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The Love Walk

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Quando ouvi falar a primeira vez sobre a Caminhada do Amor (promovida pelo programa Escola do Amor), achei que fosse um passeio a dois e fiquei animada, mas quando soube que o objetivo era promover o diálogo, a animação diminuiu. Achei que não era para a gente e que meu marido nem aceitaria o convite, afinal de contas, o que eu e o Davison mais fazemos é conversar.

Mas como uma aluna aplicada do programa Love School, decidi dar uma chance ao evento e convidei meu esposo. Adquiri o kit e me empolguei com a ideia de conhecê-lo mais. Achava que sabia a resposta de todas as perguntas do questionário e pensei em qual tipo de pergunta poderia fazer para tirar algo novo como resposta. Veja só que arrogância! Eu realmente achava que precisaria fazer perguntas extras!

Eis que o dia chegou e fomos ao Parque do Ibirapuera. Pouco antes dos alunos se reunirem com a Cristiane e o Renato, nossos professores, Davison já quis começar com as perguntas (e eu que achava que ele não estava muito animado com a ideia…). Ao olhar o questionário e ver que teria de respondê-lo a sério, senti um frio percorrer a espinha pela primeira vez. Eu não estava tão confortável com aquilo quanto imaginei que ficaria! Descobri em mim uma resistência a falar das coisas mais profundas, me ouvi dizendo: “puxa, essas perguntas são complexas…” Isso me pegou de surpresa. Sou reservada em falar de mim com outras pessoas, mas sempre me achei um livro aberto com ele! Mas as surpresas estavam apenas começando.

Quando Cris e Renato chegaram, o pessoal se aglomerou para ouvir as últimas instruções e depois todos se dispersaram. Caminhamos e continuamos a fazer e responder as perguntas…fui ficando mais à vontade com aquele exercício…talvez tenha sido efeito da endorfina liberada pela caminhada, mas em pouco tempo estávamos conversando tão aberta e profundamente que mal notamos o passar das horas.

Foi muito especial para mim ver meu marido se abrindo sem reservas, sem medo de eu reagir mal e ficar na defensiva (até porque isso era contra as regras e eu sou uma aluna aplicada…hahaha…) e consegui descobrir muito mais do que passa dentro daquele indivíduo de quem eu gosto tanto. E o que fazer para agradar e fazer com que ele fique mais feliz (amo vê-lo feliz!).

Não temos problemas horrorosos, mas identifiquei dois problemas em mim que para ele têm um impacto muito grande e prontamente me comprometi a mudar. Não teria percebido que aquilo era tão importante para ele se não tivéssemos esta conversa de hoje. Aumentou a confiança e a intimidade e realmente conseguimos conhecer ainda mais um do outro. Ele chegou em casa felicíssimo com o resultado, e eu também.

De quebra, conseguimos conhecer o Ibirapuera (finalmente!), caminhamos bastante, sentamos um pouco, foi divertido ver outros casais com a camiseta do Love School, no mesmo espírito, conversando como nunca fizeram antes. Cada casal parecia estar sozinho, os dois completamente concentrados no que estavam conversando. Cada casal era um mundo. Formamos uma linda galáxia de alunos. 🙂

Tudo isso em uma paisagem deslumbrante. O parque é lindo, das maiores estruturas aos mínimos detalhes. Vimos até uma mamãe pata com patinhos filhotes amarelinhos fofos (quem me conhece sabe que amo bichos. Especialmente “pateenhos”). Não deu para tirar foto porque ela se escondeu rapidamente, para proteger seus filhotes dos filhotes humanos, no que foi muito sábia. Foi muito prazeroso e saímos de lá planejando um piquenique!

