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Livros que não são o que parecem – Bom dia, Espírito Santo

Para quem não conhece, Bom dia, Espírito Santo (Good Morning, Holy Spirit) é um best-seller de Benny Hinn, pregador que se tornou famoso por derrubar as pessoas. Eu li esse livro na pré-adolescência (tinha uns 12 ou 13 anos), época em que estava em outra denominação e não conhecia o Espírito Santo, nem tinha muito senso crítico, então entrei na onda de todo mundo e achei o máximo, mas o tempo passou e eu nem me lembrava mais dele.  Então, há alguns anos, depois de ter recebido o Espírito Santo e de conhecer a Deus, resolvi reler, para saber o que acharia agora, depois de ter tido minhas próprias experiências com Deus. Gastei meu tempo e compartilho aqui a experiência para que você não precise gastar o seu e possa orientar a quem lhe perguntar a respeito dele.

O que este livro diz que é? Vamos ler a sinopse:

“Em “Bom Dia, Espírito Santo”, Hinn apresenta descobertas e verdades que Deus lhe tem ensinado através dos anos. Você irá adquirir um conhecimento mais profundo da Divindade e como os membros da Trindade interatuam entre si e conosco. “

Nãããão!!! Não acredite nessas palavras bonitas. Você não vai descobrir nada, nem adquirir coisa nenhuma, e já te explico o porquê.  Quem Benny Hinn “encontra” é uma entidade que se faz passar pelo Espírito Santo. A experiência que ele descreve é 100% emocional e, sinceramente, se alguém me dissesse que passou por aquilo, eu o encaminharia a uma reunião de libertação, com urgência.

Ele foi a uma reunião em que viu uma mulher manifestada com o que ela dizia ser o Espírito de Deus.

O culto só começaria dali a uma hora. Tirei o casaco, as luvas e as botas. Enquanto relaxava, percebi que tremia mais que antes. Não conseguia parar. As vibrações percorriam meu braço e pernas, como se estivesse ligado a uma espécie de máquina. A experiência era nova para mim. Para ser sincero, sentia medo.

Ele continua explicando a sensação, mas olha que esquisito:

Enquanto o órgão tocava, eu não conseguia pensar em outra coisa além do tremor em meu corpo. Não era uma sensação de “doença”. Não era como se estivesse pegando um resfriado ou uma virose. Na verdade, quanto mais continuava tanto mais bela parecia.

Afinal de contas, ele estava com medo, o tremor o incomodava tanto que não conseguia pensar em outra coisa, mas “quanto mais continuava tanto mais bela parecia”? O que significa isso? Não vi nada de belo em ter uma tremedeira descontrolada, incômoda e assustadora, do nada! Sabe o que é isso? A valorização da sensação. Já entro em detalhes quanto a isso.

Nesse momento, como se saísse do nada, Kathryn Kuhlman apareceu. Num instante a atmosfera naquele prédio ficou carregada.

“A atmosfera naquele prédio ficou carregada”. Mais um que precisa urgentemente de uma sessão de descarrego.

A evangelista continuou chorando por um período de mais ou menos dois minutos. Depois jogou a cabeça para trás. Ali estava ela, a alguns passos de mim, com os olhos chamejantes. Estava viva.

Desculpe, amigos, mas tenho que interromper. A linguagem deste livro é totalmente emocional, mais até do que a do “A Cabana”, mas o espírito é bem parecido.  Mas veja só por quê. O espírito que estava nessa mulher (e depois passou para o autor do livro) é extremamente teatral, performático. Ficou chorando convulsivamente por dois minutos, depois jogou a cabeça para trás.

Naquele momento ela mostrou uma ousadia que eu nunca vira em outra pessoa. Apontou com o dedo em riste, com enorme poder e emoção e até mesmo sofrimento. Se o próprio diabo estivesse lá, ela o teria derrubado com um simples golpe.

Ousadia, poder, emoção, sofrimento? Essa foi uma das cenas mais bizarras do livro. Só detalho aqui porque é a origem de todo o “Ministério” desse indivíduo. Vê-se com clareza que esse espírito é estranho.

