Categoria: Ponto de Vista

Acordo de paz em Israel?

Quando vejo alguém dizer, a respeito do conflito na faixa de Gaza, que os dois lados devem estabelecer (e cumprir) algum acordo de paz, percebo que as pessoas não entendem nada a respeito do espírito do Hamas. Para esclarecer, vamos começar com parte do estatuto do Hamas:

“Os judeus nunca ficarão contentes, tampouco os cristãos, ao menos que se siga a religião deles. Dizei: ‘A orientação de Alá é a orientação certa.’ Mas se seguirdes os desejos deles, depois de saberdes quem foi que veio até vós, então não tereis a proteção e a guarda se Alá. (Alcorão 2- 120).

Não há solução para o problema palestino a não ser pela jihad (guerra santa).

Iniciativas de paz, propostas e conferências internacionais são perda de tempo e uma farsa. O povo palestino é muito importante para que se brinque com seu futuro, seus direitos e seu destino. Como consta do Hadith: “O povo de Al-Sha’m é o açoite (de Alá) na Sua terra. Por meio dele, Ele se vinga de quem Ele quer, dentre os Seus servos. Os hipócritas não podem ser superiores aos crentes, e devem morrer em desgraça e aflição.”

Notem que o Hamas foi construído sobre a premissa de que iniciativas de paz e conferências internacionais são uma farsa. Outra premissa é que a única solução é a jihad. Mais adiante vamos ver nesse mesmo documento que o objetivo é a aniquilação dos judeus. Eles realmente acreditam que os judeus são do mal e que devem ser exterminados (utilizam um trecho do Corão para justificar isso). Logo, não há “acordo de paz” ou forma de coexistir um estado israelense e um estado palestino enquanto um dos lados achar que a única saída é a aniquilação do outro lado e que vale tudo para que isso aconteça. Então, é mais do que compreensível que, mais cedo ou mais tarde, Israel resolva destruir o Hamas. E fazer isso enquanto a organização está fraca (pois perdeu apoio dos países vizinhos) seria uma ideia interessante, se não houvesse outro ponto importante nesse espírito do Hamas: vale tudo pelo objetivo.

O Hamas é uma organização criada com um propósito claro: destruir os judeus e tomar posse do país inteiro. Seus membros são doutrinados a viver e morrer por essa causa. Eles aprendem que judeus são inimigos cruéis e que, por isso, qualquer atitude é válida para destruí-los. Inclusive o uso de escudos humanos. Além de esconderem seus arsenais propositalmente em escolas e hospitais, eles usam seus próprios filhos e a população civil para que sejam mortos e virem mártires na televisão. Há no estatuto várias passagens que exaltam a morte dos que forem sacrificados na jihad. É algo nobre morrer (ou ser morto) pela causa, mesmo que o morto seja civil ou criança. Eu estranho o fato de que a maior parte das vítimas palestinas sejam civis e muitas crianças estejam envolvidas, pois não é assim que Israel age e nem faria sentido que atacassem esse tipo de alvo, sendo que isso faz com que a opinião pública se volte contra eles. O espírito do Hamas quer gerar em todos o mesmo ódio e indignação contra Israel que ele tem. Mas quando a emoção está envolvida (e o que causa tanta emoção quanto ver crianças feridas?) todo mundo para de pensar.

É estranho para nossa realidade ocidental imaginar um grupo que coloque seus filhos e sua população civil no meio de uma guerra deliberadamente, não acredite em iniciativas diplomáticas de paz e busque a morte daqueles que pensam diferente deles. Eles não fazem isso por mal, eles fazem isso porque acreditam e são doutrinados a isso desde a infância. O espírito que orienta isso tudo não está nem aí com o número de pessoas que ele vai conseguir levar. O que ele quer é destruir os judeus (e quem está lutando por isso crê que luta pela posse total do território para a Palestina). O que, obviamente, não acontecerá (ou a Bíblia deixaria de existir, já que faz promessas para o futuro de Israel), mas nada o impede de tentar. O Hamas acredita que os “infiéis” devem ser mortos e glorifica os muçulmanos que morrem pela jihad. Então, morrer pela Palestina é algo positivo para eles. E entendem que os palestinos que eles mesmos matam serão recebidos como mártires pelo deus deles. Veem como honra, pois lutam por um ideal. Mais um trecho do estatuto do HAMAS:

“o Movimento de Resistência Islâmica (HAMAS)  aspira concretizar a promessa de Alá, não importando quanto tempo levará. O Profeta, que as bênçãos e a paz de Alá recaiam sobre ele, disse; “A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por matá-los e mesmo que os judeus se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venha e mate-o, exceto se se tratar da árvore Gharkad, porque ela é uma árvore dos judeus.” (registrado na coleção de Hadith de Bukhari e Muslim).

