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Resenha – O Pacto

Resenha originalmente publicada na seção “Livros” do blog de Cristiane Cardoso

Frank Peretti é mais conhecido pelo livro “Este mundo tenebroso”, no qual descreve uma guerra entre anjos e demônios (farei a resenha deste em breve). Mas em minha opinião, “O Pacto” é seu melhor trabalho.

Não é nada fácil escrever uma resenha sobre um livro de suspense, pois se você contar alguma coisa, perde toda a graça, mas se não contar nada, ninguém terá vontade de ler. Farei o melhor possível, mas – acredite em mim – nada do que eu disser se compara com a sensação de desvendar os mistérios deste livro. É envolvente, intrigante, você se coloca na pele do personagem principal e praticamente consegue ver as cenas. Milhões de vezes melhor do que Crepúsculo e outras coisas que fazem sucesso hoje em dia. O único problema deste livro é a distribuição pífia. A editora que o trouxe para o Brasil é a Bom Pastor, que já tinha a dificuldade natural de distribuição de uma empresa cristã, mas o estranho é que agora o livro não consta mais nem no site da editora.

A versão original (“The Oath”) foi publicada pela Thomas Nelson, uma editora grande e bem conceituada que tem seu braço brasileiro, a Thomas Nelson Brasil, que desde 2006 faz parte da Ediouro. O problema é que “O Pacto” já estava com a Bom Pastor nessa época e, embora ainda esteja no catálogo da Thomas Nelson lá fora, aqui ele não consta.  Você ainda o encontra em lojas de livros usados, eu vi alguns no site “Estante Virtual”, que reúne várias dessas lojas, de todo o Brasil. Vale a pena procurar, pois o livro é muito bom.

Cliff Benson é assassinado de maneira brutal enquanto acampava nas montanhas. A polícia  encontra seu corpo mutilado e sua esposa Evelyn ensanguentada e delirando, com lembranças confusas a respeito do ocorrido. O delegado encerra o caso atribuindo o ataque a um urso, mas Steve, o irmão de Cliff, não se convence daquela explicação. Com a ajuda da subdelegada Tracy Ellis, ele parte em uma investigação própria a respeito do crime e descobre vários outros casos semelhantes. A cidade onde ocorreu a tragédia é Hyde River, um lugar pequeno e aparentemente pacífico, mas há algo perturbador ali. Você passa parte do livro sem saber quem é o responsável por todas aquelas atrocidades e descobre junto com Steve que os segredos que os moradores da cidade escondem podem trazer a resposta para esse grande mistério. O legal é justamente você ir descobrindo as coisas aos poucos, junto com os personagens principais. O autor tem uma grande imaginação e te surpreende diversas vezes.

É um suspense fenomenal, que te envolve e te deixa pensando a respeito da história e seus significados. Os personagens são bem construídos e por mais absurdo que o enredo pareça, é verossímil, o autor consegue te convencer de que aquilo é real. Isso é um ponto necessário para que o livro te conquiste. Mas – é claro – você tem de estar aberto para ler ficção. É o que chamo de “fazer concessões”. Você releva algumas partes que normalmente acharia absurdas, se propõe a aceitar aquele universo criado como possível e – aí sim – estará apto a entender a história e tudo o que o autor queria te passar.  No caso de “O Pacto” isso não é muito difícil de se fazer, pois a história te envolve logo no começo. Recomendadíssimo.

PS: Da primeira vez, li sozinha. Da segunda, li em voz alta para o meu marido, antes de dormir. Todos os dias líamos um pedaço. Não sei se foi uma boa ideia, porque às vezes eu sonhava com o livro…hahaha…mas era o tempo que tínhamos. Fica a dica para quem quiser algo diferente para fazer a dois. Foi muito divertido.

PS2: Pretendo colocar várias resenhas durante a semana, de todos os tipos de livros (como expliquei no post anterior), então fiquem atentos!