Foi um instante de incrível dimensão. Ainda soluçando, Kathryn olhou para a audiência e disse em agonia: – por favor. – Ela pareceu esticar a palavra: – Por fa-a-vo-or, não entristeçam o Espírito Santo. –  Ela suplicava. Se você puder imaginar uma mãe rogando a um assassino que não mate o seu bebê, terá uma ideia do quadro. Ela pedia e suplicava.

Note que o autor evoca a imagem mais emocionalmente tocante o possível. Ele não se importa com o fato da coisa toda ser completamente desprovida de sentido, ele apenas quer que você “sinta” e para isso coloca essas frases sentimentais e sensoriais. Agora, como assim “uma mãe rogando a um assassino que não mate o seu bebê?” Veja que o Espírito Santo é colocado aqui em uma posição de fragilidade, como um bebê indefeso, o que contraria completamente o que a Bíblia diz que Ele é.

Ela disse então: – Vocês não compreendem? Ele é tudo o que eu tenho! Pensei comigo mesmo – Do que ela está falando? Sua súplica apaixonada continuou, e disse:

– Por favor! Não o magoem. Ele é tudo o que eu tenho. Não magoem o meu Amado! – Jamais esquecerei estas palavras. Posso lembrar ainda como sua respiração ofegava ao pronunciá-las.

Consegue ser mais dramático, emocionalmente carregado e pretensamente manipulador do que qualquer um dos livros anteriormente analisados nesta série jamais sonhou em ser. Se você não conhece o Espírito Santo, um aviso: Ele não é assim. Aqui sou obrigada a copiar e colar o que já escrevi sobre Ele em outra resenha: “Realmente, não tem nada a ver com o Espírito Santo que eu conheço

Aí me lembro de quando o Espírito de Deus se apossava de Sansão…a Bíblia diz que ele matou um leão com suas próprias mãos, lembra? E mil homens com uma queixada de jumento. ”

Quando Paulo disse “Não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Efésios 4:30) Não disse isso chorando, em agonia, com peninha do coitadinho do Espírito Santo indefeso. Preste atenção no versículo. É um alerta: não entristeçam o Espírito Santo, pelo bem de vocês mesmos, ou perderão a salvação. Nele nós fomos selados para o dia da redenção. “Entristecer” aqui tem o sentido de luto. Só se está de luto por quem já morreu. Entristecer o Espírito de Deus é se afastar dEle através do pecado e se aproximar da morte eterna. Não façam isso, para o seu próprio bem.  A coisa é bem mais racional do que parece.

Ela apontou então seu longo dedo para mim e disse com grande clareza:

– Ele é mais real do qualquer coisa neste mundo!

Quando ela olhou para mim e proferiu essas palavras, algo me agarrou literalmente por dentro. Gritei dizendo:

– “Eu preciso conseguir isso”.

Então esse é o ponto inicial do livro. Sua sede era de ter aquilo que ele viu ali. Descreve essa reunião mega emocional e irracional, com muita música e oração da mulher manifestada. Impressionado com a experiência (porque ele “sentiu” várias coisas durante a reunião e viu milagres), ele chega em casa e diz: “Eu quero ter o que a Kathryn Kuhlman tem!” Baseado nisso, busca, com toda a força, não o Espírito Santo da Bíblia, mas o espírito que ele viu manifestado em Kathryn Kuhlman, o que ele viu naquela reunião, para ter a experiência que ela teve.

Logo em seguida, começa a tremer, como tremeu na reunião. Depois descreve o que me parece um choque elétrico. O rapaz foi eletrocutado pela entidade e realmente acredita que aquilo era o Espírito Santo. Nada do que ele descreve parece o Espírito Santo que eu conheço. É só uma descarga elétrica emocional que o faz ser um super-crente que derruba os outros ao jogar seu paletó. O restante do livro por diversas vezes faz você ter uma vontade sincera de levar o rapaz a uma sessão de descarrego.

