Mês: novembro 2014

Eu não quero ter sorte

tomato

Você deve achar que eu enlouqueci. O problema é que as pessoas acreditam que sorte é o contrário de azar. Logo, quem não quer ter sorte, automaticamente quer ter azar. No entanto, sorte e azar são exatamente a mesma coisa: fruto do acaso. O dicionário Houaiss confirma isso de um modo muito curioso. O verbete “sorte” é definido primordialmente como: “Força invencível a que se atribuem o rumo e os diversos acontecimentos da vida”.  Já o verbete “azar” começa com a interessante definição de: “Sorte contrária; revés, infelicidade, infortúnio.”

Azar, então, pode ser definido como “sorte contrária”. É o outro lado da mesma moeda. É a mesma força, agindo de forma oposta. Quem depende da sorte, pode ser alcançado pelo azar, pois está se expondo à mesma influência. Eu estava escrevendo sobre isso e me deparei com o post de hoje do Renato Cardoso, em que ele fala sobre “sorte no amor”. E o que ele diz tem absolutamente tudo a ver com isso:

“Note uma coisa ao seu redor: as pessoas mais azaradas no amor são aquelas que deixaram seu destino amoroso à mercê da sorte. “

Eu participo das palestras semanais e ingressei no programa de 21 dias “Do errado ao certo” porque eu sou um ser humano feliz que participa das coisas. Não tem nada de errado no meu casamento, pelo contrário, as coisas vêm se endireitando cada vez mais, mas justamente por isso eu continuo investindo no meu relacionamento, porque não quero ter sorte, quero ver o resultado dos nossos anos de trabalho conjunto. Ingressei no programa de 21 dias para consertar o que não está do jeito que eu queria em outras áreas da minha vida. É um programa de desenvolvimento pessoal, então não serve só para quem está com tudo errado na vida amorosa. Pelo menos, é assim que vejo.

E percebi recentemente que são poucas as pessoas que enxergam as coisas dessa maneira. Ainda que digam que confiam em Deus, na verdade, confundem Deus com sorte. Acham que “esperar em Deus” é sentar em uma poltrona e cruzar os braços. Esperar em Deus é depositar sua esperança nEle e, com a certeza do que deve ser feito, executar a sua parte no acordo. É uma parceria, pois Deus não é garçom, Ele não vai trazer seu pedido em uma bandeja enquanto você espera sentadinho à mesa. Pode esquecer, meu amigo. Ele é parceiro, o maior sócio que você poderia ter em seus projetos, pois tem todos os contatos, todo o know how e todo o poder para fazer até a situação mais absurda se tornar real. Você acha mesmo que iria firmar uma parceria com um sócio assim sem precisar fazer nada?

Muitos crentes bem-intencionados por aí confundem a “graça” de Deus com receber coisas de graça de Deus. Não é bem assim. Há um preço a se pagar. E esse preço é se esforçar violentamente. Sacrificar sua vontade de ficar deitado no sofá recebendo uvas na boquinha e ir à luta, sempre colocando sua esperança e sua confiança nEle, não em outras pessoas, nem na força do seu braço. Mas o seu braço não pode parar de trabalhar. Ele prometeu abençoar o trabalho das suas mãos. Então, mãos à obra. Em todas as áreas da sua vida. Pode tratar de se mexer. Que a sorte se mantenha à distância. Que o acaso vá ver se eu estou na esquina. Eu faço o meu destino. Eu sou livre para fazer minhas escolhas. O que preciso é de sabedoria para conseguir fazer essas escolhas da melhor maneira possível, de uma maneira que beneficie outras pessoas. Mas, sabendo o que tenho de fazer, vou lá e faço.

