Categoria: Folha Universal

A política inteligente

O Brasil continua dividido politicamente. Os ânimos estão cada vez mais exaltados, há uma multidão reagindo visceralmente em todos os lados do espectro político. Neste momento, é necessário se afastar um pouco da gritaria e usar a cabeça. Política é importante e temos que nos posicionar, até para continuar a ter espaço para o Evangelho, mas é preciso enxergá-la de modo racional para não perder o foco.

Temos a fé inteligente, o amor inteligente, e precisamos aprender também a política inteligente. Lidar com a política de um modo racional e espiritual, da mesma forma que lidamos com outras áreas sensíveis da nossa vida, como a vida amorosa e a vida financeira. Quem usa o sentimento para lidar com suas finanças, por exemplo, pode colocar os pés pelas mãos, gastar mais do que ganha, investir errado e terminar falido. Da mesma forma, quem usa o sentimento para lidar com a vida amorosa, pode cometer erros graves no casamento, destruindo sua casa com as próprias mãos. Como diz o livro Casamento Blindado: emoção não é ferramenta para resolver problemas. E se emoção não é ferramenta para resolver problemas nem na vida amorosa, quanto mais em qualquer outra área! A única maneira de lidar com qualquer problema é usando a inteligência.

O Brasil está vivendo um momento histórico muito delicado. Por isso, é fácil uma pessoa justa se deixar levar pela indignação e reagir sem pensar. Mas é preciso lembrar que nossa luta não é contra carne e sangue. E que, por toda a Bíblia, Deus só agiu em favor daqueles que colocaram sua confiança inteiramente nEle, e não em pessoas, em instituições ou em si mesmos.

Como manter a confiança em meio ao caos? Mantendo os pensamentos ligados aos pensamentos de Deus. Por isso, avalie racionalmente o tipo de conteúdo que entra por seus olhos e ouvidos. Ainda que sua indignação pareça justa e que seu senso de justiça grite a cada informação absurda que recebe, lembre-se que a Inteligência da Palavra de Deus nos ensina que devemos ser prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para nos irar — e explica: “Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”. (Tiago 1.20)

Só há uma estrada para a justiça de Deus: a fé. Quando usamos nossa fé, Ele nos mostra uma saída para o problema, sem deixar espaço para o mal. Nos leva a enxergar as soluções e a ter a paciência necessária para alcançá-las pelos meios corretos. Por isso é tão importante não se acostumar a viver com base em sentimentos, impulsos e indignações do coração. Porque a fé não depende daquilo que se vê ou sente. Você pode estar vendo o contrário do que gostaria, pode estar ouvindo as piores notícias, mas a sua fé o mantém tranquilo e confiante de que Deus vê todas as coisas, ouve o seu clamor e lhe responderá. Justamente por isso, a resposta não tarda a vir.

Você não se importa em saber como Deus fará para exercer a Sua justiça, simplesmente sabe que a justiça chegará. Porque está escrito que tudo o que o homem plantar, ele ceifará. Se alguém plantou injustiça, colherá a injustiça que plantou. E se alguém plantou justiça, também colherá a justiça plantada. A convicção de que isso é verdade traz tranquilidade e faz com que você consiga pensar de modo objetivo. Preserva sua saúde física, mental e espiritual. Percebe a diferença entre o modo que não funciona e o que funciona?

Temos dentro de nós a escolha entre enxergar certo e enxergar errado, entre fazer certo e fazer errado. Mesmo que tenhamos que remar contra a correnteza deste mundo que leva as pessoas a viverem de acordo com seus próprios impulsos, não há outra escolha. Porque se Deus tivesse chamado Seu povo para agir e reagir como todos os outros povos, não teria dito: “E ser-Me-eis santos, porque Eu, o Senhor, sou santo, e vos separei dos povos, para serdes Meus”. (Levítico 20.26)

A expectativa dEle não mudou. Se Ele nos separou, é para que sejamos diferentes. A boa notícia é que a promessa dEle também não mudou: quem se separa deste mundo tem a garantia de ser dEle. E isso nos garante também a paz, a proteção, a segurança e, é claro, a justiça.

