Mês: janeiro 2014

A sociedade da preguiça

Dia desses, vi o anúncio de um telefone celular, que orgulhosamente divulgava algo como: “Você não precisa tocar no celular, ele obedece à sua voz”. Fiquei tentando entender qual seria o problema de tocar no celular.

Esta semana me surpreendi com outro anúncio “fantástico”: “Com o objetivo de facilitar a vida dos usuários” (vida difícil a de apertar um botão), a empresa x (não vou fazer propaganda) fez alterações em sua nova linha de Smart TVs” (Smart TV= TV esperta. O que significa que a minha é burra). Os usuários poderão “voltar à tela anterior e fazer uma pausa no vídeo apenas movimentando o dedo no sentido anti-horário (…) Os comandos de voz terão funções reduzidas, como a mudança de canal, que será realizada simplesmente dizendo o número, sem precisar falar ‘Mude o canal’”.

Só eu acho isso bizarro? Não, não sou contra o avanço da tecnologia, é realmente incrível que uma TV faça tudo com tão pouco. O problema é que os aparelhos estão ficando mais inteligentes para que a sociedade fique cada vez mais burra.

É provado pela neurociência que quanto mais você usa o seu cérebro, mais ele se desenvolve. Então, quanto menos você usa o seu cérebro, menos ele se desenvolve. A nossa sociedade está caminhando para um emburrecimento em massa e os poucos cérebros que ainda funcionam se dedicam a criar engenhocas que tornem possível aos demais cérebros se acomodarem em sua preguiça. Vivemos a cultura da preguiça mental, das informações superficiais, das facilidades que criam mentes flácidas que sequer sobreviveriam se tivessem que viver há cem ou duzentos anos, sem computadores, geladeiras e smartphones.

As pessoas vêm sendo treinadas a não se esforçar mentalmente para absolutamente nada, a não sacrificar por coisa alguma. Querem que tudo caia do céu por um simples comando de voz. Estão condicionando suas mentes a um estado de embotamento e dependência. Esse “treinamento” tem se estendido até ao sistema educacional, fazendo com que pessoas consigam alcançar altos níveis de escolaridade com pouquíssimo uso do cérebro. Seres cujo máximo esforço feito será girar o dedo em sentido anti-horário. Escrever, ler e pensar serão atividades restritas apenas àqueles que desejam dominar e manipular essa massa.

Uma sociedade assim torna-se um exército de zumbis pronto a obedecer ao que a grande mídia determinar. Pronto a seguir o líder que ela apontar. Sem pensamentos próprios, sem senso crítico, repetindo os pensamentos de outros, com suas mentes derretidas pela indústria do entretenimento e pela lei do menor esforço. O pior é que sequer se dão conta disso e ainda ficam bravos se alguém sugere que sacrifiquem seu tempo, esforço e vontade por alguma coisa, por maior que seja.

Cabe a cada um de nós, heróis da resistência (pelo menos é assim que eu me sinto), remar que contra a correnteza e manter o nosso direito de exercitar nosso cérebro, desenvolvendo nossas próprias opiniões e ajudando os que querem ser salvos desse entorpecimento, lhes ensinando o maravilhoso caminho de enfrentar e vencer desafios. Porque se o preço de “facilitar a vida” é se tornar parte do exército de mortos-vivos, meus amigos, eu sempre vou preferir o sacrifício.

 

*Publicado na coluna “Ponto de vista” da edição 1136 (12 a 18 de janeiro de 2014) do jornal Folha Universal

 

PS: Como recebi mensagens de pessoas achando que eu estava criticando os aparelhos eletrônicos, acredito que tenho que explicar que o texto não está criticando a tecnologia moderna. Na verdade, a tecnologia moderna só tem se moldado à preguiça mental da sociedade (que quer nos convencer de que temos de buscar “mais facilidade” e “mais praticidade”) e ninguém acha isso estranho. Sem aparelhos mais inteligentes, seria bem difícil viver preguiçosamente, mas eles não são a causa do problema, são apenas consequência. Eles vêm substituir as funções mentais que estão deixando de ser usadas. E isso é o mais preocupante, pois não se resolve boicotando a nova tecnologia. Se elas continuassem a ser usadas mesmo com a presença dos aparelhos, não haveria problema algum.

Quem são os escolhidos de Deus?

Descubra como funciona o processo seletivo do qual todos nós estamos participando
 Por: Davison Lampert

A vontade de ser especial, de vencer na vida, é o que motiva muitos a batalhar por seus sonhos. E, na luta para se distinguir na multidão e alcançar o topo, nenhum sacrifício parece grande demais. Estão prontos para abrir mão do lazer, de horas de sono, de vida social e de inúmeras outras coisas que consideram importantes, tudo para não ser só mais um nesse mundo.