Quando deixei de me guiar pelo acaso e percebi que poderia tomar as rédeas da situação, por menor que fosse, por pior que fosse, a sensação foi de liberdade. Não, eu não carregaria aquela carga sozinha nos meus ombros, mas eu teria uma parte a cumprir no plano de ação para que pudesse ver aquilo que eu queria se materializar, finalmente. Hoje, isso me parece óbvio, mas sei que não é óbvio para a maioria. Acho que é uma tendência natural do ser humano se acomodar e se deixar levar pela correnteza. De vez em quando percebo uma área ou outra da minha vida tentando entrar nesse fluxo comum, mas tenho que manter a vigilância constante, para estar sempre em movimento, sempre buscando melhorar, crescer, desenvolver, aprimorar. Tudo. Absolutamente tudo. Então, você vai me ver aprendendo coisas novas, fazendo cursos, participando de palestras, lendo, escrevendo, criando, imaginando. Permanecer em movimento é o melhor antídoto contra a sorte. E a melhor maneira de fazer as coisas darem certo. E – repito – isso vale para todas as áreas da vida.

Se eu fizer o meu melhor, resolver os problemas que aparecem, lutar para minimizar as limitações que tentam boicotar meu trabalho, meu relacionamento e meu desenvolvimento pessoal, se eu colocar toda a minha força em tudo o que eu fizer…por que raios vou precisar de sorte? A sorte, na verdade, é o nome que pessoas desatentas deram ao resultado do esforço diligente de alguns poucos que faziam o que é certo. Eles plantaram sementes de tomates e colheram tomates. Desavisados viram os tomates e os chamaram de “sorte”. Mas eles eram apenas os frutos inevitáveis do que foi plantado. A consequência natural.

 

 

PS: Durante os próximos 17 dias, eu irei escrever aqui sobre esse esforço de consertar as coisas que estão tortas na vida. Uma dessas coisas é a dificuldade que venho enfrentando de organizar melhor meu tempo e conseguir escrever diariamente no blog. Então, o desafio é quase metalinguístico…rs

PS2: Para entender o que é o tal programa de 21 dias de que eu falei, clique aqui.

Você não pode relaxar

91.93.14

*Fotos: a pequena Vanessa, aos 11 e aos 13 anos.E em 2014.

Eu tinha um sério problema em minha arcada dentária. Todos os meus dentes eram separados e projetados para frente, tanto os de cima quanto os de baixo. Não era nada impossível de se resolver, não tinha dentes tortos, não precisei extrair dente nenhum. Mas, esteticamente, incomodava às outras pessoas.

Eu continuava a sorrir e a me movimentar feito um polvo (terrível fase da vida em que não sabemos onde estão nossos braços e pernas). Apesar de me achar feia, eu era um tanto quanto incapaz de ficar complexada a ponto de me fechar. Pelo menos até os 13 anos, foi assim que eu vivi.

Usei aparelho uma vez, mas, após tirá-los (aos 17), os dentes voltaram a separar. Coloquei aparelho mais duas vezes, foi um total de 7 anos, fora outros 3 com o aparelho móvel (uso contenção fixa internamente, na arcada superior e inferior, forever). O problema era que minha língua empurrava os dentes, pois eu falava errado, engolia errado…a língua era flácida, mas suficientemente forte para movimentar minha arcada dentária. A solução era fazer sessões de fonoaudiologia até resolver o problema.

Pois bem, fiz as sessões. Não tantas quanto deveria, mas o suficiente para resolver o problema. Ao menos, aparentemente. Tinha adesivos colados em meus cadernos me lembrando de fechar a boca, de colocar a língua para dentro da boca… eu vivia me policiando para que nada saísse do novo script. Eu já sabia todos os exercícios, então, poderia repeti-los em casa. A teoria, pelo menos, era ótima. E assim foi, durante algum tempo. E todo mundo sempre ficava espantado quando eu contava que antes falava igual ao Lula e que, com a fono, consegui corrigir isso. Devo ter repetido essa história por uns dez anos. Até que percebi que as pessoas ficavam com uma expressão esquisita quando eu dizia isso. Davam um sorriso amarelo e o espanto não parecia mais tão sincero.