 

*Publicado originalmente na Folha Universal. Ed. 1605

Fábrica de crianças

Talvez você possa achar que não leu corretamente o título deste artigo. Sim, você leu corretamente. Na verdade, esse é mais um passo da nossa caminhada para o fim. E nem deveríamos nos espantar. Basta olhar as redes sociais para ver que as pessoas estão agressivas, focadas em suas próprias cobiças e sentimentos. Hoje o comportamento imoral é visto como certo e o certo é visto como algo bobo, sem a menor importância. Os noticiários estão cheios de casos de assassinatos, roubos e golpes de todos os tipos. Valores e princípios têm sido desprezados porque as prioridades se inverteram. Até mesmo os avanços tecnológicos têm servido a essa inversão de valores.

Em 1932, o escritor Aldous Huxley escreveu o livro “Admirável Mundo Novo”, imaginando o futuro a partir de uma visão crítica da sociedade que, já na sua época, estava deslumbrada com avanços tecnocientíficos. Huxley imaginou uma sociedade de classes, em que embriões (futuros seres humanos) seriam formados em laboratório e manipulados geneticamente para realizarem funções pré-definidas. Alguns, feitos para classes privilegiadas, e outros, preparados para os piores trabalhos. Depois, seriam implantados em cápsulas artificiais, de onde nasceriam, como em uma linha de produção de crianças. Agora, a realidade se aproxima da ficção de modo preocupante.

Recentemente, o biotecnólogo Hashem al-Ghaili apresentou ao mundo um vídeo do projeto EctoLife, uma rede de clínicas de gestação artificial (ectogênese). Os contratantes poderão alterar geneticamente os embriões, escolhendo as características físicas e intelectuais de seus futuros bebês, que serão implantados em cápsulas tecnológicas. A tecnologia ainda não foi totalmente desenvolvida nem aprovada, mas al-Ghaili garante que tudo o que apresenta já foi proposto como viável pela ciência, e que estaria disponível para ser implementado em até 15 anos.

A imagem é de uma verdadeira “fábrica de crianças”, com centenas de recipientes ovais e transparentes ligados a equipamentos que os mantêm funcionando, cada um com um feto mergulhado em líquido nutritivo artificial. O contato do bebê com a pessoa que pagou para gerá-lo é feito por meio de aplicativo, como se alguma tecnologia pudesse substituir a interação entre mãe e bebê. As mudanças extraordinárias no corpo da mulher durante a gravidez a preparam para a maternidade. Pesquisas apontam que o cérebro da mãe sofre mudanças significativas durante a gestação, para que ela consiga focar no bebê e estabelecer com ele um vínculo que ninguém é capaz de explicar — e que é essencial para o desenvolvimento emocional da criança. Nisto se vê a ação do Criador.

Como garantir a integridade psicológica de pessoas gestadas sem mães? O ser humano é uma máquina que pode ser substituída por outra? O aumento da inteligência e de talentos do embrião por engenharia genética, para quem pode pagar, não pioraria absurdamente o abismo social entre os seres humanos? E quem pode garantir que a tecnologia não seria usada para fins nada nobres, como formação de exércitos, tráfico de pessoas ou tráfico de órgãos? Enquanto alguns levantam esses e outros questionamentos, outros comemoram a ideia como “avanço da ciência”.

Quando deixa de lado os princípios éticos aprendidos para fazer o que acha e o que tão somente pensa, o ser humano perde o que tem de melhor, porque exclui dessa equação o próprio Deus. Por isso o que vem acontecendo nesse mundo tem chocado a muitos, ou seja, esses supostos “avanços” atropelam até o velho bom senso. Porém, a tendência é piorar. Isso quem diz não é Aldous Huxley, mas a Bíblia. Ela prevê que nos últimos dias as pessoas seriam desafeiçoadas, amigas dos prazeres e inimigas de Deus, exatamente como se vê hoje. A boa notícia é que, quanto mais o mundo caminha para o cumprimento das profecias, mais perto está o dia do fim.

Quem quer fazer o certo, está se tornando exceção, e deve aprender a gostar de ser diferente, focando na eternidade. Não se permitir abater com a degradação moral deste mundo, mas manter firmes os seus valores e a convicção de que o certo continua sendo certo, mesmo quando a maioria escolhe o errado. E que vale a pena andar no caminho reto e influenciar os sinceros que estão ao seu redor, ainda que sejam poucos. A verdadeira resistência nesses tempos sombrios. Vale a pena focar em ser a fonte de luz que aponta o caminho para quem quer sair das trevas.