Mês: novembro 2015

Por que não oramos pelos mortos

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Apesar do que diz um hoax espalhado por aí, a Universal não faz oração pelos mortos no dia dos finados (nem em dia nenhum). Não há na Bíblia nenhuma indicação de que deveríamos fazer. Pelo contrário, diz que todas as chances de salvação se encerram com a morte e que não há mais possibilidade de ser ajudado depois que sua vida acaba. Há céu e inferno, nenhum lugar intermediário. E não se pode passar do céu para o inferno ou vice-versa. A situação após a morte, seja ela qual for, é imutável.

Mas, se a Bíblia é contra essa prática, de onde isso surgiu? Essa, especificamente, veio de uma tradição pagã celta. Durante o festival de Samhain, que ia de 30 de outubro a 2 de novembro, as pessoas homenageavam os mortos e os deuses que, para os celtas, também eram seus ancestrais. O cristianismo iniciou sem nada dessas coisas, mas depois que foi institucionalizado e absorvido pelo catolicismo, começou a fusão com práticas pagãs. Assim, o festival de Samhain se dividiu em Dia dos finados (homenagem aos mortos) e Dia de todos os santos (homenagem aos deuses).

Como sempre digo, é importante saber por que você faz as coisas que faz — antes de decidir continuar ou não fazendo. A base do ato de orar pelos mortos está na crença de que existe o purgatório, um lugar intermediário, entre o inferno e o céu, para onde a pessoa iria purgar seus pecados até poder entrar no céu. Convenientemente, seria necessário pagar missas, fazer orações e comprar indulgências, caso quisesse sair mais cedo do purgatório.

Se cremos que a Bíblia deve ser respeitada como base para a nossa fé, não cremos no purgatório, já que ela é bem clara quanto a haver apenas o céu e o inferno como destinos finais da alma, e não cita purgatório algum*. E, se não cremos no purgatório, não faz o menor sentido orar pelos mortos. Deus não ouve essa oração, pois ela não tem fundamento. Se Deus não ouve essa oração, para quem você está orando?

A cultura é tão arraigada aqui no Brasil que há cristãos protestantes que visitam túmulos nesse dia. Alguns se sentem culpados se não o fizerem. Sou contra essa prática, primeiro por ser originada de um culto pagão (o que, por si só, já mostra que tipo de influência espiritual rege essa celebração). Segundo, porque não creio que, espiritualmente falando, faça bem a alguém visitar o túmulo de um parente morto. Primeiro, porque a pessoa não está mais ali. Segundo, porque não vai adiantar orar por ela – muito menos acender velas. Terceiro, porque vai trazer de volta à sua memória tudo o que você viveu e isso fragiliza emocionalmente. A fragilidade emocional é uma porta aberta para o mal que vem desenterrar culpas, dores, mágoas e tristeza.

O período do luto é importante, para processarmos a perda. Mas ele deve acabar pouco tempo depois da morte da pessoa e não ser renovado uma vez por ano. O que você tem de fazer pelos seus parentes, faça enquanto estão vivos. Depois de mortos, não vai adiantar esforço algum para aplacar sua consciência levando flores ao túmulo e tendo conversas post-mortem que não teve durante a vida.

Lide com o fato de que você fez o que sabia fazer com os recursos que tinha. Por exemplo, hoje eu teria outro tipo de relacionamento com o meu pai. Mas, quando ele morreu, eu não sabia o que sei hoje. Então, o relacionamento que tive com ele foi o que eu sabia ter. O que me resta é fazer o meu melhor por quem está vivo hoje. E ensinar outras pessoas a entenderem seus próprios pais e não exigirem deles mais do que eles têm condições emocionais de dar.

Lutamos por outro tipo de mortos: aqueles que, apesar de ainda respirarem, terem um corpo e caminharem por este mundo, estão longe de Deus. Porque, se Deus é vida, quem está longe dele está morto. Por esses mortos vivos ainda podemos orar. Eles valem nosso esforço. Eles valem nossas noites em claro, nossas orientações, nosso direcionamento. É por eles, os sofridos deste mundo, que oramos e lutamos. É pelos que vivem angustiados, deprimidos, desanimados e cansados que buscamos.

Esses vivos mortos podem tornar a viver, por isso, lutamos por eles. E não acendemos velas por eles, mas acendemos nossa própria luz, para que nos vejam e enxerguem o caminho. Ao ganharem vida novamente, isto é, ao terem uma experiência pessoal com Deus (não uma experiência religiosa), tudo mudará. Serão vivos. E, quando o corpo morrer, eles continuarão a viver, pois estarão com o Autor da vida. É isso que significa “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em Mim, nunca morrerá” (João 11.25,26).

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*Antes que algum católico surja do além aqui citando Macabeus para dizer que há base bíblica para a doutrina do purgatório, explico: Macabeus é apócrifo e não faz parte da Bíblia original (e nem da que utilizamos hoje, está presente apenas na Bíblia católica, à qual foi acrescentado). O próprio autor do livro sabia que ele não era divinamente inspirado, tanto que escreveu: “…finalizarei aqui minha narração. Se ela está felizmente concebida e ordenada, era este o meu desejo; se ela está imperfeita e medíocre, é que não pude fazer melhor” (2 Macabeus 15).

Nem sempre tudo vai dar certo

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A formatura no Godllywood foi inesquecível. A expectativa era chegar às 16h50, encontrar minhas convidadas, guardar o celular, entrar no santuário, sentar nas primeiras fileiras e meditar antes da reunião começar. Para não correr o risco de me atrasar, fui ao cabeleireiro no dia anterior e fiz as unhas em casa na noite de sexta. Deixei a bolsa, a roupa, o sapato e a maquiagem preparados para o dia seguinte.

