Categoria: Resenhas de livros

Escrever Melhor

CAPA_ESCREVER_MELHOR_WEB_1Ouço muita gente dizer que gostaria de saber escrever, como se isso fosse um dom oferecido a poucos escolhidos. No entanto, escrever é uma habilidade a ser desenvolvida, como outra qualquer.

Por exemplo, todo mundo sabe que tocar violino é uma arte, mas ninguém espera que alguém pegue um violino e saia tocando perfeitamente por aí sem estudar nem um pouquinho sequer. Alguém que tenha talento para a coisa, se não se esforçar e treinar, não vai virar nada. Já alguém que não tenha talento, talvez nunca se torne um virtuose, mas pode aprender a tocar violino perfeitamente bem se estudar e praticar. A técnica aliada à vontade de crescer faz com que você alcance muito mais do que poderia imaginar.

O livro “Escrever Melhor – Guia para passar os textos a limpo” (Editora Contexto) de Dad Squarisi e Arlete Salvador, é um dos meus preferidos quando preciso indicar algum material para alguém. Prático, claro, simples de entender (até para quem não é da área) e com uma linguagem leve e divertida.

E talvez esse seja um dos segredos de aprender a escrever melhor: ter intimidade com a língua escrita a ponto de poder brincar com ela. Você joga um verbo para cá, inventa uma palavrinha nova ali, escolhe a melhor combinação de palavras, conversa com o leitor, identifica o que é inútil e corta…ou coloca, de propósito, algo que não tenha utilidade nenhuma, mas com algum objetivo superior…rs. Enfim, a uma certa altura, escrever se torna um “segundo idioma” que você domina perfeitamente.

Agora, falando sério (não que eu não estivesse falando sério antes), está cada vez mais raro encontrar quem escreva bem! E pelamordedeus, vamos explicar aqui que “escrever bem” não significa “escrever difícil”. Pelo contrário! Cada época tem seu estilo e o estilo da nossa época é linguagem clara, simples e natural. Livre, leve e solta. :-D

O livro ajuda muito nisso, porque é um guia básico para produzir textos objetivos e cortar excessos…ok, consigo ouvir as piadinhas de vocês a respeito de Vanessa Lampert, a Imperatriz do Reino dos Textos Gigantes, estar falando da importância de cortar excessos…mas como eu sempre digo, nem todo texto curto é objetivo e nem todo texto objetivo é curto. :-) Peço paciência, leia esse trecho do livro e entenda a que me refiro:

“Há casos em que o autor usa várias palavras quando uma pode dar o recado. Há outros em que utiliza duas orações quando uma basta. (…) Leia com atenção o parágrafo que segue, extraído de dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Trata-se de bom exemplo de verborragia:

 ‘O profundo conhecimento dos hábitos e específicas necessidades dos potenciais grupos de usuários de um espaço habitável será de inestimável valor para que, ao se elaborar o projeto, se atinja o objetivo de conferir ao usuário o domínio sobre o uso do produto adquirido – sua moradia – para que esse lhe seja de fato prazeroso, seguro e responsável por um verdadeiro progresso na qualidade de vida de seus usuários, ou seja, o conforto doméstico.’

Se você não entendeu o que o autor quis dizer, não entre em pânico. Há palavras de mais e sentido de menos. Resultado: não dá mesmo para entender. É apenas possível supor que ele pretende afirmar o seguinte:

‘O conhecimento dos hábitos e necessidades dos moradores é fundamental para a elaboração de projeto arquitetônico de apartamento confortável.’

Palavras têm peso. Poder. Vida. É preciso escolhê-las com cuidado, porque há palavras para tudo. Afirmar é mais incisivo do que contar. Gritar é mais agressivo do que afirmar. E assim vai a rica Língua Portuguesa.”

E antes que algum jornalista (porque eles estão em toda parte) venha com a conversa comodista de que “ah, mas depois a edição faz esse trabalho!” (que é parente do “ah, não preciso me preocupar com gramática porque tem o revisor” – sério, existe gente que pensa assim!), eu lhe pergunto: se o jornalista não aprende a editar seu próprio texto, como poderá se tornar editor algum dia? Sinceramente, não entendo quem se acomoda às suas limitações e não fica querendo se livrar delas a qualquer custo (tenha alergia a limitações, meu amigo).

