Categoria: Artigos

Sobre 50 tons de cinza e os mil tons de ignorância

fifty-shades-grey

O artigo polêmico foi publicado primeiro no blog do Bp. Renato Cardoso. De autoria da cantora e escritora americana Evelyn Higginbotham, o texto gerou comentários furiosos de pessoas que queriam porque queriam assistir ao filme 50 tons de cinza sem peso na consciência. Evelyn não ajudou muito. Ela faz uma análise dura do espírito do livro que deu origem ao longa e rasga o verbo dizendo que os responsáveis pelo sucesso do livro são os “demônios da depravação”. Ok, a palavra “depravação” está em desuso, vem à mente a figura de uma velhinha carola acusando: “seus depravados!” Mas, se deixar seu preconceito de lado, você vai concordar com ela. “Depravar” significa estragar, mas tem vários outros significados: prejudicar-se, perverter-se, corromper-se, provocar a decadência. Não há nada que combine mais com 50 tons de cinza.

O livro é ruim. Não é bem escrito, a história, em si, só convence quem já está predisposto a gostar ou que, pelo menos, vai com o coração aberto para se emocionar. Como eu não sou uma pessoa facilmente “emocionável”, achei ridículo – e estou sendo sincera. Sim, eu li o livro. Tinha que fazer uma resenha e, ao contrário de um artigo, em que a pessoa é livre para dar sua opinião tendo ou não lido o livro inteiro, para escrever uma resenha, eu tenho que ler até o fim. Só que a postura para se ler um livro sobre o qual você vai resenhar deve ser crítica. Eu sou uma leitora difícil e o livro tem que me conquistar, tem que me convencer de que vale a recomendação. 50 tons de cinza sequer se esforçou. Se fosse um homem, seria daqueles que só querem levar a mulher para a cama. Tem uma historinha pseudo-romântica, mas é só fachada para as cenas de sexo, não sejamos hipócritas. E as cenas de sexo, apesar de literariamente ridículas (por serem excessivamente descritivas), causaram impacto na maioria das leitoras.

Se tudo é tão ridículo e malfeito, por que raios o troço se tornou um best-seller? Honestamente, eu só posso concordar com a Evelyn, o melhor agente literário de porcaria é o diabo. E não pense, com isso, que estamos dizendo que as pessoas que praticam esse tipo de sexo torto são malignas ou malvadas porque “estão com demônio”, como se as pessoas fossem demônios. Na verdade, o mal não tem o menor interesse em quem já é mau. O interesse dele é prejudicar, perverter, corromper e provocar a decadência da vida de suas vítimas. O problema é quando essas vítimas não percebem que estão sendo envenenadas, lenta e gradualmente pelo conteúdo estragado que consomem na mídia, na literatura, no cinema, na música, no entretenimento, em geral.

O engraçado (ou triste, dependendo do ponto de vista) é que o artigo da Evelyn causou uma discussão absurda. Tudo bem você defender seu direito de comer lixo à margem do Tietê. Cada um com suas preferências gastronômicas. Mas não é justo querer calar alguém cuja opinião contraria a sua (a sua opinião que, diga-se de passagem, é igual à da maioria) se a intenção dessa pessoa é apenas a de alertar a quem está inocentemente se encaminhando para o monte de cocô, sendo enganado pela propaganda, achando que vai comer espaguete ao alho e óleo. Você pode achar que as pessoas devem fazer o que quiserem e descobrir, por conta própria, que não gostam de comer cocô. No entanto, eu gostaria de ter a chance de ser poupada do gosto de fezes na boca e consideraria meu amigo quem me alertasse. Por isso, é impossível que eu não alerte a outros.

Se você está confuso quanto a assistir ou não ao filme ou quanto a ler ou não o livro porque viu comentários dizendo que você deveria formar sua opinião só depois de comer o cocô, um alerta: essas pessoas não são suas amigas e não estão nem aí para você. Elas só dizem isso porque querem fazer o que têm vontade, sem peso na consciência. No entanto, não são honestas para admitir isso nem para elas mesmas. Não digo isso com raiva, mas com pena. Porque se o personagem canastrão Mr. Grey tem 50 tons de cinza em sua alma, a ignorância tem pelo menos uns mil tons.

