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Tragédia anunciada

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Amy Winehouse morreu hoje, é o que dizem os jornais. Ainda espero uma notícia desmentindo essa informação, mas não sei se virá. Escrevi em janeiro o seguinte post: https://www.vanessalampert.com/?p=990 e após dias sem entrar no twitter, eu infelizmente estava por lá quando soube do ocorrido.

Saí rapidamente antes que excluísse uma multidão de meu twitter, pelos comentários imbecis e brincadeirinhas de mau gosto. Amy fez as piores escolhas possíveis em sua vida, mas não teve muito apoio para fazer escolhas melhores. Dava um certo desespero ver a imprensa fazer comentários cruéis e agressivos como se ela não fosse um ser humano e, por outro lado, o mesmo desespero ao vê-la ser reverenciada por músicas com letras que louvavam seu estilo de vida, como “Rehab”. Quando a mãe dela sugeriu que parassem de premiá-la, pois aquilo estava apenas reforçando o comportamento destrutivo, foi censurada e ridicularizada.

Sugaram até a última gota de sangue de Amy e agora deliciam-se com sua morte, como aves de rapina. Como fizeram com Michael Jackson, como fizeram com Elvis Presley, como fizeram com tantos outros ícones da música…pessoas que deixam de ser pessoas, são pisoteadas pela mídia e pela crueldade humana em geral e depois de irem para o lixo, esse lixo é embalado em papel especial de glamour como se fosse sublime morrer por overdose, jogado em um canto qualquer da sala de jantar.

Fico triste pela extrema falta de amor ao próximo e pela hipocrisia alarmante que se expressa nesses momentos (a imprensa agora irá exaltá-la no mais alto grau, enquanto nos comentários as pessoas alternarão entre brincadeiras de mau gosto e retratos de crueldade). Prefiro desligar a internet e mergulhar no trabalho, que ganho mais. Mas não conseguiria deixar de desabafar aqui e de externar meu profundo pesar por essa menina ter morrido lentamente diante de nossos olhos durante anos e ninguém ter feito nada para evitar. As escolhas dela foram erradas, e as escolhas de todos os outros que estavam perto, que poderiam ter se esforçado, também.

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A responsabilidade é dela, acima de tudo, por aceitar esse mal em sua vida sem lutar com todas as suas forças para se livrar dele. Mas  também é de todas as outras pessoas que poderiam ter estendido a mão, poderiam ter pensado “dane-se o dinheiro que vamos perder, não podemos tirar a dignidade dela e fazer com que se afunde ainda mais”. Ela já estava melhor, havia engordado um pouco, conseguiu deixar as drogas, estava lutando para largar o álcool e parece que teve uma recaída fatal. Muitas pessoas conseguem largar sozinhas os vícios, mas infelizmente a maioria não tem essa força e vira escrava, literalmente.

Você realmente acha que alguém queira destruir sua vida, sua carreira e morrer de maneira estúpida? Você realmente acha que alguém escolheria isso para a sua vida ao invés de um futuro longo, cheio de alegria, saúde e realizações pessoais e profissionais? Ela poderia ter feito mais por si mesma, nós poderíamos estar fazendo mais por nós mesmos e pelos que estão à nossa volta, sofrendo, precisando de ajuda e sem ter forças para sair do buraco. No entanto, só o que sabemos fazer é criticar e apontar o dedo. E volto ao texto de janeiro https://www.vanessalampert.com/?p=990 ” É por essas e outras que eu digo que se realmente houver vida inteligente fora da Terra, se for realmente inteligente, certamente mantém distância segura deste planeta.”


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PS: E você que não consegue parar de fumar? E você que entorna garrafas e garrafas de bebida até não conseguir se manter em pé? E você que se enche de remédios todos os dias? E você que come porcarias até passar mal? E você que nutre uma mágoa contra alguém e nem pensa em perdoar? E você que olha a vida (sua e dos outros) com maus olhos? Será que você também não está se matando aos poucos? Será que também não está “buscando esse fim”? O que te leva a achar que tem o direito de apontar o dedo para Amy Winehouse e dizer que ela simplesmente encontrou o que queria?

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Veja que senso de humor

Recebi umas quatro vezes  o email abaixo, me convidando para renovar uma assinatura de Veja que eu nunca tive.  O email tem o sugestivo título: “O que vale mais? O que você ouve ou o que você lê?”

O universo tem grandes mistérios. Um deles é: por que raios recebi este mesmo email em um dia, uma semana depois e nos dois dias seguintes? Quatro vezes o mesmo email! Eu havia recebido anteriormente um outro pedido de assinatura, me dizendo que eu não poderia perder a oportunidade de assinar Veja pela metade do preço, que seria somente aquele dia. O Aecinho Neves sorria para mim na capa, abrindo sua camisa para mostrar o uniforme de Super Homem, com um chifrinho formado pelo “V” de Veja atrás de sua cabeça. Apelativo, mas não foi suficiente. Olhar a cara do Aécio só me fez lembrar que Veja…bem, que Veja é Veja.