O Lema do Movimento de Resistência Islâmica

Art. 8º Alá é a finalidade, o Profeta o modelo a ser seguido, Alcorão a Constituição, a Jihad é o caminho e a morte por Alá é a sublime aspiração.”

Ao ler o trecho acima, imediatamente me lembrei do trecho abaixo, do Antigo Testamento, em que Deus fala contra os Edomitas (descendentes de Esaú, que não existem mais) e a favor de Israel (filhos de Judá e casa de Jacó):

“Mas tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu irmão, o dia da sua calamidade nem ter-te alegrado sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína; nem ter falado de boca cheia, no dia da angústia; não devias ter entrado pela porta do Meu povo, no dia da sua calamidade; tu não devias ter olhado com prazer para o seu mal, no dia da sua calamidade; nem ter lançado mão nos seus bens, no dia da sua calamidade; não devias ter parado nas encruzilhadas, para exterminares os que escapassem; nem ter entregado os que lhe restassem, no dia da angústia. Porque o Dia do SENHOR está prestes a vir sobre todas as nações; como tu fizeste, assim se fará contigo; o teu malfeito tornará sobre a tua cabeça. Porque como bebestes no Meu santo monte, assim beberão, de contínuo, todas as nações; beberão, sorverão e serão como se nunca tivessem sido. Mas, no monte Sião, haverá livramento; o monte será santo; e os da casa de Jacó possuirão as suas herdades.” (Obadias 1.12-17)

No vídeo abaixo, o porta-voz do Hamas admite o uso de escudo humano. (As legendas estão em inglês, mas a transcrição está logo abaixo.)

 

Transcrição do vídeo, em português:

Âncora: As pessoas ainda estão indo para os telhados?
 
voz do repórter Ayad Abu Rida: Testemunhas nos disseram que é uma grande reunião e que as pessoas ainda estão indo para a casa da família Kawari, a fim de evitar que os aviões Sionistas atinjam a área.
 
Âncora, para Sami Abu Zuhri: Qual é seu comentário a respeito disso? As pessoas estão adotando o método de escudos humanos, que provou ser bem-sucedido nos dias do mártir Nizar Riyan.
 
Sami Abu Zuhri, Porta-voz do Hamas: Isso atesta o caráter de nosso nobre povo combatente da Jihad, que defende seus direitos e suas casas com seus peitos nus e seu sangue. A política de pessoas enfrentando o avião de guerra israelense com seus peitos nus, a fim de proteger suas casas provou ser eficaz contra a ocupação. Essa política também reflete o caráter do nosso bravo e corajoso povo. Nós no Hamas convocamos o nosso povo a adotar essa prática, a fim de proteger as casas palestinas.

 

Por esse pensamento, tantos civis palestinos estão morrendo. Por que a estratégia havia se provado eficaz contra a ocupação? Israel não pretendia atingir civis. Porém, se quiser evitar o pior, terá de enfrentar o pior. O Hamas é determinado, tem um objetivo bem claro, acredita nele, é perseverante e não poupará meios de atingi-lo. E, principalmente, tem convicção de que a única maneira de conseguir a posse total da terra (e eles não querem dividi-la com os judeus) é por meio da jihad, da guerra que poderíamos entender como suja, mas que eles veem como limpa e santa. Como Israel está bem familiarizado com os objetivos do seu oponente, não dá para estranhar que não queiram baixar as armas. Posso não gostar de guerra, mas entendo a situação ali.

