Categoria: Jejum de Daniel

Sobre 50 tons de cinza e os mil tons de ignorância

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O artigo polêmico foi publicado primeiro no blog do Bp. Renato Cardoso. De autoria da cantora e escritora americana Evelyn Higginbotham, o texto gerou comentários furiosos de pessoas que queriam porque queriam assistir ao filme 50 tons de cinza sem peso na consciência. Evelyn não ajudou muito. Ela faz uma análise dura do espírito do livro que deu origem ao longa e rasga o verbo dizendo que os responsáveis pelo sucesso do livro são os “demônios da depravação”. Ok, a palavra “depravação” está em desuso, vem à mente a figura de uma velhinha carola acusando: “seus depravados!” Mas, se deixar seu preconceito de lado, você vai concordar com ela. “Depravar” significa estragar, mas tem vários outros significados: prejudicar-se, perverter-se, corromper-se, provocar a decadência. Não há nada que combine mais com 50 tons de cinza.

O livro é ruim. Não é bem escrito, a história, em si, só convence quem já está predisposto a gostar ou que, pelo menos, vai com o coração aberto para se emocionar. Como eu não sou uma pessoa facilmente “emocionável”, achei ridículo – e estou sendo sincera. Sim, eu li o livro. Tinha que fazer uma resenha e, ao contrário de um artigo, em que a pessoa é livre para dar sua opinião tendo ou não lido o livro inteiro, para escrever uma resenha, eu tenho que ler até o fim. Só que a postura para se ler um livro sobre o qual você vai resenhar deve ser crítica. Eu sou uma leitora difícil e o livro tem que me conquistar, tem que me convencer de que vale a recomendação. 50 tons de cinza sequer se esforçou. Se fosse um homem, seria daqueles que só querem levar a mulher para a cama. Tem uma historinha pseudo-romântica, mas é só fachada para as cenas de sexo, não sejamos hipócritas. E as cenas de sexo, apesar de literariamente ridículas (por serem excessivamente descritivas), causaram impacto na maioria das leitoras.

Se tudo é tão ridículo e malfeito, por que raios o troço se tornou um best-seller? Honestamente, eu só posso concordar com a Evelyn, o melhor agente literário de porcaria é o diabo. E não pense, com isso, que estamos dizendo que as pessoas que praticam esse tipo de sexo torto são malignas ou malvadas porque “estão com demônio”, como se as pessoas fossem demônios. Na verdade, o mal não tem o menor interesse em quem já é mau. O interesse dele é prejudicar, perverter, corromper e provocar a decadência da vida de suas vítimas. O problema é quando essas vítimas não percebem que estão sendo envenenadas, lenta e gradualmente pelo conteúdo estragado que consomem na mídia, na literatura, no cinema, na música, no entretenimento, em geral.

O engraçado (ou triste, dependendo do ponto de vista) é que o artigo da Evelyn causou uma discussão absurda. Tudo bem você defender seu direito de comer lixo à margem do Tietê. Cada um com suas preferências gastronômicas. Mas não é justo querer calar alguém cuja opinião contraria a sua (a sua opinião que, diga-se de passagem, é igual à da maioria) se a intenção dessa pessoa é apenas a de alertar a quem está inocentemente se encaminhando para o monte de cocô, sendo enganado pela propaganda, achando que vai comer espaguete ao alho e óleo. Você pode achar que as pessoas devem fazer o que quiserem e descobrir, por conta própria, que não gostam de comer cocô. No entanto, eu gostaria de ter a chance de ser poupada do gosto de fezes na boca e consideraria meu amigo quem me alertasse. Por isso, é impossível que eu não alerte a outros.

Se você está confuso quanto a assistir ou não ao filme ou quanto a ler ou não o livro porque viu comentários dizendo que você deveria formar sua opinião só depois de comer o cocô, um alerta: essas pessoas não são suas amigas e não estão nem aí para você. Elas só dizem isso porque querem fazer o que têm vontade, sem peso na consciência. No entanto, não são honestas para admitir isso nem para elas mesmas. Não digo isso com raiva, mas com pena. Porque se o personagem canastrão Mr. Grey tem 50 tons de cinza em sua alma, a ignorância tem pelo menos uns mil tons.