Além dessas noções mais gerais de edição de textos, você também encontra explicações claras sobre regrinhas de gramática e ortografia que a gente achava chatíssimo decorar na escola…e era chato, mesmo! Sabe o que torna regras de gramática e fórmulas de física, matemática e química tão distantes de nossa realidade? Essa mania esquisita que a escola tem de nos fazer decorar, simplesmente. Ninguém explica a lógica daquilo ali (porque existe uma lógica!)…o que raios levou aquela regra a ser criada? Qual é o objetivo, para que serve? É melhor você entender como usar determinada regra do que decorar a bendita regra.

Nisso eu acho que “Escrever Melhor” ajuda bastante. Descortina aquelas regrinhas que pareciam indecifráveis na infância. Prestando atenção aos exemplos, você entende como funciona cada dica ou regrinha. Mas às vezes a própria explicação já basta. O longo comentário a respeito do uso da crase, por exemplo, começa assim:

“Crase é como aliança no anular esquerdo. Avisa que estamos diante de ilustre senhora casada. A preposição a se encontra com outro a. Pode ser artigo ou pronome demonstrativo. Os dois se olham. Sorriem um para o outro. O coração estremece. Aí, não dá outra. Juntam os trapinhos e viram um único ser.”

Não é lindo?

 

Vanessa Lampert

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P.S: Trabalhando com isso ou não, uma coisa é certa: a gente se comunica por escrito todos os dias. Seja em um comentário no blog, seja escrevendo um e-mail…uma oportunidade de trabalho pode surgir por causa de algum texto seu na internet, ou mesmo por impressionar seu futuro empregador (eles vasculham nossas redes sociais hoje em dia, você sabe) com sua fluência verbal no Facebook…

P.S2: Se você ainda não sabe escrever direito, se comete muitos erros ou tem dificuldades com a escrita, vou colocar algumas dicas rápidas e práticas aqui no blog nas próximas semanas. Não se sinta constrangido, a maioria das pessoas tem essa dificuldade. O importante é que você queira melhorar, se aprimorar. Se eu fosse você, investiria nisso. Por mais que no começo pareça complicado ou difícil (tudo parece, no começo), busque aperfeiçoar essa habilidade.

P.S3: Deu saudade de vocês também, viu? Tive de me afastar de todos os blogs e estava escrevendo só na Folha Universal (vocês estão acompanhando o jornal? O que eu sempre digo a respeito dos livros, vale para ele também: é maravilhoso doar para outras pessoas, mas não doe nada que você não tenha lido. Como pode querer que alguém leia se você mesmo não lê?).

Neemias

Eu ia escrever sobre outro livro, mas esta semana fiquei obcecada com Neemias. Pre-ci-sa-va compartilhar. Não consegui pensar em outra coisa, nem falar em outra coisa…rs…então vou quebrar o protocolo e fazer essa resenha diferente. :-)

Não é a primeira vez que leio esse livro, nem a segunda, nem a terceira, nem sei que vez é! Mas desta vez ele ganhou vida de uma maneira incrível! E eu espero que seja assim também com você, quando ler hoje (porque você vai ler hoje, né?…rs…), que essa história fale contigo tanto quanto falou comigo.

A forma de ele lidar com a oposição é fantástica (vou detalhar isso mais para frente), e também sua determinação, coragem, objetividade…  Vamos por partes. Um pause aqui na situação: o indivíduo era copeiro do rei! Ele era um simples copeiro, mas não olhou para isso quando viu que sua cidade estava em ruínas e se dispôs a liderar a reconstrução dos muros! Não tinha nenhuma pretensão de se tornar governador, chefe de exército, não buscava cargo algum, apenas queria fazer o que tinha de ser feito. O povo estava sofrendo, a obra precisava ser feita, havia muito a ser consertado.

Não olhou para nenhuma das suas impossibilidades: ele não era sequer construtor, era um simples copeiro (já disse isso?), servo do rei! Ele não era livre para ir e vir. Como, então, planejou algo tão ousado? Quando você lê o início do livro, percebe na oração que ele faz, que  já está decidido a tomar uma providência, embora não diga qual é. Pede apenas que seja bem sucedido e alcance favor “perante este homem”, mas não diz que homem. Ou seja, ele decidiu de uma maneira tão decidida (rs) que nem ao leitor ele informa! Ele simplesmente pede a ajuda de Deus e vai.