Quem diz que 50 tons de cinza “é só ficção” ou que sabe separar ficção de realidade, não faz a menor ideia do que está falando. Há várias pesquisas sobre isso isso. Já se mostrou que há alterações significativas no cérebro de quem lê romances. E também que o nosso cérebro não diferencia ficção de realidade e, durante a leitura, ativa as mesmas áreas que ativaria se estivéssemos praticando aquela ação. A leitura da palavra “perfume”, por exemplo, ativa a área responsável por sensações olfativas. Ainda que você entenda “oh, é ficção” e tente separar depois, alguma marca vai ficar. Seu cérebro vai armazenar como experiência vivida. Provavelmente por isso, o que leu começa a ficar banalizado, o comportamento é visto de forma cada vez mais normal e assimilado com facilidade. Agora, imagine assistir a um filme…

Quem diz que não tem nada a ver, não entende nada de história e de literatura, também. Em toda a história da humanidade, a literatura foi usada como meio de influenciar o pensamento e até mesmo arma de manipulação ideológica. Por meio da literatura, comportamentos antes considerados negativos passaram a ser vistos como positivos. Por meio da literatura, mudanças sociais foram sugeridas e digeridas. Para o bem ou para o mal. Geralmente, para o mal, porque o movimento que nossa sociedade tem feito desde a primeira prensa até os dias atuais é na direção da degradação do que temos de melhor. Talvez estejamos no fim da civilização como a conhecemos, a julgar pela propagação da ignorância e estagnação dos cérebros.

Curiosamente, a revista Isto é trouxe matéria de capa falando das pessoas que tiveram “a vida sexual transformada”  pelo livro (pobres criaturas), descredibilizando a palavra de quem, na profunda ignorância, disse que ficção é algo inócuo, que não muda a vida de ninguém. Muda, sim. A boa ficção, muda para melhor. A ficção ruim geralmente só dá dor de barriga. Mas a ficção envenenada, mata aos poucos. Não é de uma hora para outra que seu casamento vai se estragar por causa de 50 tons de cinza ou similares que incentivem a degradação feminina. Não é de uma hora para outra que as mudanças acontecem. E esse é o maior erro das pessoas, em todas as esferas: ignorar o poder das coisas aparentemente insignificantes. O sábio rei Salomão escreveu que são as raposinhas que destroem a vinha. As raposinhas são aquelas pequenininhas, fofinhas e aparentemente inofensivas. É aquela história bonita que faz você chorar. É aquele filme romântico que deixa você suspirando. Fala de amor, pôxa vida, que mal tem? Que mal pode fazer?

Se as pessoas quiserem jogar seu tempo e seu dinheiro no lixo vendo algo que com certeza irá prejudicar sua vida, paciência. Já os mais inteligentes, que dão valor ao seu tempo, ao seu dinheiro e ao seu cérebro, certamente vão usar o tempo e o dinheiro economizados com algo mais útil. Esses, certamente são gratos à Evelyn pelo alerta.

 

 

PS: O mais engraçado são as pessoas que cobram que o Bp. Renato leia o livro antes de criticar, mas não percebem que o texto é da Evelyn…não conseguem sequer ler um post com atenção para perceber que não é dele, será que dá para confiar na percepção delas a respeito de um livro?

PS2: Para quem quiser ler a resenha que fiz sobre o livro, está aqui:  http://blogs.universal.org/cristianecardoso/pt/livros-que-nao-sao-o-que-parecem-cinquenta-tons-de-cinza/  

PS3: Depois disso, o artigo foi publicado também no blog da Cristiane e no do Bispo Macedo e alguns dos comentários no blog da Cris são muito semelhantes aos dos haters no blog do Bp. Renato.Alguns, prefiro nem ler para não sair do Espírito, sinceramente. Meu recado já está dado aqui, aos sinceros que, como eu, não gostam de coprofagia.

 

Vencedores pensam assim

66318_446379203595_1070935_n

Quando as coisas começam a ficar meio malucas e aceleradas, minha tendência é entrar na conchinha para me focar o máximo possível naquilo que eu preciso terminar. E eu estou sempre precisando terminar alguma coisa, como todo mundo, aliás. Porque quando você termina alguma coisa, começa outra coisa que precisa terminar. E a vida é uma sequência de começos que precisamos terminar e de términos seguidos de novos começos. Ainda que sejam de etapas.

Quando tem algo grande para desenvolver, a melhor maneira de conseguir é dividir em etapas menores e ir matando uma a uma, como naqueles joguinhos de videogame de antigamente, em que você tinha que matar o chefe para passar de fase. Não sei se ainda existem joguinhos assim, mas na época em que a pequena (nem tão pequena) Vanessa jogava Sonic e Mario Bros era assim. Cada fase era mais difícil, mas como você tinha passado a fase anterior, já estava mais preparado para a próxima fase.

Primeiro, era um parto conseguir chegar na metade da fase. Depois de muito morrer, acabava conseguindo passar e chegar até o final. Você chegava perto do chefe da fase e, da primeira vez, ele o matava no primeiro golpe. Na segunda tentativa, você até conseguia dar alguns golpezinhos antes de morrer. Aí já era moleza chegar até o chefe. Você não dava bola para os percalços do caminho e as coisas que faziam você morrer no começo, já não eram nem um pouco ameaçadoras, porque estava obcecado em chegar no bendito chefe e matá-lo para passar de fase.