Demorou bastante tempo até que eu fizesse um vídeo com o celular recém-comprado e percebesse o motivo: eu estava novamente falando com a língua entre os dentes! Foi um choque. Eu não fazia ideia de que aquilo pudesse acontecer. Todo o trabalho com a fono parecia ter sido jogado no lixo. Agora, minha arcada dentária estava em risco e eu teria de fazer alguma coisa (na verdade, eu já estava sentindo a pressão sobre os dentes e creio que se não fosse a contenção fixa, eles teriam separado novamente).

Não sei por que fiquei tão chocada, sinceramente. Era óbvio que isso aconteceria. O resultado não se manteria sozinho. Eu deixei de vigiar, deixei de ficar atenta ao que a minha língua estava fazendo na minha boca, deixei de fazer os exercícios para fortalecê-la…assim, aos poucos, sem que eu percebesse, tudo foi voltando a como era antes.

Da mesma maneira, qualquer mudança que quisermos que seja definitiva deve ser acompanhada, para sempre, de uma boa dose de vigilância. Inclusive -e principalmente – as mudanças em nosso comportamento. Não pense que, só porque mudou, agora pode relaxar. Não pode. Para manter sua mudança, é necessário permanecer atento. Seja um problema que você não quer mais que atrapalhe seu casamento, seja um vício de que você demorou para se livrar, sejam aqueles quilos a mais que tanto o incomodavam, seja um problema de saúde que piorava com alimentação errada. Você não pode relaxar!

Não é que você deva viver se policiando porque já teve esses problemas. A verdade é que todo mundo deveria se policiar nisso, você só tomou consciência disso por causa dos problemas que teve. Você é privilegiado. Tem a oportunidade de manter-se longe daquilo que tanto o incomodou por tanto tempo. Melhor do que não ter consciência nunca e, um dia, ser pego de surpresa por alguma dessas coisas.

Vigilância constante. Exercícios frequentes. Se eu mantiver essa rotina, certamente voltarei, em pouco tempo, a domesticar a minha língua, falando corretamente. Como pretendo gravar vídeos e podcasts, não tenho muita escolha. Se você realmente quiser fazer mais e se desenvolver, terá de se esforçar para melhorar. E manter a vigilância sobre os resultados. A história conta que Jesus estava passando um perrengue (não com essas palavras, claro). Era o dia mais complicado da vida dEle até então. Estava prestes a ser preso, torturado e morto. Resolveu ir até o Getsêmani orar. Era um lugar aberto, então disse a Pedro, Tiago e João: “A minha alma está profundamente triste até à morte. Ficai aqui e vigiai comigo.” (Mateus 26.38) Quando voltou, os três estavam dormindo! Peraí, né? Ele já havia avisado que estava para morrer, acabou de dizer que estava triste e as criaturas dormem? Ele mesmo se indignou, dizendo algo (em tradução Vanessística): “Barbaridade! Nem uma hora vocês podem vigiar comigo?” E, avisou:  “vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mateus 26.41). Sem esse exercício de vigiar e orar, nossa fé fica flácida e tudo começa a dar errado. Quando você menos perceber, já caiu e está voltando a fazer tudo o que já tinha deixado de fazer.

Não sei quanto tempo fiquei falando com a língua entre os dentes sem me dar conta. Quando você deixa de vigiar, sua capacidade de percepção diminui, pois sua atenção não está mais focada naquilo. Assim, as ervas daninhas começam a crescer sem que você veja. Analise agora tudo o que você já mudou em seu comportamento e seu caráter. E veja se, realmente, as coisas ainda estão no lugar em que deveriam estar ou se algo retrocedeu sem aviso. Ainda dá tempo de corrigir e voltar ao que você deveria ser.

 

PS: Para você entender exatamente como deve manter sua atenção nas coisas, talvez valha a pena ler o post “Atenção”.

PS2: Já usei essa foto maior em outro post sobre ter sido alvo de bullying. O post é Embalagem e Conteúdo (clique para ler).