Chegamos realmente exaustos da caminhada e com os joelhos doloridos (descobri que estou mais enferrujada do que gostaria). Se fossemos pessoas normais que sentam (e deitam) na grama, talvez tivéssemos nos cansado menos, mas valeu muito a pena. The Love Walk abriu minha concha e nos uniu muito mais. Nós dois seguimos as regras direitinho e mesmo os assuntos mais espinhosos não se tornaram um problema. Foi um dia abençoado. Literalmente. Depois que terminamos de responder à vigésima pergunta, não acreditei! “Já acabou?” – perguntei. Gostei tanto que queria responder ao questionário reservado aos solteiros…hahaha…para ver se ele queria casar comigo, já que terminei a conversa amando ainda mais. 😀

Gostaria de agradecer ao pessoal da Escola do Amor pela oportunidade preciosa que tivemos. Nunca poderia imaginar que uma iniciativa dessas seria tão especial depois de quase oito anos de casamento.

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Resenha – Para Sempre (The Vow)

Resenha originalmente publicada na seção “Livros” do blog de Cristiane Cardoso

Para Sempre” (“The Vow”, cujo filme foi resenhado aqui. Quis ler o livro para ver se mencionava o cristianismo, já que a Raphaela disse que o filme omitiu essa informação), é um livro biográfico, escrito em primeira pessoa por Kim Carpenter (o nome da esposa Krickitt está na capa, mas ela permanece muda por toda a narrativa). Li este livro na Livraria Cultura do Bourbon Shopping, aqui em São Paulo, que tem um V. Café com a melhor esfiha de ricota do mundo. Esfiha de ricota é amiga e uma grande incentivadora do hábito de leitura da pessoa que vos fala. :)

Pensei em comentar o quanto me identifiquei com algumas partes do livro: o início de meu relacionamento com meu marido foi bem semelhante. O casal do livro se conheceu por telefone e namorou à distância, eu e Davison nos conhecemos através do blog dele (eu era leitora e o admirava como escritor e cartunista, depois nos tornamos amigos) e parte do namoro foi à distância; nosso relacionamento é bem parecido com o descrito no início do livro: muita amizade, cumplicidade, afinidades e assuntos intermináveis em conversas sem fim. A diferença é que já existia internet em nosso tempo (não como hoje…não tinha Skype, mas tinha ICQ e Yahoo Messenger…só que quando meu microfone funcionava, o dele estava quebrado, e vice-versa). Não recomendo namoro pela internet como é hoje, as coisas estão um pouco diferentes…e sei que nossa história é uma exceção, assim como a deles…quantos casamentos felizes você conhece que começaram com uma tele-venda?

Outro ponto da história é ver a pessoa amada em uma UTI. Passei por isso com um ano e meio de casada, Davison teve uma infecção generalizada e foi desenganado, mas acabou sendo salvo pela fé, como a protagonista do livro. Depois (spoilers por todo este parágrafo…sorry) ela perde a memória recente e tem de se readaptar à nova vida. Eu não tive nada tão drástico, mas por conta de um período de muito estresse, com o cortisol nas alturas 24 horas por dia, tive um comprometimento de memória e perdi várias lembranças importantes da minha vida, Davison precisou ter muita paciência. Consegui recuperar a maior parte das lembranças ao longo dos anos, mas por um bom tempo minha memória era um queijo suíço. Então, eu tinha tudo para gostar do livro. Amei a história, mas ela foi muito mal aproveitada. Poderia ter sido desenvolvida como um romance, mas ficou um relato extenso em primeira pessoa. Legal no começo, mas da metade para o final me desconcentrei algumas vezes. Esse formato distancia o leitor, que não se envolve tanto.

Fica a sensação de que está faltando algo e você acaba recorrendo a pesquisas na internet (como a Raphaela fez quando viu o filme), mas isso é porque Kim não teve ajuda profissional para desenvolver a narrativa (que teria dado um belo romance…já disse isso?). A história de amor dos dois é linda, principalmente porque não se trata de sentimento, se eles fossem pela emoção, jamais teriam continuado juntos.  Kim permanece inconstante e emocional por grande parte do livro, mas dá para perceber o esforço dele crescendo ao longo da narrativa, lutando contra suas emoções para permanecer firme.