Quem diz que 50 tons de cinza “é só ficção” ou que sabe separar ficção de realidade, não faz a menor ideia do que está falando. Há várias pesquisas sobre isso isso. Já se mostrou que há alterações significativas no cérebro de quem lê romances. E também que o nosso cérebro não diferencia ficção de realidade e, durante a leitura, ativa as mesmas áreas que ativaria se estivéssemos praticando aquela ação. A leitura da palavra “perfume”, por exemplo, ativa a área responsável por sensações olfativas. Ainda que você entenda “oh, é ficção” e tente separar depois, alguma marca vai ficar. Seu cérebro vai armazenar como experiência vivida. Provavelmente por isso, o que leu começa a ficar banalizado, o comportamento é visto de forma cada vez mais normal e assimilado com facilidade. Agora, imagine assistir a um filme…

Quem diz que não tem nada a ver, não entende nada de história e de literatura, também. Em toda a história da humanidade, a literatura foi usada como meio de influenciar o pensamento e até mesmo arma de manipulação ideológica. Por meio da literatura, comportamentos antes considerados negativos passaram a ser vistos como positivos. Por meio da literatura, mudanças sociais foram sugeridas e digeridas. Para o bem ou para o mal. Geralmente, para o mal, porque o movimento que nossa sociedade tem feito desde a primeira prensa até os dias atuais é na direção da degradação do que temos de melhor. Talvez estejamos no fim da civilização como a conhecemos, a julgar pela propagação da ignorância e estagnação dos cérebros.

Curiosamente, a revista Isto é trouxe matéria de capa falando das pessoas que tiveram “a vida sexual transformada”  pelo livro (pobres criaturas), descredibilizando a palavra de quem, na profunda ignorância, disse que ficção é algo inócuo, que não muda a vida de ninguém. Muda, sim. A boa ficção, muda para melhor. A ficção ruim geralmente só dá dor de barriga. Mas a ficção envenenada, mata aos poucos. Não é de uma hora para outra que seu casamento vai se estragar por causa de 50 tons de cinza ou similares que incentivem a degradação feminina. Não é de uma hora para outra que as mudanças acontecem. E esse é o maior erro das pessoas, em todas as esferas: ignorar o poder das coisas aparentemente insignificantes. O sábio rei Salomão escreveu que são as raposinhas que destroem a vinha. As raposinhas são aquelas pequenininhas, fofinhas e aparentemente inofensivas. É aquela história bonita que faz você chorar. É aquele filme romântico que deixa você suspirando. Fala de amor, pôxa vida, que mal tem? Que mal pode fazer?

Se as pessoas quiserem jogar seu tempo e seu dinheiro no lixo vendo algo que com certeza irá prejudicar sua vida, paciência. Já os mais inteligentes, que dão valor ao seu tempo, ao seu dinheiro e ao seu cérebro, certamente vão usar o tempo e o dinheiro economizados com algo mais útil. Esses, certamente são gratos à Evelyn pelo alerta.

 

 

PS: O mais engraçado são as pessoas que cobram que o Bp. Renato leia o livro antes de criticar, mas não percebem que o texto é da Evelyn…não conseguem sequer ler um post com atenção para perceber que não é dele, será que dá para confiar na percepção delas a respeito de um livro?

PS2: Para quem quiser ler a resenha que fiz sobre o livro, está aqui:  http://blogs.universal.org/cristianecardoso/pt/livros-que-nao-sao-o-que-parecem-cinquenta-tons-de-cinza/  

PS3: Depois disso, o artigo foi publicado também no blog da Cristiane e no do Bispo Macedo e alguns dos comentários no blog da Cris são muito semelhantes aos dos haters no blog do Bp. Renato.Alguns, prefiro nem ler para não sair do Espírito, sinceramente. Meu recado já está dado aqui, aos sinceros que, como eu, não gostam de coprofagia.

 

Jejum de informações, Jejum de Daniel – Por que fazer?

