Categoria: Livros

Diário de leitura – Habacuque

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No início do livro, Habacuque pergunta por que Deus lhe permite ver iniquidade, opressão e injustiça e não faz nada para resolver. Quantas vezes temos essa sensação de impotência diante da injustiça? Quantas vezes questionamos a Deus dessa forma? Quantas vezes temos vontade de perguntar, como ele: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e Tu não me escutarás?”.

Os questionamentos de Habacuque não eram de incredulidade, eles vinham de ele acreditar no caráter de Deus: “Tu és tão puro de olhos que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar. Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e Te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?” (1.13). O que ele via não combinava com o que sabia a respeito de Deus. Se Ele é tão puro que não pode ver o mal, por que se cala diante da injustiça?

Essas questões duraram um capítulo. Depois disso, Habacuque não ficou se angustiando com o problema. Simplesmente apresentou suas perguntas e aguardou uma resposta, sem duvidar que ela chegaria. Ele age com Deus como agiria com uma pessoa visível. Quando perguntamos algo a alguém, esperamos a resposta, mas, com Deus, muitas vezes agimos como se Ele não existisse. Perguntamos e continuamos nos atormentando com aquele pensamento. Ficamos ruminando o problema como se tivéssemos feito uma pergunta ao vento. Enquanto falamos com nós mesmos, como ouviremos a Deus? Habacuque teve seu tempo de falar, mas parou para ouvir.

Já estava até se preparando para levar um puxão de orelha: “para ver o que falará a mim e o que eu responderei quando eu for repreendido” (2.1). A resposta de Deus, porém, foi de esperança. Pediu ao profeta que escrevesse a visão. Tudo se resolveria. As coisas têm um tempo certo. O que Deus tem a fazer, Ele fará. “Se tardar, espera, porque certamente virá.”

A resposta de Deus foi basicamente: Meu filho, Eu estou vendo. Espera, pois tudo se cumprirá.

E Ele realmente estava. Tanto que detalha o problema e diz que o orgulhoso acha que está se dando bem tentando construir sua vida à custa dos outros, mas, inevitavelmente, vai se dar mal. Deus manda Habacuque escrever para deixar claro o que não deveria ser feito, para que o ímpio tivesse consciência do erro. “Ai daquele que multiplica o que não é seu” e que constrói sua vida com sangue, com iniquidade. O fundamento da nossa vida tem de ser a justiça, a Palavra de Deus, ainda que, em alguns momentos, pareça que estamos perdendo ou nos dando mal. Se tentamos nos estabelecer (ou mesmo nos proteger) prejudicando os outros, estamos pecando e iremos colher destruição. Quem tenta se proteger do mal na força do seu próprio braço será alcançado por esse mal.

O profeta, que começou questionando a aparente imobilidade de Deus, termina falando da salvação, descrevendo a ira de Deus contra a injustiça. Nas palavras da oração de Habacuque, os montes tremeram, o sol e a lua pararam diante do poder e da indignação de Deus, que, marchando pela Terra, vem salvar Seu povo e ferir a cabeça da casa dos ímpios. O profeta, após ouvir a Palavra de Deus, reconhece (e descreve) a Sua grandeza e descansa na certeza de que Ele está ciente do que acontece e irá agir. Esse é o poder da Palavra dentro de nós: quando a absorvemos, ela muda completamente a nossa visão das coisas.

“No dia da angústia descansarei” (3.16). Habacuque mostra a grandeza de Deus, que já não está alheio ao sofrimento de Seu povo. Desde o começo não estava, mas aqui o profeta já percebeu que tudo estava sob controle e diz que mesmo que tudo pareça dar errado, ele continua confiando, se alegrando em Deus. E se refere a Ele como “o Deus da minha salvação” e como a sua força. Se no começo ele estava desesperançado, cansado e confuso, no final está confiante, fortalecido e feliz, pois aprendeu que “o justo pela sua fé viverá”. (2.4)

“Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.” Habacuque 3.17,18

Essa é a fé pela qual o justo viverá. A fé que independe das circunstâncias. Não está nem aí para o que vê ou sente. Se eu dependo de Deus, tanto faz se tudo parece bem ou se as coisas estão de cabeça para baixo. Tanto faz se está difícil ou fácil. Tanto faz se surgem ameaças ou se tudo está tranquilo.

Se a oliveira não der azeitonas, se você não colheu o que plantou, se não aconteceu o que esperava e se não viu o que queria. Você não muda seu comportamento com Deus. Continua feliz porque depende dEle e sabe em Quem tem crido.  Habacuque, em três pequenos capítulos, nos ensina a buscar as respostas em Deus, ouvi-Lo, confiar e descansar, sem dar a mínima para as coisas que pareciam muito importantes e dramáticas minutos atrás.

