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Cristianismo puro e simples

Depois de tantas resenhas de livros ruins, eis que lhes trago um oásis no deserto. :-) A recomendação pública deste livro foi feita pelo Bispo Renato, neste post (clique para ler), e me convenceu rapidinho. “Cristianismo puro e simples” (Mere Christianity), da Editora WMF Martins Fontes, é leitura obrigatória para todos aqueles que se dizem cristãos ou se interessam pelo cristianismo.

Eu considero C.S Lewis um gênio da literatura. E não sou a única, é um consenso. Além de excelente escritor, ele era muito inteligente e tinha um raciocínio lógico fantástico. Foi ateu por muitos anos, e se converteu a uma fé bastante racional e segura. Ele era ateu de verdade, não ateu de modinha, como vemos hoje em dia.

Quer saber se o cara é ateu de verdade? Se ele odeia Deus, gasta seu tempo esculhambando Deus e os crentes, é raivoso e gosta de se mostrar superior, ele não é verdadeiramente ateu, só tem um problema pessoal com a ideia de Deus e quer fazer birra para chocá-Lo. Veja bem, eu não acredito em Coelhinho da Páscoa. Por que raios gastaria meu tempo falando mal do coelhinho da páscoa, rindo de quem acredita no coelhinho da páscoa, fazendo palestras para convencer as pessoas a não acreditarem no coelhinho da páscoa? Não seria ridículo?  O verdadeiro ateu não odeia algo que ele acha que não existe! Ele simplesmente não acredita. Mas tem boa vontade, está aberto, e quando conhece a Deus, deixa de ser ateu!

Este livro foi baseado em uma série de programas de rádio que ele fez durante a Segunda Guerra, explicando o cristianismo em termos simples. Sim, a explicação é simples, a linguagem é fácil e coloquial. No entanto, é impressionante observar que o que era simples, acessível e escrito para o cidadão comum naquela época, hoje talvez não seja compreendido com tanta facilidade por qualquer pessoa. Digo isso porque ele exige que seu cérebro acompanhe o raciocínio. Exige que a criatura raciocine, coisa que as pessoas hoje em dia não estão acostumadas a fazer. A sociedade deu uma emburrecida considerável nas últimas décadas. Cada vez mais nós, que preferimos pensar a viver pela emoção, nos sentimos alienígenas nesta sociedade. Mas você, que lê esta coluna, é uma pessoa que não tem preguiça de pensar e quer exercitar seus neurônios, não é verdade? Então vai gostar desse livro.

Ele consegue explicar com clareza os fundamentos da nossa fé. É a mesma fé, o mesmo Espírito! Eis uma raridade: encontrar um livro cristão verdadeiramente cristão. Até o entendimento dele sobre a trindade é o mesmo que eu tive há alguns anos, ao ler um livro de…física! …rs… (vou reler para fazer uma resenha aqui também…hahaha…me aguardem)

Sabe aquelas perguntinhas cretinas que te fazem de vez em quando, de “como é que Deus pode ser três e um ao mesmo tempo?” Então…essas e outras explicações estão lá, para quem quiser pensar.

Acho que esse trecho é o melhor resumo que já vi alguém fazer sobre o cristianismo:

O cristianismo concorda com o dualismo em que o universo está em guerra, mas discorda que seja uma guerra entre forças independentes. Considera-a antes uma guerra civil, uma rebelião, e afirma que vivemos na parte do universo ocupada pelos rebeldes.

Um território ocupado pelo inimigo — assim é este mundo. O cristianismo é a história de como o rei por direito desembarcou disfarçado em sua terra e nos chama a tomar parte numa grande campanha de sabotagem. Quando você vai à igreja, na verdade vai receber os códigos secretos mandados pelos nossos amigos: não é por outro motivo que o inimigo fica tão ansioso para nos impedir de frequentá-la.

Não é exatamente isso, amigos? Céus, é exatamente assim que a coisa toda funciona! Tem forma mais clara de condensar toda a extensa explicação sobre guerra espiritual? C.S Lewis trabalha muito com analogias, que é a melhor forma – na minha opinião – de explicar coisas aparentemente complexas e fazê-las acessíveis a qualquer pessoa. Faz parte da argumentação lógica. Isso faz com que a leitura desse livro seja tão prazerosa. Você vai se divertir, além de aprender muito.

