Categoria: Arte

Topos de bolo

Artigo originalmente publicado no Portal Organizando Eventos na época em que eu ainda estava trabalhando ativamente com esculturas personalizadas de reprodução de rostos em porcelana fria. Parei temporariamente com essa atividade.

Esculturas Personalizadas para Topo de Bolo

Vanessa Lampert

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Fotos: Em sentido horário, noivinhos feitos por Sílvia Dias e noivinhos feitos por Flávia Pina, ambos em estilo real e esculpidos em Porcelana Fria.

MATERIAIS E ESTILOS

Elas não são mais novidade, mas têm sido cada vez mais procuradas, consolidando seu lugar de destaque como uma belíssima e exclusiva recordação de um momento especial, ao lado do álbum de fotografias e do vídeo. Sensação em qualquer festa de casamento em que apareçam, as esculturas personalizadas, com reprodução do rosto dos noivos, são muito mais do que um simples topo de bolo: são uma obra de arte.

As esculturas ultrapassaram os limites da festa de casamento e passaram a ser procuradas para bailes de debutantes, ou como presentes especiais para aniversário de casamento, formaturas, festas de aniversário ou simplesmente como uma lembrança muito especial. No entanto, muitas pessoas ainda as confundem com os tradicionais noivinhos de bolo e não entendem a diferença entre os diversos trabalhos existentes no mercado. É preciso ficar atento a alguns detalhes, para não levar gato por lebre:

Por escultura personalizada, entende-se uma peça com reprodução do rosto dos noivos, até o nível máximo de semelhança permitida por cada técnica, baseada em fotos do cliente. O nível de semelhança depende majoritariamente do número de fotos oferecidas, depois, da habilidade do escultor, seguido pelo tipo de técnica escolhido.

O material pode ser tanto cerâmica plástica (polymer clay) quanto porcelana fria (biscuit), sendo que o primeiro, apesar de mais resistente a umidade (por necessitar de queima para a secagem) é também menos resistente a quedas e mais fácil de trabalhar os detalhes. A porcelana fria exige técnica, habilidade e domínio da massa pelo artista, mas quando bem conduzida traz um resultado bastante delicado. O resultado do trabalho dependerá muito do talento e do domínio que o escultor tiver da massa, então o futuro cliente deve ficar bem atento às fotos de trabalhos anteriores, para ver qual o estilo do profissional e evitar frustrações.

Não adianta pegar um trabalho muito detalhado, perfeito em alguma pesquisa pela internet de um artista com preços mais altos e exigir de alguém com preço muito inferior um trabalho igual, você irá se frustrar. A grande vantagem da escultura personalizada também pode ser sua maior desvantagem, dependendo do profissional escolhido: a sua exclusividade e sua natureza autoral.

A peça que você encomendar será única, terá a sua cara (literalmente) e servirá como retrato tridimensional de um de seus momentos mais felizes. Por isso, vale a pena investir em um trabalho de qualidade, sem distorções, em um artista realmente profissional, que saiba o que está fazendo. É importantíssimo, porém, ter em mente que existem vários estilos de escultura dentro da categoria de esculturas personalizadas:

Estilo personalizado (ou humanizado): Não se aproxima traços faciais, apenas procura-se reproduzir penteados, cor de cabelo, de pele e de olhos, modelo das roupas e sapatos. Nesse estilo, frequentemente é necessário lançar mão de acessórios que indiquem a profissão e interesses dos noivos, para que sejam realmente considerados exclusivos. É confeccionado com técnicas de artesanato e é um estilo intermediário entre os noivinhos infantilizados (bolinha ou bonequinho) e os realmente humanos (reais).

Estilo humano: Há a preocupação em tentar aproximar, além do já alcançado com o estilo personalizado, também os traços faciais mais marcantes. Mas as limitações dessa técnica (que também utiliza métodos do artesanato, com passos definidos) não permitem ao artista alcançar altíssimo grau de semelhança com a pessoa retratada.

Estilo real: Procura-se reproduzir da melhor maneira possível os traços faciais dos noivos, utilizando técnicas de escultura, que permite um trabalho mais intuitivo e minucioso. O resultado final costuma agradar até às pessoas mais exigentes, com senso estético aguçado. Essa técnica é mais trabalhosa, pois permite a personalização em absolutamente todos os detalhes: desde os rostos, traços faciais, cabelos, roupas, cor da pele, sapatos e movimentos, até acessórios, unhas, etc. Esse estilo é geralmente escolhido por pessoas com ótima auto-estima e que preferem esculturas que realmente se pareçam com elas.