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* Estou lendo na versão Almeida Corrigida Fiel (ACF), a tradução em português mais próxima do texto original. Comprei nesse site aqui: biblias.com.br

PS: Claro, não dá para fazer Diários de Leitura de absolutamente todos os livros que leio, mas acho um exercício fantástico (e, principalmente com a Bíblia, vale muito a pena). Escrever enquanto leio dá trabalho, mas é uma boa técnica para meditar no que estou lendo. Leio bem mais devagar assim, mas, pelo menos, pego bem o espírito. Evita aquela leitura preguiçosa e obriga meu cérebro a manter a atenção e fazer conexões. É algo que gosto de fazer no Templo de Salomão, antes de começar a reunião, por exemplo. Ou em casa, depois (ou antes) de um dia agitado. Ou na sala de espera do médico rs. Um pouquinho por dia. O importante não é terminar rápido a leitura, mas aproveitar todos os capítulos. 😉

100 maneiras de motivar a si mesmo

100 maneiras de motivar a si mesmo

Peguei esse livro por acaso na livraria, em uma das estantes, escondido no meio dos outros. São textos curtos, cada capítulo fala sobre uma dica diferente e tanto o título quanto o subtítulo prometem bastante: “100 maneiras de motivar a si mesmo” (100 ways to motivate yourself) – “Um plano de ação para banir os pensamentos negativos que bloqueiam seus sonhos e objetivos”, da editora Sextante. (Estranhamente, são 110 capítulos, não 100.)

Eu não costumo ser muito atraída por esse tipo de título porque geralmente é de autoajuda clichê e emocional, que eu detesto. Mas não dá para descartar um livro só pelo título, eu tinha que ler algumas páginas. O conteúdo me surpreendeu positivamente! Não é um livro autoajuda-cheerleader (emocionais, cheios de clichês, que ficam saltitando ao seu redor, dizendo que você é o máximo, que vai conseguir, u-huuuu! Vo-cê! Vo-cê! Vo-cê!), é um livro que faz você ter certeza de que vai conseguir. Ele faz você pensar e perceber de maneira lógica que se fizer x, vai alcançar y. O autor, Steve Chandler, é coach de liderança e tem uma forma de pensar bastante parecida com a minha, é bem humorado e escreve muito bem, então foi uma leitura muito prazerosa.

Como os capítulos são curtos e objetivos, é um livro bem legal até para quem não tem muito tempo e também para quem não tem muito hábito de ler. Você termina um capítulo rapidinho e fica meditando nele até pegar o livro de novo e ler o próximo. Não importa se levar 110 dias para ler o livro…rs. O importante é conseguir extrair o melhor dele. E tem muuuita coisa legal, eu nem teria como colocar trechos de tudo o que achei útil, ou teria que escrever outro livro.

Mas a leitura foi uma boa conversa. Steve Chandler me deu alguns chacoalhões e em outros momentos eu tinha que corrigi-lo: “acho que não foi bem isso que você quis dizer” (sim, eu converso com livros rs), como quando diz: “Quando escrevemos nossos planos e sonhos, precisamos ditar o que nosso coração manda”, não é bem isso que ele quis dizer. Ele está falando sobre pensar grande e não se limitar. Eu sei que não foi isso o que ele quis dizer porque dizer “siga o seu coração” não combinaria com as outras coisas que ele diz no livro todo, então eu o perdoo, Chandler rs.

Os capítulos são pequenos (110 em 187 páginas), mas todos têm alguma coisa forte e prática. Ele fala sobre ser seletivo com suas amizades, sobre a importância do silêncio, sobre tornar as coisas mais leves, sobre como cumprir suas metas, sobre criar as melhores condições possíveis para o pensamento, sobre discutir com o pessimismo…aliás, essa é ótima, olha um trecho:

“Se quer aproveitar ao máximo seu biocomputador (que é o cérebro), precisa reconhecer que os pensamentos pessimistas são menos eficientes. Depois de admitir a natureza pessimista do seu pensamento, você estará pronto para dar o próximo passo: aprender a argumentar a favor da visão otimista.

Comece a questionar sua primeira linha do pensamento. Faça de conta que você é um advogado cujo trabalho é provar que o seu lado pessimista está errado. Baseie seu caso naquilo que é possível. Você vai se surpreender. O otimismo é expansivo por natureza – abre uma porta após a outra para as possibilidades. O pessimismo é justamente o oposto: é restritivo, fecha portas. Se você realmente quer abrir a sua vida e se motivar para o sucesso, torne-se um pensador otimista.”