Agora veja isso:

Quanto mais tiramos do caminho aquilo que agora chamamos de “nós mesmos” e deixamos que Ele tome conta de nós, tanto mais nos tornamos aquilo que realmente somos. (…) De nada vale procurar “ser eu mesmo” sem Ele. Quanto mais resisto a Ele e tento viver sozinho, tanto mais me deixo dominar por minha hereditariedade, minha criação, meus desejos naturais e o meio em que vivo. Na verdade, aquilo que chamo com tanto orgulho de “eu mesmo” é simplesmente o ponto de encontro de miríades de cadeias de acontecimentos que não foram iniciadas por mim e não poderão ser encerradas por mim. Os desejos que chamo de “meus” são meramente os desejos vomitados pelo meu organismo físico, incutidos em mim pelo pensamento de outros homens ou mesmo sugeridos a mim pelos demônios.

Eu li isso, boquiaberta, pensando em quantas vezes dei essa mesma explicação a tantas pessoas, explicando o porquê apenas a entrega incondicional do seu “eu” a Jesus faz com que você descubra quem você realmente é. Eu só me tornei eu mesma, só descobri quem eu era, depois que morri para mim mesma, depois que morri para este mundo, sacrifiquei minha vida para viver a vida dEle. Aí, sim, me libertei de todas essas influências e descobri o caminho para me transformar, dia após dia, na pessoa que Ele quer que eu seja. Que é quem realmente sou. Esse processo não tem fim, pois é um processo de aperfeiçoamento, mas somente quando se nasce de novo é que a coisa começa a ficar realmente divertida. A propósito, ele explica o novo nascimento, a substituição, todo o processo desde Adão e Eva…

O início do livro parecia um livro de filosofia, mas depois vai se abrindo para uma literatura de qualidade, com todos os seus elementos. Se eu colocasse aqui todos os trechos que achei fortes neste livro, ganharia o prêmio de maior resenha do mundo. Mas salvei diversos deles e vou fazer bilhões de posts sobre isso em meu blog…rs…com trechos do livro, não tem jeito, é daquelas coisas que você lê e quer compartilhar com todo o universo.

Mas Vanessa, esse livro não tem problema algum? Tem. Tem alguns. São ínfimos em relação ao todo, mas tenho que citar os mais importantes. Primeiro, quando ele diz:

A teologia é como um mapa. (…) No passado, quando havia menos instrução formal e menos discussões, talvez fosse possível passar com algumas poucas idéias simples sobre Deus. Hoje não é mais assim. Todo mundo lê, todo mundo presta atenção a discussões. Consequentemente, se você não der atenção à Teologia, isso não significa que não terá ideia alguma sobre Deus. Significa que terá, isto sim, uma porção de ideias erradas — ideias más, confusas, obsoletas.

Acredito que na época em que esse livro foi escrito (início da década de quarenta) isso fosse verdade. No entanto, hoje em dia a teologia é que tem levado muita gente sincera à morte espiritual, com uma porção de ideias erradas, más, confusas e obsoletas. Mas nada do que ele explica precisaria de qualquer estudo teológico tradicional, está tudo bem claro na Bíblia. E se alguém acha que a Bíblia é uma leitura muito complexa e que precisa de uma interpretação especial feita por grandes estudiosos, me desculpe, isso não é verdade.

Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos, e as revelaste aos pequeninos. (Mateus 11:25)

Basta ter o Espírito Santo, pois a promessa feita a respeito é que:

Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade. (João 16:13)

O segundo problema do livro possivelmente é ligado ao primeiro. É a primeira e única vez que eu noto uma interferência das tradições religiosas do autor neste livro (já havia notado o mesmo problema em outro livro dele):

Por mais que você sofra nessa vida terrena, por mais que passe por purificações inconcebíveis depois da morte (…)

Purificações depois da morte, amiguinho? Segundo a Bíblia, morreu, morreu. Não tem essa de purificação depois da morte. Isso é ideia católica, que provavelmente a igreja Anglicana arrastou consigo. Desconsiderem.

O terceiro problema é:

Quando as tribulações chegam – doenças, problemas de dinheiro, novos tipos de tentação —, ele se decepciona. Aos olhos dele, essas coisas foram necessárias antes, para despertá-lo e fazê-lo arrepender-se; mas, e agora: por quê? Porque Deus o está obrigando a progredir ou subir a um novo nível (…)

Mais influência da religião. Doença não é tribulação, miséria não é tribulação. Tribulação é o que a gente passa por causa do evangelho, as perseguições, as dificuldades. Pode acontecer de Deus usar uma situação colocada pelo mal para que você “suba a outro nível”? Pode, mas não foi algo provocado por Ele, o que Ele fez foi usar o limão para fazer uma limonada. Se foi isso o que C.S Lewis quis dizer, concordo com ele. Mas se era a velha ideia religiosa de que doença é provação de Deus para que você progrida, isso já matou a fé de muitos crentes por aí. E matou os próprios crentes, também.