Quando se dá conta de que os problemas na sua vida são as coisinhas que tentam fazê-lo parar no meio do caminho e que aquele comportamento ou hábito complicado ou aquela dificuldade da qual você quer se livrar são os chefes que precisa matar para passar de fase, percebe que desistir não é opção. Dizer “é o meu jeito” não é opção. Pensar que é impossível também não é opção. A única opção que existe é seguir em frente e persistir até conseguir.

Eu tenho o agravante da paciência limitada. Não me entenda mal, sou uma pessoa até bastante paciente com coisas sob as quais eu não tenho nenhum controle. Minha impaciência é sobre coisas que eu posso controlar. Se a minha mudança depende de mim, eu sinceramente não tenho saco para ficar lidando com o problema e sofrendo por causa de algo que sei que posso mudar. Então, decido mudar e fico brigando comigo mesma até a mudança se tornar parte de mim. Dou soquinhos infinitos no chefe da fase até destruí-lo e passar de fase.

E esse jogo a gente só ganha quando a vida acaba, literalmente. O vencedor é aquele que vence até a última batalha. É o que se mantém firme até o fim. Manter a sua salvação depende desse aprimoramento constante, dessa vigilância constante. Não dá para deitar em berço esplêndido e esperar que “a graça de Deus” faça o trabalho que deve ser feito por você. Pensar que as coisas podem acontecer sem que façamos o esforço necessário é perder completamente a noção do que estamos fazendo neste mundo.

Ainda fazendo analogia com jogos, se lembra de “O Aprendiz”? Dois grupos de pessoas eram colocados no jogo e tinham que executar determinadas tarefas em uma empresa fictícia, simulando o trabalho em equipe que teriam de fazer na vida real. Antes das tarefas, o discurso dos participantes dava a entender que eles sabiam exatamente o que fazer, eram pessoas esforçadas e colaborativas. Porém, durante a execução das tarefas, as atitudes daquelas pessoas mostravam quem elas eram de verdade, como realmente pensavam e o que realmente queriam. Na sala de reuniões, a análise dos conselheiros e do CEO (Donald Trump ou Roberto Justus, dependendo da versão a que você assistiu) era sempre em cima das atitudes tomadas, e não das palavras ou das intenções. No final das contas, os vencedores não são realmente escolhidos pelo júri. Eles é que se fazem escolhidos por meio de suas atitudes durante as tarefas.

Na vida, nossas tarefas são diárias. A sua maneira de agir no trabalho, na escola ou em casa, a maneira de ver os outros, a forma de lidar com os desafios, como você reage às situações contrárias…tudo o que você faz, conta. “Os escolhidos de Deus” não são aqueles que estão sentados todo domingo nos bancos das igrejas. “Os escolhidos de Deus” não são aqueles que brigam com ateus, com homossexuais, com corruptos ou com “hereges”. Os escolhidos de Deus são aqueles que se fazem escolhidos por meio de atitudes de obediência às regras do jogo, sempre ligados no fato de que tudo o que fazem está contando, mesmo quando ninguém vê. Aliás, principalmente quando ninguém vê.

É por isso que Paulo diz que não corre sem meta. É por isso que ele diz que não luta desferindo golpes no ar. Ele sabia muito bem o que queria acertar. Ele tinha noção do que estava fazendo neste mundo. É por isso, também, que ele diz: “correi de tal maneira que alcanceis”. Não corra de qualquer maneira a maratona da sua vida. Corra da maneira que leve você a alcançar a sua meta. Corra com o cérebro ligado e com o coração em volume baixo. Corra, tendo em mente que mais importante do que ganhar uma discussão ou do que saber o que as pessoas estão falando a seu respeito, é desenvolver o seu caráter para que as suas atitudes levem você até o Alvo. É a única maneira de garantir o resultado que você deseja. É a única maneira de vencer.

 

 

PS: As resenhas de livro vão voltar aqui no blog, inclusive a seção “Livros que não são o que parecem”. Peguei um dia desses que está quase ganhando o troféu “Livros que não são o que parecem”, pois além do conteúdo ser muito prejudicial, o livro engana muito, pois algumas coisas parecem fazer sentido e ele não é mal escrito. Um dos piores, até agora. Só preciso conseguir terminar de ler e dou meu veredicto. 🙂 As resenhas do bem também serão feitas. Tenho vários livros legais que já li e dos quais quero falar. Aguardem. 🙂