Israel entrou por terra, para evitar mísseis em escudos humanos. A guerra começou. É claro que ninguém (além do Hamas) está feliz com a guerra, mas ela era inevitável (e ainda há muita água para rolar debaixo do Apocalipse até que tudo se resolva). No entanto, é necessário evitar entrar na conversa de parte da mídia em relação a isso, que tem ignorado as intenções do Hamas, por ignorância ou por beber do mesmo espírito. E, sem emocionalismos, sigamos racionalmente o conselho bíblico:

“Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam. Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios. Por amor dos meus irmãos e amigos, eu peço: haja paz em ti! Por amor da Casa do SENHOR, nosso Deus, buscarei o teu bem.” (Salmos 122.6-9)

 

 

Eu não tenho saco para a Copa

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Confesso que estou bem por fora da discussão “Vai ter Copa” x “Não vai ter Copa”. Atualmente, minha mente e meus esforços estão em coisas realmente práticas e úteis, e todas elas relacionadas ao meu trabalho e à minha vida pessoal (e quem me conhece sabe que ambos se fundem e eu não estou nem aí para quem diz que isso não deveria acontecer). A Copa – veja só – não faz a menor diferença na minha vida. Eu não posso parar o meu trabalho e a minha vida para ficar torcendo pela seleção de um punhado de homens que ganham muito mais do que a esmagadora maioria da população que para para vê-los jogar. Punhado esse que trabalha para um punhado ainda menor de homens que ganham ainda mais do que eles.

Mas sei que durante esse breve período, que a mídia alardeia ser um momento único e mágico (porque vendeu espaços publicitários mágicos no intervalo dos jogos, a preços estratosfericamente mágicos que aumentarão, magicamente, o recheio das contas bancárias de seus proprietários), a população, embevecida (desenterrei essa palavra), se esquece de seus problemas e atinge o êxtase ao ver a seleção lutar por uma vitória enquanto ela – a população – permanece estática, sem lutar e sem vencer coisa alguma. Mas se a seleção vence, é como se a vitória fosse de todos nós – olha que lindo! Então, a gente se sente menos mal por nossas frustrações particulares e públicas.

Anestesia. É mais ou menos isso o que esses momentos de emoção vazia trazem para quem bebe deles. Eu sou um ET que não gosta de feriados e um ET que não está minimamente interessado nesse mundial – e que também não está interessado em lutar contra o mundial. Não esperem por mim em passeatas segurando um cartaz escrito “Não vai ter Copa”. Vai ter Copa, a gente sabe que vai. Não sei exatamente como ela vai ser, com essa horda de bárbaros espalhada pelo país, principalmente perto das eleições, com a oposição desesperada para descredibilizar o Governo. Prefiro me ausentar um pouco do mundo, porque tudo promete caos e eu – sinceramente – tenho mais o que fazer.

Nessa vida cheia de guerras, lutas e batalhas (parecem a mesma coisa, mas nem toda luta é uma guerra, nem toda batalha é uma luta e poucas guerras têm só uma batalha), temos de escolher quais batalhas iremos lutar e de quais lutas vale a pena participar. Eu escolho as minhas guerras e a Copa não é uma delas. Eu amo o Brasil, amo ser brasileira e tenho simpatia por um certo patriotismo, mas não vejo nada disso nesse mundial. Vejo nesse mundial apenas interesses econômicos: da mídia, da Fifa, do Governo Federal, dos jogadores, dos governos estaduais, das empresas anunciantes que não estão nem aí para os figurantes que acompanham os jogos. Não estou advogando contra os interesses econômicos ou contra o capitalismo, estou apenas constatando um fato: a Copa nada tem a ver com patriotismo ou orgulho nacional. Sou contra a depredação do orgulho nacional, que os grupos políticos de oposição têm patrocinado, mas não posso tapar o sol com a peneira: a Copa não é do Brasil, não é pelo Brasil e não é para o Brasil.

Mas eu realmente espero que o Brasil sobreviva à guerra de interesses escusos que acontecerá travestida de festa do futebol. E que aqueles que também têm mais o que fazer não bebam desse alucinógeno verde e amarelo. Depois de nos induzirem a comprar alucinadamente no natal, festejar sei lá o que no carnaval, atrasar nossos trabalhos nos feriados absurdamente gigantescos do início do ano (em que também teríamos de comprar chocolates ovais superfaturados) e gastar horrores no dia das mães, agora querem nos fazer parar nossas vidas novamente, porque eles precisam ganhar mais um pouquinho do dinheiro que não temos. Não é isso que faz o Brasil ir para frente, me desculpem. Vou me isolar voluntariamente, com alívio. Tenho muita meditação a fazer, muitos livros para ler, muito trabalho para terminar e muitas pessoas para ajudar. Desculpe, Fifa e Globo, não vai dar para fazer figuração dessa vez.