Mas como eu disse, esses são probleminhas minúsculos dentro de um livro excepcional. Apenas comento porque julgo necessário. Quando ele pensava dentro da Palavra de Deus, pensava com bastante clareza e lucidez. Mas infelizmente naquele tempo não existia o que temos hoje.

Abaixo, um trecho muito legal sobre amor (eu disse que não colocaria mais trechos, mas não resisti…rs…

Em primeiro lugar, quanto ao significado da palavra. “Caridade” hoje significa simplesmente o que antes se chamava “esmola” — ou seja, o que damos para os pobres. Originalmente, seu significado era muito mais amplo. (Você vai entender por que ela ganhou essa acepção moderna: se uma pessoa é “caridosa”, dar esmolas aos pobres é uma das coisas mais óbvias que ela faz, e, assim, as pessoas passaram a dar a esse ato o nome da própria virtude. A mesma coisa aconteceu com a poesia, cuja expressão mais óbvia é a rima. Ora, para a maioria
das pessoas, hoje, a “rima” é a própria poesia.) A caridade significa “amor no sentido cristão”. Mas o amor no sentido cristão não é uma emoção. Não é um estado do sentimento, mas da vontade: aquele estado da vontade que temos naturalmente com a nossa pessoa, mas devemos aprender a ter com as outras pessoas. No capítulo sobre o perdão, observei que o amor que temos por nós mesmos não implica simpatia por nós mesmos. Significa que queremos nosso próprio bem.
(…)

Veja se isso não é a fé que temos vivido!  A fé inteligente e sacrificial:

As únicas coisas que podemos conservar são as que entregamos a Deus. As que guardamos para nós são as que perderemos com certeza.

Vanessa Lampert

*ATUALIZAÇÃO: Este livro mudou de editora, agora ele tem uma nova tradução, capa dura, nova capa, uma tiragem maior e, consequentemente, melhor preço! Para ver, clique no link: https://amzn.to/2HahKVe

Para ler as resenhas arquivadas, Clique aqui. E para ler as recentes, clique aqui.

PS: Eu acho o estilo dele muito parecido com o estilo do Bispo Renato. Como diz meu marido, são textos que dão “cócegas no cérebro”…rs…

PS2: Esse é para quem me perguntou se não existem livros cristãos bons de escritores de fora da IURD. Eis uma raridade…rs…

PS3: Outro problema desse livro é a editora. Alguém me explica por que raios escolheram essa capa sem graça para os livros do C.S Lewis (exceto as crônicas de Nárnia, essas ficaram caprichadinhas)? Todas são iguais, só muda o tom do fundo! Parece que a intenção é que ele não seja vendido, nem sequer visto! (Veja o item “ATUALIZAÇÃO” logo acima)

PS4: A série de “livros que não são o que parecem” não acabou, não! Tenho vários na fila! E cada vez chegando mais…hahahaha…

Originalmente publicado no blog Cristiane Cardoso. Clique aqui para ver a postagem original.

Livros que não são o que parecem – Bom dia, Espírito Santo

Para quem não conhece, Bom dia, Espírito Santo (Good Morning, Holy Spirit) é um best-seller de Benny Hinn, pregador que se tornou famoso por derrubar as pessoas. Eu li esse livro na pré-adolescência (tinha uns 12 ou 13 anos), época em que estava em outra denominação e não conhecia o Espírito Santo, nem tinha muito senso crítico, então entrei na onda de todo mundo e achei o máximo, mas o tempo passou e eu nem me lembrava mais dele.  Então, há alguns anos, depois de ter recebido o Espírito Santo e de conhecer a Deus, resolvi reler, para saber o que acharia agora, depois de ter tido minhas próprias experiências com Deus. Gastei meu tempo e compartilho aqui a experiência para que você não precise gastar o seu e possa orientar a quem lhe perguntar a respeito dele.