Ao contar sua história, Benny Hinn te faz crer que ele é um “escolhido”, cuja mãe católica pediu “Deus, se me deres um menino, eu o devolvo ao Senhor”. Assim, Hinn quer se mostrar mais do que um Profeta Samuel pós-moderno, um ser especial com experiências sobrenaturais desde a infância (ele diz ter visto Jesus e após a visão ficou imóvel e…adivinha? Sentindo choques elétricos! Que espírito é esse que trabalha com eletrochoque?).

Eu vi Jesus entrar em meu quarto. Ele usava trajes mais alvos que a neve e um manto vermelho escuro drapejado sobre a veste. (…) Quando isso aconteceu, eu estava dormindo, mas de repente uma sensação incrível, que só pode ser descrita como “elétrica”, tomou conta do meu pequeno corpo. Era como se alguém tivesse me ligado numa tomada. Senti um formigamento como de agulhas – milhares delas-percorrendo meu organismo. (…) Quando acordei, a sensação extraordinária ainda perdurava. Abri os olhos e olhei ao redor, mas o sentimento intenso e poderoso continuava em meu íntimo. Sentia-me totalmente paralisado, não podia mover nenhum músculo. Nem uma pestana. Achava-me completamente congelado ali.

Por algum motivo as pessoas anseiam por esse tipo de coisa, por “sentir” fisicamente Deus. Minha teoria é que elas têm tanta dificuldade de crer em Deus, que uma sensação física é como se trouxesse Deus até o mundo material, é quase uma “prova” de sua existência. Por isso esse espírito de engano tem tanto espaço. E substitui o espiritual pelo sensorial/sentimental. E líderes que digam “olha, eu senti isso, eu senti aquilo, eu vi Jesus,  fui arrebatado, vi o céu, vi o inferno, etc. etc.” tentando passar super santidade acabam ganhando mais do que admiração do povo sedento.

Isso é normal entre alguns líderes evangélicos que ao mesmo tempo em que dizem que todos podem ter acesso a Deus, se colocam como seres especiais que têm contato e experiências com Deus quem ninguém mais tem.  Você vê as palavras “sentimento”, “torpor”, “me senti”, “chorar” com muita frequência. Para quem não tem intimidade com Deus, aquele relato emocional convence…mexe com seus sentimentos, afinal de contas,  quer ver Jesus, quer sentir o Espírito Santo, alguma sensação física que lhe faça ter certeza de que Ele existe! É um caminho bem mais fácil do que o da fé.

Muitas vezes, quando meus amigos vinham ver-me, eles começavam a chorar por causa da presença do Espírito Santo.

Agora me diz: quantas pessoas cheias do Espírito Santo, que você conhece, fazem seus amigos chorarem ao se aproximar? Eu te digo quantas conheço: nenhuma. Nem vemos isso na Bíblia. Note que ao mesmo tempo em que se esforça para parecer “humilde”, e que diz que você também pode ter aquela “unção”, Benny Hinn faz questão de se colocar em uma posição tão superior ao restante da humanidade, para jamais ser questionado.

Infelizmente, as pessoas têm sido facilmente enganadas pelas emoções, pelas sensações. O Espírito Santo não é uma sensação, um sentimento ou um amigo imaginário. Se você se contentar com isso, será para sempre enganado por um espírito que nada tem de santo, perdendo a oportunidade de ter uma experiência real com o verdadeiro Espírito Santo, através da fé racional. Se você tentar desenvolver uma intimidade com Deus através desses esforços emocionais, não conseguirá.

É um livro que eu considero perigoso para a fé. Primeiro, porque há um espírito ali. Um espírito enganador. Mistura verdade com mentira, coisas certas com coisas erradas e pode fazer uma grande confusão na cabeça de quem é sincero. Se quiser ter um relacionamento íntimo e verdadeiro com o Espírito Santo, busque diretamente nEle, e não queira ter experiências “como as de fulano”, nem se deslumbre com pirotecnias espirituais.

