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Alien headphone

Pessoas entendendo errado o que eu digo, pessoas interpretando mal o que eu faço…em um nível tão ridículo, a tal ponto sem noção que eu não tenho a menor vontade de me justificar ou me defender. O que é bem diferente da reação que eu teria há alguns  anos.Hoje sei que as pessoas não são o problema. Elas não estão entendendo e nada do que eu disser, nenhuma explicação minha, nenhum argumento que eu usar vai fazer com que consigam entender. É como se tivesse um alien nos ouvidos delas, filtrando e distorcendo minhas palavras. Então eu fico quieta, não explico nada, “o justo não se justifica”.

Converso com Deus, explico para ele, sou bem sincera nessa conversa, entrego a situação e peço que Ele me defenda. Claro que não vou ficar passiva diante de qualquer ataque, existem ocasiões em que é necessário se defender, mas na maioria das vezes só traz desgaste e desvia o foco do que realmente deveríamos estar fazendo (trabalhando, estudando, buscando a Deus, sevindo a Deus, cuidando da família – dependendo do lugar onde acontece). Depois entrego cada um dos envolvidos nas mãos de Deus, pedindo para Ele  arrancar o alien das orelhas deles.

Não fico com problemas com as pessoas, ninguém em sã consciência gosta de ter um alien grotesco e semi-analfabeto pendurado nas orelhas. Ninguém em sã consciência gosta de ser injusto ou de distorcer as palavras de alguém ou de ver com maus olhos as atitudes de uma pessoa, pois isso faz mal, é negativo, traz consequências ruins. Se a criatura tivesse noção de tudo isso, não faria! Se faz é porque não tem noção, como é que eu vou ficar com raiva de uma pessoa que não tem noção do que faz? Isso não significa que eu não possa exigir respeito. Exijo, por onde eu for, porque da mesma forma procuro respeitar as pessoas. Mas não dá para dar espaço para o mal, não é mesmo? Tenho de aprender o valor do silêncio.

Vento do Moinhos

Horário de almoço, resolvi dar uma volta na região, antes do almoço propriamente dito. A chuva caía, discreta, como somente Porto Alegre sabe chover. Saquei a pequena sombrinha da bolsa e fui, charmosamente, subindo as lindas ruas do Moinhos de Vento. Não vi moinho algum, mas o vento me pegou a uma quadra e meia dali. Virou minha sombrinha do avesso, amassou, mastigou e cuspiu fora. Olhei e havia duas opções: rir ou chorar. Escolhi rir. As hastes quebradas, retorcidas, descolaram do tecido. Toda a estrutura desmoronara. Não houve outro destino possível, ela teve de ir para o lixo. Eu gostava dela, mas não pude fazer nada, nem curtir o luto, devido à situação periclitante. Felizmente consegui abrigo sob os guarda-sóis de um pub (porque nos outros bairros tem barzinho, mas o Moinhos tem Pub. Bairro chique é outra coisa).

Fiquei lá, parada, vendo a chuva chover, até que, como um enviado divino, um vendedor de guarda-chuvas, magro e moreno, surgiu oferecendo guarda-chuvas superfaturados. Em dias secos, eles custam dez Reais, mas em plena chuva, não menos de vinte. Fazer o quê? Lá se foi meu almoço, mas troquei vinte pila por um guarda-chuva grande, que o cara jurou que não se desmontava. Ok, saí toda feliz, armada com um novo guarda-chuva, de xadrez azul, bonitinho. Meia quadra abaixo, uma nova rajada de vento ensandecida veio por baixo do dito-cujo e virou as hastes e a tela do avesso. As hastezinhas sem-vergonha entortaram feio e somente aí eu percebi a péssima qualidade da coisa.

Todo um novo mundo se abriu para mim quando meu guarda-chuva virou do avesso. Os guarda-chuvas não são todos iguais. O tempo parou por um instante, vi as pessoinhas congeladas, e em seguida, em slow-motion, com seus guarda-chuvas e sombrinhas bem firmes, abertos, enquanto o meu dançava para lá e para cá, entortando-se a seu bel-prazer. Pensei: “onde raios essas pessoas compram seus guarda-chuvas? Como eles serão por dentro?”. Os guarda-chuvas não são todos iguais. O rapaz vendedor dos guarda-chuvas made in Ferno (certamente ele era enviado de uma entidade nada divina) passou novamente. Eu mostrei a ele o que havia acontecido e ele, cara-duramente disse que nada poderia fazer e ainda me advertiu que eu deveria cuidar melhor do produto…hahahaha…eu disse: “com certeza, da próxima vez não sairei com ele na chuva, para não estragar”.

Os danos foram irreversíveis. Duas hastes entortaram-se como os talheres de Uri Geller. O mais interessante é que eu ficava parada, esperando o vento cessar. Nada de vento. Caminhava. O vento aparecia, subitamente. Se eu parasse, ele parava também. Ele me perseguia. Ou eu era o vento. Resultado: fiquei sem almoço e cheguei na imobiliária encharcada como se tivesse tomado um banho na rua. Feliz – porque eu sou uma pessoa feliz – pela oportunidade de encarar uma situação extrema, na qual é praticamente impossível encontrar um lado bom. Eu sempre encontro. Encontrei vários. Alguns foram arrastados pelo vento, mas eu os encontrei, não importa. E fiquei feliz por não ter feito uma escova ontem, ou teria perdido sessenta Reais ao invés de vinte.

Entrei na imobiliária e foi impossível não atrair nenhuma atenção, com aquela cara de mergulhada. Anunciei o que acontecera para todo o prédio, e ninguém perguntou mais. Fiz aquela cara de alienígena, que faz com que ninguém mais me pergunte nada, mesmo, e sentei à mesa para escrever este texto. Pensando, ainda, o que as rajadas de vento têm contra a minha pessoa. Ou qual é a conexão que as rajadas de vento têm comigo. Por que o vento se move quando me movo? E onde as pessoas compram bons guarda-chuvas? Uma tempestade maluca de repente altera todas as prioridades do seu dia.