Neste domingo se inicia mais uma edição do Jejum de Daniel e, logicamente, vou participar. E, ao escrever sobre a proposta do Jejum, me lembrei de trechos de três livros SECULARES, que mostram o quanto essa questão das notícias (e das redes sociais) tem sido complicada para todo mundo. Creio que o excesso de informações é uma forma de controle social, porque nos coloca em um modo “zumbi”, anestesiando nossas mentes e nos dizendo o que devemos pensar e com o que devemos nos preocupar. E se desconectar é uma forma de se rebelar contra este mundo e retomar o controle de sua vida, de sua mente e de seu celular. 

Vou transcrever aqui em trechinho do livro “100 maneiras de motivar a si mesmo” (Ed. Sextante), do Steve Chandler. Essa é a maneira #84, “Faça um jejum de notícias”: 

Faça um jejum de notícias

“Ouvi o termo ‘jejum de notícias’ pela primeira vez do Dr. Andrew Weil, que escreve sobre medicina natural e cura espontânea. Weil recomenda fazer uma abstinência de noticiários porque acredita ter um efeito terapêutico para o ser humano. Para ele, é uma questão genuína de saúde.

Minha própria recomendação para essa privação tem a ver com a psicologia da automotivação. Se você passar alguns períodos sem ouvir, ver ou ler notícias, vai perceber um aumento no seu otimismo. Vai se sentir com mais energia. ‘Mas eu não deveria estar sempre bem-informado?’, as pessoas me perguntam. ‘Não é meu dever de cidadão me atualizar sobre o que está acontecendo na comunidade?’

Atualmente, o objetivo dos noticiários não é informar, mas estimular nossas emoções de toda forma possível. Toda noite veremos sofrimento humano, injustiças, violência. Somos programados com essas informações repulsivas e assustadoras o tempo todo, e com isso nos tornamos menos motivados e mais pessimistas. 

Um jejum de notícias é uma cura restauradora para esse problema. Você pode fazer isso um dia por semana, para começar, e depois voltar a assistir aos programas sensacionalistas no dia seguinte se fizer questão. Assim que começar a jejuar, perceberá o seu estado de espírito bem mais leve e animado.

Há muitas outras maneiras de se manter atualizado. A internet tem sites maravilhosos, com bons textos de análise crítica. De fato, é melhor estar bem-informado intelectualmente do que emocionalmente. Há sites de revistas semanais e mensais, além de periódicos online, fazendo um ótimo trabalho ao oferecer uma perspectiva abrangente, calma e sensata do que acontece no mundo. Não tenha medo de perder alguma notícia relevante. Você ficará sabendo dos fatos mais importantes, como uma guerra, um desastre natural ou um assassinato, tão rapidamente quanto se estivesse com a TV ligada no noticiário.

Comece a experimentar um jejum de notícias hoje mesmo. Faça por um curto período e depois o vá estendendo. Se voltar a assistir aos noticiários, já estará consciente do que o programa está querendo fazer com você. Não absorva tudo passivamente, como se o que vê fosse um retrato da vida real. Não é. Eles não vão lhe falar de quantos milhares de aviões pousaram tranquilamente nos aeroportos naquele dia.”

Achei bem interessante encontrar essa dica em um livro secular. Cada vez mais, os estudiosos das ciências comportamentais se mostram preocupados com o excesso de informações e a toxicidade de nossa relação com as notícias e o celular. 

Como ele disse, a gente tem a impressão de que os jornais mostram o que acontece e o que precisamos saber. Os jornalistas são convencidos na faculdade de que estão prestando um serviço à comunidade. Porém, a realidade não é tão romântica assim. O jornal precisa vender espaço de anúncio para que a empresa sobreviva. Para convencer o anunciante a comprar, o programa precisa ter audiência. Para atrair e reter a audiência, é preciso apelar para as emoções. E é assim que começamos a ser manipulados sem perceber.