Não adianta um livro que fale coisas lindas a respeito do Espírito Santo se não é do Espírito Santo que ele está falando. Pode dizer coisas lindas, mas misturadas a outras que te trarão mais para perto de experiências emocionais e carnais (ou mesmo demoníacas) do que exatamente espirituais.

É o grande problema da igreja evangélica atual: a busca por emoções e sensações que não preparam a ninguém para os problemas que eventualmente irão enfrentar, apenas abrem espaço para espíritos estranhos. Cristãos emocionais são fracos, confusos, muitos acabam escravos de medicamentos para depressão e estresse ou não conseguem perdoar ao serem vítimas de alguma injustiça. Tudo isso porque as emoções foram alimentadas por tanto tempo que se tornaram a maior força na vida dessas pessoas e abriram espaço para atuação do mal em suas vidas.

Queimei o livro. Sim, não tenho coragem de jogar no lixo porque vai que alguém pega e lê? E antes que alguém me venha com “reter o que é bom”, você vai ler um livro com um conteúdo antibíblico e reter o que é bom? É como se eu lesse, sei lá, “A Bíblia de Satanás” e dissesse que vou “reter o que é bom”. Vamos aprender a não retirar os versículos de seu contexto. Paulo diz: “Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal” (I Tessalonicenses 5:20-22)

Vanessa Lampert

ATENÇÃO, ANTES DE COMENTAR, LEIA:

Se você ficou com muita vontade de me dizer que estou blasfemando contra o Espírito Santo ou que o Espírito Santo age de forma diferente com cada pessoa, por favor, leia esse textinho aqui ANTES de comentar, sobre o Espírito Santo: clique aqui para ler.

Comentários com xingamentos tradicionais ou com xingamento gospel, do tipo “Deus tenha misericórdia de você” (acredite, Ele tem. E de você também) não serão aceitos.

E, sim, eu tenho o direito de alertar que o espírito de Kathryn Kuhlman (que foi o que Benny Hinn pediu que entrasse nele) não é de Deus. Estou julgando com base na Bíblia, que é a forma certa de se julgar, segundo as Palavras de Jesus: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (João 7.24).

Para ler outras resenhas, Clique aqui.

PS: Lembrei desse post aqui (clique para ler).

PS2: Vocês já perceberam que todos esses livros que estamos analisando na série “Livros que não são o que parecem” têm as mesmas características? Foco na emoção, linguagem sentimental e manipuladora e distorções da verdade?

Originalmente publicado no blog Cristiane Cardoso. Clique aqui para ver a postagem original.(O blog da Cris foi reformulado e as postagens antigas se perderam, por isso os links que apontam lá não funcionam mais.

Livros que não são o que parecem – A Cabana

Mack é casado e teve três filhos. Sua mulher é uma cristã fervorosa, participa das atividades de sua igreja e chama Deus de “Papai”. Durante um acampamento em família, uma tragédia acontece: Missy, a filha mais nova de Mack, é raptada e assassinada em uma cabana. Anos se passam e Mack continua em depressão por conta do crime, pois não se conforma com a crueldade que lhe roubou a criança de cinco anos, e se ressente de Deus. Certo dia, recebe um bilhete:

Mackenzie

Já faz um tempo. Senti sua falta. Estarei na cabana no fim de semana que vem, se você quiser me encontrar.

Papai.

Como Mack matou o pai alcoólatra e abusivo quando era adolescente, aquele bilhete é ainda mais perturbador. Após alguma hesitação, vai até a cabana onde sua filha foi assassinada. Adormece, e quando acorda, ela está totalmente diferente e habitada por três estranhas criaturas. São os três piores personagens do livro,  mal construídos. Era para ser a trindade. Deus Pai aparece em forma de uma “negra enorme”, nas palavras do autor. Ela o abraça, espalhafatosa e caricata. A explicação para que apareça em forma feminina é até plausível:

“Se eu me revelasse a você como uma figura muito grande, branca e com aparência de avô com uma barba comprida, simplesmente reforçaria seus estereótipos religiosos. É importante você saber que o objetivo deste fim de semana não é reforçar esses estereótipos.”