Aprendendo a dirigir VII – A batalha final

Como os arquivos da minha extinta coluna na Revista Paradoxo desapareceram após remodelagem do site, aproveito o período de férias do Lampertop para agendar a publicação desta saga aqui…espero que ajude outras pessoas que estejam passando por situações parecidas…

Aprendendo a dirigir VII

A batalha final

por Vanessa Lampert
de Porto Alegre
[22/06/2007]

Hoje era um daqueles dias em que tudo estava programado para dar errado, e se eu acreditasse nisso, teria dado, mesmo. Não consegui dormir cedo, tive aula às sete da manhã e consegui apenas três horas de sono. Fiz aula no mesmo lugar do exame, Intercap, ontem e hoje, o que foi muito importante para que eu me familiarizasse mais com as ruazinhas apertadinhas, todas iguais. Confesso que não estava muito confiante, não havia a menor razão para acreditar que eu passaria, exceto o fato de eu saber dirigir direitinho. O problema é que o exame prático não avalia se você sabe dirigir, se é um motorista prudente, se tem condições de ir para o trânsito, a única coisa que o exame, do jeito que é feito, com examinadores despreparados e regrinhas burras avalia é seu estado emocional no momento da prova. Se você estiver nervoso, reprova, se estiver calmo, passa, não importa o quanto dirija.

Eu realmente não acreditava que, naquele estado de nervos, teria algum resultado positivo. Cheguei em casa e dormi até o almoço, ignorando a outra aula que me tomaria toda a manhã. Ao invés de descansar, acordei exausta, pois tive os pesadelos mais horrorosos envolvendo trânsito. Sonhei, inclusive, que dirigia um ônibus estranho, e estava sentada em um banco ao lado do banco do motorista. Nem conto os malabarismos que tive de fazer para alcançar o freio e a embreagem, quando percebi que era eu a única motorista da coisa. Sonhei que havia sido multada pela Polícia Militar durante o exame, de madrugada, na chuva. Sonhei com conversões à esquerda, com mudanças de marcha, com baliza, com conversões à direita, com todos os erros e acidentes possíveis e imagináveis.

Acordei com o coração disparado como se toda aquela confusão onírica fosse real, então resolvi respirar fundo, tentar me acalmar, conversei com Deus, pedi para Ele preparar tudo direitinho e fazer o que fosse melhor para mim. Comi uma pizza feita pelo meu marido, comemoramos três anos de casamento, eu queria muito a carteira de motorista como presente nesta data especial, o que aumentava ainda mais a ansiedade.

Quando cheguei à auto-escola, todo mundo já havia ido para o exame – é um sinal – pensei, e já estava remarcando meu teste para a semana seguinte quando um garoto entrou dizendo que o Fernando, outro instrutor, combinara voltar para buscá-lo. Resolvi ir junto, e enquanto esperávamos, conversei com o rapaz. Ele estava muito, muito nervoso, era seu quarto teste. Finalmente, nossa carona chegou, o Fernando ficou na auto-escola esperando uma aluna retardatária e outro instrutor, o Diego, nos levou. Ele me contou, no carro, que o examinador era…o Adriano!

Para quem não se lembra, o Adriano é o examinador que não me deixou fazer o exame por meu nome estar abreviado, história contada no texto “Aprendendo a dirigir V”. Ao chegar, constatei que ele estava certo, era a mesma criatura com quem eu me desentendera há três semanas. O Claudio disse que eu poderia escolher outro examinador, pois já conversara com ele a respeito. Duvidando que ele pudesse ser profissional na avaliação, eu realmente estava entre fazer o exame semana que vem ou arriscar outro examinador. Encontrei colegas repetentes de testes passados, e todos reprovaram novamente, um a um. O garoto que veio comigo, que estava extremamente nervoso, passou. Ele disse que quando colocou na cabeça que se não desse, não teria problema, faria dez vezes até conseguir, se tranqüilizou. Eis aí todo o segredo.

Ouvi algumas pessoas reclamando de instrutores, dizendo que trocariam de instrutor, que tantos alunos de fulano passaram, tantos de beltrano reprovaram, e tive de interferir. Uma das coisas que aprendi nos desastrosos exames anteriores é: você pode ter o melhor instrutor do mundo, se não conseguir controlar seu estado emocional na hora do teste, não adianta nada. O trabalho do instrutor é importante para que você aprenda a dirigir direitinho, com confiança, sem medo. Ao chegar no teste, você deve estar tecnicamente preparado, ou não estaria lá. O trabalho do instrutor já terminou, ele não tem responsabilidade alguma a partir dali. Quem tem de trabalhar, então, é você. Se passar, é mérito seu, se reprovar, também.

