Mês: janeiro 2016

Cuidado com o Evangeliquês – Parte 1

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Todos os grupos têm uma linguagem própria. Advogados têm seus jargões jurídicos, médicos têm seus jargões, funkeiros têm seus jargões, adolescentes têm seus jargões…não importa o tipo de grupo. A linguagem ajuda a unificar internamente e a diferenciar externamente. Provavelmente por isso temos no meio evangélico uma série de jargões e uma linguagem própria tão peculiar que eu chamo de evangeliquês. Em algumas igrejas, é quase um dialeto à parte.

Os problemas disso são infinitos. Eu mal conseguiria começar a listar. O principal deles, porém, é que falar evangeliquês vai contra um dos principais mandamentos do cristianismo, que é espalhar o Evangelho. Como você vai espalhar o evangelho adequadamente usando uma ferramenta que serve principalmente para fechar o grupo em um gueto e afastá-lo das pessoas de fora? E nem é por mal. Chega um momento em que você está tão envolvido com as atividades da igreja que começa a falar lá fora do mesmo jeito que fala no meio do seu grupo. É natural.

Há uma linguagem dentro da igreja que é perfeitamente compreendida pelo público interno. Mas ao estender isso para quem não está na mesma vibe que você, surge o choque cultural. Você começa a ser mal compreendido. As pessoas já não entendem mais suas palavras. Elas já o acham ET por ir tanto a uma igreja. Agora começam a achá-lo ET por estar falando coisas sem sentido (na cabeça delas).

Absurdamente, muitos cristãos não são perseguidos na família ou no trabalho por seu comportamento correto, mas, sim, por seu linguajar esquisito. Parecem, aos olhos dos outros, fanáticos. Principalmente quando, além das palavras esquisitas, começam a falar de assuntos que ninguém de fora entende (e nem quer entender).

O marido (não cristão) fala alguma coisa negativa para a esposa cristã e ela já responde com um: “Tá amarrado, em nome de Jesus!”. Ou fica falando “Deus isso”, “Deus aquilo” em momentos totalmente fora do contexto. Quanto mais ouvimos uma palavra, menos atenção damos a ela. Não gaste o nome “Jesus” ou a palavra “Deus” à toa, por favor.

Temos que ter equilíbrio e entender que a vida cristã começa de dentro para fora. Não é pelo muito falar que você irá converter alguém. Não precisa falar de igreja o tempo todo, não precisa dizer “ungido”, “aleluia” e “glória a Deus” o tempo inteiro para provar que é de Deus. Nem chamar os outros de “perturbados”, “pervertidos” etc. Devemos nos diferenciar pelo nosso comportamento, pelo nosso caráter.

Somos ETs pela nossa maneira de pensar, porque nossos valores são diferentes, porque nossa visão de mundo é outra, não porque falamos esquisito e nos vestimos com sacos de batata. Nossa linguagem deve ser limpa, sem a pobreza de palavrões, mas também sem o evangeliquês, que também empobrece o discurso.

E não são apenas os exemplos extremos, como “aleluia” e “tá amarrado”, mas também os termos que usamos no dia a dia. Se eu disser para alguém de fora da igreja que fulano é “muito de Deus”, o que você acha que essa pessoa vai entender? Talvez entenda o que eu quero dizer, mas talvez não entenda. De qualquer forma, meu linguajar vai causar estranhamento o que, por si só, prejudica a comunicação.

Tente descrever o que é alguém “muito de Deus”. O que você quer dizer com isso? Que tipo de pessoa você está descrevendo? Pense um pouquinho mais e traduza seu pensamento em palavras que a pessoa esteja habituada a ouvir, para que ela entenda sem restrições e com o mínimo possível de barreiras.

O próprio apóstolo Paulo se esforçava para adequar seu discurso aos ouvintes. Ele não poderia falar como judeu para os não judeus, porque quando a linguagem que você usa para falar é diferente da linguagem que seu interlocutor está habituado a ouvir, você cria um ruído que corta o canal de comunicação:

“E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.
Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.
Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.
E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele.”
1 Coríntios 9:20-23

E outra coisa, você ganha a atenção das pessoas muito mais por suas atitudes e pelas coisas boas que tem dentro de você do que por qualquer discurso. Todos nós já conhecemos pessoas que se diziam cristãs, mas tinham mágoa, eram maldosas, desonestas ou descontroladas. Isso porque eram fluentes em evangeliquês e viviam dentro de uma igreja, mas não se preocuparam com o seu interior. Então, se quiser ajudar alguém, é exatamente nisso que deve focar: no tipo de pessoa que você quer ser.

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O maior poder que você tem

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“Bom dia Vanessa!!! Eu estou passando por um momento difícil, é como um teste de paciência, não tem como ir para lugar algum, esperando que os dias passem e o jeito é só confiar em Deus. Às vezes, parece tão difícil confiar em Deus, porque para tudo que vamos fazer temos de ter o Espírito Santo, e eu ainda não tenho. Fico com medo de desistir de Deus, porque eu não quero envergonhar Ele. Ás vezes, não entendo nada de como é o ‘crer’, como é a ‘fé’, para eu entender as coisas espirituais, eu preciso ser espiritual e como vou ser espiritual se ainda não tenho o Espírito Santo? Quase todos os obreiros da Igreja sabem da minha vida, porque tenho que pedir orientação para quase tudo e já estou com vergonha disso. Obrigada!!!”

