Categoria: choque cultural

O espírito do natal

 

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 Cartum: Davison Lampert

Olha que lindo! Hoje já é dia 24 de dezembro, o espírito do natal bate à porta… Não vamos deixar entrar, não, eu, hein!

Para mim, é uma libertação não comemorar essa data. Os shoppings estão lotados, um estresse absurdo…eu não tenho saído, mas meu marido foi ao supermercado e comentou que todo mundo parecia agitado e irritado. Não tinha ninguém feliz, em paz, e toda aquela frescurite em que o comércio quer que a gente acredite. Porque o “espírito do natal” não traz paz, não. 

Brigas em família, bebedeiras, acidentes, crimes passionais, suicídios, desgraças de todos os tipos se multiplicam nessa época do ano, muito além do que é considerado “normal”. As pessoas ficam mais emotivas, mas também mais passionais e esquisitas. Dá para esperar qualquer coisa. Mágoas, dívidas, confusões, pessoas se entregando a simpatias nonsense. A única coisa realmente boa desse período de festas é encontrar comidas que a gente não vê em outras épocas do ano. Cereja de verdade, por exemplo. Eu detesto cereja em calda, mas o Davison comprou dia desses um saquinho de cereja in natura e é completamente outra coisa. Veja só, é sempre possível conseguir um ângulo positivo em absolutamente tudo. 🙂

Comentando a coisa toda de natal e blá blá blá:

 

Estou em outra “vibe”, então é estranho ver as pessoas ligadas no “modo tradição mecânica”. Tenho que citar Deus aqui, amiguinhos, afinal de contas, dizem que é aniversário do filho dEle: “Este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios Me honra, mas o seu coração está longe de Mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu”  (Isaías 29.13). O espírito que faz com que o povo aja assim é o mesmo espírito do natal. Parece que tomei a pílula vermelha de uns anos para cá e saí da Matrix.

Então, enquanto todo mundo está correndo, histérico, para comemorar o aniversário do menino papai noel, nós estamos  tranquilos em casa. Eu, trabalhando, como se fosse dia normal (e é, quem disse que não?), o Davison planejando as comidas normais que vamos comer (a pessoa é chique, tem marido chef), tranquilos, sem precisar mergulhar na areia movediça de dívidas de fim de ano.  

Ah, e não preciso montar uma árvore brega na sala (vai por mim, você só acha decoração de natal bonita porque tem memória afetiva dessas coisas natalinas…imagine colocar aqueles penduricalhos em qualquer época do ano e vai se dar conta de que é um troço esquisito) …ou melhor, me livro de ficar triste por não poder montar uma árvore de natal em casa porque, convenhamos, o Tiggy e a Ricota jamais permitiriam que bolinhas coloridas ficassem penduradas em uma árvore de plástico no meio da sala impunemente…

 

 

 

PS: Se você comora o natal, não se sinta ofendido. Essa é a minha opinião, você ainda tem o mundo inteiro para concordar com você. Eu sou minoria. 🙂 Mas aconselho fortemente a todos que assistam ao vídeo da Marelis Brum (clique aqui para ver) explicando por que ela não comemora o natal. Faço minhas as suas palavras, Marelis, falou tudo o que eu queria falar. Vídeo divertido e claríssimo. Dá para entender um pouco melhor meu posicionamento.

PS2:  Lembro da ceia de natal em uma igreja em que eu fui certa vez…tinha um leitão assado em cima da mesa com uma maçã na boca, que me tirou completamente a fome… O ápice da falta de noção é a pessoa assar um porco inteiro para – supostamente – comemorar o aniversário de um judeu…

Você realmente quer que alguém te pegue?

O que mais me assusta no fato de a famigerada música de Michel Teló ter se transformado em fenômeno mundial é imaginar que as mulheres – pelo menos as brasileiras – aceitaram sem problemas a letra.

Para mim, a música não pode se dissociar da letra que a acompanha. A letra é o motivo pelo qual a música existe, então eu a levo em consideração muito mais do que o instrumental.

A letra é uma cantada grosseira que eu odiaria receber, em qualquer época da minha vida. Imagine um desconhecido se aproximando e dizendo: “Delícia! Assim você me mata. Ai, se eu te pego!”  Antes, ele diz que tomou coragem para dizer isso. Tem que tomar muita coragem mesmo, meu amigo, porque se a moça se valorizar um pouquinho que seja, todas as suas chances com ela vão para o ralo por dez palavras.

Não entra na minha cabeça que uma mulher com um cérebro entre as orelhas possa gostar de ser transformada em um pedaço de carne, mas pensando bem, não é uma questão de inteligência, mas de saber se valorizar, coisa que parece que as meninas de hoje não estão acostumadas a fazer, pois se contentam com essas migalhas.

As mulheres continuam querendo um homem legal, super companheiro, amigo, com quem possam ter um relacionamento feliz para a vida inteira. Eu du-vi-do que haja alguém que não queira isso. Existe quem não acredite mais que isso exista, mas não quem não queira um relacionamento feliz e duradouro, é natural do ser humano.

Continuam querendo isso, mas não entendem que quando não se valorizam, atraem outro tipo de homem: justamente aquele tipo que ela não quer. Você não quer alguém que ao primeiro contato visual, ameaça “te pegar”, nem que te chame de “delícia” por causa do seu corpo e te use como um objeto. Você quer ser amada, respeitada, quer receber atenção por aquilo que você é de verdade, quer que o homem ao seu lado te ache linda mesmo quando você acorda, sem maquiagem, descabelada, com os olhos inchados e a cara amassada (momento autobiográfico…hahaha…).

No fundo, todo mundo quer um amor, estabilidade, paz, tranquilidade.  Se não quer, é porque não consegue imaginar o que seja isso de verdade. Se soubesse, iria querer com todas as suas forças. E caso alguém ameaçasse: “Ai, se eu te pego”, correria para a delegacia fazer um belo Boletim de Ocorrência.

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