O que este livro diz que é? Vamos ler a sinopse:

“Em “Bom Dia, Espírito Santo”, Hinn apresenta descobertas e verdades que Deus lhe tem ensinado através dos anos. Você irá adquirir um conhecimento mais profundo da Divindade e como os membros da Trindade interatuam entre si e conosco. “

Nãããão!!! Não acredite nessas palavras bonitas. Você não vai descobrir nada, nem adquirir coisa nenhuma, e já te explico o porquê.  Quem Benny Hinn “encontra” é uma entidade que se faz passar pelo Espírito Santo. A experiência que ele descreve é 100% emocional e, sinceramente, se alguém me dissesse que passou por aquilo, eu o encaminharia a uma reunião de libertação, com urgência.

Ele foi a uma reunião em que viu uma mulher manifestada com o que ela dizia ser o Espírito de Deus.

O culto só começaria dali a uma hora. Tirei o casaco, as luvas e as botas. Enquanto relaxava, percebi que tremia mais que antes. Não conseguia parar. As vibrações percorriam meu braço e pernas, como se estivesse ligado a uma espécie de máquina. A experiência era nova para mim. Para ser sincero, sentia medo.

Ele continua explicando a sensação, mas olha que esquisito:

Enquanto o órgão tocava, eu não conseguia pensar em outra coisa além do tremor em meu corpo. Não era uma sensação de “doença”. Não era como se estivesse pegando um resfriado ou uma virose. Na verdade, quanto mais continuava tanto mais bela parecia.

Afinal de contas, ele estava com medo, o tremor o incomodava tanto que não conseguia pensar em outra coisa, mas “quanto mais continuava tanto mais bela parecia”? O que significa isso? Não vi nada de belo em ter uma tremedeira descontrolada, incômoda e assustadora, do nada! Sabe o que é isso? A valorização da sensação. Já entro em detalhes quanto a isso.

Nesse momento, como se saísse do nada, Kathryn Kuhlman apareceu. Num instante a atmosfera naquele prédio ficou carregada.

“A atmosfera naquele prédio ficou carregada”. Mais um que precisa urgentemente de uma sessão de descarrego.

A evangelista continuou chorando por um período de mais ou menos dois minutos. Depois jogou a cabeça para trás. Ali estava ela, a alguns passos de mim, com os olhos chamejantes. Estava viva.

Desculpe, amigos, mas tenho que interromper. A linguagem deste livro é totalmente emocional, mais até do que a do “A Cabana”, mas o espírito é bem parecido.  Mas veja só por quê. O espírito que estava nessa mulher (e depois passou para o autor do livro) é extremamente teatral, performático. Ficou chorando convulsivamente por dois minutos, depois jogou a cabeça para trás.

Naquele momento ela mostrou uma ousadia que eu nunca vira em outra pessoa. Apontou com o dedo em riste, com enorme poder e emoção e até mesmo sofrimento. Se o próprio diabo estivesse lá, ela o teria derrubado com um simples golpe.

Ousadia, poder, emoção, sofrimento? Essa foi uma das cenas mais bizarras do livro. Só detalho aqui porque é a origem de todo o “Ministério” desse indivíduo. Vê-se com clareza que esse espírito é estranho.

Foi um instante de incrível dimensão. Ainda soluçando, Kathryn olhou para a audiência e disse em agonia: – por favor. – Ela pareceu esticar a palavra: – Por fa-a-vo-or, não entristeçam o Espírito Santo. –  Ela suplicava. Se você puder imaginar uma mãe rogando a um assassino que não mate o seu bebê, terá uma ideia do quadro. Ela pedia e suplicava.

Note que o autor evoca a imagem mais emocionalmente tocante o possível. Ele não se importa com o fato da coisa toda ser completamente desprovida de sentido, ele apenas quer que você “sinta” e para isso coloca essas frases sentimentais e sensoriais. Agora, como assim “uma mãe rogando a um assassino que não mate o seu bebê?” Veja que o Espírito Santo é colocado aqui em uma posição de fragilidade, como um bebê indefeso, o que contraria completamente o que a Bíblia diz que Ele é.

Ela disse então: – Vocês não compreendem? Ele é tudo o que eu tenho! Pensei comigo mesmo – Do que ela está falando? Sua súplica apaixonada continuou, e disse:

– Por favor! Não o magoem. Ele é tudo o que eu tenho. Não magoem o meu Amado! – Jamais esquecerei estas palavras. Posso lembrar ainda como sua respiração ofegava ao pronunciá-las.

