Mês: outubro 2015

Uma taça de vinho ou um copo de água?

 

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Uma das coisas de que mais gosto na novela Os Dez Mandamentos é o conteúdo dos diálogos. Todos os dias somos presenteados com discursos profundos, mas que soam naturais. Incrível como a autora conseguiu colocar Moisés anunciando as pragas ao Faraó (e Faraó respondendo) às vezes dizendo versículos inteiros, com a linguagem bíblica, de forma totalmente natural e se encaixando no contexto.

Quando Faraó, ao pedir o fim da praga dos gafanhotos, pede “tire de mim esta morte”, eu, sempre que lia, achava meio exagerado. Sempre estranhei essa frase, mas na novela, com todo o contexto, ficou muito natural. Excelente trabalho de direção, de atuação e de toda equipe, sem dúvida. Mas o texto se encaixar é fundamental.

Então, hoje tivemos uma conversa entre o cozinheiro Gahiji e Homem-Abajur Uri sobre a diferença entre a “alegria” que se vive no palácio e a alegria que eles experimentaram entre os hebreus. Uri, que, mesmo depois do papelão ao qual se submeteu durante a nona praga, ainda não se convenceu de que não é egípcio e seu título de nobreza não vale coisa alguma, tentava argumentar com Gahiji que a vida no palácio é melhor que a vida dos hebreus.

Em certo ponto da conversa, o cozinheiro do Faraó diz que a alegria dos hebreus é muito mais profunda que a dos egípcios e explica: “Para ficarmos alegres, nós precisamos tomar vinho!”. Para mim, essa frase sintetizou a diferença entre a “felicidade” superficial e ilusória que o mundo oferece e a paz interior que tem quem vive pela fé.

Não vejo problema prático em alguém gostar do gosto de vinho, cerveja, licor (embora, por ter paladar extremamente apurado, eu ache qualquer bebida alcoólica horrorosa), etc. O problema é que em 99% das vezes as pessoas não bebem porque o gosto do troço é bom. As pessoas bebem porque querem se sentir bem. Elas precisam da sensação que a bebida traz. E, muitas vezes, confundem apreciar a sensação com apreciar o sabor. Sentimentos, emoções e estímulos sensoriais têm o péssimo hábito de se entrelaçar e se confundir, mesmo.

Mas isso não acontece apenas com bebida alcoólica. Acontece com tudo o que estimula sensorialmente e gera uma sensação agradável ou emoção positiva. Ainda que seja rápido. Ainda que por alguns instantes. Ainda que cause sequelas desagradáveis. Música. Danças. Namoro. Sexo. Internet. Remédios. Passeatas. Compras. Festas. Drogas. Filhos. Religião. Livros. Viagens. Trabalho. Comida.  Nem todas essas coisas são ruins; algumas são até muito boas e necessárias. O problema é que a maioria as utiliza como um gatilho de alegria momentânea.

Muitos apoiam sua felicidade em coisas, momentos e pessoas. Acreditam que alegria é um sentimento e, por isso, vivem em uma gangorra emocional angustiante. Já passei por isso e, por um lado, entendo o fato de Uri não entender a descoberta de Gahiji. Meu estado constante era de melancolia, entrecortado por momentos esporádicos de alegria. E, para piorar, o mundo dizia que era assim que as coisas tinham que ser.

Em um daqueles ditados que a gente não sabe de onde vêm, mas que as pessoas tomam como verdade incontestável, eu ouvia que “não há felicidade, o que existem são momentos felizes”. E — dizia o mundo — o jeito é se conformar com isso.

Uri não conhece nada diferente e se conformou com isso. O vazio que existe dentro dele é compensado pelo brilho das pedras do palácio. Gahiji, que sempre esteve em busca de algo melhor, não se conforma com o vazio. Ele conhece a felicidade trazida por uma comida saborosa e bem preparada. Mas sabe que a alegria de um banquete desaparece assim que a barriga se esvazia. Uri conhece a alegria trazida por uma joia bonita. E o engano dessa alegria é que ela depende do que os olhos veem. E os olhos mantêm por mais tempo a ilusão.

Gahiji percebeu nos hebreus uma alegria que independe do que se come e do que se vê. É como a água que Jesus ofereceu à samaritana: “quem beber da água que Eu lhe der, jamais terá sede”. A pessoa que conhece essa nova forma de viver, não depende mais de estímulos sensoriais, de sensações, de emoções.  Alegria profunda e paz interior como estado constante, a certeza de que absolutamente nada poderá destruir o que você tem dentro de si, pois se fortalece a cada luta, a cada dificuldade.

Trocar o vinho da alegria passageira pela água que extingue a sede eternamente pode ser uma decisão difícil quando o que se vê é apenas um copo de água e uma taça de vinho. Mas quem consegue perceber o que está por trás de cada uma dessas escolhas, sem se guiar pelo que seus olhos veem ou seu corpo sente, descobre o quanto vale a pena.

O boato do sabonete ungido e a imbecilidade humana

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Soube que viralizou a “notícia” de que a Universal estaria vendendo “sabonetes ungidos” a 110 reais pela internet. A pseudonotícia foi comentada em um site “gospel”, inclusive com comentários de um pastor de outra denominação, invocando Lutero e dizendo que tem “vergonha da barganha promovida pelos adeptos da teologia da prosperidade”. Eu tenho vergonha é da irresponsabilidade de quem publica e comenta boatos sem o mínimo de apuração.

Porque, caro leitor, você não precisa ser jornalista para fazer uma apuração básica. Hoje em dia, todo cidadão é gestor de conteúdo e tem a obrigação de aprender a checar a veracidade das informações que recebe, até para não se transformar em massa de manobra.

Eu não precisei de dez minutos para pesquisar a notícia e descobrir que era um boato descarado. O tal site que vendia os sabonetes não tem nada a ver com a Universal, tanto que comercializa sabonetes com o logotipo de outras denominações. E o tal sabonete não custa 110 reais, esse valor é o pacote com 500, o que me leva a crer que o site seja de algum sem-noção que não sabe como funcionam as campanhas e resolveu ter um “lucrinho” tentando vender sabonetes a granel.

Porém, o boato foi suficiente para que preconceituosos de plantão saíssem compartilhando e opinando como robozinhos pré-programados. Isso apenas escancara o que está dentro dessas pessoas. O que me deixa muito indignada com esse tipo de comportamento é a total falta de cuidado com as palavras. A total falta de ética de quem distorce a verdade e propaga boatos. A pessoa acha que, porque (na cabeça dela, pelo julgamento dela) o outro é desonesto, ela pode ser, também. Pode falar a bobagem que for, sem o menor interesse em procurar a verdade.

Pensa: “é, eles são ladrões e enganam os otários”, veem um Hoax que diz isso e compartilham, não porque aquela notícia tem fundamento, mas porque ela confirma seus preconceitos. Conferem as informações que recebem com seus próprios preconceitos, como se o preconceito fosse um bom juiz.

Viu uma denúncia e teve vontade de compartilhar? Faça um favor à humanidade: respire fundo, desconfie e vá pesquisar um pouquinho no Google. Se você tem um site ou um blog, faça uma pesquisa básica antes de dar sua opinião. Caso contrário, avise aos seus seguidores que o que você mantém é uma página de fofoca.

Suponhamos que eu esteja preparando um artigo sobre uma denúncia contra determinado cidadão. Não é nada bombástico, é uma notícia fria, o cara está sendo investigado há bastante tempo. Porque já estou suficientemente indignada com as coisas que descobri a respeito e meus ânimos estão inflamados, pesquiso informações e opiniões que possam inocentá-lo aos meus olhos e me deem um novo ângulo da situação, para tentar entender os dois lados, tirar minha conclusão e passar uma opinião sensata ao leitor. Se, depois de tudo isso, minha opinião se mantém, poderei passá-la ao leitor com base e argumentos. Entendo que isso é comportamento ético e respeitoso com quem investe seu tempo em ler o que escrevi.

Se não tenho tempo de fazer isso, simples: não compartilho. Escrevo sobre outra coisa que não exija pesquisa, em que eu não corra o risco de cometer uma injustiça. Se os outros têm tempo para fofoca (porque isso é o que notícia não confirmada é), problema é deles; eu tenho certeza de que aqueles que são da Verdade, têm compromisso com a verdade. E quem tem compromisso com a verdade, não admite ter parte com mentiras.

Guarda a tua língua do mal, e os teus lábios de falarem o engano.
Salmos 34:13

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PS: A Universal respondeu oficialmente, desmentindo a tal “notícia” do site gospel. A propósito, salve aí nos seus favoritos o link em que essas notas são publicadas: http://www.universal.org/unicom 

PS2: A quem é cristão de verdade, eu recomendo que não perca seu tempo com esses sites “gospel”. De “gospel” eles não têm nada.