Categoria: mídia

Eu não tenho saco para a Copa

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Confesso que estou bem por fora da discussão “Vai ter Copa” x “Não vai ter Copa”. Atualmente, minha mente e meus esforços estão em coisas realmente práticas e úteis, e todas elas relacionadas ao meu trabalho e à minha vida pessoal (e quem me conhece sabe que ambos se fundem e eu não estou nem aí para quem diz que isso não deveria acontecer). A Copa – veja só – não faz a menor diferença na minha vida. Eu não posso parar o meu trabalho e a minha vida para ficar torcendo pela seleção de um punhado de homens que ganham muito mais do que a esmagadora maioria da população que para para vê-los jogar. Punhado esse que trabalha para um punhado ainda menor de homens que ganham ainda mais do que eles.

Mas sei que durante esse breve período, que a mídia alardeia ser um momento único e mágico (porque vendeu espaços publicitários mágicos no intervalo dos jogos, a preços estratosfericamente mágicos que aumentarão, magicamente, o recheio das contas bancárias de seus proprietários), a população, embevecida (desenterrei essa palavra), se esquece de seus problemas e atinge o êxtase ao ver a seleção lutar por uma vitória enquanto ela – a população – permanece estática, sem lutar e sem vencer coisa alguma. Mas se a seleção vence, é como se a vitória fosse de todos nós – olha que lindo! Então, a gente se sente menos mal por nossas frustrações particulares e públicas.

Anestesia. É mais ou menos isso o que esses momentos de emoção vazia trazem para quem bebe deles. Eu sou um ET que não gosta de feriados e um ET que não está minimamente interessado nesse mundial – e que também não está interessado em lutar contra o mundial. Não esperem por mim em passeatas segurando um cartaz escrito “Não vai ter Copa”. Vai ter Copa, a gente sabe que vai. Não sei exatamente como ela vai ser, com essa horda de bárbaros espalhada pelo país, principalmente perto das eleições, com a oposição desesperada para descredibilizar o Governo. Prefiro me ausentar um pouco do mundo, porque tudo promete caos e eu – sinceramente – tenho mais o que fazer.

Nessa vida cheia de guerras, lutas e batalhas (parecem a mesma coisa, mas nem toda luta é uma guerra, nem toda batalha é uma luta e poucas guerras têm só uma batalha), temos de escolher quais batalhas iremos lutar e de quais lutas vale a pena participar. Eu escolho as minhas guerras e a Copa não é uma delas. Eu amo o Brasil, amo ser brasileira e tenho simpatia por um certo patriotismo, mas não vejo nada disso nesse mundial. Vejo nesse mundial apenas interesses econômicos: da mídia, da Fifa, do Governo Federal, dos jogadores, dos governos estaduais, das empresas anunciantes que não estão nem aí para os figurantes que acompanham os jogos. Não estou advogando contra os interesses econômicos ou contra o capitalismo, estou apenas constatando um fato: a Copa nada tem a ver com patriotismo ou orgulho nacional. Sou contra a depredação do orgulho nacional, que os grupos políticos de oposição têm patrocinado, mas não posso tapar o sol com a peneira: a Copa não é do Brasil, não é pelo Brasil e não é para o Brasil.

Mas eu realmente espero que o Brasil sobreviva à guerra de interesses escusos que acontecerá travestida de festa do futebol. E que aqueles que também têm mais o que fazer não bebam desse alucinógeno verde e amarelo. Depois de nos induzirem a comprar alucinadamente no natal, festejar sei lá o que no carnaval, atrasar nossos trabalhos nos feriados absurdamente gigantescos do início do ano (em que também teríamos de comprar chocolates ovais superfaturados) e gastar horrores no dia das mães, agora querem nos fazer parar nossas vidas novamente, porque eles precisam ganhar mais um pouquinho do dinheiro que não temos. Não é isso que faz o Brasil ir para frente, me desculpem. Vou me isolar voluntariamente, com alívio. Tenho muita meditação a fazer, muitos livros para ler, muito trabalho para terminar e muitas pessoas para ajudar. Desculpe, Fifa e Globo, não vai dar para fazer figuração dessa vez.

Mais uma vez, Bergoglio

Quase nunca exponho minhas opiniões sobre a igreja católica porque religião é um assunto que desperta paixões…ou seja, toda e qualquer discussão a respeito acaba descambando para o lado emocional. E quando alguém me chama para uma discussão emocional, eu olho, respiro fundo e digo: “amiguinho, tenho mais o que fazer”. Mas passamos uma semana inteira tendo overdose papal e é difícil alguém conseguir não tocar no assunto.

No caso específico do Papa e o meu post que causou – e causa – histeria coletiva, minha indignação foi pela cara-de-pau de vender indulgências em troca de seguidores nas mídias sociais. Além disso, pelo uso de dinheiro público para um evento religioso em um Estado que se diz laico.

Eu não vejo TV. Não tenho tempo, nem paciência, as únicas coisas que acompanho pela TV são os programas The Love School e José do Egito. Minha informação vem de livros, revistas e internet. Mas não teve como não saber da cobertura da JMJ, feita pela mídia. É ainda mais absurdo ver de fora a maneira como a coisa tem sido conduzida. E o lastro que a visita de Bergoglio deixou foi algo do tipo: “oh, como ele é simples” ou, como disse a capa da Veja: “O papa dos pobres”

Não se iludam. Ratzinger saiu por estar com sua imagem desgastada pelos escândalos do Vatileaks. Bergoglio foi escolhido para fazer uma linha de falsa reforma da igreja, com uma maquiagenzinha básica, o papa bonzinho, simples, “do povo” para tentar evitar a diáspora dos jovens católicos para as igrejas evangélicas e diminuir o impacto das denúncias recebidas durante a gestão anterior, como se a mudança de pontífice mudasse a estrutura da igreja romana… Vou acreditar nessa conversa de “simplicidade e pobreza” quando ele abrir os cofres do Vaticano e doar toda a riqueza acumulada para os pobres da África…ou do Brasil, já que ele gostou tanto daqui.

 

 

PS: Para isso tenho um blog e não participo mais de grupos de discussão. Para escrever o que penso, expor minhas opiniões (quase sempre polêmicas, porque o mundo vai na onda do pensamento único) e contribuir com a pluralidade de ideias no mundo do cache do Google. Não para discutir com outras pessoas, porque nem tempo para isso eu tenho.