Mês: outubro 2015

Você checa seu celular tantas vezes assim?

Não sei vocês, mas eu achei esses dados assustadores: Uma pesquisa feita pela Deloitte aponta que o brasileiro olha seu smartphone, em média, inacreditáveis 78 vezes por dia.

As mulheres, 89 vezes. Os homens, 69. Jovens de 18 a 24 anos olham, em média, 101 vezes por dia, duas vezes mais que as pessoas entre 45 e 55 anos. A pesquisa ainda mostrou que 57% checam o celular nos primeiros cinco minutos depois de acordarem (sem contar quem olha o aparelho apenas para desligar o despertador).

Ao ver esses dados, me lembrei de um rapaz que contou que sua esposa passa o dia inteiro no celular a ponto de isso estar prejudicando seriamente o relacionamento. Ele já reclamou, já falou, mas ela reage agressivamente, como se tivesse o direito de passar o dia colada ao aparelho ignorando o marido. Desculpe avisar, ninguém tem. A criatura está em um estado zumbi, tão desprovida de cognição que não percebe o casamento escorrer pelos seus dedos enquanto segura o smartphone. Um excelente marido que não terá paciência para sempre.

As pessoas andam tão dependentes de seus gadgets que não percebem a escravidão. Não se dão conta de que suas vidas estão sendo roubadas, suas mentes estão sendo roubadas e seu tempo está sendo roubado. Estão perdendo muito, sem sequer notarem. Quando abrirem os olhos, talvez culpem o azar, talvez culpem os outros. Mas, sem estarem acordados, jamais perceberão o próprio erro.

O maior problema dessa escravidão é que ela dá a ilusória sensação de liberdade, de controle. O excesso de informação e as distrações são dois entorpecentes. Enquanto está sob os efeitos desses tóxicos, você não sente a dor, você se desliga dos seus problemas. Você se sente importante (veja quantas curtidas! Quantos seguidores! Quantos concordando, quantos discordando…). Você se sente amado.

Você cria uma vida para consumo externo. As viagens são todas ótimas. Todos os dias são lindos. A vida fica mais bonita com um filtro. Mais dramática. Mais alegre. Você está sempre dando a volta por cima, sempre forte, sempre rindo. Sempre cercado de amigos. Sempre conversando. Como convencer uma pessoa assim a desligar o celular e encarar sua vida vazia?

Smartphones e tablets foram feitos para sugar seu cérebro e o deixar escravizado à rede. O recurso de saber se sua mensagem foi ou não visualizada o obriga a responder e a se manter na conversa, a se manter disponível mesmo quando você não está. Se cair nessa, é um poço sem fundo.

O segredo – que não é segredo algum – é tomar as rédeas da situação e colocar as coisas em seus devidos lugares: a tecnologia é uma excelente ferramenta, mas quem tem de estar no controle é você. Caso contrário, a tecnologia será um meio e você será a ferramenta a ser manipulada por quem realmente está no controle da coisa toda.

E se perceber que sua vida sem internet é vazia e sem graça, e que você acaba fugindo para o mundo virtual sempre que precisa enfrentá-la, pare agora mesmo. Pare tudo. Encare sua realidade e assuma o compromisso de mudar. Identifique o problema e trabalhe por sua libertação. Sacrifique o que for preciso para isso. Está ao alcance das suas mãos.

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PS: Eu tenho uma teoria sobre onde isso tudo vai parar. E ela me convenceu tanto que faz parte da história de um dos livros que eu estou preparando (e que – prometo – ficarão prontos antes de Jesus voltar rs), uma ficção ambientada em um futuro próximo.

Tradição, hospitalidade e sonegação de impostos

hotel

Em setembro, o jornal italiano Il Fatto Quotidiano denunciou: um número considerável de conventos e monastérios da igreja católica que funcionam como hotéis sonegam milhões de Euros em impostos na Itália. A reportagem descreve esses hotéis como uma mistura bizarra de hotel de luxo, freiras e imagens religiosas. O ambiente favorece a valorização dos locais como uma opção de hospedagem com apelo histórico.

Domus Sessoriana, por exemplo, era um mosteiro do século 10, anexo à Basilica di Sante Croce in Gerusalemme. Hoje, um hotel cuja diária chega a custar 140 euros (cerca de seiscentos reais), tem wi-fi, ar condicionado, lavanderia, restaurante, piscina… No site do hotel, o ambiente é vendido como um dos maiores atrativos do local: “Única em seu gênero, concilia o charme da história que a atravessa com a funcionalidade de um hotel. Venha se envolver nesta atmosfera sugestiva!” — convida a propaganda.

Enquanto se aproveitam da estrutura religiosa para cobrar valores de mercado, em concorrência desleal com outros hotéis (que não contam com edifícios medievais como atrativo), esses estabelecimentos se declaram ao governo como “abrigos sem fins lucrativos” para se isentarem de impostos. Um “abrigo sem fins lucrativos” que cobra seiscentos reais por noite…imagina se tivesse fins lucrativos! O rombo nos cofres públicos chega a 800 milhões de euros ao ano (algo em torno de 3,4 bilhões de reais).

Questionado durante entrevista à rádio portuguesa Renascença, o Papa deu uma resposta bem política. Disse que às vezes “a tentação do deus dinheiro” pode falar mais alto. Segundo ele, não há problema em um convento funcionar como hotel “desde que pague imposto, caso contrário, o negócio não é limpo”. O comentário de um leitor do jornal Il Fatto Quotidiano resume meu pensamento ao ler a declaração do Papa: “então, por coerência, pague!”. Mas, obviamente, até agora ninguém pagou nada.

Há menos de dois anos, o mundo estava chocado com as denúncias do vatileaks, documentos que escancararam o que havia de mais podre dentro do Vaticano: disputa de poder, corrupção, conspirações e denúncias de lavagem de dinheiro — inclusive da máfia. Difícil acreditar que haja, realmente, interesse em negócios limpos. Os escândalos que culminaram com a renúncia de Joseph Ratzinger e com a eleição de Jorge Bergoglio para o papado foram convenientemente abafados pelo esforço midiático de marketing em torno do novo papa. Porém, de vez em quando temos esses vislumbres da realidade: o Vaticano continua o mesmo.