem espaço para espíritos estranhos. Cristãos emocionais são fracos, confusos, muitos acabam escravos de medicamentos para depressão e estresse ou não conseguem perdoar ao serem vítimas de alguma injustiça. Tudo isso porque as emoções foram alimentadas por tanto tempo que se tornaram a maior força na vida dessas pessoas e abriram espaço para atuação do mal em suas vidas.

Queimei o livro. Sim, não tenho coragem de jogar no lixo porque vai que alguém pega e lê? E antes que alguém me venha com “reter o que é bom”, você vai ler um livro com um conteúdo antibíblico e reter o que é bom? É como se eu lesse, sei lá, “A Bíblia de Satanás” e dissesse que vou “reter o que é bom”. Vamos aprender a não retirar os versículos de seu contexto. Paulo diz: “Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal” (I Tessalonicenses 5:20-22)

Vanessa Lampert

ATENÇÃO, ANTES DE COMENTAR, LEIA:

Se você ficou com muita vontade de me dizer que estou blasfemando contra o Espírito Santo ou que o Espírito Santo age de forma diferente com cada pessoa, por favor, leia esse textinho aqui ANTES de comentar, sobre o Espírito Santo: clique aqui para ler.

Comentários com xingamentos tradicionais ou com xingamento gospel, do tipo “Deus tenha misericórdia de você” (acredite, Ele tem. E de você também) não serão aceitos.

E, sim, eu tenho o direito de alertar que o espírito de Kathryn Kuhlman (que foi o que Benny Hinn pediu que entrasse nele) não é de Deus. Estou julgando com base na Bíblia, que é a forma certa de se julgar, segundo as Palavras de Jesus: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (João 7.24).

Para ler outras resenhas, Clique aqui.

PS: Lembrei desse post aqui (clique para ler).

PS2: Vocês já perceberam que todos esses livros que estamos analisando na série “Livros que não são o que parecem” têm as mesmas características? Foco na emoção, linguagem sentimental e manipuladora e distorções da verdade?

Originalmente publicado no blog Cristiane Cardoso. Clique aqui para ver a postagem original.(O blog da Cris foi reformulado e as postagens antigas se perderam, por isso os links que apontam lá não funcionam mais.