Que fé a desse homem! Ele sabe o que tem de ser feito, tem certeza do que tem de fazer, então não olha para nenhuma dificuldade, para nenhuma impossibilidade e demonstra grande coragem ao falar com o rei. Imagina só, ele pede uma licença para ir lá em Jerusalém reconstruir os muros! O rei poderia muito bem responder: “E eu com os muros de Jerusalém, Neemias? Fica na sua!” (Na linguagem da época, é claro…hahaha…) Mas olha só essa conversa:

“No ano vigésimo do rei Ataxerxes, uma vez posto o vinho diante dele, eu o tomei para oferecer e lhe dei; ora, eu nunca antes estivera triste diante dele. O rei me disse: Por que está triste o teu rosto, se não estás doente? Tem de ser tristeza do coração. Então, temi sobremaneira e lhe respondi: viva o rei para sempre! Como não me estaria triste o rosto se a cidade onde estão os sepulcros de meus pais, está assolada e tem as portas consumidas pelo fogo?”

Note que ele diz que temeu horrores, mas mesmo assim fala o que tem de falar. O temor que ele sentiu não o fez recuar, nem sequer hesitar. Ele enfrentou e disse o que tinha de dizer.

“ Disse-me o rei: Que me pedes agora? Então, orei ao Deus dos céus e disse ao rei: se é do agrado do rei, e se teu servo acha mercê em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique.”

Perceba como Neemias estava focado. Quando ele diz que orou ao Deus dos céus no meio da conversa, obviamente não interrompeu para ajoelhar, erguer as mãos ou fazer qualquer ritual religioso. Ele simplesmente falou com Deus (é bem provável que rapidamente) e respondeu ao rei. Isso mostra uma extrema dependência de Deus. Ele não responde confiando na capacidade dele de convencer o rei, simplesmente ora para ter a garantia de que a conversa terá bom resultado. Afinal de contas, ele tem um objetivo definido e uma fé definida. Depende 100% de Deus. Não tem como dar erado.

“Então, o rei, estando a rainha assentada junto dele, me disse: Quanto durará a tua ausência? Quando voltarás? Aprouve ao rei enviar-me e marquei certo prazo. E ainda disse ao rei: Se ao rei parece bem, deem-se-me cartas para os governadores dalém do Eufrates, para que me permitam passar e entrar em Judá, como também carta para Asafe, guarda das matas do rei, para que me dê madeira para os muros da cidade e para a casa em que deverei alojar-me. E o rei mas deu, porque a boa mão do meu Deus era comigo.”

Já li que Neemias devia ter um excelente relacionamento com o rei para que ele lhe desse todas essas coisas, inclusive uma longa licença…rs…Mas o bom relacionamento que ele tinha era com Deus! A última frase explica por que o rei concedeu tudo isso: a boa mão de Deus era com Neemias! E só era com ele por causa dessa disposição que ele tinha. Veja que Neemias não só foi ousado, mas também foi bastante inteligente. Planejou, e não teve medo de pedir ao rei as condições que iria precisar. O mais impressionante é que o rei aceitou, sem questionar. Apenas fixou um prazo, mas estou certa de que esse prazo inicial era muito menor do que o que acabou acontecendo, porque eu du-vi-do que algum chefe, por melhor que fosse, daria uma licença de mais de dez anos para o funcionário resolver problemas pessoais, em qualquer época da história da humanidade!

Eu tenho vontade de comentar o livro todo, mas escreveria outro livro, né? Então vou comentar apenas alguns trechinhos. Já na metade do segundo capítulo, quando Neemias parte com o firme objetivo de animar o povo a reconstruir os muros de Jerusalém, começa a oposição. A oposição é ridiculamente minúscula, composta por uns dois ou três indivíduos, que acabam arregimentando mais alguns outros ao longo do caminho, mas os problemáticos são basicamente Tobias, Sambalate e Gesém.

