Mês: setembro 2015

Desconectando da Matrix por 21 dias

 

12003192_910597612355866_4466383405753389469_nPelo menos duas vezes por ano, fazemos um jejum de informações e entretenimento. É nadar contra a corrente deste mundo em que entretenimento e informações são endeusados e entronizados. Pense bem, tudo gira em torno dessas coisas. Você precisa ficar conectado. Precisa saber o que estão falando nas redes sociais. Você já as trata com intimidade: Face, Insta, Whats, como se fossem amigos de infância. E elas exigem sua atenção imediata, como crianças mimadas. As notificações pulam no celular, interrompendo seus afazeres a cada minuto. O noticiário na TV é sagrado. A revista semanal, também. Você precisa saber o que está acontecendo no mundo, não pode ser um desinformado, um alienado. A notícia causa uma reação emocional. Você fica com raiva. Você se emociona. A TV lhe dá a opinião que você precisa ter, sem que você sequer perceba. Não é necessário pensar muito. Não é necessário analisar ou interpretar as informações. Elas já vêm mastigadas. Tudo parece óbvio.

A busca por sensações é a tônica do momento. É isso o que as pessoas têm alimentado. E depois não sabem por que vivem em uma montanha-russa emocional. Uma vida de altos e baixos, sem estabilidade. Com o fluxo de informações e estímulos sensoriais e emocionais, nosso cérebro se reprograma para lidar com o maior número de dados com a maior superficialidade possível. Não dá para aprofundar o pensamento quando há muito para se catalogar. O resultado é uma era de pessoas com preguiça mental crônica. Sabem operar aparelhos eletrônicos com maestria, mas, mentalmente, estão dependentes dos outros, querem tudo mastigado e não têm paciência para colocar seus cérebros para funcionar.

O pensamento fragmentado é um dos piores monstros do nosso tempo. Ele gera zumbis que, por fora, parecem vivos e saudáveis. Pessoas emocionalmente estimuladas, irritadiças, prestes a explodir. Massa de manobra exposta a imagens de violência, notícias interpretadas de acordo com o interesse de quem quer o poder. Se expõe o que é de interesse expor, se esconde o que é de interesse esconder.

A falta de pensamento aprofundado atinge as redações de jornais e os cursos de jornalismo, gerando formadores de opinião que são, eles mesmos, massa de manobra. Essas são as engrenagens em que nos embaralhamos quando entramos no ritmo alucinado das interações virtuais e dos meios de comunicação. A solução é puxar a tomada.

Se desconectar, hoje em dia, é revolucionário. Se você tem medo de ficar desatualizado, alienado ou desinformado, entenda: a informação que você consome é ração para gado. É a maneira de se manipular a população para que todo mundo pense igual e para que todos tenham opiniões semelhantes. Alienados ficam aqueles que se alimentam da informação desse mundo. Quando você se desconecta por um tempo, aprende a retomar o controle do que consome. Isso é ouro. Você reorganiza sua forma de pensar. Desenvolve seu raciocínio e, certamente, não voltará da mesma forma.

Nosso cérebro é uma máquina fantástica, com infinitas possibilidades. A ciência ainda o entende muito pouco. Mas o fato é que fomos feitos para pensar. Fomos projetados para fazer uso intensivo de nossa capacidade mental. A quem interessa que deixemos de utilizá-la? A quem interessa que nos tornemos zumbis, hipnotizados pela cultura do entretenimento fácil e da informação mastigada?

As festas, o entretenimento, as redes sociais, as notícias, os joguinhos e o que mais este mundo puder nos oferecer nos distrai o suficiente para preencher temporariamente o vazio. Tanto é que muitos se sentem angustiados quando ficam longe dessas distrações. Elas são como uma droga que anestesia temporariamente e dá a ilusão de preenchimento. Até a próxima dose. O problema é que, enquanto você se engana, nada é efetivamente preenchido. O vazio vai continuar lá até você decidir preenchê-lo de verdade. O Jejum de Daniel não se trata de, simplesmente, suspender essas distrações e ficar com um grande vácuo gelado. O que realmente vai fazer esse jejum ser eficaz em sua vida é uma palavra: substituição. Substituir a ração-lixo por nutrição para o seu espírito.

Aprender a dizer não para as vontades do seu neandertal interior e alimentar aquilo que lhe faz mais humano. Diminuir o alimento da parte mais primitiva e irracional do nosso cérebro e passar a alimentar a parte que nos faz potenciais administradores deste planeta nos leva de volta ao estado em que deveríamos estar. Sem distrações. Sem informações inúteis. Com condições de fazer as escolhas certas. Exige um sacrifício, claro, como qualquer esforço consciente. Mas vale tanto a pena que abraço o desafio todas as vezes em que me é oferecido.

