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Resenha – O Menino no Espelho

Resenha originalmente publicada na seção “Livros” do blog de Cristiane Cardoso.

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Dia desses, na Livraria Cultura, resolvi dar uma olhada em “O menino no espelho” (Editora Record), já planejando esta resenha. O meu livro ainda está em Porto Alegre, então minha saída era aproveitar os minutos na livraria para fazer uma releitura. Qual não foi minha surpresa ao descobrir “O menino no espelho” na seção Infanto-juvenil! Hein? “O menino no espelho” é um romance narrado por um menino, mas não o vejo como infanto-juvenil. Olho para as prateleiras e vejo os clássicos da literatura, “Dom Casmurro”, “O cortiço”, “Senhora”, “A moreninha” e até “Os lusíadas” na seção Infanto-juvenil!! Ok, sei que são leitura obrigatória na escola (em minha opinião, não deveriam ser, mas isso é assunto para outro post), mas são romances, não são? Deveriam estar na seção “Literatura Nacional”.

Se bem que no caso de “O menino no espelho”, não é prejuízo colocá-lo na estante de infanto-juvenis, pois acredito que qualquer criança sonhadora se deleite com a leitura das memórias do pequeno Fernando. Aos adultos, resta a vontade de continuar sendo menino.

Fernando Sabino é um daqueles amigos que você nunca conheceu pessoalmente, mas que parece que conhece há muitos anos. Eu tenho alguns assim, dos livros que já li. Não são todos os autores de livros que se tornam meus amigos de sempre, mas alguns alcançam o posto mais alto. Assim foi com Fernando Sabino. Alguém se lembra que eu escrevi em algum lugar (agora não sei se foi em uma resenha, no post de apresentação ou em alguma resposta a comentários) que algumas de minhas leituras preferidas da adolescência eram livros de cartas? Fernando Sabino publicou três livros de correspondências dele com outros escritores. Como eu não me tornaria íntima? Seus romances só foram um complemento.

O Menino no Espelho é um dos meus livros favoritos. É uma narrativa propositalmente simples, Fernando mistura suas aventuras da infância com fantasias que somente uma criança poderia contar. Nada de dragões, vampiros e universos irreais mirabolantes, Fernando conta de seu quintal, de Belo Horizonte na década de 30, que era um mundo fantástico por si só. Uma Infância com “I” maiúsculo.

Escrito sob a perspectiva de uma criança, deve ser lido com olhos da criança que cada um de nós conserva. O que mais me marcou neste livro foi exatamente isso…foi escrito por um adulto, mas você vê ali uma infância genuína, ele te convence de que é menino. O que me prova que você pode ter sempre o olhar de criança, se quiser.

Nada no mundo de Fernando é impossível. O que acho mais legal em “O menino no espelho” é essa noção de que as coisas são da maneira que você acredita que possam ser. Isto é verdade. O que acontece com muitos adultos não é parar de acreditar, mas começar a acreditar que as coisas são ruins e que nada vai dar certo. A expectativa de más notícias que as pessoas alimentam para evitar futuras frustrações apenas faz com que elas sejam realmente frustradas, pois trazem à realidade tudo aquilo que esperam. É o conceito bíblico de fé: “certeza de coisas que se esperam” se você só espera derrotas, é só o que terá, pois está usando sua fé contra você mesmo.

O menino Fernando te faz acreditar nas histórias mais fantásticas, contadas com naturalidade, você se diverte e não vê o tempo passar. Se você se abrir para ler este livro, se despindo do adulto em que você se tornou, e voltar à simplicidade dos olhos de uma criança, eu te garanto uma grata experiência, uma verdadeira viagem ao quintal do pequeno Fernando e às melhores lembranças de sua própria infância.

PS: Antes que alguém se confunda por eu ter falado de fé, este não é um livro cristão. Mas isso não o desqualifica em nada.

PS2: Fernando morreu em 2004, um dia antes de completar 81 anos. Bem humorado até o fim, deixou escrito o seu epitáfio: “Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem, morreu menino”.

PS3: Os livros de correspondências entre Fernando Sabino e seus amigos escritores são: Cartas a um jovem escritor – E suas respostas – com Mario de Andrade, Cartas na mesa – com Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende e Cartas perto do coração – com Clarice Lispector.