Eis que agora recebo quatro emails oferecendo a assinatura pela metade do preço. Ué, não era só aquele dia? Também recebi um email anunciando a lindíssima edição especial, falando sobre “os desafios da presidente eleita”. Estava nos Spams.

Colo o email abaixo, com meus comentários destacados. E please, alguém me diga se também recebeu isso e se isso é realmente um email da Veja, ou se é alguma brincadeira de mau gosto…

Primeiro, algumas partes realmente “relevantes” e meus comentários, depois o troço na íntegra:

” Nesse tempo, vimos o país crescer, a partir de cidadãos conscientes – como você – que entendem o processo democrático e o consolidam a cada dia.”

– Sim, tanto que votei na Dilma, para melhor consolidar o processo democrático.

“Oferecer a notícia pura e simples é pouco.”


Veja só que frase linda. Como pouco? Oferecer a notícia pura e simples é suficiente! Não é esse o objetivo de informar? Aqui Veja confessa que não tem o menor interesse em oferecer a notícia pura e simples. Prefere oferecer a notícia impura, maculada, poluída, de uma maneira complexa, para melhor manipular o leitor.

“A fim de dar mais elementos para você ter a sua opinião, é preciso que os fatos cheguem já selecionados e analisados, dando a dimensão de como poderão mexer com o seu dia a dia.”


Tradução: “Como você, leitor, é burro, ignorante e desprovido de capacidade de julgamento, não é suficiente passar a informação pura e simples. É preciso que a Veja selecione e analise os fatos para você, ou seja, nós lemos e entendemos por você e te dizemos o que você deve pensar, direcionando sua visão e dizendo em que aqueles fatos afetam a sua vida. É claro! Fazemos por nossos leitores o que eles não sabem fazer sozinhos. Colocamos o fato em nossa boca, mastigamos por você e o vomitamos em sua boca, semi-digerido. Temos certeza de que isso te será extremamente agradável.” Sério mesmo. Será que sou só eu que percebo o quanto Veja subestima a inteligência de seus leitores? Subestima, não, despreza mesmo. Veja te despreza, caro leitor. Por que você também não a despreza?

A notícia, interpretada em todos os ângulos, está nas páginas de VEJA, a maior, a mais lida, a mais influente revista do país.”

Argh!   Não, isso não pode ser sério: “A notícia, interpretada em todos os ângulos, está nas páginas de Veja” Não precisa ter mais de dois neurônios fazendo uma mísera sinapse para se sentir ofendido com essa carta. “Interpretar” notícia? Isso meu cérebro faz, cara Veja, não preciso de revista para me “interpretar notícia”, preciso de revista que me passe a informação. Pura e simples, aliás. A interpretação do texto meu cérebro faz muito bem, obrigada.

“As páginas esclarecedoras de VEJA vão ajudar nas suas decisões pessoais e profissionais.”


Bonitinho, né? Não basta dizer em quem devo votar, agora Veja quer me ajudar nas minhas decisões pessoais e profissionais? Mamãe!!! Veja quer ser minha mãe. Mas eu vou fazer 31 anos, Veja, minhas decisões pessoais e profissionais não são da sua conta, eu mesmo as tomo. Vejam só a imagem que Veja faz de seus leitores. Além de ignorantes e incapazes de interpretar um texto e de entender uma informação sem ajuda dos universitários, eles também são profissional e pessoalmente incompetentes, precisando de um “guia” que os oriente em suas decisões. Em SUAS decisões, caro leitor. Quer vender sua alma para a Veja?

“Sobretudo agora, com novos governantes no Brasil… Mudanças impactantes nos EUA, na Europa, na Ásia… Luta do planeta pela sustentabilidade… Avanços surpreendentes da tecnologia…Novos desafios para as empresas, novas oportunidades no mercado de trabalho…”


E o Quico? Veja quer me ajudar nas minhas decisões profissionais e pessoais, já que temos novos governantes no Brasil, mudanças impactantes no exterior, luta do planeta pela sustentabilidade, avanços na tecnologia,novos desafios para as empresas, novas oportunidades no mercado de trabalho…ou seja, é muita informação para o leitor da Veja absorver, por isso ele pre-ci-sa que a revista o ajude a tomar suas decisões. Help me, Veja!

“Você tem uma grande história pela frente com VEJA.”


Vixe, olha a Veja jogando praga! Tá amarrado, em nome de Jesus!

“A VEJA das reportagens que repercutem no Brasil inteiro, a VEJA das entrevistas marcantes, a VEJA que vigia a conduta de todos os governos em todos esses anos. A VEJA que tem colunistas renomados, como Roberto Pompeu de Toledo, Stephen Kanitz. J. R. Guzzo, Diogo Malnardi, Lya Luft…”


[Vontaderrir] “A Veja das reportagens que repercutem no Brasil inteiro”. Tem razão. Basta descer a barra de rolagem e ler os últimos posts deste blog. “A Veja das entrevistas marcantes”, sim, a mais marcante, para mim, foi aquela que o Eduardo Viveiros de Castro não deu à Veja. Clique aqui para ler. “A Veja que vigia a conduta do governo”??? Veja é ridícula! Como assim “vigia a conduta”? Veja é mãe, Veja é polícia política… sério, mesmo?