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A vida moderna gira em torno de informação. Quando falo de “informação” não estou me referindo apenas a notícias, jornalismo ou livros. “Informação” é qualquer conteúdo a que você tenha acesso, não importa se útil ou inútil. Seu feed de notícias, a timeline da sua rede social, os milhões de negocinhos a que você se expõe para entretenimento: as músicas que ouve, os filmes a que assiste, os vídeos que vê no youtube, as novelas que acompanha na TV, os programas de auditório, enfim, tudo o que estimula seus sentidos e transmite dados para o seu cérebro.

Em teoria, estimular sentidos e transmitir dados é uma coisa boa. Cansei de falar das vantagens de ler e sou amiga de novidades, de descobertas, aprender coisas, conhecer novos lugares e comer coisas diferentes. Porém, nossa sociedade já cruzou a linha do bom senso nesse aspecto há muito tempo. Hoje, não há limites para coisa nenhuma. Como consequência, você mergulha em uma sobrecarga de estímulos e não se dá conta do que isso faz com a sua cabeça e com a sua vida.

O excesso de informação hoje é um problema crônico da nossa sociedade. É o responsável por grande parte dos casos de ansiedade que lotam consultórios e enchem os bolsos dos fabricantes de psicofármacos. Quando são expostas a uma quantidade absurda de informação, como acontece diariamente, as pessoas não conseguem processá-las. Isso diminui a capacidade analítica, como se a mente fosse um processador sobrecarregado. Não dá tempo de analisar, não há espaço para pensar. Isso também aumenta a ansiedade, pois você sempre tem a impressão de estar desatualizado e perdendo alguma coisa. Também aumenta as dúvidas, pois quanto mais se expõe a informações, mais decisões precisa tomar. Algumas informações conflitam com outras, e, com a capacidade analítica mais baixa, você não tem ferramentas para analisar o que faz sentido e o que não faz. Se as dúvidas estão em alta, a ansiedade vai aumentar ainda mais. E a pessoa entra em uma bola de neve que, como toda boa bola de neve, só vai aumentando, aumentando, aumentando…  O psicólogo britânico David Lewis chama isso de “Síndrome da Fadiga Informativa”.

Paradoxalmente, o excesso de informações nos torna mais superficiais. Sem ter como processar tantos dados, não analisamos quase nada e aqueles estímulos, em vez de nos ajudar, causam curtos-circuitos. A única maneira de não entrar nessa loucura é saber selecionar o que vai entrar na sua mente e o que vai tomar o seu tempo, com base na resposta a uma pergunta muito pessoal: “o que eu quero para a minha vida?”. O problema é que não é possível fazer esse tipo de análise com um monte de entulhos emaranhados em sua cabeça. A melhor maneira de parar com essa loucura alimentada por emoções, sensações e instintos é usar seu poder de decisão e…parar com essa loucura! Aí você vai descobrir que era meio que viciado no negócio todo e pode ter sérias crises de abstinência. Portanto, melhor do que cortar completamente algo que fazia parte integrante de todas as horas, minutos e segundos de sua vida é substituir esses velhos hábitos por novos hábitos. E essa é a proposta do jejum que eu faço de tempos em tempos. Na primeira vez, fiz sozinha. Da segunda vez, aproveitei o  surgimento do primeiro Jejum de Daniel, fazendo algo mais consciente. Desde então, acho que já foram umas oito vezes nos últimos quatro anos. É um período Detox mental.

Como toda a nossa sociedade foca excessivamente nos estímulos emocionais e físicos, durante 21 dias nos focamos em estímulos espirituais, ou seja, a parte mais trabalhada é a mente. Por isso o Jejum de Daniel é muito mais eficiente do que um jejum de informações genérico. A ideia não é apenas cortar o excesso de informações, porque se você não fortalecer seu espírito, quando acabar o jejum não vai conseguir se controlar para usar as fontes de informação; voltará a ser usado por elas.

No Jejum de Daniel não nos abstemos de informações. Nos abstemos apenas das informações seculares, isto é, das informações que não tenham conteúdo cristão. Livros com conteúdo espiritual cristão, filmes cristãos, blogs e vídeos com essa mesma filosofia são “liberados” nessa dieta de 21 dias. Como a oferta desse conteúdo é bem menor, conseguimos tempo e paz de espírito para analisar o que estamos consumindo. Será que esse livro cristão é realmente cristão? O que esse filme está querendo ensinar realmente faz sentido? Perguntas que não nos fazíamos antes começam a ser introduzidas ao nosso dia a dia.