O único profissional que realmente pode atrapalhar um exame é o examinador, que tem o poder de te tranqüilizar ou de te deixar mais nervoso durante o teste. Por isso ele deve ser inteligente, ter discernimento, domínio próprio e deixar a arrogância em casa, se a possuir. Felizmente ainda existem alguns (poucos) assim, que sabem o que realmente devem avaliar, levando sempre em consideração o fato de a criatura estar naturalmente apavorada.

Fiquei por último. Felizmente, peguei um examinador simpático, jovem, que fez questão de que eu ficasse tranquila, não foi nada arrogante e pelo menos se esforçou em não me deixar mais nervosa do que eu já estava. Eu estava certa de que erraria coisas ridículas, porque estava ansiosa. Fiz a baliza direitinho, até porque eu sou a miss baliza, acho que ninguém nunca fez tanta baliza quanto eu, em toda a Via Láctea. Mas, como Murphy sabe, sempre havia a possibilidade de dar uma zebra, e eu estava preparada. Depois, a garagem, também certinho, o examinador entrou no carro e eu disse, aliviada: “bem, sobrevivemos à baliza”.

Fiz 90% da prova em primeira e segunda, colocando a terceira apenas uma vez. Indo mais devagar, dava para controlar o nervosismo e fazer o que eu sabia fazer. A maior dificuldade no Intercap é a falta de sinalização horizontal nas ruas (para quem fugiu das aulas teóricas, sinalização horizontal é aquela feita com tinta na via, para separar as pistas, para marcar travessia de pedestres, etc.), temos de adivinhar onde acaba uma pista e começa a outra, quais ruas são mão única e quais são de mão dupla (sim, muitas daquelas ruazinhas apertadinhas têm dois sentidos!), e, como diria o Padre Quevedo, faixa de pedestres ali é algo que “non ecziste”.

O examinador conversou comigo bem tranqüilo, sobre um cachorro que latira, sobre o fato de morar em Canoas, claramente para que eu relaxasse, e funcionou. Andamos bastante ali por dentro (ou não, porque tudo sempre parece interminável quando estamos nervosos), e eu realmente achei que havia reprovado por algum motivo desconhecido e que ele, para não me deixar nervosa, evitou comentar antes do término do exame. Tomei o cuidado de repetir em voz alta o lado para o qual ele me mandara virar, e dar o sinal assim que ele avisava. Felizmente dar sinal e parar em placa de Pare e em final de rua já é automático para mim. Não passei na frente de ninguém, não há tempo máximo para o percurso, não há necessidade de apressar nada.

Quando avistei a praça e ele me mandou estacionar, gelei. Parei o carro e ele disse, sorrindo: “como tu disseste, sobrevivemos”. “Espero que sim” – respondi. Descemos do carro e ele me perguntou se achei que tinha errado, fui sincera e disse que eu poderia ter feito melhor. Ele me parabenizou por ter passado no teste e ainda completou, para o Claudio “Ela dirige tri bem”. Para quem não está familiarizado, dizer que alguém faz algo “tri bem” aqui em Porto Alegre é um grande elogio. Fiquei feliz, agradeci ao Claudio, que disse que o mérito era todo meu. Não é, eu sei. De ter passado, pode ser, mas sem ele eu jamais teria chegado até aqui. Ele acreditou em mim mais até do que eu, e minha vitória não deixa de ser dele, também. Depois, não comemorei demais em solidariedade aos colegas que reprovaram. Eu sei o quanto é frustrante não conseguir passar no exame, e uma criatura saltitante ao lado não deve ajudar muito.

Chegando em casa, contei, com muito suspense, ao Davison, e ele ficou eufórico com a notícia, ele me apoiou muito, e eu também não teria conseguido sem ele. A melhor coisa do dia foi poder dar de presente de aniversário de casamento ao meu marido a notícia da minha aprovação, pela qual ele tanto torceu. Depois, contei para a minha mãe, que também esperava a novidade. Escolhi dividir a alegria com as três pessoas que mais me apoiaram, antes de vir aqui, dividir com vocês, que tanta força me deram, por e-mail, pelos comentários aqui na coluna, ou por meu blog pessoal. Foram três tentativas, e até as frustrantes reprovações serviram para que eu aprendesse um bocado. Vale a pena enfrentar os medos, valeu a pena ter feito aulas antes dos exames, valeu a pena até o super pesadelo que tive. Ainda que pareça que nada vai dar certo, alguma hora as coisas começam a entrar nos eixos, e descobrimos que tudo muito é mais simples do que parece quando paramos de nos boicotar.