Ok, tem alguma lógica nessa desculpa. O problema é que não é apenas uma questão de aparência para “quebrar o gelo” ou “não reforçar os estereótipos”. A mulher cantarola, assa bolinhos, e todo seu comportamento me fez pensar: “que deus mais dissimulado, falso, fica o tempo inteiro representando um papel…o que aconteceu com o ‘Eu sou o que sou’?”. Eu tive essa impressão de dissimulação o tempo todo.

Mack está angustiado, procurando respostas para a tragédia que se abateu sobre a sua família, mas não as encontra nunca. Sempre que faz alguma pergunta, recebe respostas evasivas e emocionais. Aliás, linguagem do livro é totalmente emotiva.

Ah, eu já ia me esquecendo do restante da trindade. O “Espírito Santo” é representado como uma mulher asiática chamada Sarayu…a descrição me trouxe à mente algo próximo a uma fadinha: ”

“Ela parecia tremeluzir na luz e seu cabelo voava em todas as direções, apesar de não haver nenhuma brisa. Era quase mais fácil vê-la com o canto do olho do que fixando-a diretamente”.

Amigos, meu cabelo também voa em todas as direções, mas resolvo rapidinho com um bom creme sem enxague. Não entendi muito bem qual é a real utilidade desse ser, e pelo visto, o autor também não. Ela fica tremeluzindo para lá e para cá, recolhendo lágrimas com um pincel (para colecionar), mexendo no jardim e fazendo discursos melosos e desconexos. Realmente, não tem nada a ver com o Espírito Santo que eu conheço

Aí me lembro de quando o Espírito de Deus se apossava de Sansão…a Bíblia diz que ele matou um leão com suas próprias mãos, lembra? E mil homens com uma queixada de jumento. Imagino essa figura Sarayu se apossando de Sansão e o herói rodopiando entre seus inimigos, dançando e recolhendo lágrimas…ou fazendo carinho no leão e oferecendo o braço para ser comido.

E Jesus…bem, o Jesus de “A Cabana” me pareceu um bobalhão inexpressivo, apesar do “Papai” do livro dizer que Ele é o centro de tudo, não dá para entender o porquê.

“O homem, que parecia ter 30 e poucos anos e era um pouco mais baixo do que Mack, interrompeu:
– Tento manter as coisas consertadas por aqui. Mas gosto de trabalhar com as mãos, se bem que, como essas duas vão lhe dizer, sinto prazer em cozinhar e cuidar do jardim.”

Jesus gosta de cuidar do jardim. E o jardim são as almas humanas. Nem preciso dizer o que me veio a cabeça: Jesus é o Jardineiro…

Eu já disse em outro texto que tenho um bom raciocínio lógico, não é? Isso tem um efeito colateral. Sabe aquele amontoado de frases bonitas, emocionais, mas sem muito sentido, que as pessoas leem e dizem: “nossa, que lindo?” Eu não consigo achar lindo. Só o que vejo é que elas não fazem sentido. Sou o tipo de gente que se ouvir uma melodia linda, mas com uma letra horrível ou sem nexo, não vai gostar da música. E posso gostar de uma música com melodia ruim, desde que tenha uma letra inteligente.

“A Cabana” tem uma melodia feita para emocionar, mas a letra é confusa e sem nexo. Mack tenta pensar, mas “deus” faz com que ele sinta. Tudo é sobre o amor, mas não o amor que a Bíblia descreve e explica, e sim, o amor-sentimento. Você  pode achar lindo, pode parecer que é um deus condescendente, que dá para encaixar mais facilmente na caixinha que tem em cima do criado-mudo, mas não é o verdadeiro Deus.

“Deus, que é a base de todo o ser, mora dentro, em volta e através de todas as coisas”

Isso é dito pelo “jesus” de William Young. Me parece uma definição emprestada de alguma linha esotérica. Deus mora dentro, em volta e através de todas as coisas? Quando eu leio “de todas as coisas” minha tendência é pensar nas coisas mais esdrúxulas, mais ruins. Deus mora dentro, em volta e através disso também? Deus é puro, santo e justo. Se a Bíblia não diz que Ele mora dentro de todas as pessoas, vai morar dentro de todas as coisas?

”Quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos”

A teoria aqui é que a trindade estava encarnada em Jesus, 100% humano. O que faria com que o universo inteiro ficasse sem Deus por 33 anos. Imagine o que o diabo não faria com um universo desgovernado em suas mãos por 33 anos? Mas isso não é problema para o deus de “A Cabana”, pois o diabo não é sequer mencionado. E outra, se fosse assim, Jesus precisaria orar ao Pai? E falaria do Pai e do Espírito Santo em terceira pessoa?

O deus de Young diz:

“Há milhões de motivos para permitir a dor, a mágoa e o sofrimento, em vez de erradicá-los, mas a maioria desses motivos só pode ser entendida dentro da história de cada pessoa.”

Primeiro: há milhões de motivos, mas ele não cita nenhum. Se era o caso de dizer que dependia da história da pessoa, poderia ter começado pela história do próprio Mack. O que eu entendo desse trecho é que Deus permite o sofrimento por um motivo, para um resultado positivo…a ideia de “provação” ou “karma” poderia ser empregada aqui. Ideia totalmente equivocada. O confuso autor tenta explicar o que não entende.

Por enquanto só quero que você esteja comigo e descubra que nosso relacionamento não tem a ver com seu desempenho nem com qualquer obrigação de me agradar.

Quer dizer que é possível ter um relacionamento com Deus sem agradá-lo? Que tipo de relacionamento é esse que não tem a ver com nosso desempenho ou esforço? Que porta larga é essa? Nenhum relacionamento verdadeiro se sustenta sem o esforço de agradar ao outro, nenhum relacionamento independe de desempenho, só o emocional, vazio e inócuo que o deus Young tenta vender aos leitores.

Não sou um valentão nem uma divindade egocêntrica e exigente que insiste que as coisas sejam feitas do jeito que eu quero. Sou boa e só desejo o que é melhor para você. Não é pela culpa, pela condenação ou pela coerção que você vai encontrar isso. É apenas praticando um relacionamento de amor. “

Esse é o “estilo literário” do próprio diabo, distorcendo a verdadeira imagem de Deus. Lembro das palavras do espírito maligno que apareceu para o amigo perturbado de Jó:

“Eis que Deus não confia nos seus servos e aos Seus anjos atribui imperfeições” (Jó 4:18)

Analise a lógica distorcida do diabo. Na opinião dele, não foi ele quem caiu, não foi ele que errou, Deus é que lhe atribuiu imperfeições! Esse mesmo raciocínio pode dizer que Deus exige que as coisas sejam feitas da maneira correta não porque Ele é santo e justo, mas porque Ele é “uma divindade egocêntrica e exigente”.

Por fim, Mack encontra os mortos. Primeiro, vê sua filha e…sentimentalismo, sentimentalismo…depois, encontra seu pai (o que ele está fazendo no céu? Boa pergunta. Nesse livro, todo mundo vai para o céu), em um dos capítulos mais esquisitos do livro.  Te convido a analisar de maneira fria e cerebral o seguinte trecho:

Quando chegou a Sarayu, ela o abraçou também e ele deixou que ela o segurasse enquanto continuava a chorar. Quando recuperou uma leve tranqüilidade, virou-se para olhar de novo a campina, o lago e o céu noturno. Um silêncio baixou. A antecipação era palpável. De repente, à direita, saindo da escuridão, surgiu Jesus e o pandemônio irrompeu. Ele vestia uma roupa branca e usava na cabeça uma coroa simples de ouro, mas era, em cada centímetro do seu ser, o rei do universo.