Consegue ser mais dramático, emocionalmente carregado e pretensamente manipulador do que qualquer um dos livros anteriormente analisados nesta série jamais sonhou em ser. Se você não conhece o Espírito Santo, um aviso: Ele não é assim. Aqui sou obrigada a copiar e colar o que já escrevi sobre Ele em outra resenha: “Realmente, não tem nada a ver com o Espírito Santo que eu conheço

Aí me lembro de quando o Espírito de Deus se apossava de Sansão…a Bíblia diz que ele matou um leão com suas próprias mãos, lembra? E mil homens com uma queixada de jumento. ”

Quando Paulo disse “Não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Efésios 4:30) Não disse isso chorando, em agonia, com peninha do coitadinho do Espírito Santo indefeso. Preste atenção no versículo. É um alerta: não entristeçam o Espírito Santo, pelo bem de vocês mesmos, ou perderão a salvação. Nele nós fomos selados para o dia da redenção. “Entristecer” aqui tem o sentido de luto. Só se está de luto por quem já morreu. Entristecer o Espírito de Deus é se afastar dEle através do pecado e se aproximar da morte eterna. Não façam isso, para o seu próprio bem.  A coisa é bem mais racional do que parece.

Ela apontou então seu longo dedo para mim e disse com grande clareza:

– Ele é mais real do qualquer coisa neste mundo!

Quando ela olhou para mim e proferiu essas palavras, algo me agarrou literalmente por dentro. Gritei dizendo:

– “Eu preciso conseguir isso”.

Então esse é o ponto inicial do livro. Sua sede era de ter aquilo que ele viu ali. Descreve essa reunião mega emocional e irracional, com muita música e oração da mulher manifestada. Impressionado com a experiência (porque ele “sentiu” várias coisas durante a reunião e viu milagres), ele chega em casa e diz: “Eu quero ter o que a Kathryn Kuhlman tem!” Baseado nisso, busca, com toda a força, não o Espírito Santo da Bíblia, mas o espírito que ele viu manifestado em Kathryn Kuhlman, o que ele viu naquela reunião, para ter a experiência que ela teve.

Logo em seguida, começa a tremer, como tremeu na reunião. Depois descreve o que me parece um choque elétrico. O rapaz foi eletrocutado pela entidade e realmente acredita que aquilo era o Espírito Santo. Nada do que ele descreve parece o Espírito Santo que eu conheço. É só uma descarga elétrica emocional que o faz ser um super-crente que derruba os outros ao jogar seu paletó. O restante do livro por diversas vezes faz você ter uma vontade sincera de levar o rapaz a uma sessão de descarrego.

Ao contar sua história, Benny Hinn te faz crer que ele é um “escolhido”, cuja mãe católica pediu “Deus, se me deres um menino, eu o devolvo ao Senhor”. Assim, Hinn quer se mostrar mais do que um Profeta Samuel pós-moderno, um ser especial com experiências sobrenaturais desde a infância (ele diz ter visto Jesus e após a visão ficou imóvel e…adivinha? Sentindo choques elétricos! Que espírito é esse que trabalha com eletrochoque?).

Eu vi Jesus entrar em meu quarto. Ele usava trajes mais alvos que a neve e um manto vermelho escuro drapejado sobre a veste. (…) Quando isso aconteceu, eu estava dormindo, mas de repente uma sensação incrível, que só pode ser descrita como “elétrica”, tomou conta do meu pequeno corpo. Era como se alguém tivesse me ligado numa tomada. Senti um formigamento como de agulhas – milhares delas-percorrendo meu organismo. (…) Quando acordei, a sensação extraordinária ainda perdurava. Abri os olhos e olhei ao redor, mas o sentimento intenso e poderoso continuava em meu íntimo. Sentia-me totalmente paralisado, não podia mover nenhum músculo. Nem uma pestana. Achava-me completamente congelado ali.

Por algum motivo as pessoas anseiam por esse tipo de coisa, por “sentir” fisicamente Deus. Minha teoria é que elas têm tanta dificuldade de crer em Deus, que uma sensação física é como se trouxesse Deus até o mundo material, é quase uma “prova” de sua existência. Por isso esse espírito de engano tem tanto espaço. E substitui o espiritual pelo sensorial/sentimental. E líderes que digam “olha, eu senti isso, eu senti aquilo, eu vi Jesus,  fui arrebatado, vi o céu, vi o inferno, etc. etc.” tentando passar super santidade acabam ganhando mais do que admiração do povo sedento.