P.S4: Aos que não sabem: a Editora Record, do Grupo Editorial Record, não é da Rede Record, não tem nada a ver com o Grupo Record (Que confusão, né? “Grupo Record” é uma pessoa, “Grupo Editorial Record” é outra). É mais uma daquelas editoras gigantes compostas por diversos selos, que são como filhotinhos da editora, para melhor organizar o catálogo. A Editora Verus, que publica o “Amor de Redenção” (livro da resenha anterior), por exemplo, faz parte do Grupo Editorial Record. O mercado editorial está cheio desses conglomerados, eles vão comprando editoras menores e tocando terror uns nos outros. Eu gosto da Record, apesar de publicar alguns gêneros que não me agradam e também os que me agradam…é como aquele amigo que concorda contigo, mas não discorda de quem discorda de você…não quer arrumar briga, sabe? Mesmo assim, nutro simpatia pela Record. Conheci algumas pessoas que trabalhavam na e para essa editora (mais especificamente a Bertrand do Brasil) e me deixaram boas impressões, que transferi para a marca. Está aí uma boa razão para contratar gente legal.   :)

PS5: Agora já posso resenhar algum livro da Unipro sem que ninguém me acuse de corporativismo…hehehe…

Resenha – Amor de Redenção

Resenha originalmente publicada na Seção Livros do blog de Cristiane Cardoso

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De cara, o que chama atenção neste livro é a belíssima capa. O vestido vermelhíssimo está em relevo e é a única parte com brilho, sugerindo cetim (é a mesma capa usada na versão original). Também chama a atenção o tamanho do livro…são quase quinhentas páginas, mas a leitura flui com facilidade, é daqueles que você não consegue mais largar.

As pessoas aprendem muito com a ficção. Infelizmente, quem gosta de ler romances fica com poucas opções, porque o que o mundo nos oferece é uma porção de livros legaizinhos, mas que precisam ser lidos com lupa para que nossos olhos felizes encontrem alguma coisa boa. E nossos jovens têm aprendido algumas abobrinhas nas livrarias da vida.

Amor de Redenção é, para mim, o símbolo de um sonho. Ficção cristã é algo que eu acredito que deveria ser melhor explorado, tanto em livros para o público cristão quanto para o público em geral. O sonho de ver (e escrever, por que não?) boa ficção cristã com essa qualidade de execução e impressão, mas made in Brazil permeia minha mente sempre que eu olho para os livros de Francine Rivers. E ainda feitos sob um ponto de vista não religioso, mas de fé. Imagine comigo. Algo que alcance não apenas a cristãos, mas a todos os que gostam de boa literatura.

Assim é Amor de Redenção. Gosto mais do título original, Redeeming Love (Amor Redentor). Para mim há grande diferença entre “Amor Redentor” e “Amor de Redenção”, pense bem nesses dois termos. Mas a escolha pelo segundo com certeza foi feita para que lembrasse o título da obra do português Camilo Castelo Branco. Não pode ser coincidência, já que a primeira coisa que me veio à mente ao ver “Amor de Redenção” foi “Amor de Perdição”. Este último, um clássico da literatura portuguesa escrito por Camilo Castelo Branco há mais de cem anos, é um romance curto, muito bem escrito, cuja história é um drama horroroso que não te acrescenta nada de bom. Já “Amor de Redenção”, de Francine Rivers, é um romance longo, bem escrito, publicado em 1991, cuja história é maravilhosa, positiva e te acrescenta tudo de bom. Deu para perceber a diferença?

Era desnecessária a semelhança do título de Redeeming Love com o do romance de Castelo Branco. Primeiro porque mesmo que a ideia fosse fazer um contraponto, as histórias não se parecem em nada e eu realmente duvido que Francine Rivers já tenha ouvido falar do nosso amigo Camilo. A tradução do título gerou uma certa antipatia em mim de início, mas isso é porque sou meio ranzinza com essas coisas.

Vamos então ao que interessa.  Francine te convence da existência de seus personagens, ela é muito boa na construção deles. A história também é envolvente e fala de um amor sacrificial, construído, que é algo parecido com o que o amor é. Apesar de ela carregar um pouquinho nas tintas em alguns momentos. Amor de Redenção é uma história de época e conta a vida de Angel, uma garota que teve uma infância difícil e uma adolescência pior ainda, indo parar na prostituição. Já sem perspectiva nenhuma de futuro, ela conhece Michael, um rapaz que encasquetou que quer casar com ela.  A história fala da dificuldade de Angel se desvencilhar do passado, se entregar à sua nova vida e confiar no marido. Ela acha que todos os homens são iguais e o julgamento que faz deles não é nada bom. O livro não é moralista, nem religioso. Gosto da maneira delicada com que ela conduz a história, sem descambar para o sentimentalismo barato.

