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Aborto, religião e saúde pública

Respondi  a um email de um religioso e o publicarei aqui, pois a dúvida desta pessoa pode ser a de muitas outras:

“Marque V ou F:
1. [ F  ] Descriminalização do aborto = Legalização do aborto”

Não necessariamente, depende da lei a ser proposta e aprovada. Pode deixar de ser crime, só isso. Ou pode deixar de ser crime e passar a ser feito nos hospitais, por médicos, com acompanhamento psicológico.

“2. [  F ] Legalização do aborto ==> Aumento no nº de assassinatos de bebês”

Não mesmo. Legalizar o aborto fará com que ele saia da clandestinidade e será possível aos hospitais fazerem o atendimento dessas mulheres, inclusive com triagem psicológica ou por assistente social. Só isso já aumenta – e muito – a probabilidade de a mulher mudar de ideia, pois na maioria das vezes o aborto é feito por desespero. E diminuirá a mortalidade materna em decorrência do aborto. Ou seja, não apenas menos bebês serão mortos como também menos mulheres serão mortas. Bebês vão para o céu. Mulheres adultas que não estiverem salvas, vão para o inferno. Estou certa de que para Deus o mais importante é que elas não morram, para que tenham chance de serem salvas. Ou a vida só vale antes de nascer?

“3. [ F  ] Legalização do aborto ==> Médicos serão obrigados oficialmente a matar bebês”

Médicos serão AUTORIZADOS a matar bebês que já seriam mortos de qualquer maneira, evitando a morte das mães (e provavelmente, evitando maior sofrimento para o feto). Assim como podem se negar a efetuar qualquer procedimento, poderão se negar a efetuar um aborto, e passá-lo para um colega.


“E daí, como fica aquele mandamento: “Não Matarás”?”

Quando o cristão despreza a vida de milhares de mulheres que morrem por não ter conseguido fazer a escolha certa, está sendo conivente com a morte delas. Quando prefere defender a vida do feto  e fecha os olhos para a morte das mães, está pegando em pedras e atirando contra aquelas a quem deveria ajudar. Julga, sem um pingo de amor, e assim se torna cúmplice do sangue daquela mulher. No momento estamos, enquanto sociedade, matando fetos e mães. Se o aborto deixar de ser crime, haverá menos mortes de fetos e de mães. Muitos cristãos são contra isso. E onde fica aquele mandamento “não matarás?” Aliás, falando em mandamento, acho engraçado que quando a gente diz: “olha, não diga isso, que isso é mentira”, as pessoas fecham os ouvidos e continuam espalhando emails maldosos que recebem. Onde ficam, então, esses mandamentos:

“Não espalharás notícias falsas, nem darás mão ao ímpio, para seres testemunha maldosa. ”  Êxodo 23:1

“não dirás falso testemunho contra o teu próximo”  Êxodo 20:16

Ou um mandamento é mais importante do que o outro? Os cristãos deveriam estar revoltados contra aqueles que querem manipulá-los e que jogam na rede textos falsos, textos fora de contexto, distorcidos, maliciosos. Te garanto que Deus está bem menos preocupado com descriminalização do aborto do que com cristãos que agem com hipocrisia, achando que têm o direito de julgar alguém, de condenar as pessoas, de usar de palavras maldosas e carregadas de preconceito. Só para que você tenha ideia do grau de importância que Deus dá para cada uma dessas coisas (e que nós também deveríamos seguir):

“Seis coisas o Senhor aborrece, e a sétima a sua alma abomina”

Quais são essas seis coisas que ele aborrece?

“olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras”

Veja que ele colocou tudo no mesmo saco: para nós, pior seria quem derrama sangue inocente do que língua mentirosa, não é mesmo? Mas para ele, é tudo a mesma coisa. E não é mentira grande, é qualquer mentira, pois ele não especifica. Mas a sétima, ele não apenas aborrece, sua alma ABOMINA:

“o que semeia contendas entre irmãos”

(Provérbios 6:16-19)

Para Deus é abominável não o que derrama sangue inocente, mas o que semeia contendas entre irmãos. Deus não vê como vê o homem, seus pensamentos são diferentes dos nossos (ainda bem). Se fôssemos julgar Deus como um humano, incorreríamos no mesmo erro dos fariseus, que se achavam nesse direito. E, lendo a Bíblia, a gente percebe que o que ele mais despreza é aquele que conhece a Palavra, mas se porta contra ela (se dizendo a favor), se agarrando a picuinhas, olhando tudo com maus olhos, enchendo o coração de malícias, se achando mais santo do que os outros.


