Categoria: Crônicas

Como lidar com um problema

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Ontem (quarta) fui surpreendida com uma crise violenta de sinusite. Na verdade, não foi bem uma surpresa. Eu já estava me sentindo um pouco estranha, com sintomas que podem ser de qualquer coisa e de nada. Quando o nariz começou a ficar trancado, eu deveria ter partido para o plano de ataque – a odiosa lavagem nasal com água e sal, que eu acho muito medieval (uma rima natural), mas funciona e me manteve longe de crises (e de antibióticos) por muito tempo. Porém, eu ignorei. No fundo, sabia o que deveria fazer, mas não fiz. Às vezes a gente acha que ignorar um problema fará com que ele desapareça, mas é uma ilusão.  Ignorar o problema faz com que ele cresça sem ser incomodado – só isso.

Aí, acordei com muita tontura, mais cansada do que no dia anterior, com dores musculares, dores nos olhos, dores nos dentes, dores, dores, dores… Por ter passado todos esses dias ignorando, fiz coisas que pioraram a situação: comi mais doces, tomei menos água e não me alimentei tão bem. Resultado: desequilíbrio eletrolitico, o que explica metade dos sintomas. Nosso corpo, como tudo em nossa vida, precisa estar em equilíbrio. Ignore um problema e o desequilíbrio se instalará.

Claro, eu estava certa por um lado. Realmente não deveria me preocupar com aqueles sintomas e ocupar minha cabeça com eles. Até porque, se tivesse feito isso, provavelmente eles cresceriam e eu começaria a pensar que era coisa pior, abrindo espaço para coisas piores. Por outro lado, não está certo ignorar. Qual é o ponto de equilibrio? Fazer alguma coisa em relação aos sintomas, mas não me ocupar com eles ou sentir alguma coisa em relação a eles. É a mesma questão com os problemas. Não perca tempo com eles, nem gaste energia sentindo que todo esforço é inútil, que a barreira é intransponível etc. Simplesmente, faça algo a respeito. E se acha que não há o que você possa fazer, eu cito duas atitudes:

 

1- Monitorar suas reações para escolher bem como reagir. – Isso, aliás, é algo que só você pode fazer.

2 – Orar. – Pode não ter braços, nem pernas, nem movimento algum do queixo para baixo, pode ser cego, surdo e mudo, mas, se você está consciente, ainda pode orar. E isso não é pouco. Isso é tudo. A oração abre portas inimagináveis. Não estou falando de uma reza decorada ou de um discurso religioso pontuado de jargões. Estou falando de uma conversa sincera e direta com o Criador de tudo. Deus nos deu seu celular pessoal. Esse celular é a oração. Sem intermediários, sem secretária. Você pode fazer muito por você e pelos outros com essa ferramenta poderosa.

 

Se você pudesse fazer alguma coisa, qualquer coisa, em relação a esse problema que está passando agora, qual seria? Faça uma lista. Pode ser algo bem esdrúxulo. Pense em tudo o que conseguir pensar a respeito, das coisas mais absurdas até as mais comuns.

E se esse seu problema fosse três vezes pior? Pense nesse problema triplamente piorado. Imagine como ela seria se fosse pior. E se você pudesse fazer qualquer coisa para resolver pelo menos uma parte dele, o que seria? Anote tudo o que vier à sua mente em relação a esse problema. Dependendo do que for, esse exercício de extrapolar pode dar bom resultado. Você ultrapassa a barreira do “problema impossível” pensando em uma versão piorada dele e consegue, dessa lista maluca, tirar algum plano de ação. A criatividade tem uma certa relação com o exagero, com romper limites e atravessar portais invisíveis. Também tem a ver com desligar os filtros do senso de ridículo e do medo do julgamento alheio e do julgamento próprio. Dentro da sua cabeça você pode ser ridículo à vontade, meu amigo. E, às vezes, até fora.

E se você não está com nenhum problema gritante, fique atento aos sinais. Assim como eu, no fundo, sabia que tinha uma crise de sinusite a caminho, você talvez saiba, no fundo, que está fraco espiritualmente. Você faz lá seus rituais religiosos, mas sabe, no fundo, que seu coração não é mais o mesmo. Ou talvez você já tenha percebido que aquela amizade que está surgindo no trabalho pode ser potencialmente perigosa para o seu casamento ou sua vida amorosa. Sua consciência avisa, ainda que bem baixinho, que você está fazendo algo errado, perigoso ou destrutivo. Você se percebe andando na beira do precipício. Lá no fundo, uma luz amarela pequenininha se acende e você tenta se convencer de que é só um vaga-lume.

Ainda dá tempo de fazer aquele troço esquisito com água e sal no nariz (metaforicamente falando. Salmoura metafórica no nariz metafórico) e se livrar da dor de cabeça que você teria depois, se não evitasse aquela crise de errite. A crise de errite é mais perigosa que a de sinusite. A sinusite pode complicar, infeccionar o olho ou atingir o cérebro e evoluir para uma meningite. Já vi gente morrer disso. Mas a errite pode infeccionar seu coração, atingir sua alma e evoluir para uma consciência cauterizada. Uma consciência que não funciona mais não produz arrependimento. E, sem a capacidade de enxergar seu erro e se arrepender, não há salvação. Favor jogar água e sal aí enquanto há tempo. Algumas coisas só se resolvem com uma boa dose de sacrifício. Não tenha receio de sacrificar. Pode arder horrores, pode ser difícil, você pode até ter a sensação de que vai se afogar e morrer, mas é melhor passar por isso rapidamente e resolver seu problema do que ficar sofrendo no longo prazo ou – pior – achar que não precisa mais de ajuda.