“Disto ficaram sabendo Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita; e muito lhes desagradou que alguém viesse a procurar o bem dos filhos de Israel”

O mal não se agrada quando alguém procura o bem dos filhos de Deus e é por isso que todo aquele que se dispõe a fazer o que sabe que tem de ser feito, encontra perseguição e oposição. Eu vejo nesses personagens a atitude da oposição que enfrentamos hoje…são os mesmos demônios, né? Então preste atenção às estratégias para saber identificar e se defender, com a técnica Ninja de Neemias. :-)

“Porém, Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, e Gesém, o arábio, quando o souberam, zombaram de nós e nos desprezaram, e disseram: Que é isso que fazeis? Quereis rebelar-vos contra o rei? Então lhes respondi: o Deus dos céus é quem nos dará bom êxito; nós, seus servos, nos disporemos e reedificaremos; vos, todavia, não tendes parte, nem direito, nem memorial em Jerusalém”

A estratégia é a mesma até hoje: Primeiro, os inimigos tentaram desanimá-los com zombaria e desprezo. Neemias, porém, ignorou a provocação, deixando claro quem era quem: Deus era quem faria aquela obra dar certo. O povo de Deus era quem trabalharia para executar a obra e os inimigos…bem, os inimigos não tinham parte, nem direito e nem memorial algum naquilo que eles estavam fazendo…em outras palavras, eles não tinham nada a ver com isso! A lição aqui é clara. Quando te desprezarem e zombarem de você, não fique sentindo ou sofrendo…você vê Neemias magoado, triste? Não! Seja firme, e racional: ok, eu estou fazendo o que tenho que fazer. Deus é comigo. E esse pessoal que está me criticando e zombando da minha fé não tem nada com a minha vida!” Pronto. Siga seu caminho. Lá foi Neemias fazer o quê? O que ele sabia que tinha de ser feito. :-)

O segundo ataque veio no quarto capítulo:

“Tendo Sambalate ouvido que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito, e escarneceu dos judeus. Então, falou na presença de seus irmãos e do exército de Samaria e disse: Que fazem estes fracos judeus? Permitir-se-lhes-á isso? Sacrificarão? Darão cabo da obra num só dia? Renascerão, acaso, dos montões de pó as pedras que foram queimadas? Estava com ele Tobias, o amonita, e disse: Ainda que edifiquem, vindo uma raposa, derribará o seu muro de pedra.”

Aqui a estratégia foi tentar plantar dúvida. Tentar fazer com que se sentissem fracos e questionassem se realmente conseguiriam terminar. É assim sempre que a gente tenta começar qualquer coisa. Consertar algo dentro da gente, reconstruir nossa vida, ajudar uma pessoa, fazer a obra, nascer de novo, ter um encontro com Deus, começar um trabalho importante, enfrentar um desafio, dar um passo significativo…sempre a estratégia do mal é tentar colocar dúvida. Porém, a reação de Neemias foi orar, passando a situação para Deus, dizendo que estavam sendo desprezados e que era para Deus cuidar disso, “pois te provocaram à ira, na presença dos que edificavam”. Percebe? Neemias não diz que eles o provocaram, mas que provocaram a Deus! Ele se tira da equação e deixa bem claro como vê as coisas: o que estava fazendo era para Deus, então qualquer coisa que fizessem contra ele, era, na verdade, contra Deus. Aí reafirmava a sua fé, que é o melhor antídoto contra a dúvida. A melhor arma contra a dúvida é a certeza. :-)

“Mas, ouvindo Sambalate e Tobias, os arábios, os amonitas e os asdoditas que a reparação dos muros de Jerusalém ia avante e que já se começavam a fechar-lhe as brechas, ficaram sobremodo irados. Ajuntaram-se todos de comum acordo para virem atacar Jerusalém e suscitar contendas ali. Porém nós oramos ao nosso Deus e, como proteção, pusemos guarda contra eles, de dia e de noite.”

Ai, sério mesmo que precisa de algum comentário aqui? É muito forte isso! Quando viram que as brechas estavam sendo fechadas, os inimigos se indignaram e planejaram o ataque! É o que acontece quando você dá continuidade ao que começou ali em cima, no meu outro exemplo.  A solução foi orar e montar guarda. Mas a pressão piorou, e Neemias colocou as famílias detrás dos muros e mandou que o povo lutasse por elas! Quando começaram a dar ouvidos às ameaças dos inimigos, Neemias os trouxe à realidade: adianta se desesperar? Adianta acreditar que seus inimigos são mais fortes? Você tem de lutar, tem coisas mais importantes para defender! Quando os inimigos souberam que os judeus estavam prontos para lutar, desistiram do combate. Uma postura passiva diante dos problemas faz com que eles se fortaleçam sobre você! A única chance é estar pronto para lutar.