Incluímos alguns tipos de meditação em nossa rotina: fazemos orações sinceras e orgânicas (não religiosas) a Deus, meditamos em trechos bíblicos, buscamos o preenchimento interior com o Espírito Santo por meio de orações e de reuniões especiais. Cremos que, ao nos encher do Espírito de Deus, teremos autocontrole, teremos mais amor pelos outros, nos aproximaremos de Deus e poderemos ajudar outras pessoas que hoje estão sofrendo. Se a maioria da população tivesse os padrões de pensamento de Deus e visse as pessoas como Ele vê, teríamos um mundo mais justo e menos hipócrita. Com certeza, teríamos muito menos religiosos sendo reverenciados, e muito mais excluídos sendo ajudados.

Outra coisa, não adianta passar 21 dias lendo a Bíblia e se juntar aos colegas no intervalo para fofocar e falar abobrinha. O Jejum é um período em que você alimenta o seu relacionamento com Deus, logo, deve evitar conversas fúteis, que nada têm a ver com Ele. Alguém já imaginou Jesus de fofoquinha nos corredores da empresa ou falando do colega de forma maldosa? Se isso faz parte de sua rotina, aproveite para desintoxicar disso também. São péssimos hábitos, aparentemente “inocentes”, mas que fazem mal a quem pratica.

Por tudo isso que expliquei, o Jejum é, também, um período para você aprimorar sua capacidade analítica atrofiada. Temos algumas ideias básicas sobre o que é o Jejum e como fazê-lo (clique aqui, se passou batido pelo link para a página que explica tudo), mas você vai usar as informações sobre qual é o objetivo do Jejum para, com bom senso, saber o que deve ou não fazer. No começo, você pode se sentir meio perdido e sem saber o que fazer, como se um buraco tivesse sido aberto em sua rotina. Também pode se sentir um ET por não jogar os joguinhos que todo mundo está jogando, por não ver TV quando todo mundo está vendo ou por não ter as conversas diárias que costumava ter no Whatsapp, Facebook e outros comunicadores (algumas pessoas podem até cobrar ou se indignar, como se fossem donas do seu tempo). Mas essa sensação de “etezice” também é importante. Se desconectar deste mundo por um período é absolutamente necessário para conseguir o distanciamento que você precisa ter caso queira aprender uma forma de viver por conta própria, diminuindo a influência da mídia, da propaganda e do espírito deste mundo.

Tudo é uma questão do que você quer para a sua vida. Há algum tempo eu fiz uma escolha. Optei por ser útil, por ser diferente, por quebrar o ciclo destrutivo na minha vida. Por ser feliz em um mundo de infelizes; por ser alegre em um mundo de tristeza; por ser cor em um mundo cinza; por ser luz em um mundo escuro; por ser completa em um mundo vazio; por ter certezas em um mar de dúvidas; por doar em um mundo de tomadores; por me desenvolver em um mundo de estagnação espiritual. Optei por nadar contra a corrente, por ver possibilidades em um mundo de impossibilidades. Optei por tomar a pílula vermelha que me permitiria conhecer a verdade e entender o mundo além da máscara que ele usa. Não é fácil. Não é lá muito confortável. Mas é a porta para sair dessa loucura e retomar algum controle sobre o nosso futuro – não apenas neste mundo, eu creio.

 

PS: Eu irei escrever no blog durante esses 21 dias, falando sobre a experiência do Jejum (para ninguém achar que todos os participantes ficam pisando em nuvens e ouvindo coros celestiais enquanto só você enfrenta dificuldades nesse período) e as coisas que – tenho certeza – vou aprender e passar a vocês. Serão 21 dias de conteúdo analítico sob o ponto de vista de uma mente cristã. E pretendo fazer as resenhas de livros bíblicos que muita gente me pediu para continuar fazendo. Provavelmente os posts não serão tão longos quanto este, porque meu tempo está beeeem reduzido, mas farei o melhor para ter neste blog um conteúdo útil para ajudar a todos nós.