Deveria ser: ” A Veja que persegue governos que não a beneficiam”, “A Veja que persegue igrejas que incentivam seus membros a pensar por conta própria – ao contrário do que a Veja faz”, ” A Veja que usa grampos sem áudio e testemunhas compradas para embasar suas reportagens”, “A Veja que não se importa em destruir vidas e famílias para ‘provar’ as acusações que inventa”. “A Veja que distorce fatos, condena o suspeito, executa o investigado e passa por cima da justiça”. “A Veja que só procura leitores, já que dinheiro ela consegue com o governo do estado de São Paulo”.


A lista dos “Colunistas renomados” é risível e foi uma das muitas partes do email que me fez acreditar que ele era fake. Primeiro, porque onde está o Reinaldo Azevedo? Segundo, Diogo Mainardi não foi abduzido de volta ao planeta dele?

“Assine agora e leia toda semana a sua VEJA de sempre, ágil e bem escrita.”


Ou uma coisa, ou outra. Se é a “Veja de sempre”, não é ágil e bem escrita. E se o convite é para ler a Veja de sempre, obrigada, declino.

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De: Revista VEJA<[email protected]>

Data: 3 de novembro de 2010 15:27

Assunto: O que vale mais? O que você ouve ou o que você lê?

Para: [email protected]

VANESSA,

É um prazer reencontrar você, que já foi assinante de VEJA, num momento tão especial.

Neste ano, VEJA completou 42 anos, registrando e documentando a história de seu país e da sua vida. Nesse tempo, vimos o país crescer, a partir de cidadãos conscientes – como você – que entendem o processo democrático e o consolidam a cada dia.

Oferecer a notícia pura e simples é pouco. A fim de dar mais elementos para você ter a sua opinião, é preciso que os fatos cheguem já selecionados e analisados, dando a dimensão de como poderão mexer com o seu dia a dia.

A notícia, interpretada em todos os ângulos, está nas páginas de VEJA, a maior, a mais lida, a mais influente revista do país. A terceira maior revista semanal de informação do mundo, depois de Time e Newsweek.

As páginas esclarecedoras de VEJA vão ajudar nas suas decisões pessoais e profissionais. Sobretudo agora, com novos governantes no Brasil… Mudanças impactantes nos EUA, na Europa, na Ásia… Luta do planeta pela sustentabilidade… Avanços surpreendentes da tecnologia…Novos desafios para as empresas, novas oportunidades no mercado de trabalho…

Você tem uma grande história pela frente com VEJA. A VEJA das reportagens que repercutem no Brasil inteiro, a VEJA das entrevistas marcantes, a VEJA que vigia a conduta de todos os governos em todos esses anos. A VEJA que tem colunistas renomados, como Roberto Pompeu de Toledo, Stephen Kanitz. J. R. Guzzo, Diogo Malnardi, Lya Luft…

Enfim, a VEJA que você não pode perder. E a VEJA que não quer perder você. Por isso, nosso convite para você é especial:

R • 50% de desconto para você assinar por 1 ou 2 anos. Em vez de pagar R$ 8,90 por exemplar, você paga apenas R$ 4,45.

• Outros presentes exclusivos para nossos assinantes: sempre que VEJA lançar Edições Especiais, com temas que interessam a toda a família, você vai recebê-las GRÁTIS.

Assine agora e leia toda semana a sua VEJA de sempre, ágil e bem escrita. Será uma grande alegria entregá-la em sua casa. Receba novamente as nossas melhores boas-vindas!
Marcia Donha
Gerente de Assinaturas – Revista VEJA


Minhas conclusões:

Veja é deliberadamente escrita para gente burra e sem senso crítico, com preguiça mental. É essa a ideia que ela faz de seus leitores. Disso eu já tinha desconfiado e comentei a respeito no post “A lógica de Veja” (clique aqui para ler, embora esteja logo ali)

Veja não quer sua assinatura, Veja não quer o seu dinheiro. Veja quer a sua alma.

PS: Oi, leitores! Estou feliz em vê-los aqui, leio os comentários e quero conseguir dar um feedback para todo mundo, assim que puder.

PS2: Davison é terrível. Ao ler o email, me disse que era assinado por uma tal M. Donha. 🙂

PS3: Pesquisei e descobri que o texto não só é real, como também é antigo, e a Veja, cara-de-paumente, continua enviando malas diretas com esse apelo. Clique aqui para ler um post do ano passado, de alguém que também se indignou com o “interpretamos a notícia para você pela metade do preço”

PS4: Respondendo à pergunta de Veja: “O que vale mais? O que você ouve ou o que você lê?” O que for verdade.

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