Não sei se você sabe, mas carros de reportagem fazem plantão nas delegacias para conferir os boletins de ocorrência e definir o que tem mais potencial de gerar audiência para o jornal. Essa abordagem de procurar desgraças se estende para outros locais além das delegacias e outras editorias além das páginas policiais. É um modo de decidir o que é ou não notícia. Muitos repórteres agem como verdadeiros urubus, procurando apenas o que há de pior para dizer sobre as pessoas e acontecimentos. Não é culpa deles. Convencionou-se de que esse é o tipo de notícia que vende, que dá audiência, que gera comoção. E não falo de programas considerados “sensacionalistas”, isso pode atingir qualquer jornal.

Os jornalistas agem como porteiros (gatekeepers) que definem quais acontecimentos devem passar pelo portão e se tornar notícias — e por qual ângulo essas notícias devem ser abordadas. Querendo ou não, a opinião do jornalista — ou do veículo — interfere na definição dos critérios de noticiabilidade, na escolha do “especialista” entrevistado, das perguntas e da interpretação na hora de descrever o acontecimento para o leitor. Não há notícia isenta. Há quem se esforce mais para não deixar suas opiniões interferirem no resultado, mas enquanto os textos forem feitos por seres humanos, não se pode falar em “jornalismo isento”. (Por isso gosto tanto de artigos e de texto de revista, que é interpretativo. Pelo menos assumem o que são.)

E, querendo ou não, as escolhas que os jornalistas fazem moldam a percepção que os telespectadores e leitores têm da realidade. O trabalho do jornalista é de extrema responsabilidade, mas muitos não se dão conta e outros nem sabem o que estão fazendo. Existem excelentes profissionais tentando fazer jornalismo de qualidade? Sim, existem. Mas, infelizmente, existe muito mais gente que trabalha para o diabo por aí do que gente que tenta (e consegue) fazer jornalismo responsável.

Há muitos motivos para o trabalho malfeito na confecção e divulgação de notícias, desde problemas de “manufatura”, digamos assim, até a má-fé de alguns veículos. Na maioria das vezes, a velocidade com que as notícias são feitas praticamente inviabiliza uma apuração bem-feita, principalmente em veículos que trabalham com notícias diárias ou — pior ainda — hard news, as notícias de hora em hora.

É necessário manter um fluxo de publicação de “x” matérias por dia e obter uma meta de cliques para vender espaço para anúncios. Sites compram conteúdo de agências de notícias para manter esse fluxo insano e, por isso, você tem a impressão de que todo mundo diz as mesmas coisas. E por isso de vez em quando aparecem umas matérias “nada a ver” nos seus sites de notícias preferidos — se reparar, vai ver, no lugar do autor, um “por: Estadão Conteúdo”, “Agência FolhaPress”, “Reuters” etc.Aí você acha que aquela notícia é muito importante, porque está em tantos lugares. Não, ela só saiu em tantos lugares porque todo mundo comprou conteúdo da mesma agência e todo mundo precisa de um monte de matéria para preencher espaço. Vê, a nossa percepção da realidade e da relevância das notícias é moldada até por essas coisas que a gente nem sabe de onde vêm. 

Eles não querem manter você informado. Eles querem gerar conteúdo para terem visualizações e poderem dizer aos anunciantes que publicam x matérias por dia e recebem y visitas. Isso vende. Não estou dizendo que é errado vender anúncios ou querer cliques, visualizações e audiência. Não é errado. Essas empresas precisam de dinheiro para sobreviver. O que quero é tirar essa ideia romantizada de que os noticiários estão interessados pura e simplesmente em espalhar a verdade. Jornalistas talvez estejam (ao menos alguns), mas quanto maior e mais rico for o veículo de notícias, mais interessado em dinheiro para manter seus padrões ele está. 

Precisamos ter consciência de que os interesses econômicos regem o sistema de notícias. Se um grupo com muito poder e dinheiro estiver interessado em destruir a imagem de outro grupo, de uma pessoa ou de uma empresa, provavelmente vai encontrar quem faça o trabalho de acabar com reputações, manipulando o leitor. E o conteúdo? Como eu disse, o conteúdo tem sido feito às pressas, a toque de caixa, por jornalistas que sabem muito pouco sobre quase tudo e abordam a maioria dos assuntos de modo superficial porque não dá tempo de apurar direito. E porque acham que o leitor não lê, que o leitor não se importa. Por isso tantos erros. Por isso tanta fake news. 