Dali em diante, a vigilância foi total: Estavam sempre alertas, trabalhando, mas já com as armas prontas para o caso do ataque acontecer. A impressão que eu tenho é que aquela ameaça os fez trabalhar mais ainda! Olha a diferença de quem trabalha com um foco, um objetivo definido. De quem faz a obra sabendo onde quer chegar e com Quem pode contar.

Depois, no sexto capítulo, a estratégia mudou.

“Tendo ouvido Sambalate, Tobias, Gesém, o arábio, e o resto dos nossos inimigos que eu tinha edificado o muro e que nele já não havia brecha nenhuma, ainda que até este tempo não tinha posto as portas nos portais, Sambalate e Gesém mandaram dizer-me: Vem, encontremo-nos, nas aldeias, no vale de Ono. Porém, intentavam fazer-me mal. Envie-lhes mensageiros a dizer: Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria a obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco? Quatro vezes me enviaram o mesmo pedido; eu, porém, lhes dei sempre a mesma resposta.”

Quando as brechas já estavam fechadas, eles quiseram atacar usando o medo. Primeiro, mandaram chamar Neemias, que percebeu que a intenção não era boa e disse que estava ocupado demais com a obra para dar atenção a ele :-D Olha que coisa linda! Quem está focado em fazer o que Deus já mostrou que tem de ser feito, usa a cabeça e não a emoção, então pensa: “peraí, eu tenho mais o que fazer”. Sim, seu tempo é limitado e precioso. O tempo que você gasta com alguém (uma pessoa ou uma situação, ou um pensamento…) que você sabe que te prejudica, poderia estar sendo gasto com a obra, com algo útil! Com aquilo que você sabe que deve ser feito. Então, se você está fazendo “grande obra”, vai deixá-la para perder tempo com algo ou alguém que quer te prejudicar?

Depois de insistir e receber sempre a mesma resposta, vieram com uma fofoca, ameaçando difamá-lo para o rei!!

“Então, Sambalate me enviou pela quinta vez o seu moço, o qual trazia na mão uma carta aberta, do teor seguinte: Entre as gentes se ouviu, e Gesém diz que tu e os judeus intentais revoltar-vos; por isso, reedificas o muro, e, segundo se diz, queres ser o rei deles, e puseste profetas para falarem a teu respeito em Jerusalém, dizendo: Este é rei em Judá. Ora, o rei ouvirá isso, segundo essas palavras. Vem, pois, agora, e consultemos juntamente.”

Em vez de ficar triste, bravo, de tentar se defender, de ficar ofendido e alimentar aquela conversa, Neemias teve uma reação maravilhosa! Ele cortou o assunto! :-)

“Mandei dizer-lhe: De tudo o que dizes coisa nenhuma sucedeu; tu, do teu coração é que o inventas”

E pronto! Acabou ali a resposta…rs… Simplesmente ignorou…acho que ele leu o post da Cristiane sobre como lidar com fofoca…rs… No versículo seguinte, ele fala da estratégia do mal para fazê-los parar e mostra sua confiança em Deus:

“Porque todos eles procuravam atemorizar-nos, dizendo: As suas mãos largarão a obra, e não se efetuará. Agora, pois, ó Deus, fortalece as minhas mãos”

E essa foi a estratégia do inimigo quando as brechas já estavam fechadas: o medo. Só se conseguisse fazer com que Neemias ficasse com medo, encontraria espaço para atingi-lo. Ele deixa isso bem claro em um trecho um pouco mais adiante:

“Para isto o subornaram, para me atemorizar, e para que eu, assim, viesse a proceder e a pecar, para que tivessem motivo de me infamar e me vituperassem”

Alguém em quem Neemias confiava foi subornado para amedrontá-lo e levá-lo a fazer algo que não era permitido. Parecia que o cidadão só queria proteger Neemias da ameaça de morte, “entra aqui, entra aqui, porque eles estão vindo te matar”, querendo que ele fosse para o meio do templo. Ele fez de um jeito para não dar nem tempo de Neemias pensar! Fique atento quando as coisas acontecerem de uma maneira meio atropelada. Neemias só conseguiu pensar porque ele não se deixou levar pela emoção! E se o desespero te empurra a fugir, pare e diga como Neemias: “homem como eu fugiria?” Ah, e outra coisa: cuidado com os conselhos. Por isso a gente tem de estar no Espírito, para evitar cair nessas ciladas.

