Categoria: mídia

O boato do sabonete ungido e a imbecilidade humana

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Soube que viralizou a “notícia” de que a Universal estaria vendendo “sabonetes ungidos” a 110 reais pela internet. A pseudonotícia foi comentada em um site “gospel”, inclusive com comentários de um pastor de outra denominação, invocando Lutero e dizendo que tem “vergonha da barganha promovida pelos adeptos da teologia da prosperidade”. Eu tenho vergonha é da irresponsabilidade de quem publica e comenta boatos sem o mínimo de apuração.

Porque, caro leitor, você não precisa ser jornalista para fazer uma apuração básica. Hoje em dia, todo cidadão é gestor de conteúdo e tem a obrigação de aprender a checar a veracidade das informações que recebe, até para não se transformar em massa de manobra.

Eu não precisei de dez minutos para pesquisar a notícia e descobrir que era um boato descarado. O tal site que vendia os sabonetes não tem nada a ver com a Universal, tanto que comercializa sabonetes com o logotipo de outras denominações. E o tal sabonete não custa 110 reais, esse valor é o pacote com 500, o que me leva a crer que o site seja de algum sem-noção que não sabe como funcionam as campanhas e resolveu ter um “lucrinho” tentando vender sabonetes a granel.

Porém, o boato foi suficiente para que preconceituosos de plantão saíssem compartilhando e opinando como robozinhos pré-programados. Isso apenas escancara o que está dentro dessas pessoas. O que me deixa muito indignada com esse tipo de comportamento é a total falta de cuidado com as palavras. A total falta de ética de quem distorce a verdade e propaga boatos. A pessoa acha que, porque (na cabeça dela, pelo julgamento dela) o outro é desonesto, ela pode ser, também. Pode falar a bobagem que for, sem o menor interesse em procurar a verdade.

Pensa: “é, eles são ladrões e enganam os otários”, veem um Hoax que diz isso e compartilham, não porque aquela notícia tem fundamento, mas porque ela confirma seus preconceitos. Conferem as informações que recebem com seus próprios preconceitos, como se o preconceito fosse um bom juiz.

Viu uma denúncia e teve vontade de compartilhar? Faça um favor à humanidade: respire fundo, desconfie e vá pesquisar um pouquinho no Google. Se você tem um site ou um blog, faça uma pesquisa básica antes de dar sua opinião. Caso contrário, avise aos seus seguidores que o que você mantém é uma página de fofoca.

Suponhamos que eu esteja preparando um artigo sobre uma denúncia contra determinado cidadão. Não é nada bombástico, é uma notícia fria, o cara está sendo investigado há bastante tempo. Porque já estou suficientemente indignada com as coisas que descobri a respeito e meus ânimos estão inflamados, pesquiso informações e opiniões que possam inocentá-lo aos meus olhos e me deem um novo ângulo da situação, para tentar entender os dois lados, tirar minha conclusão e passar uma opinião sensata ao leitor. Se, depois de tudo isso, minha opinião se mantém, poderei passá-la ao leitor com base e argumentos. Entendo que isso é comportamento ético e respeitoso com quem investe seu tempo em ler o que escrevi.

Se não tenho tempo de fazer isso, simples: não compartilho. Escrevo sobre outra coisa que não exija pesquisa, em que eu não corra o risco de cometer uma injustiça. Se os outros têm tempo para fofoca (porque isso é o que notícia não confirmada é), problema é deles; eu tenho certeza de que aqueles que são da Verdade, têm compromisso com a verdade. E quem tem compromisso com a verdade, não admite ter parte com mentiras.

Guarda a tua língua do mal, e os teus lábios de falarem o engano.
Salmos 34:13

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PS: A Universal respondeu oficialmente, desmentindo a tal “notícia” do site gospel. A propósito, salve aí nos seus favoritos o link em que essas notas são publicadas: http://www.universal.org/unicom 

PS2: A quem é cristão de verdade, eu recomendo que não perca seu tempo com esses sites “gospel”. De “gospel” eles não têm nada.

Não compre as ideias da maioria

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Você procura coisas boas nas notícias, mas não tem coisas boas nas notícias. Coisas boas não vendem. Coisas boas não dão ibope. Coisas boas não geram acessos e compartilhamentos.

E você acredita que aquelas notícias que vê são realmente coisas que você precisava saber. Na verdade, são recortes que alguém escolheu por ter a obrigação de publicar um número x de notícias diariamente. Geralmente copiadas de agências de notícias ou de releases publicitários enviados por assessorias de imprensa. Muito do que você lê como “notícia” é pura propaganda. Isso sem contar as notícias distorcidas para o lado que interessa àquele que manipula suas opiniões sem você saber (que, de certa forma, também é propaganda). E nunca é um lado bom.

De repente, você está do lado da maioria. Se indignando com as mesmas coisas que levam a esmagadora maioria a se indignar. Com ódio das mesmas pessoas que a maioria odeia. Com pena das mesmas pessoas por quem a maioria se compadece. Alguém elegeu as vítimas e os bandidos. E você comprou os rótulos.

Não compre as ideias que você nem sabe de onde vem. Desconfie quando seu discurso começar a parecer com o da maioria. Se apenas uma minoria discorda de você, alguma coisa está errada. Desconfie quando a indignação for maior do que o bom senso. Alguém está manipulando suas emoções, elas são alvos fáceis. Elas dirigem suas escolhas, definem seus votos, modelam suas frases, decidem sua vida. Elas mudam de acordo com as cores que veem. Não permita que tenham todo esse poder.

Não vamos perder o que conquistamos nesses 21 dias. Uma das coisas mais úteis que você pode aprender é a selecionar as informações que consome. Depois de um período de jejum de informações seculares você descobre que não precisa ficar colado 24 horas às suas redes sociais, muito menos conversando o tempo inteiro em grupos do whatsapp. Começa a ver as notícias com outros olhos. Estar “por dentro” dos assuntos mais comentados já não tem mais tanto valor e você descobre que existe uma fatia enorme de tempo na sua vida que pode ser aproveitada com coisas mais produtivas.

Vamos consumir informação secular, sim, mas com moderação. E com o botãozinho do senso crítico ligado.  Assim, conseguiremos nos manter fora do circuito das marionetes e de seus titereiros* e faremos parte da minoria que pensa com a própria cabeça e não se acomoda a opiniões prontas, pré-digeridas e superficiais.

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*Para quem gosta de aprender palavras novas e não conhecia essa, “titereiro” é o carinha que manipula as marionetes. 🙂

PS: Aposentei os telejornais há tempos. Boicoto a rede globo e revista veja não entra na minha casa nem de graça. Vejo notícias na internet e, mesmo assim, escolho com bastante cuidado o que vou ver.  E meu contato com notícias é analítico, envolve um esforço de pesquisa, de apuração, de coleta de dados e seleção de informações. Não saio engolindo tudo o que oferecem por aí, não!

PS2: Vou continuar com os posts diários no blog. \o/ \o/ \o/ Não sumam!