Por isso, do dia 20 de setembro ao dia 10 de outubro, abraçarei o desafio do Jejum de Daniel. Além de me afastar das redes sociais, notícias e entretenimento, irei ocupar meu tempo com aquilo que alimenta o meu espírito. Se você também quiser aproveitar essa oportunidade, está convidado. Nesse período, a partir de amanhã de manhã, usarei este blog para compartilhar tudo o que aprender. Publicarei pela manhã reflexões bíblicas, dicas de leitura e artigos espirituais para ajudá-los a tirar o melhor proveito possível desses 21 dias. Vamos aprender, juntos, diretamente da Fonte.

Espero vocês amanhã. 🙂

PS: Usarei a internet somente para o que for absolutamente necessário para o trabalho e estudo e também para conteúdos que alimentem meu espírito. Renato Cardoso anunciou hoje que trará conteúdo diário para o Jejum de Daniel, então já está em minha restrita programação para esses 21 dias.

PS2: É por causa do que aprendi com o Jejum de Daniel que meu celular não me domina e minhas notificações são quase todas desabilitadas. Por causa do que aprendi desde o primeiro Jejum de Daniel retomei o controle do meu córtex pré-frontal (área do cérebro responsável pela atenção e pelo foco) sem nenhuma medicação (coisa que tentei, durante anos, com medicamentos controlados). Não sei o que seria de mim nos dias atuais, com essa profusão louca de informações, se eu não tivesse o domínio próprio que conquistei desde que comecei a praticar esse “retiro mental“.

 

O céu não está caindo

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Fora da internet, chamar alguém de “lixo”, desejar o mal e agredir uma autoridade ou um desconhecido parece coisa de gente de nível baixo, pobre de espírito ou maluca. Na internet, é comum qualquer assunto virar alvo de comentários agressivos. As pessoas são estimuladas a embotar a inteligência e, quando a emoção vem, não conseguem se controlar e explodem, feito barris de pólvora.

Um desenho de 1943, Chicken Little, conta a história de uma raposa que queria atacar um galinheiro. Escolheu o pintinho mais descerebrado e o convenceu de que o céu estava caindo. Ele espalhou o pânico pelo lugar: “o céu está caindo! O céu está caindo!”.

Um galo sábio mostrou que aquilo não fazia sentido. Irritada, a raposa usou boatos e palavras de dúvida para descredibilizá-lo. Assim, as aves deixaram de ouvir a razão.

Não demorou para que todos acreditassem que o céu estava caindo e, movidos pela emoção, seguissem o pintinho descerebrado para uma caverna, sob a orientação oculta da raposa, sem saber que estavam indo ao encontro do inimigo.

Hoje, recebemos muitas informações superficiais da grande mídia. Como na estratégia da raposa, as emoções são meio de manipulação. Pessoas pouco habituadas a pensar e muito hábeis em reagir emocionalmente a qualquer gatilho tendem a julgar mal. Assim, se transformam em armas descerebradas a serviço do pior tipo de inimigo (o que não é visível).

Aaron Kreiser, professor na Yeshiva University, disse: “As pessoas culpadas do ‘ódio infundado’ nunca se arrependem porque não reconhecem seu pecado. Continuam justificando seu ódio pessoal e oferecendo explicações dos motivos pelos quais seus adversários o merecem”. Imagine o resultado espiritual de não reconhecer um erro.

Há quem ache que mansidão e autocontrole nos fazem bobos ou fracos, mas é o contrário. Forte é o que tem domínio de si e consegue manter o sangue frio para, inclusive, se recusar a tomar partido se não tiver dados suficientes para um posicionamento justo.

Sabe ouvir, se coloca no lugar do outro, respeita as pessoas e as opiniões contrárias e, nas poucas vezes em que precisa discutir, usa argumentos sólidos e racionais, para ajudar o outro a entender (caso haja abertura), jamais vocabulário destrutivo. Esse é o forte. Esse é o que muda o mundo, o que faz a diferença.

O céu não está caindo, mas o mundo está prestes a mudar. Podemos escolher seguir a manada, nos tornando presas fáceis de quem montar o melhor circo, ou manter nosso senso crítico, nossa inteligência e nossa dignidade.

* Artigo originalmente publicado na coluna Ponto de Vista, na edição 1223 do jornal Folha Universal.

PS: O vídeo que eu descrevo no post é esse aqui: