Categoria: São Paulo

Calçada para quê?

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As calçadas de São Paulo são feitas para a plantação de postes de luz, árvores e placas diversas. Nelas também crescem rampas esquisitas que saem das casas das pessoas e que servem para colocar carros nas ruas. As calçadas também servem para colocar lixo, dentro ou fora de sacos plásticos, para que a equipe de limpeza pública possa retirar. Ou não.

Nunca ocorreu aos fazedores de calçadas desta cidade que elas deveriam servir para que pedestres pudessem caminhar. Muito menos que, às vezes, esses pedestres viriam sobre elas de cadeiras de rodas ou empurrando carrinhos de bebê. Para os fazedores de calçadas paulistas, os pedestres devem (assim como os carros, as cadeiras de rodas e os carrinhos de bebês) andar no asfalto, sempre atentos para que carros, motos e bicicletas não passem por cima deles.

Exceção, é claro, para os bairros de classes altas e um ou outro bairro mais antenado com as necessidades dos bípedes (e quadrúpedes também, por que não?). Nesses, há calçadas suficientemente largas para que pessoas, árvores, postes , rampas, lixos e placas possam coexistir harmoniosamente.

Na Zona Norte, porém, essas exceções são bem reduzidas. [Na área onde eu moro, além de tudo o que já mencionei, também há um fator complicador: inclinações do terreno. Escolhi uma região bem alta da cidade, por receio de alagamentos (a gente vem de fora e relaciona São Paulo a trânsito e alagamentos), então aqui tem algo que os gaúchos chamariam de “lomba”. Muitas lombas. Algumas ruas são quase verticais, a ponto de eu pensar seriamente em comprar um equipamento de escalada e usar as rampas das garagens como apoio para a subida. Mas essa é outra história.]

A prefeitura deveria ver? Alguém deveria legislar sobre isso? Alguém deveria fiscalizar?  Não há fiscalização para impedir esses abusos calçadísticos, então calçada em São Paulo é terra de ninguém. A desculpa é sempre a mesma: a cidade é muito grande, então é impossível controlar tudo. As calçadas têm vida própria, elas simplesmente nascem assim. E se alguém reclamar, elas podem ser vingativas, então deixem como está.

A vantagem é que parei de implicar com pedestres no meio da rua. Se em Porto Alegre isso não tem a menor explicação científica (portoalegrenses andam no meio da rua, mesmo com calçadas enormes), aqui em São Paulo lugar de pedestre é no meio da rua.

Das coisas que eu não entendo

Indo para o supermercado, passamos pela Av. Paulista. Um palco gigante montado para o “show da virada” (patrocinado pela prefeitura, porque o dinheiro está sobrando, né?), dezenas de banheiros químicos sob o MASP (nunca vi tanto banheiro químico na minha vida), caixas de som e telões por quilômetros…o que leva os seres humanos a se amontoarem no meio da rua para ficar pulando ao ritmo de um som ensurdecedor, bebendo e gritando no meio de um monte de gente desconhecida?

Tudo para verem fogos…uma profusão de luzes e barulhos que são sempre iguais. Não tem um objetivo, não tem uma utilidade prática…e eu me sinto, pra variar, um alienígena ao imaginar que realmente milhares de terráqueos se reunirão na avenida e farão filas nas portas dos desconfortáveis banheiros no meio da rua. Sem contar os riscos de se estar no meio de uma multidão de desconhecidos bêbados.

Se você acha isso o máximo, ok, eu respeito. Não entendo, mas respeito. Que bom que isso te faz feliz. Espero que mude a sua vida e que tenha um impacto muito positivo no novo ano. Mas quando vejo esse tipo de coisa me lembro da política do pão e circo. Mais circo do que pão no Brasil, você há de convir.

 Imagens dos anos anteriores:

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Uma multidão reunida com o objetivo de prejudicar a audição com músicas absurdamente altas, apertada (muito apertada, veja que há pouca ou nenhuma distância entre um terráqueo e outro) entre desconhecidos que estão lá com objetivos semelhantes (ou não).

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Note que essa galera que está muito no fundo (a maioria, já que o evento reúne mais de um milhão de terráqueos) fica vendo a coisa toda por telões que, pela quantidade de pessoas e largura da avenida, poderiam ser chamados de “telinhas”… E ouvem por caixas de som… Esses estão aí pelo prazer de ficar de pé entre outros terráqueos, já que se fosse pelo show propriamente dito poderiam ter experiência semelhante no conforto de suas casas em frente à TV (o que seria igualmente bizarro, mas menos cansativo).

 

PS. Alguém decidiu que toda a população se interessa por esse tipo de coisa.  A mídia ganha com isso, o governo ganha com isso (aka pão e circo), as estatísticas de acidentes ganham com isso… e a população?

PS2.  Todo ano aguardo o retorno da Nave mãe.