Só me irritei com a tradução, desde o início. As notas do tradutor, no rodapé, não poderiam ser mais desnecessárias para a compreensão do texto. Se ele se preocupasse tanto em conhecer o universo do autor quanto em saber a geografia dos EUA e as distâncias entre as cidades, a maior parte dos problemas do livro estaria resolvida. Os dois são cristãos protestantes, mas a pessoa traduz “pray” por “rezar” e faz com que o casal pareça religioso católico. O autor fala da importância da fé na vida da moça, mas o leitor não consegue ver com clareza o real papel da fé na vida dela antes do acidente (da religião, sim, da fé, nem tanto). No final, ele diz que a história é sobre fé e você pensa: “mais ou menos, né?”

Aí começam os problemas. Depois consegui encontrar o texto em inglês (o original, publicado por uma editora cristã, a B&H Publishing) e fiquei chocada ao compará-lo com a versão brasileira e ver o quão diferentes são. Além de ele ser melhor escrito no original do que em português, diversas partes foram totalmente modificadas, com o claro intuito de diminuir o apelo cristão do livro. Qual é o problema com o nosso país?  Veja um exemplo:

“You said I can ask you anything, so I must be honest, Kimmer. You know that I am a Christian. Being a Christian is having an ongoing intimate relationship with Jesus Christ. I guess what I have been wondering this whole time is if you were a Christian too – if you had made the decision to ask Christ into your life to pay the penalty of your sin, and give you eternal life like he has promised if we ask”

Que poderia ser traduzido mais ou menos assim:

“Você disse que posso te perguntar qualquer coisa, então eu tenho que ser honesta, Kimmer. Você sabe que sou cristã. Ser  cristão é ter um relacionamento íntimo e contínuo com Jesus Cristo. Acho que o que eu queria saber esse tempo todo é se você também era cristão – se você tomou a decisão de pedir para Cristo entrar em sua vida, pagar por seu pecado e te dar a vida eterna, como ele prometeu que faria se pedíssemos.”

Virou, nas mãos do tradutor:

“Você disse que posso perguntar qualquer coisa a você, então preciso ser honesta, Kimmer. Tenho muita fé, quero dizer, a fé e o cristianismo são importantes para mim. Não me vejo tendo um relacionamento de verdade com uma pessoa que não crê.”

Do jeito que foi originalmente escrito, você entende como ela pensa, o que o cristianismo significa para ela. Da maneira como foi traduzido, você só entende que ela é uma religiosa. Uma coisa é dizer que o cristianismo é importante, outra coisa é mostrar como é importante. Nisso a tradução falhou bastante, descaracterizando o texto e a personagem. Talvez a ideia tenha sido atenuar a parte cristã para que o livro se tornasse mais comercial, mas isso não está certo. É um desrespeito também ao leitor, que quer saber como a história realmente aconteceu e não merece ser obrigado a ler uma versão censurada.

Vi no relato de Kim Carpenter algo muito além de uma simples história de amor. “The Vow” é, sobretudo, um testemunho de fé e de fidelidade a Deus, um exemplo de fé racional, que está acima de qualquer sentimento: é uma decisão consciente (partindo do próprio título, que significa “O voto”. Eles só se mantiveram firmes por causa do voto que fizeram no altar, no dia do casamento). Outra coisa, senti falta do depoimento dela. Acredito que se tivessem feito um capítulo com a versão de Krickitt, seria mais interessante.

Vale a leitura? Vale, o enredo tem um potencial enorme (pena que nem o livro, nem o filme conseguiram aproveitá-lo completamente), o narrador é simpático, é uma bela história de amor e superação. O problema é quando você descobre que não te permitiram ler o que o autor quis escrever de verdade (grrr…Vanessa brava). Isso me deixou revoltada. De resto, a história vale a pena, mas foi contada em um formato que não a favoreceu, poderia ter sido melhor.  Se decidir ler, não se esqueça de voltar aqui para dar a sua opinião! :)

PS: A editora da versão brasileira é a Novo Conceito, especializada em trazer grandes sucessos do exterior e publicá-los aqui. Sempre tem algum título deles na lista de mais vendidos.