Meus planos eram tão bonitinhos! Tinham até uma pequena margem de segurança para o caso de um ou outro imprevisto. Porém, na realidade, a única coisa que se cumpriu foi a parte de chegar às 16h50 e guardar o celular. O resto saiu de minha programação de tal forma que, por uma sucessão de fatores, só estava liberada para entrar no salão às 19h, quando todo mundo já estava lá dentro e eu tive que ficar em uma das últimas fileiras. Com os pés doendo, as pernas cansadas e a maquiagem indo para o céu das maquiagens.

Se fosse antes, eu teria entrado arrasada e demoraria muito para conseguir prestar atenção à reunião. O fato de situações saírem do planejado fazia com que eu questionasse cada uma das decisões tomadas e me culpasse por todas elas. “Eu não deveria ter aceitado ajudar em tal coisa”, “devia ter dito não quando me chamaram”, “deveria ter controlado o tempo no relógio”, “como fui burra!”, “não deveria ter continuado em pé quando percebi que minhas pernas estavam doendo”, “será que eu fiz certo?”. Vivia e revivia a situação que não existia mais, me torturando pelo passado, sem perceber que aquilo só me levava a um lugar: para baixo.

Sim, se você considerar meu planejamento inicial como parâmetro para o “certo”, poderia dizer que deu tudo errado. Mas, hoje, depois de tudo, não posso dizer isso, pois ainda que eu não tenha sentado no lugar que eu queria, ainda que não tenha tido o tempo que eu precisava para desacelerar antes da reunião começar, o resultado foi positivo.

Pensei: ok, meus planos não deram certo. Mas as escolhas que fiz já foram feitas, não posso desfazer. O que posso fazer agora é escolher certo de agora em diante. A escolha errada seria ficar remoendo e me focar no que não deu certo. Por outro lado, a escolha correta seria aceitar que as coisas não saíram como eu planejava, mas que, nem por isso, eu tinha sido derrotada. Para sair dali com um resultado positivo, eu deveria prestar bastante atenção à palestra e praticar tudo o que aprendesse. Afinal de contas, era o que importava.

Então, esqueci tudo o que estava me incomodando: o fato de entrar em cima da hora, o fato de não conseguir enxergar perfeitamente a pessoinha no Altar de onde eu estava, o fato de não ter conseguido sentar junto com ninguém. Me foquei no que tinha de positivo: a visão panorâmica do fundo do Templo é incrível, sentar sozinha permite melhor concentração, e eu poderia anotar tudo sem chamar muita atenção.

No Altar, tivemos o Bp Macedo, D. Ester e Cristiane falando sobre a importância da mulher na sociedade e o papel crucial que temos na construção do Reino de Deus. E sobre como é necessário manter nossos pensamentos nas coisas do Alto, ajudando os aflitos e nos preparando para o dia de nos encontraremos com Deus, seja na volta de Jesus ou no dia da nossa morte, o que vier primeiro. O assunto, de uma certa forma, também teve tudo a ver com manter o foco no que realmente importa.

Nos preparamos tanto, planejei cada horário, cada detalhe…mas, se não conseguirmos lidar de forma sábia com as dificuldades, as situações adversas e os imprevistos, corremos o risco de perder o mais importante.

Porque nem sempre tudo vai dar “certo”, do jeito que você planejou ou acha que deveria ser. Às vezes, situações vão mudar diante do seu nariz. Uma curva brusca na estrada. Uma escolha equivocada. Uma omissão em hora de ação. Ou uma atitude em hora de análise.

O que importa não é o que já aconteceu e que você não pode mais mudar, mas, sim, como você escolherá reagir agora. Se continuar no padrão de reações emocionais, continuará errando. Mas se parar e decidir reagir com a cabeça, independentemente de como estiver se sentindo, alcançará o resultado positivo.

E, pelo menos para mim, a formatura não foi para celebrar a entrada das meninas no grupo, a aprovação no Rush ou qualquer coisa assim. Foi, na verdade, para honrar Deus pela oportunidade indescritível que Ele deu àquele pequeno grão de areia revoltadinho e inútil que Ele tirou do fundo do poço. A oportunidade de aprender a fazer as escolhas certas, mesmo depois das curvas fechadas e dos solavancos da estrada. A oportunidade de ensinar. A oportunidade de ser útil.

Isso não é mérito meu. A Vanessa, sozinha, só fazia bobagem. Foi com Ele que aprendi a colocar meu raciocínio a serviço do progresso. Foi com Ele que aprendi o segredo de usar a fé de modo racional e consciente, para que, até o que parecia destinado a dar errado, desse certo. Tive a exata compreensão disso quando chamaram as formandas à frente. E essa experiência fez da noite de ontem uma das melhores de toda a minha vida.

 

 

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PS: Cheguei tão esgualepada fisicamente que não consegui escrever no blog ontem. Sorry.

PS2: Vai entender…eu tiro selfies no carro quando estou vestida de mendiga para ir ao supermercado (ok, isso é um exagero, eu não me visto de mendiga para ir ao supermercado rs), mas me esqueci completamente de tirar uma selfie com o celular do meu marido na ida, com luz do sol e maquiagem bonitinha. Só fiquei com essa foto desfocada tirada com a câmera frontal do meu celular (não tem filtro, é a imagem dela à noite…), que abre o post. Eu estava exausta, com os pés doendo muuuito, por isso esse sorrisinho desmaiado rs. Mas estava MUITO feliz. 🙂