Porém, quando a questão é fazer parte do Reino de Deus, o pensamento que prevalece é o de que não há necessidade de se esforçar para ser aceito. Acreditam que se Deus é amor e se a Sua misericórdia é infinita, Ele certamente estará esperando todos de braços abertos, não importando como viveram suas vidas. Mas será mesmo?

O critério de Deus

Quando Jesus diz, ao concluir a parábola das bodas (Mateus 22.1-14), que “muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”, Ele deixa claro que existe um critério para definir essa seleção. Mesmo que a vontade de Deus seja de escolher todos – pois Jesus morreu para salvar toda a humanidade –, Ele diz que muitos serão rejeitados no final.

E qual é o critério usado para determinar quem será salvo e quem se perderá? Serão os anos de igreja? Conhecimento da Bíblia? Faculdade de teologia? Árvore genealógica? Seus belos olhos azuis? Par ou ímpar? Na verdade, o critério de seleção do Reino de Deus é mais parecido com o utilizado em um concurso vestibular.

No vestibular, ao se inscrever, o candidato recebe um manual onde está descrito o que ele precisa estudar e fazer para estar preparado no dia da prova. Se vai ler ou não; se vai seguir ou não, são outros quinhentos. A Universidade está dando a ele uma oportunidade. Se ele passar seus dias dormindo, ou em festas, ou se entretendo nas redes sociais em vez de meter a cara nos livros e estudar, sacrificando sua vontade de fazer todas essas coisas, como espera estar entre os escolhidos?

Por outro lado, o aluno que se dedica, prestando atenção ao que lê, se esforçando para entender mais do que simplesmente decorar; aquele aluno que abre mão das distrações e foca no seu objetivo, que sacrifica uma vida indisciplinada e se submete à disciplina de seu programa de estudos, certamente irá colher o resultado de seu esforço. Ele mostrou a sua vontade com atitudes que o habilitaram para a vaga. Por isso, foi escolhido entre tantos inscritos.

A eleição

No Reino de Deus é a mesma coisa. Os escolhidos por Ele são aqueles que se habilitam a essa condição, por meio de suas próprias atitudes e esforços. A diferença é que não se compete com ninguém para ser eleito por Deus. A luta é contra a própria vontade, e as provas são: negar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir a Cristo. O mundo, que despreza qualquer tipo sacrifício para Deus e só consegue admitir sacrifício para si próprio, tentará impedi-lo de passar nessas provas. Eis a importância de pautar as atitudes em uma fé racional e, crendo na Palavra de Deus, tomar posse de Suas promessas. É dessa qualidade de fé que vem a força para vencer a si mesmo e o mundo. Um candidato com uma fé emotiva ou religiosa não terá condições de se qualificar. Mais cedo ou mais tarde abandonará a disputa.

E, para o que se mantiver firme, a disputa não termina com a aprovação. Após o vestibular, o aluno deverá continuar se esforçando para conseguir se formar. E depois de formado, deverá se manter atualizado e se esforçar para permanecer um profissional de sucesso, até o fim. Assim é com relação a Deus. A carreira de um cristão só acaba quando não há mais luta, e só não há mais luta para um cristão quando ele parte desse mundo.

Combatendo o bom combate

Quando estava na prisão em Roma, pouco antes de sua morte, o apóstolo Paulo escreveu para Timóteo: “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda” (2 Timóteo 4.6-8).

Quem mantém o foco na sua salvação, como o seu bem mais precioso, fará qualquer sacrifício para combater bom combate diariamente. Lutar contra as dúvidas, maus olhos e maus pensamentos, fortalecer sua fé, perdoar seus algozes, manter a consciência limpa e o coração puro, fazer pelos outros aquilo que gostaria que lhe fizessem, deixar de olhar para a situação e viver pela fé. A recompensa já está garantida aos que permanecerem fiéis até o fim. E, para melhorar, quem se dispõe a sacrificar por esse Alvo não estará sozinho. Terá sempre a ajuda dAquele que o chamou.

O sacrifício de Jesus abriu uma oportunidade para todos. Muitos são os chamados por Deus para fazer a diferença neste mundo, mas poucos são os escolhidos para o Seu Reino. Quem tiver a coragem de, pela fé, enfrentar esse combate, será excelente em tudo o que fizer e, quando completar a carreira, receberá o seu prêmio. Um prêmio maior do que qualquer coisa que esse mundo possa oferecer e pelo qual vale a pena qualquer sacrifício.

 

*Texto originalmente publicado na edição 1136 da Folha Universal (clique aqui para ver no portal)