Mês: janeiro 2020

Sobre quem você realmente é

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Comecei a colocar algumas coisas do meu dia a dia no Instagram, e escreverei também aqui no blog, porque preciso que você entenda que o nosso modo de pensar tem maior responsabilidade sobre nosso emocional do que as circunstâncias, em si. As pessoas tendem a achar que só dá para ser feliz quando tudo está dando certo, a ponto de estranharem eu estar doente, sorrindo e brincando. Mas a felicidade e a paz interior não podem depender das circunstâncias externas (mesmo quando esse “externo” é o seu corpo rs). 

Não, você não vai me ver triste e sorumbática por estar me sentindo mal, não porque eu esconda ou disfarce, mas simplesmente porque o que acontece por fora não afeta meu estado de espírito. Momentos de tristeza podem acontecer, mas são pontuais e passam muito rápido; meu estado basal é alegria, mesmo quando me sinto cansada, exausta fisicamente  ou mentalmente. 

Esse milagre não é meu, não é da minha natureza. Esse milagre é do Espírito de Deus, que mudou minha natureza dramática em uma natureza de estabilidade e força. Na verdade, ele consertou um desvio de percurso e, à medida que me fez mais parecida com Ele, também me fez mais parecida com como eu deveria ter sido, originalmente. Minha primeira experiência com doença, na primeira infância, não foi tão diferente dessa. Nasci com uma cardiopatia chamada Persistência do Canal Arterial. O Canal Arterial (que também atende pelo pomposo nome de Ductus Arteriosus), é um canal que liga a artéria pulmonar à aorta e é indispensável à vida do feto, mas fecha nas primeiras 48 horas do nascimento. O meu, não fechou, causando sintomas que se agravaram aos dois anos, até os quatro, quando operei, já com hipertensão pulmonar. Eu me sentia muito mal, mas brincava, corria (desmaiava, mas depois levantava e seguia a vida). 

Fiz a cirurgia e no pós operatório os curativos eram chatinhos, mas não dava bola para aquilo, estava mais interessada no que acontecia ao meu redor. A comida do hospital adventista era gostosa e eles me davam gelatina, pêra e suco de uva. A fisioterapia respiratória era feita assoprando uma luva de procedimento (tempos pré-respiron rs), que o fisioterapeuta insistia que era um balão — e eu sabia que não era. Todo mundo era legal e me tratava bem. Fiquei com memória afetiva de hospital (que já perdi depois que fiquei UM MÊS com meu marido internado em Porto Alegre) e minha visão estava lá na frente, no fato de que eu iria conseguir brincar e correr sem perder o fôlego e sem desmaiar. E faria natação, meu sonho! (sonho, até eu começar a fazer rs.)

É claro que o fato de a minha mãe estar sempre calma também ajudou. Nunca a vi se desesperar, nunca a vi chorando ou agindo como se eu fosse morrer. Ela me entregou para Deus e entendeu que estava nas mãos dEle. Tinha certeza de que eu iria ficar bem e decidiu (conscientemente) viver um dia de cada vez, lidando com as situações no momento em que aconteciam, sem ficar antecipando os problemas (o contrário do que eu fiz na maior parte da minha vida). Teria sido mais difícil ficar tranquila se ela fosse uma pessoa histérica, mas acho que teria conseguido, eu realmente não era dramática nesse tempo (intensa, mas não dramática). Depois da cirurgia, fiquei com uma cicatriz enorme nas costas e logo já encontrei um modo de atribuir a ela valor positivo: Só eu tinha aquela cicatriz, o que fazia com que minhas costas fossem testemunhas de algo único!

Então, eu meio que já tinha essa forma tranquila de ver a vida, a confiança que as crianças de quatro anos têm. Deus resgatou em mim algo que já tinha sido soterrado pela insegurança, medo e dúvida que foram jogados na minha cabeça pelos gremlins da vida no decorrer dos anos. Às vezes o que você acha que é da sua natureza, à qual se agarra com tanta força por achar que é da sua “essência”, nada mais é do que um punhado de porcaria que se colou em você muito cedo. Por isso a gente precisa entregar todo o nosso eu para Deus, todo o nosso jeito, todas as nossas reações, nossas vontades, nossas opiniões e padrões de pensamento, sem medo, para que Ele decida o que fica e o que sai. Porque, sejamos honestos, ninguém se conhece tão bem assim para dizer o que é natural e o que foi construído. No fim das contas, só Deus sabe o que é nosso e o que é lixo.

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PS. A foto foi tirada em uma apresentação do jardim de infância, no ano da cirurgia. Vanessinha vestida de baiana. Mas esse bronzeado aí é fake news, a foto é saturada assim e eu não quis alterar no photoshop antes de postar.

PS2. Espero que minha ausência prolongada não tenha causado danos cerebrais irreversíveis em ninguém (nem em mim rs). 

O domingo foi assim

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* O domingo foi assim. Hipotensão, “dor em cabide”, fadiga, dor miofascial, intolerância ortostática. Não deu para fazer nem metade do que eu tinha planejado, mas mesmo assim consegui ir à igreja e à feira pela manhã, lavar um pouco de louça e limpar as caixas de areia. Depois, fiquei deitada vendo filme, já que a pressão caiu bastante e o dia acabou antes de terminar. Quando um dia assim acontece com uma pessoa normal, ela corre para o hospital. No meu caso, dificilmente ajuda, porque hospital nenhum é capaz de resolver.  Então recorro a Quem resolve. E vou dormir daqui a pouco, crendo que amanhã será um dia muito melhor.

Na fé eu sou teimosa. Creio que estou curada, e os sintomas vão acabar sendo obrigados a admitir isso também, mais cedo ou mais tarde. 😄 Por enquanto podem até estar insistindo, tipo demônio manifestado: “eu não vou saiiiir”, mas vão sair, sim, não estou nem um pouco preocupada.

Só passei aqui para te lembrar que a maioria das nossas batalhas é travada longe dos holofotes, e em muitas delas Deus é o único capaz de ajudar e resolver. A única forma de permanecer de pé é deixar de lado o drama e o sentimento de vítima e seguir em frente, na certeza de que você não está sozinho.
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PS. Acho que a gente não erra se tiver o hábito de dar um desconto para as pessoas, alongar um pouco a paciência. Obrigada a todos os leitores e amigos que têm tido infinita paciência com meu sumiço, com meu silêncio e com o fato de às vezes eu aparecer, mas não responder ou não dar a atenção que deveria. Fico mega feliz com cada comentário. Vocês são fantásticos!

PS2. Pretendo recomeçar a postar no blog amanhã. Aviso aqui e no Facebook.

PS3. Quando as legendas das fotos no Instagram começam a ficar enormes, você desconfia que está precisando de um blog 😄

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#Fé #Vencendo #SemDrama #hipotensão #disautonomia #Dysautonomia #EhlersDanlos #DorEmCabide #ComoSeAlguémTivesseCabideNasCostas #ÉCadaUma

*Texto originalmente postado no Instagram @vanessalampert