PS: Para quem tem curiosidade, procure “lavagem água e sal sinusite” no youtube e veja… Alguns vídeos mostram a pessoa fazendo a medievalice na maior tranquilidade, como se não incomodasse nada. Depois de muito treino isso até acontece, mas no começo, eu sempre molhava tudo e meio que me afogava no copo d’água (ok, ainda faço isso às vezes….hahaha)

 

A melhor maneira de economizar na Black Friday (ou fora dela)

turista3*Eu, no Rio (segundo o Davison, “vestida de cigana”), em  2004.

Economizei MUITO na Black Friday este ano: trabalhei o dia inteiro, à noite tive curso e não comprei nada.  100% de economia! 😀

Meu e-mail ficou abarrotado de SPAMs de todas as lojas do universo. Todas oferecendo grandes promoções para que eu economizasse nesse momento especial. Segui a ideia à risca, e economizei, mesmo…rs. Mas fiquei pensando, depois, sobre a forma que eu encarava esse tipo de coisa no passado. Eu era viciada em promoções. Não podia ver uma, e já precisava aproveitar. Na verdade, eu era viciada em preços baixos. Comprava minhas roupas pelo preço (e, por isso, me vestia com coisas esdrúxulas, como esse look do post que abre o blog), fazia compras na internet como se não houvesse amanhã e, muitas vezes, acabava gastando duplamente, por ter de comprar peças de reposição quando a porcaria que eu havia comprado estragava (o que acontecia com bastante frequência).

Na época em que morei no Rio, fazer compras nas Lojas Americanas era quase uma terapia. Uma terapia altamente inútil, mas a sensação momentânea era boa. Eu entrava lá e comprava um monte de quinquilharias baratinhas: cadernos, meias, chocolates, canetas e mais qualquer coisa que parecesse um bom negócio. Comprei muita coisa inútil, acumulei muita tralha e gastei muito dinheiro. Não comprei nada duradouro ou bom naquele tempo e ainda deixava meu marido mais doente aumentando nossas dívidas no cartão de crédito. Ele, que sempre foi tão controladinho com essas coisas. E eu, que nunca tive nem ideia do que era a tal educação financeira. Cresci em uma família sem recursos, minha mãe nos criou sozinha e era um parto conseguir qualquer dinheiro com o meu pai. Um terror, mesmo, ele reclamava de tudo, até de pagar escola. E sempre atrasava o pagamento. Atrasar pagamentos, pagar juros, cartão de crédito no rotativo e empréstimos bancários eram coisas comuns de ver (como são, aliás, até hoje. É só dar uma voltinha por aí e você vê muita gente encalacrada com essas coisas).

Antigamente, eu parcelava TUDO em, no mínimo, 3 vezes. Se fosse sem juros, eu poderia parcelar qualquer valor em 10 ou 12 vezes fácil, fácil. Resultado: ficava quase um ano pagando coisas que, muitas vezes, nem existiam mais quando eu parava de pagar. E, ao parcelar tudo o que comprava, perdia facilmente a conta e o controle e começava a acumular as parcelas mensais que, somadas, davam valores absurdos. Acho que isso era um legítimo espírito devorador. Ou eu nem precisava de devorador, já que me comportava como um. Hoje, é muito raro eu comprar alguma coisa em parcelas. Se não tenho dinheiro, não compro. Simples assim. Então, não adianta as lojinhas da Black Friday me oferecerem a possibilidade de pagar as comprinhas em até 12 vezes sem juros. Eu não vou comprar, nem se dividirem por mil. Quando sua forma de enxergar muda, tudo muda.

Considero o fato de ter me tornado uma pessoa super consciente do que gasta e do que deixa de gastar quase como uma mudança de personalidade. Meu marido me diz que sou outra pessoa e hoje confia totalmente em mim. Fiquei três anos sem cartão de crédito por vontade própria. Só esse ano aceitei que ele fizesse um cartão adicional.

Eu consegui entender o que me levava a comprar quinquilharias que eu não precisava e entulhar minha casa (literalmente) com poucos anos de casada. Tento me policiar diariamente para que isso não aconteça novamente em nenhum grau, embora considere que, para os meus novos padrões, o que eu gasto em livros e cursos seja um valor elevado. Mas, parando para pensar, é uma evolução. Antes, eu gastava com quinquilharias, doces, balas, refrigerantes, maquiagens que eu não ia usar e porcariazinhas mil. Hoje, gasto com livros que, de fato, leio, e com cursos que me ajudam muito no meu trabalho. As minhas decisões de compras se tornaram mais racionais e menos emocionais. Isso, com certeza, é algo que me deixa muito mais feliz do que qualquer coisa que eu pudesse comprar em uma super liquidação.