– Larissa Souza

Nãããããããããããão!!!! Quem disse para você que precisa ter o Espírito Santo para confiar em Deus??? Ou que precisa ter o Espírito Santo para ser espiritual? As coisas são tão mais simples do que isso, Larissa. Não complica, não rs. Olha só: todo mundo que recebeu o Espírito Santo não tinha o Espírito Santo quando O recebeu. Ninguém nasce com o Espírito Santo.

Lembre-se de que tudo o que a Bíblia diz antes do livro de Atos (ou seja, quase toda a Bíblia) foi dito ANTES de termos acesso ao Espírito Santo. Ou seja, foi escrito para pessoas que não eram batizadas com o Espírito Santo. Logo, tudo o que a Bíblia diz que é possível fazer, é possível fazer mesmo sem ter o Espírito Santo.

E isso inclui: confiar em Deus, obedecer à Palavra dEle, entender o que Ele diz, discernir o certo do errado, se arrepender, se consertar, se voltar para Ele, pedir a direção dEle (e receber a direção) e até mesmo nascer de novo! (Nicodemos não tinha o Espírito Santo e Jesus se espantou de ele não entender sobre o Novo Nascimento.) Claro que, para se manter nessas coisas, você vai precisar do Espírito Santo. E é justamente aí que você O recebe.

Você colocou na cabeça que é difícil e que não consegue porque não tem o Espírito Santo (será que foi você que colocou isso na cabeça, mesmo? Desconfie desses pensamentos de impossibilidade…) e, por isso, está tão confusa. Mas você tem aí tudo o que precisa ter para fazer a sua parte. Mesmo sem o Espírito Santo dentro de você, é a sua decisão que define o seu futuro, inclusive espiritualmente.

Por que você diz que tem medo de desistir de Deus? Mais uma vez eu vou pedir: desconfie dos seus pensamentos. Esse é um tipo de pensamento que vem rastejando, sutilmente, fazendo você achar que é tão inconstante que, a qualquer momento, pode dar a louca e desistir de Deus. A intenção é colocar uma sementinha dentro de você que alimente esse medo até convencê-la a realmente desistir. E, aí, você vai pensar que foi ideia sua… Mas não foi. Pensamentozinho bem encomendado esse, viu?

O antídoto para o pensamento de medo é sempre fazer o contrário do que o medo pede. Nesse caso específico, é só decidir que nunca vai desistir. Pronto. Bem teimosa, mesmo. Na época em que eu estava bem confusa assim, em um raro momento de inteligência espiritual tomei duas atitudes que eu creio que estão dando frutos até hoje: eu pedi para Deus não desistir de mim. (Hoje sei que Ele não desiste de ninguém, mas eu fiz um pedido bem específico, porque também tinha medo de fazer bobagem.)

E completei esse pedido com um compromisso, eu disse: “eu decido nunca sair da igreja. Decido nunca desistir. Por mais difícil que pareça, aconteça o que acontecer, eu vou ficar aqui até morrer”. E esse foi o pacto que eu fiz com Deus: Ele nunca desistiria de mim e eu nunca desistiria dEle. E isso foi muito antes de eu conhecê-Lo de verdade.

O maior poder que temos é o poder de decisão. O diabo não tem força nenhuma contra isso. Ele só pode entrar onde a gente permite. Por isso, planta pensamentos, sugere ideias, nos incita a tomar atitudes de acordo com os planos dele…assim, nos leva a abrir as portas que ele quer. Somos nós que abrimos as portas. E quando usamos nosso poder de decisão a nosso favor, fechamos a porta na cara do inferno inteiro.

Você tem tudo o que precisa para conseguir o que quer. Para ser espiritual, você não precisa ser batizada com o Espírito Santo, você precisa decidir se tornar a pessoa que Ele quer que você se torne. Você vai às reuniões na igreja para ouvir o que Deus quer lhe falar. Leve um caderninho para anotar o que Ele disser. A Palavra que o pastor prega não é um discurso dele. Se você for à igreja ouvir o pastor, você só vai ouvir o pastor. Mas se for com a intenção de ouvir Deus, as coisas que o pastor disser terão um significado diferente para você. Só você e Deus saberão.

Talvez você não entenda tudo no começo. Grande coisa. Não tem problema nenhum, quem disse que precisa entender tudo? Entenda um pouquinho que seja e pratique o que entendeu. Viva aquilo que entendeu. No Reino de Deus, tudo o que a gente cultiva, se multiplica.

Não queira se encaixar em padrões, achar que precisa ser obreira, que precisa entrar no grupo X ou Y, que precisa dar três pulinhos em um pé só, ou sei lá mais o quê. As coisas são simples. Um passinho de cada vez. Um degrauzinho de cada vez. Uma decisão de cada vez. Uma palavra de cada vez. Sabendo que todas as coisas estão indo para o lugar certo, pois Deus está aí, ao seu lado, ajudando a cada etapa. A fé é isso aí. 🙂

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PS: Escrevi isso esses dias, mas vai que alguém não leu… A verdade sobre seus pensamentos (clique para ler)

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