Tag: São Paulo

Dandara procura um lar

dandara2

Pessoal, meu vizinho resgatou uma ninhada, distribuiu entre os amigos e conhecidos e essa gatinha encalhou. Ele não entende muito de gatos, resolveu pesquisar na internet e descobriu que tinham que ser castrados e que não era caro castrar, então castrou todos os filhotes antes de doar (amei essa pessoa por isso…ele não tinha informação, mas quando teve, fez algo de útil com ela).

Hoje eu conheci essa história, e a Dandara, quando ela apareceu na frente da minha casa (só comigo mesmo…) dizendo “miau”. Abriu a basculante do banheiro e como mora no térreo, foi parar no pátio do condomínio e não sabia voltar. Pois é, uma coisinha minúscula dessas abriu a basculante do lavabo, porque é facinho de abrir.

O casal que cuida dela já tinha saído para trabalhar, então eu recolhi a criaturinha e a deixei hospedada no quarto 2, com caixinha de areia, água, ração e um ratinho verde que acabou ficando com ela. Tive que sair e voltei no final da tarde, quando me contaram que ela está para adoção e ele não pode ficar com ela porque está com uma crise violenta de rinite alérgica que começou quando ela chegou, ele desconfia que é alérgico a gato. Mas é uma pena, pois realmente se deu bem com ela e tem a maior paciência! Só que não dá para insistir, um cara que nunca teve gato na vida e não tem intenção de telar as janelas, por melhor pessoa que seja, não vai arriscar a saúde por um gato. Espero conseguir um lar responsável antes que ele doe sem grandes critérios. Missão quase impossível.

Dandara é uma fofa, mas super agitada, ligadinha na tomada mesmo, sabe como é? Então vamos ao anúncio:

Dandara está para adoção em São Paulo – capital (Zona Norte). Já está castrada, tem 4 meses e é muito ativa, brincalhona e elétrica. Um vizinho meu está cuidando dela, mas ele é alérgico e precisa doá-la. Já doou os irmãozinhos (encontrou a ninhada abandonada) e está procurando dono para a Dandara. Como ela é muito sem noção, tem de ser para casas protegidas e janelas teladas, não pode ter acesso à rua.


dandara3

Gente, olha esse narizinho rosa com uma pintinha sexy!!! E ela é super alegrinha, sabe aqueles gatos que brincam em pulam o tempo inteiro? Para pessoas não muito normais.

dandara6

Olha que fofura….quando fiz esse vídeo, ainda não sabia se era macho ou fêmea, e nem sabia que estava para adoção, por isso chamo de “gatinho”…risos…mas é estupidez, porque ela tem a maior cara de menina!!!

É uma pena que não possam ficar com ela. Eles nunca tiveram gatos, mas estão dando Golden para filhotes e usando uma areia que custa vinte e sei lá quantos Reais o pacote de 3 quilos. Tipo…a gente tem de torturar alguns candidatos a adotantes para que cogitem fazer isso…as chances de ele encontrar alguém que cuide tão bem assim da Dandara são mínimas.

Sem contar que ela é doida, completamente pirada (como dá para perceber no vídeo), e poucas pessoas teriam paciência… por isso vim aqui pedir a vocês que me ajudem a divulgar essa fofa. Podem colocar em blogs, enviar por email, fiquem à vontade. Espero que consigamos um lar para essa coisinha desparafusada, ela é muito inteligente, divertida e linda!

Caso queira adotar a Dandara, não esqueça, me escreva no [email protected] com o assunto: Dandara

.

Um hábito singular

Escrevi esse texto em 2009, está postado aqui: https://www.vanessalampert.com/?p=309 . De lá para cá, melhorei, mas confesso que ainda não perdi o tal hábito e tenho que me cuidar para não comer os plurais. Enquanto eu estava em Porto Alegre, não havia problema, era até aceitável. Alguém falando todos os plurais corretamente soaria até bem estranho. Em São Paulo as pessoas não são especialistas em plurais, mas talvez a coisa não seja tão bem recebida quanto era no Rio Grande do Sul, então tenho me cuidado para voltar a falar como uma pessoa devidamente alfabetizada. Segue o texto, para que quem não leu consiga entender o meu drama.

Um hábito singular

Vanessa Lampert

Estou me esforçando um bocado para perder um péssimo hábito que adquiri sem perceber aqui em Porto Alegre. Estava eu, em minha mais recente visita a Campo Grande, falando compulsivamente (coisa que costumo fazer com relativa frequência), quando notei um olhar estranho vindo de meus interlocutores. Me dei conta, de repente, que estou construindo frases de uma maneira um tanto quanto gauchesca. Explico: gaúchos têm alergia a plural. Plural é uma coisa ultrapassada, é algo supérfluo. Pronunciar um ‘ésse” a mais gasta energia que poderia ser utilizada em argumentos mais eloquentes. Assim, um gaúcho JAMAIS irá sentir dor nos pés depois de uma longa caminhada. Caso eles venham a doer, o gaúcho dirá, com toda a carga dramática envolvida na exclamação: – Bah, tô com uma baita dor nos pé!” Note que “uma baita dor” é significativamente mais intensa do que “uma dor”. É como o superlativo “aço”. Se um gaúcho bater o cotovelo na parede ele dificilmente dirá que deu “uma cotovelada na parede” porque o sufixo “ada” sugere algo de baixa intensidade.