Em todas as técnicas podem ser acrescentados acessórios que identifiquem hábitos e interesses dos retratados, como animais de estimação, livros, estetoscópio (ou outros objetos de trabalho), malas, placas, camisas de time, bola de futebol, miniaturas de alimentos, bebidas, etc. A criatividade de quem vai encomendar é o limite. No entanto, a beleza e delicadeza do resultado final dependerá da habilidade do artista contratado, já que em nenhuma dessas técnicas admite-se o uso de moldes. Tudo é feito, tingido ou pintado à mão, fazendo com que cada uma das esculturas seja exclusiva e inimitável.

É importante ressaltar também que não há uma padronização nem de estilos, nem de tamanhos. Esculturas maiores ( 20 cm ou mais) costumam custar menos do que as menores (17cm, 15 cm ou menos), já que detalhes menores são infinitamente mais complicados de se fazer do que os maiores. Fique atento também ao seguinte: cabeças maiores exigem menor habilidade, menos trabalho e podem significar menor valor, embora um trabalho bem proporcionado seja muito mais delicado e esteticamente melhor apresentado, algumas pessoas preferem as cabeças grandes, por enxergar nelas um “quê” de caricatura.  Aliás, o “estilo caricaturado” (ou caricaturizado) é algo bem pouco definido no meio das esculturas personalizadas. Teoricamente, a idéia seria reproduzir em escultura os traços exagerados das caricaturas. No entanto, nem sempre isso funciona na prática. Muitas pessoas que não sabem fazer estilo real dizem fazer “caricaturado” para justificar desproporções e deformidades da peça pronta. O estilo caricatura geralmente é marcado por corpos minúsculos e pouco detalhados e cabeças exageradamente grandes, com traços faciais bem marcados, levados ao exagero. Muitos clientes, sem saber a definição de cada estilo, encomendam caricaturados esperando estilo real e se decepcionam ao receber aquela peça cabeçuda e com uma boca enorme, e não acham a menor graça em algo que se propunha a ser bem-humorado. Por isso é bom informar-se bem antes de fechar negócio.

PREÇOS, PRAZOS E ALERTA

Falando em negócio, os preços variam entre R$ 300 e R$ 1.250, de acordo com a técnica e o nível de semelhança conseguido (que pode traduzir-se por tempo de trabalho e esforço dispendido). Ainda bem abaixo do valor das esculturas artísticas exclusivas feitas para decoração ou exposição, esse preço nem sempre é bem compreendido por quem busca um topo de bolo, mas não costuma ser desvalorizado por quem quer um trabalho de elevada qualidade artística.

Existem no mercado preços inferiores a R$ 300? Sim, existem, mas por nossa experiência gostaríamos de alertar aos futuros clientes que não confiem em preços muito baixos, pois dificilmente eles trarão bons resultados, principalmente no estilo real (na verdade, trabalhos em estilo real têm preço mínimo de R$ 500. Pelo trabalho para confeccionar uma peça e o tempo gasto nesse processo não há como alguém cobrar menos do que isso e garantir excelente resultado, a menos que não viva disso e pegue pouquíssimas encomendas em um ano) Quanto melhor a técnica e mais delicado e perfeito o resultado de semelhança e acabamento, mais caro costuma ser a peça, pois o artista deve investir em cursos, em atualização frequente, para obter um bom nível de controle de massa e de reprodução facial.

Ainda sobre preços muito baixos, existem profissionais-fantasma anunciando pela internet, especialmente no orkut, apresentando fotografias de peças de outras pessoas, com preços bem abaixo do mercado, com o objetivo de cometer estelionato, já que obrigatoriamente, para a reserva de vaga, o cliente deve depositar um sinal no ato da encomenda. Por isso pesquise o profissional antes de contratar, tenha certeza de que ele existe e que as peças que apresenta são mesmo dele.