Não quero discutir teorias sobre o aborto, o que está em discussão não é se ele é CERTO ou se ele é ERRADO (isso é ÓBVIO), mas se deve ser considerado CRIME ou não. Não é uma questão religiosa, não é discutir se a vida começa no momento da implantação do embrião no útero ou não, mas a discussão é: o que fazer com a situação que já existe? São MILHARES de mulheres que morrem por conta de abortos clandestinos no país. E muitas das que não morrem, se arrependem depois, mas não tiveram a chance de um acompanhamento profissional antes do procedimento. É isso o que está sendo discutido. Mas as pessoas não estão entendendo isso. Ou não querem entender.

PS: Clique aqui para ler quantas mulheres são internadas no SUS em consequência de abortos clandestinos mal feitos.

PS2: Clique aqui para ler: aborto é causa de 10% dos casos de mortalidade materna, e em alguns estados é a principal causa.

PNDH-3 é um monstro de 7 cabeças?

Eu ia escrever sobre o PNDH-3, mas o email que meu marido  enviou a familiares que estavam alarmados (por causa de um vídeo do início do ano, de uma entrevista de Gandra Martins à Band e que tem circulado em emails) com o PNDH-3 foi perfeito e pedi autorização para torná-lo público

A respeito do PNDH3

Por Davison Lampert

“Estou enviando o PNDH – 3 em anexo para os que quiserem averiguar se é verdade o que o jurista Ives Gandra Martins fala nesse vídeo. No final do arquivo, tem o o PNDH – 1 e o PNDH – 2.

Algumas coisas, entretanto, são tão diretas e óbvias que nem precisam comparações, como a questão do imposto sobre grandes fortunas, por exemplo. A redação PNDH – 3 só diz que ele deve ser regulamentado conforme diz a constituição. Nada mais.

Ou seja, o Sr. Gandra trata a questão como se fosse um conceito do Lula e do PT querer taxar os ricos e lançar o país no descrédito para os investidores (sic), mas se “esquece” de dizer que o tema está lá bem antes do governo do PT, que ele foi incluído na redação só para lembrar que ele está na Constituição e que não vem sendo aplicado. O pior é que ele faz esse tipo de jogo em todos esses temas do vídeo.

Se o problema é a viabilidade prática dessa Lei Magna, aí já é outra questão. Questão que deveria já ter sido tratada durante a Assembléia Constituinte e, nos últimos 15 anos, durante os debates as Conferências, mas parece que estavam todos dormindo durante as reuniões.

O PNDH não é uma imposição governamental muito menos uma Lei. São diretrizes que poderão ou não ser seguidas, dependendo da sociedade e dos políticos. E se aqueles quem tinham e tem a função de avaliá-lo e, se necessário, mudar-lhe a redação ficam quietos e só reclamam agora, deveriam ser responsabilizados por isso.

A verdade é que durante esses anos todos algumas coisas foram mudadas, a maior parte foi deixada como está e todos, bem felizes, assinaram em baixo. Se há celeuma e acusações agora, são por questões puramente eleitoreiras. Não tem outra justificativa. Até porque o que está lá pode (e deve) ser alterado pela sociedade, caso ela não esteja de acordo. Não há nenhum monstro dentro desse armário, como querem que pensemos.

Posso abordar com mais profundidade as incoerências entre o que a mídia mostra nesse temas problemáticos e o que aconteceu, item por item, se alguém quiser saber. Vai ficar bem comprido, mas não me importo em gastar meu tempo fazendo isso… se alguém realmente quiser saber.

Enfim, um outro especialista que deveria ser ouvido é o diplomata e cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, secretário de Direitos Humanos durante o governo Fernando Henrique Cardoso e relator especial da ONU sobre a situação de direitos humanos em Mianmar. Essa é a opinião dele sobre o PNDH – 3:


Em todo caso, é sempre aconselhável a gente mesmo comparar o texto das três versões do PNDH, principalmente nessas questões polêmicas. Só assim podemos ter certeza de não estarmos somente “comprando uma ideia” e também ver que o negócio já veio lá do governo do FHC-PSDB praticamente como é hoje. Infelizmente a nossa mídia comprometida com esse partido não quer que nos lembremos disso. Principalmente agora.

Assim como não quer que nos lembremos que todos esse assuntos foram discutidos em 27 Conferências Estaduais e que todos debateram e aprovaram o conteúdo do PNDH – 3, inclusive o Serra e outros políticos importantes do PSDB, com cobertura da imprensa.

Pena que em época de eleição há uma amnésia coletiva sobre os temas que farão a diferença para o futuro ao mesmo tempo em que existe um hiperfoco em temas que não fazem a menor diferença para o país e, principalmente, para o povo.

Pode-se dizer que o maior problema do Brasil é que ele “sofre de imprensa”.

Um abração,

Davison.”

PS: Clique aqui para abrir o PNDH-3
PS2: Existem muitos emails com mentiras e textos fora do contexto circulando contra o PNDH3. Então, não os repasse, nem repita seus conteúdos como se fosse verdade, sem antes ler atentamente o texto do PNDH3. E entenda que não se trata de um projeto de lei.