Dificilmente uma cotovelada doeria a ponto de merecer ser citada. Geralmente o gaúcho dirá que deu “um cotovelaço na parede”. Um cotovelaço dói. Dói DE VERDADE. É uma baita dor! Uma baita batida na parede, e se machucar a ponto de continuar doendo depois, ter de ir ao médico, talvez imobilizar, enfim, se não for algo que passe na hora, ele dirá “bah, dei um cotovelaço na parede. Pisei meu cotovelo” Aí eu imagino o cidadão fazendo algum contorcionismo para conseguir pisar NO cotovelo. Duvido que tenha sido um acidente. Bem, voltando ao assunto, de tanto ouvir: “bah, onde foi que eu coloquei as tampa dos pote?” ou “eu só faço minhas compra naquela loja que fica três quadra daqui, gosto de ficar olhando as gôndola para escolher os produto que preciso.” Veja bem, isso é generalizado (deve ser a água). A pessoa pode ter curso superior, mestrado, doutorado, pode ter hábito de leitura, geralmente escreve corretamente (às vezes até conjugando o verbo na segunda pessoa do singular!! Coisa que eles não costumam fazer ao falar…a segunda pessoa acompanha o verbo na terceira pessoa, conforme exemplo a seguir), mas na hora de falar segue um dialeto próprio, charmosamente analfabeto e muito, mas muito contagioso: “- Tu viu que estampa bonita? Uns azul, uns verde, uns vermelho, tudo misturado, mas de um jeito muito tri, o vestido tem umas fenda, um decote diferente, mas as manga não vão até os cotovelo, não. Se bem que não sei o que tu acha, mas eu acho que nem precisa daquelas manga”.

Vendo, assim, desse jeito, você pensa: “eeeeeu??? Mas eu NUNCA que falaria desse jeito! Nem se ficasse CINQUENTA anos em um lugar assim”. Aí é que você se engana, colega, você não perceberia!! O troço se enfia dentro da cabeça da gente de um jeito muito invasivo! Você não nota que está falando que está com dor nas perna, ou que todos os músculo do seu corpo dói! Ou que você esqueceu os prato em cima da pia, um deles escorregou e caiu sobre os copo que estavam dentro da pia e espalhou caco de vidro por todos os canto da cozinha. Depois você pegou a vassora e varreu os caco, mas sempre fica uns pó pequeno no chão e se você andar sem chinelo, pode espetá os pé. Cuidado.

Aí lá vou eu, culta, chique, bela e modesta para Campo Grande, onde pessoas e plurais convivem harmoniosamente. Sem perceber, acabo dizendo à caixa do supermercado, enquanto reviro a bolsa, que nunca me lembro em qual lugar da bolsa coloquei as moeda, porque a gente vai recebendo as moeda e jogando dentro da bolsa, e na hora de pegar acaba confundindo com as chave. E eu nunca me lembro de comprar um troço pra guardar as moeda. Notando a cara de horror da moça, disfarço, comentando que vou colocar duas sacola para embalar a garrafa de água mineral, porque essas sacola são muito porcaria, uma vez eu estava subindo uma lomba com uma garrafa em cada sacola, aí as água caiu no chão e saíram rolando e eu correndo atrás delas (eu SEMPRE conto essa mesma história – real, aliás, ocorrida após uma compra no Sendas do Leblon, no Rio, quando morei lá- todas as vezes em que  embalo água mineral de 1,5 litros com duas sacolas plásticas).

Esse tipo de conversa causa uma inevitável expressão de espanto em qualquer pessoa (principalmente desconhecida, acho que os conhecidos nem prestam mais atenção no que eu falo e não percebem…risos…) que ouça, estupefata ao ver aquela moça tão bem arrumada, parecendo tão educada, culta, simpática (e – sempre – modesta). Me esforcei muito para evitar comer os “ésses” dos plurais, mas é um sacrifício grande demais para que eu possa resistir. Ou talvez porque…no fundo, no fundo eu goste desse jeito tosco e livre de falar. Essa coisa transgressora e atropelada, dramática e apressada, que não tem nem tempo de pluralizar palavras…um discurso democrático, no qual se permite tranquilamente que o artigo não concorde com o substantivo, afinal de contas, cada um tem direito a sua própria opinião, ninguém precisa ser obrigado a concordar com ninguém. Nem o pronome com o substantivo, nem o sujeito com o verbo. Tem sujeito que quer discordar, ué! E se alguém quiser discordar do sujeito, tem toda a liberdade de fazê-lo.

Ninguém tem língua presa no Rio Grande do Sul, devido à liberdade linguística que existe neste país (sim, porque o Rio Grande é o meu país, colega!). Na verdade a éssefagia (hábito de engolir “ésses”) é uma prática proposital, para celebrar, a cada frase pronunciada, a mais pura e perfeita democracia e liberdade léxica. Não mais me envergonho de tal analfabeto hábito, agora que descobri sua nobre origem e seu louvável objetivo. Me falta apenas conseguir transformar essa explicação em um curto e convincente texto para decorar até minha próxima viagem a Campo Grande.