DICAS NA HORA DE ENCOMENDAR

Fuja de preços baixos demais, faça a encomenda com no mínimo três meses de antecedência, não deixe para fazer orçamentos em cima da hora. Olhe com atenção os sites dos artistas escolhidos antes de entrar em contato, pois muitos já colocam o preço e condições de pagamento expostos no próprio site. Escultores enviam para todo o país por sedex (pago pelo cliente. Como as peças são leves, não sai caro) e costumam não trabalhar com lembrancinhas, apenas com esculturas, e por isso podem dar toda a atenção para os detalhes de sua peça.

Explique direitinho como você quer a escultura, pois depois de finalizada pouquíssimas alterações podem realmente ser feitas sem prejudicar o prazo de entrega. Por isso, certifique-se de ter explicado bem, de preferência faça isso por escrito (artistas sérios costumam ter um questionário pronto para o cliente), para evitar problemas futuros.  Não economize nas fotos, envie quantas puder, em diferentes ângulos, principalmente de rosto, com a expressão que deseja na escultura (sorrindo ou sério), para garantir o máximo de semelhança.

Procure evitar muito uso de tecido nas esculturas, para diminuir o risco de acúmulo de poeira quando a escultura estiver exposta em sua casa. Fique à vontade para conversar com o artista sobre isso, nunca se esqueça que a sua escultura não pode ser encarada como um simples topo de bolo, ela tem de durar muito e ser parte da decoração de sua casa, de seu escritório ou de seu quarto, para trazer sempre as lembranças daquele momento feliz e das emoções envolvidas no evento.

Artistas de esculturas personalizadas costumam aceitar parcelamento do valor total e negociar prazos, desde que a última parcela já esteja paga no envio da peça, portanto não tenha medo de perguntar sobre preços e prazos, tire todas as suas dúvidas nos primeiros contatos, mas já tendo em mente todas as informações que obteve neste artigo. Esculturas personalizadas em porcelana fria, quando bem feitas e bem armazenadas têm prazo de validade indefinido, mostrando ser um investimento que vale muito a pena, principalmente para quem valoriza a qualidade e o resultado final e sabe o que realmente quer.

 

E o biscuit?

Ainda sobre o post anterior,  já me antecipo a qualquer questionamento nesse sentido, pois sei que a maioria dos acessos deste blog vem de buscas por assuntos relacionados a biscuit e escultura. Então não é possível viver de noivinhos topo de bolo? Não é possível largar meu emprego para viver de esculturas personalizadas?

Não é minha intenção destruir o sonho de ninguém, por isso é absolutamente necessário que eu escreva este post. É claro que é possível viver de novinhos topo de bolo, desde que você cobre um preço justo por eles. Não faça casais a R$150 que você rapidamente vai morrer de fome, amiga. Não vale a pena, a menos que você confeccione monstrinhos personalizados. Aí tanto faz, faz de qualquer jeito e bota para secar torto, você não vai ter muito trabalho e pode vender por qualquer coisa.

Mas não é assim que eu trabalho. Se não for para fazer algo que valha a pena colocar em cima do bolo e ficar exposto na estante da sala pelo tempo que durar, prefiro não fazer. Não quero que os noivos tenham vergonha do meu trabalho, pelo contrário, quero fazer uma homenagem perfeita. Se você tem essa visão, valorize seu trabalho. Não peço para enfiar a faca nos clientes, mas para levar em consideração o tempo que você leva para confeccionar a peça, o quanto você investiu para aprender as técnicas e desenvolver a sua, o tempo para dar atenção ao cliente, etc.

No meu caso, tive de suspender minhas atividades por outra razão. Quando comecei a trabalhar com o Biscuit estava bastante doente, vivia muito cansada e qualquer esforço maior, tinha crises terríveis, passava muito mal mesmo, por causa do cortisol alto. Tive de parar absolutamente todas as atividades. Quando fiquei bem, transferi o ateliê, que era para ser em uma casa no terreno do meu sogro, para um quarto vazio do meu apartamento. Eis que resgatei um gatinho e tive de fazer lar temporário no quarto que era para montar o ateliê. O gatinho está encalhadinho e – acredite se quiser – não consegui um espaço legal em casa para trabalhar com biscuit. Claro que se eu realmente quisesse me esforçar, encontraria. Mas optei por deixar o biscuit em segundo plano por algum tempo. Questão pessoal. É claro que eu poderia viver de noivinhos, mas preferi me aprimorar mais um pouco e desenvolver melhor algumas habilidades antes de voltar.