É uma boa técnica para enfraquecer pensamentos pessimistas. Porque eles vêm com aquela aparência de “especialista na situação” e a gente geralmente os ouve com a maior reverência. Se começar a enfrentá-los e a duvidar deles, perderão a força. E não se esqueça: não há pensamento neutro. Ou o pensamento é otimista, ou pessimista.

Um ponto interessantíssimo do livro é a visão dele com respeito ao bombardeio de informações. Inclusive, há um capítulo em que ele sugere que o leitor faça um jejum de informações. 🙂 E a opinião dele sobre noticiários é bastante semelhante à minha. O  trecho abaixo me fez dar as mãos ao meu novo amigo Steve e decidir que tinha gostado do livro, definitivamente. rs

“Se você é espectador ou ouvinte frequente de noticiários, pertence a um culto bastante persuasivo e hipnótico. Você precisa ser desprogramado com urgência! Comece mudando a forma como vê ou escuta as notícias e os programas sensacionalistas. Elimine todos os pensamentos negativos, cínicos e céticos que está deixando fluir para sua mente ao se abrir para esse tipo de entretenimento. Tais programas não são de notícias, e sim de más notícias. Quanto mais você considerá-las notícias, mais vai acreditar que ‘é assim mesmo’ e mais medroso e cínico vai se tornar.

(…)

Às vezes é impossível evitar as reportagens de crime e escândalos, por isso é importante aprender a encará-las de uma forma capaz de desprogramar seu efeito colateral. Fazemos isso muito bem quando passamos os olhos pelos tabloides nas bancas de jornal. Já estamos rindo antes mesmo de ler a manchete de que extraterrestres vivem na Casa Branca. Precisamos ter essa mesma atitude quanto à imprensa considerada séria.”

É exatamente assim que eu vejo as notícias. Nunca me permito embarcar emocionalmente em uma notícia de crime ou escândalo. Minha opinião é geralmente o contrário do que a Globo ou a Veja pregam. E não é por ser desinformada, pelo contrário, me informo o suficiente para não concordar com a imprensa tradicional.

“Jamais pensaríamos em passar pela cabine do piloto antes de um voo e dizer a ele: ‘Pode me levar para qualquer lugar!’ No entanto, é dessa forma que vivemos nossos dias quando deixamos de verificar o mapa.”

A maioria vive assim. Simplesmente segue o fluxo, no pior estilo “deixa a vida me levar”. E essa é a melhor forma de desperdiçar a vida.

“A chave para a transformação pessoal está na sua vontade de fazer coisas bem pequenas – mas fazê-las hoje.”

E eu corrijo Chandler aqui: A chave para a transformação pessoal está na sua decisão de fazer coisas bem pequenas – mas fazê-las hoje. Porque vontade é algo que vem e vai, mas o poder da decisão é nos manter firmes até o fim, em qualquer propósito que definirmos.

Vou deixar mais um trechinho aqui, que fala sobre escritores, mas que eu creio que valha para tudo o que você quer fazer na vida.

“Às vezes, não fazemos certas coisas porque não temos certeza de que iremos fazê-las bem. Achamos que não estamos com vontade ou energia suficiente para cumprir aquela tarefa, então, adiamos, ou esperamos até que a inspiração venha a nós.

O exemplo mais conhecido desse fenômeno é o que os escritores chamam de ‘bloqueio criativo’. Uma barreira mental parece se erguer, impedindo o escritor de continuar a escrever sua obra. (…)

O ‘bloqueio’ (ou falta de automotivação) ocorre não porque o escritor não consegue escrever, mas porque ele pensa que não pode escrever bem. Ou seja, ele acha que não tem energia ou a voz pessimista dentro de si o desencoraja, o faz duvidar da própria capacidade. Isso acontece com muitos de nós, mesmo com algo tão insignificante quanto um e-mail ou um relatório.

(…)A cura para o bloqueio criativo – e também o caminho para a automotivação – é simples: ir adiante e escrever mal. (…) Com o mero ato de digitar um texto, você enfraquece a voz pessimista que tenta convencê-lo a não tentar. De repente, está escrevendo. Uma vez que entra em ação, fica mais fácil obter mais energia e qualidade para o seu trabalho.”

 

PS: Li esse livro no meio de 2014 e ano passado mesmo fui atrás dos outros livros do autor. Estou terminando “100 maneiras de motivar as pessoas” (leeentamente…levando muito mais do que 110 dias. Deixo na bolsa e leio em salas de espera rs), creio que vai dar uma resenha, é bem legal. Ainda falta ler “100 maneiras de criar riqueza”. 😀