Note a carga emocional desse trecho. Ela o abraça, ele chora…depois as descrições sensoriais: cita a tranquilidade, faz o leitor “ver” a campina, o lago e o céu noturno (céu noturno, para que você também “veja” as estrelas em sua imaginação), depois faz o leitor “escutar” o silêncio.  ”A antecipação era palpável” te traz uma sensação de expectativa. “De repente” te traz uma nova e súbita visão. Ok, é um romance, é necessário utilizar recursos que evoquem emoções e sensações no leitor, porém quando o livro não tem nada além disso, passa a ser um problema: Você está sendo manipulado. Entendendo isso, analise a sequência:

Seguiu pelo caminho que se abriu à sua frente até chegar ao centro – o centro de toda a Criação, o homem que é Deus e o Deus que é homem. Luz e cor dançavam e teciam uma tapeçaria de amor para ele pisar. Alguns choravam, dizendo palavras de amor, enquanto outros simplesmente permaneciam de mãos levantadas. Muitos daqueles cujas cores eram as mais ricas e profundas estavam deitados com o rosto no chão. Tudo que respirava cantava uma canção de amor e agradecimento sem fim. Nessa noite o universo era como devia ser.

Sensorial, sentimental…Quando ele fala de “luz e cor” é porque, segundo ele, a personalidade e as emoções das pessoas são visíveis espiritualmente como cor e luz. Agora me diga, please, o que raios significa “Luz e cor dançavam e teciam uma tapeçaria de amor para ele pisar”?  Temos aqui uma construção que traz sonoridade…e só. Como uma melodia com letra desconexa, mas se você prestar atenção, é uma melodia pobre, vazia. Parece bonita, mas nem isso é. E assim eu vejo todo esse parágrafo. Mas o próximo é pior:

Quando chegou ao centro, Jesus parou para olhar em volta. Seus olhos pousaram em Mack, que, parado na pequena colina, ouviu Jesus sussurrar em seu ouvido:
— Mack, eu gosto especialmente de você. – Foi tudo que Mack conseguiu suportar enquanto caía no chão dissolvendo-se numa onda de lágrimas jubilosas. Não podia se mexer, preso no abraço de Jesus, feito de amor e ternura.

Amigos, vejo uma fanerose aqui? Mack “caiu no poder”? Fora isso, note a quantidade de sentimentalismo e termos sensoriais. Sem contar a breguice das frases, me desculpe, mas “Dissolvendo-se numa onda de lágrimas jubilosas”…”feito de amor e ternura”…bleargh.

Não vou me estender sobre os recursos literários que me irritam em Young, porque o conteúdo do livro já o desqualifica como leitura, então não adianta eu te dizer que ele não é bem construído. O perigo é ele fisgar o coração dos leitores e convencê-los de que aquilo que ele descreve é Deus.

Para escrever sobre “A Cabana”, dei uma olhada em alguns comentários de pessoas que o leram e fiquei assustada. Muitos mudaram sua forma de enxergar Deus por causa do livro! Isso é muito sério! As pessoas tomam a ficção como se fosse verdade, acima até da Bíblia. Isso é resultado apenas de uma coisa: do tipo de fé que estão acostumadas a ter. Se a sua fé é emocional, você vai se deleitar com as frases melosas desse livro, vai desejar estar naquela Cabana, com aqueles seres “fantásticos”.
Mas o resultado disso é que se verá orando para, adorando a, e desejando se relacionar com um personagem que não é Deus. Na melhor das hipóteses, é somente criação da mente confusa do autor. E na pior das hipóteses é a entidade que inspirou tudo isso. Em qualquer uma das opções, perderá a oportunidade de conhecer o verdadeiro Deus e dará sua adoração a outro. E quando falamos de salvação eterna, isso, meus amigos, é mais do que perigoso.

Vanessa Lampert

Para ler outras resenhas, Clique aqui.

UPDATE: Troquei a imagem do post, porque me dei conta de que tem gente tão desatenta, mas tão desatenta (ou tem preguiça de ler), que nem o título lê direito, vê apenas a imagem da capa e acha que é a Cristiane  indicando o livro! Assim, se não quiserem ler, pelo menos perceberão que eu não estou indicando o livro (muito menos a Cristiane!).

Originalmente postado no blog Cristiane Cardoso. Clique aqui para ver a postagem original.(O blog da Cris foi reformulado e as postagens antigas se perderam, por isso os links que apontam lá não funcionam mais.