Antes que alguém me pergunte, explico o seguinte trecho do capítulo 13:

“Contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes arranquei os cabelos, e os conjurei por Deus, dizendo: Não dareis mais vossas filhas a seus filhos e não tomareis mais suas filhas, nem para vossos filhos, nem para vós mesmos.”

A naturalidade com que ele narra isso me faz achar graça, mas tá, sei que é polêmico. Acabei de dizer da fé de Neemias e de como ele era racional e de repente ele espanca uns, arranca os cabelos de outros…rs… Mas se você ler toda a sequência, verá que Neemias teve de se ausentar (o rei se lembrou da existência dele e o mandou chamar, mas depois deu outra licença inexplicável…rs…) e na volta, encontrou um monte de pepinos! Teve de resolver um problema atrás do outro.

Quando encontrou esses caras casados com mulheres de povos inimigos, idólatras, cujos filhos nem falavam mais judaico, mas a língua dos inimigos, já estava sem paciência alguma. O povo já sabia da verdade, mas continuava errando! No tempo de Neemias não tinha o batismo com o Espírito Santo, domínio próprio, essas coisas. E de qualquer maneira, ele era um ser humano, né? Eu não apoio, mas diante desse contexto, sem o batismo com o Espírito Santo, entendo perfeitamente o fato de ele surtar e sair no braço com os mais teimosos. E também entendo o que ele fez com os móveis de Tobias (spoiler, spoiler…rs…) no mesmo capítulo. Não prejudicou em nada a imagem que eu tinha dele…rs… Neemias não era um supersanto, era um homem de fé, com quem Deus sabia que podia contar.

O livro é excelente, e se eu fosse você, iria ler agora, bem devagar, atentamente, meditando em cada trecho, tentando entender o máximo que puder. Assim como em nosso dia a dia, as ameaças estavam em toda parte, foi mesmo uma guerra psicológica, sem batalha física. Neemias dependia apenas de Deus, pois não sabia em quem confiar. Mas por ele ter confiado única e exclusivamente em Deus, com uma fé racional e prática e por se manter sempre na dependência dEle e agindo (pois ele nunca parou, sempre que via algo que deveria ser feito, ia lá e fazia), sem dar ouvidos ao medo, às ameaças e às dificuldades, teve energia para ir até o fim, Deus foi com Ele e absolutamente TODOS os planos do mal foram frustrados. É um exemplo para todos nós (fora a parte de arrancar os cabelos dos teimosos, por favor).

Vanessa Lampert

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PS: Me lembrei de uma passagem que acho muito forte e que merece um texto à parte: clique para ler “Se chegar à obra para fazê-la”

PS2: Uma coisa interessante (e que tem a ver com o link que coloquei no primeiro PS), é que Neemias não precisou ouvir uma voz, não teve uma revelação, ninguém lhe passou uma profecia, ele simplesmente vê uma necessidade urgente e fala com Deus a respeito daquilo. Mais tarde ele diz que foi Deus quem colocou no coração dele a vontade de reconstruir os muros, então imagino que durante a oração ele tenha tido a certeza daquilo que tinha que fazer, então simplesmente agiu, movido e guiado por essa certeza.

PS3: Se você tiver alguma dificuldade com uma palavra desconhecida ou outra, tenha um dicionário ao lado. Não veja isso como uma barreira, mas como uma oportunidade de aprender algo novo! Vai te ajudar a pensar no sentido do que está escrito e você ainda adicionará uma palavra diferente ao seu vocabulário. Se não tiver um dicionário de papel (que eu prefiro, pois dá para sublinhar e fazer bagunça…rsrs, em qualquer livraria ou sebo você encontra) ou instalado no computador, tem algumas opções online, como o Michaelis e o Priberam. Já são uma mão na roda. :-)

Publicado originalmente no blog Cristiane Cardoso