Só senti falta de algumas informações que nós temos e que ajudariam o leitor leigo a entender o que aconteceu na vida e na mente de Angel e de Michael. Angel é atormentada por vozes negativas dentro de si, mas uma pessoa que não conheça o mundo espiritual pode achar que aquelas vozes são dela mesma. Outra face do mesmo problema, no livro os inimigos são as pessoas. Em nenhum momento se explica a razão do sofrimento da mãe de Angel e dela mesma na infância e talvez isso tivesse ajudado àqueles que passam pela mesma situação. É claro que eu não queria um “Este Mundo Tenebroso” dentro de um “Amor de Redenção”, mas alguém explicando a Angel sobre a origem do mal já ajudaria. Este foi o único ponto que o livro não abordou, mas o restante que realmente importa…puxa, ela mostra de um jeito tão claro e não-religioso que fica impossível não entender.

O início tem um ritmo mais acelerado porque ela quer chegar logo na idade adulta da moça. Quando finalmente chega, engata uma marcha mais lenta, mas ainda bem dinâmica, envolvente, legal de ler. Mais para a frente, lá pelo meio, o livro se arrasta um pouco. Você lê porque quer saber logo o que vai acontecer, mas algumas cenas que não fariam falta se não existissem. Lá para o final a história acelera novamente, justo quando você quer ver as coisas se desenrolando. Aqui algumas cenas intermediárias fizeram falta. Deu uma certa tristeza quando acabou porque é difícil encontrar uma leitura tão agradável quanto foi Amor de Redenção.

Coisa rara hoje em dia, o livro traz uma mensagem positiva e que ajuda o leitor a crescer e a entender o amor sacrificial, o amor redentor. Ao terminar, a história continua em sua cabeça, pedindo para você pensar mais. É muito profundo mesmo. Por outro lado, li resenhas que diziam: “chorei cântaros”, “me derramei em lágrimas” e concluí que tenho algum problema. Não chorei no livro, acho que mesmo nos momentos em que ela carrega um pouco nas tintas emocionais, “Amor de Redenção” não é um drama feito para te provocar fortes emoções. O que, para mim, é um ponto positivo.

É importante mexer com as emoções do leitor? Sim, é, naturalmente, porque se você constrói um personagem verdadeiro, é inevitável que o leitor se envolva e entenda o que ele sente. Isso se processa parte em suas emoções. No entanto, a base da leitura é a mente. Se você tiver uma leitura que se baseie apenas em sentimentos e seja processada totalmente na área emocional, terá um livro superficial que pode até deixar marcas, mas que não armazenará nenhuma informação útil na cabeça de quem o lê.

É um equilíbrio delicado que em minha opinião Francine consegue atingir. Não se assuste com a espessura do livro. Se você ainda não leu, vale a pena investir. Não apenas te causa um impacto positivo como tem uma mensagem espiritual muito forte, é uma leitura prazerosa de entretenimento e ainda um excelente exercício para o cérebro. Incrível, eu terminava de ler e percebia o quanto minha atenção estava melhor. Nenhum medicamento que eu tomei no passado fez por minha mente o que este livro fez. Quase consegui ouvir o chorinho de neurônios recém-nascidos no berçário da maternidade do meu cérebro. Como eles se desenvolvem muito rápido, logo estavam caminhando, comendo papinha, dizendo “mã-mãe” e aprendendo matemática. “Amor de Redenção” se mostrou um dos livros mais multifuncionais que já li.

Uma coisa ruim é que não temos todos os livros da Francine Rivers traduzidos para o português ainda (novidade, né?), mas a notícia boa é que você encontra “Amor de Redenção” em livrarias, junto de romances seculares, com sua lindíssima capa competindo de igual para igual. Atualmente (março de 2012), você o encontra por no máximo quarenta Reais, o que é um preço muito bom para um romance de 460 páginas. Não se esqueça das dicas da Patrícia Lages sobre dinheiro e pesquise os preços também na internet antes de comprar. “Amor de redenção” é um livro para se ler, reler, ler novamente e recomendar muito. Estou fazendo a minha parte.

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PS: Peço um pouquinho de paciência porque estou hiper focada no trabalho então acabo não conseguindo responder aos comentários como gostaria e levei uma semana para escrever esta resenha…rs…mas sei que vocês são compreensivas e não vão me abandonar por causa disso…hehehe…

PS2: Sei que muitas de vocês já leram este livro e vão me perguntar sobre o mais recente “A esperança de uma mãe” (Her mother’s hope). Paciência, paciência. Esse não li ainda,  estou lendo lentamente.  O livro é a primeira parte da história. A continuação, “Her daughter’s dream”, ainda não tem tradução brasileira.

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