Isso é normal entre alguns líderes evangélicos que ao mesmo tempo em que dizem que todos podem ter acesso a Deus, se colocam como seres especiais que têm contato e experiências com Deus quem ninguém mais tem.  Você vê as palavras “sentimento”, “torpor”, “me senti”, “chorar” com muita frequência. Para quem não tem intimidade com Deus, aquele relato emocional convence…mexe com seus sentimentos, afinal de contas,  quer ver Jesus, quer sentir o Espírito Santo, alguma sensação física que lhe faça ter certeza de que Ele existe! É um caminho bem mais fácil do que o da fé.

Muitas vezes, quando meus amigos vinham ver-me, eles começavam a chorar por causa da presença do Espírito Santo.

Agora me diz: quantas pessoas cheias do Espírito Santo, que você conhece, fazem seus amigos chorarem ao se aproximar? Eu te digo quantas conheço: nenhuma. Nem vemos isso na Bíblia. Note que ao mesmo tempo em que se esforça para parecer “humilde”, e que diz que você também pode ter aquela “unção”, Benny Hinn faz questão de se colocar em uma posição tão superior ao restante da humanidade, para jamais ser questionado.

Infelizmente, as pessoas têm sido facilmente enganadas pelas emoções, pelas sensações. O Espírito Santo não é uma sensação, um sentimento ou um amigo imaginário. Se você se contentar com isso, será para sempre enganado por um espírito que nada tem de santo, perdendo a oportunidade de ter uma experiência real com o verdadeiro Espírito Santo, através da fé racional. Se você tentar desenvolver uma intimidade com Deus através desses esforços emocionais, não conseguirá.

É um livro que eu considero perigoso para a fé. Primeiro, porque há um espírito ali. Um espírito enganador. Mistura verdade com mentira, coisas certas com coisas erradas e pode fazer uma grande confusão na cabeça de quem é sincero. Se quiser ter um relacionamento íntimo e verdadeiro com o Espírito Santo, busque diretamente nEle, e não queira ter experiências “como as de fulano”, nem se deslumbre com pirotecnias espirituais.

Não adianta um livro que fale coisas lindas a respeito do Espírito Santo se não é do Espírito Santo que ele está falando. Pode dizer coisas lindas, mas misturadas a outras que te trarão mais para perto de experiências emocionais e carnais (ou mesmo demoníacas) do que exatamente espirituais.

É o grande problema da igreja evangélica atual: a busca por emoções e sensações que não preparam a ninguém para os problemas que eventualmente irão enfrentar, apenas abrem espaço para espíritos estranhos. Cristãos emocionais são fracos, confusos, muitos acabam escravos de medicamentos para depressão e estresse ou não conseguem perdoar ao serem vítimas de alguma injustiça. Tudo isso porque as emoções foram alimentadas por tanto tempo que se tornaram a maior força na vida dessas pessoas e abriram espaço para atuação do mal em suas vidas.

Queimei o livro. Sim, não tenho coragem de jogar no lixo porque vai que alguém pega e lê? E antes que alguém me venha com “reter o que é bom”, você vai ler um livro com um conteúdo antibíblico e reter o que é bom? É como se eu lesse, sei lá, “A Bíblia de Satanás” e dissesse que vou “reter o que é bom”. Vamos aprender a não retirar os versículos de seu contexto. Paulo diz: “Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal” (I Tessalonicenses 5:20-22)

Vanessa Lampert

ATENÇÃO, ANTES DE COMENTAR, LEIA:

Se você ficou com muita vontade de me dizer que estou blasfemando contra o Espírito Santo ou que o Espírito Santo age de forma diferente com cada pessoa, por favor, leia esse textinho aqui ANTES de comentar, sobre o Espírito Santo: clique aqui para ler.

Comentários com xingamentos tradicionais ou com xingamento gospel, do tipo “Deus tenha misericórdia de você” (acredite, Ele tem. E de você também) não serão aceitos.

E, sim, eu tenho o direito de alertar que o espírito de Kathryn Kuhlman (que foi o que Benny Hinn pediu que entrasse nele) não é de Deus. Estou julgando com base na Bíblia, que é a forma certa de se julgar, segundo as Palavras de Jesus: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (João 7.24).

Para ler outras resenhas, Clique aqui.

PS: Lembrei desse post aqui (clique para ler).

PS2: Vocês já perceberam que todos esses livros que estamos analisando na série “Livros que não são o que parecem” têm as mesmas características? Foco na emoção, linguagem sentimental e manipuladora e distorções da verdade?

Originalmente publicado no blog Cristiane Cardoso. Clique aqui para ver a postagem original.(O blog da Cris foi reformulado e as postagens antigas se perderam, por isso os links que apontam lá não funcionam mais.