E isso que nem cheguei ao assunto do que considero prostituição da profissão. Desde que a propaganda governamental passou a ser paga, os governos (estaduais, municipais e federais) passaram a ser grandes anunciantes dos jornais e isso criou um problema para o jornalismo sério. É comum que empresas de comunicação trabalhem chantageando os governantes: se não fechar os pacotes de publicidade no valor que elas acham que tem que ser, prepare-se para uma enxurrada de matérias contra o seu governo. Se a empresa se sente ameaçada por uma concorrente, lá vai outra enxurrada de matérias inventadas para descredibilizar o oponente. 

Eu me lembrei de outro trecho de livro secular. O livro é o “Como ler livros”, de Mortimer Adler, escrito na década de QUARENTA e revisto na década de 70, então na melhor das hipóteses esse texto já atravessou inacreditáveis cinco décadas, apesar de parecer ter sido escrito hoje:

“Não precisamos saber tudo sobre determinada coisa para que possamos entendê-la. Uma montanha de fatos pode provocar o efeito contrário, isto é, pode servir de obstáculo ao entendimento. Há uma sensação, hoje em dia, de que temos acesso a muitos fatos, mas não necessariamente ao entendimento desses fatos.

Uma das causas dessa situação é que a própria mídia é projetada para tornar o pensamento algo desnecessário — embora, é claro, isso seja apenas mera impressão. O ato de empacotar ideias e opiniões intelectuais é uma atividade à qual algumas das mentes mais brilhantes se dedicam com grande diligência. O telespectador, o ouvinte, o leitor de revistas — todos eles se defrontam com um amálgama de elementos complexos, desde discursos retóricos minuciosamente planejados até dados estatísticos cuidadosamente selecionados, cujo objetivo é facilitar o ato de “formar a opinião” das pessoas com esforço e dificuldade mínimos. Por vezes, no entanto, o empacotamento é feito de maneira tão eficiente, tão condensada, que o telespectador, o ouvinte ou o leitor não conseguem formar sua opinião. Em vez disso, a opinião empacotada é introjetada em sua mente mais ou menos como uma gravação é inserida no aparelho de som. No momento apropriado, aperta-se o play e a opinião é “tocada”. Eles reproduzem a opinião sem terem pensado a respeito.”

Incrível, não? Já usei essa metáfora outras vezes, porque é exatamente essa a impressão que dá: que a criatura engoliu um gravador. O pior é que a pessoa nem percebe que está reproduzindo uma opinião não pensada. Ela aceita como verdade tudo o que é dito e tem certeza de que a opinião é dela, porque as pessoas de hoje (e, pelo visto, as de ontem também) não entendem que opinião não é só uma ideia que tem na sua cabeça ou uma impressão ou sentimento que você tem sobre alguma coisa. Opinião tem que ter BASE, precisa ser construída sobre dados e a interpretação tem de ser feita de forma lógica sobre esses dados verificáveis. Se não for embasada em nada, não é nem opinião.

Fazer um jejum de notícias é se desconectar desse sistema e tomar de volta as rédeas da sua mente e da sua vida. Recalibrar suas percepções e deixar de ser levado pela correnteza construída por interesses dos outros. Não entregue sua vida e sua mente a esse sistema. 

 

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PS. É claro, a proposta do Jejum de Daniel não é apenas se abster de conteúdo secular, mas, sobretudo, de buscar se encher do Espírito Santo, mas esse é assunto para o próximo post. 

PS2. Teremos posts neste blog durante o Jejum de Daniel! Avisem seus amigos!

 

Leia também:

Não compre as ideias da maioria

O Jejum de Daniel vai do dia 2 ao dia 23 de agosto. Para saber mais sobre esse propósito, leia também:

Desconectando da Matrix por 21 dias

Jejum de Daniel 

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