São motivos totalmente pessoais, as esculturas personalizadas entraram em uma vida em um momento complicado, eu estava com a saúde delicada e acabei não aproveitando aquele momento. Agora eu tracei um plano bem pensado para conseguir colocar em prática todos os meus desejos, e como estratégia, coloquei o biscuit em segundo plano, para que quando voltar, possa fazê-lo da maneira que planejo. Antes de mais nada, quero estar em condições de assistir ao curso da Flávia Pina em julho, no Rio de Janeiro. Não vou começar antes disso. Fiz o primeiro curso, que mudou meu trabalho de uma maneira extraordinária. Se você trabalha com esculturas personalizadas ou tem vontade de trabalhar, o curso da Flávia é indispensável. E ela não sabe se vai voltar a dar cursos depois desse, então pode ser que seja o último. Quem puder aproveitar, nem que precise fazer um sacrifício, parcelar o valor, se hospedar em um hotelzinho minúsculo, dividir hospedagem com alguém, vale a pena. Quem tem mais disposição do que eu para se dedicar em tempo integral vai colher os frutos rapidamente. O meu problema não foi o biscuit, meu problema na época era físico, e eu não me sinto em condições de retomar o trabalho antes de fazer um novo curso com ela.

Já escrevi a respeito, já disse o quanto o curso fez diferença, aprendi em uma semana (três dias de curso e quatro dias de prática) o que levaria anos para aprender. Não precisei de mais nenhuma apostila ou dvd depois daquilo. O curso dela é tão detalhado e completo e o trabalho é tão perfeito, ela ensina tão bem que não é necessário complementar com mais nada.  O meu maior problema foi ter tido hipercortisolemia que me trouxe uma perda de memória e bagunçou minha cabeça. Não posso me fiar só no que já aprendi, pois recuperei bastante coisa, mas ainda tem um ou outro lapso, que pode fazer diferença.

Quem quiser saber maiores informações a respeito do curso da Flávia, clique aqui.

Dou todo o meu apoio a quem queira e possa se dedicar ao Biscuit como única fonte de renda. É totalmente possível, mas tem de estar disposto a fazer um bom trabalho, diferenciado, perfeito mesmo. Não queira gastar pouco na preparação, comprando cursinhos e dvds baratos, pegando dicas na internet e depois conseguir um trabalho de qualidade para cobrar bem e viver disso. Não dá. Tem de ser profissional mesmo. Investir em capacitação, treinar bastante, não pegar mais encomendas do que consegue cumprir, atentar para os prazos e ser bem detalhista no trabalho. Praticar preços decentes.  Não acredito em um bom trabalho, feito sem estresse, sem desespero, com alegria, com bom resultado, sem atrasos, sem problemas para o cliente por menos de R$600 (isso para mim é o preço mínimo). Se alguém cobra menos do que isso (e estou falando de reproduzir o rosto dos noivos no biscuit, sem parecer um monstrinho. Estou falando de escultura de verdade, proporcional, bem feita, de no máximo 17 cm. Porque é claro que se eu fizer uma cabeça de 5 cm será muito mais fácil de detalhar do que uma de 2 cm)…bem, alguém está saindo prejudicado. Ou o cliente (com o resultado final do trabalho ou problemas durante o processo) ou o profissional. E ao cliente que quer pagar duzentos Reais por um trabalho do nível da Flávia Pina, eu gostaria de dar um pedaço de massa de porcelana fria e pedir a ele que esculpisse um rosto humano de 1,5cm baseando-se em cinco fotos.

Então é esse o meu recado. É possível largar meu trabalho e viver de biscuit? Sim, é, mas você precisa ter disciplina e decidir ser profissional no biscuit, não apenas uma artesã, mas uma escultora. Para isso vai ter de trabalhar, se dedicar, estudar, querer, mesmo. E por quê você começou a trabalhar como corretora de imóveis se dá para viver de biscuit? Eu parei com o Biscuit muito antes de começar o curso de TTI. Parei não porque o biscuit não dá retorno, mas porque eu não estava em condições de trabalhar, por problemas de saúde. Na hora de voltar, preferi sair um pouco e deixar o biscuit para depois.Mas meus planos de dominar o mundo incluem meu retorno às esculturas personalizadas. Por isso, aproveitem enquanto eu não volto. 🙂