Governando o coração

Em alguma reunião de fevereiro, o Bispo falou de um versículo do salmo 78 e aconselhou: “depois medite no salmo 78 em casa”. Antigamente eu não dava muita bola quando um pastor dizia isso. Às vezes até anotava a referência bíblica, mas quem disse que me lembrava de ler depois? Hoje em dia, já saio da reunião pensando no que ouvi e querendo saber: “o que será que Deus quer me falar através daquela palavra que Ele mandou o pastor me aconselhar a ler?” E isso faz toda a diferença! 

Entenda uma coisa: Deus existe e quer falar com você. E não existe absolutamente NADA mais importante do que isso no mundo. Pensa bem, o Rei de todo o universo quer falar com você! Vai deixá-LO esperando enquanto você atualiza as redes sociais? Ou enquanto vê a vida dos outros na internet? Ou enquanto assiste a qualquer coisa na TV? Tá doido? Vá ouvir o que Ele tem a dizer. 

Pelo menos uma vez ao dia, leia a Bíblia e medite no que leu. Se for alguma passagem muito esquisita que você não entendeu, não se preocupe. Diga para Deus que não entendeu, peça a Ele para te explicar, e continue a leitura até encontrar algo que atraia a sua atenção. Fique pensando naquela passagem o dia todo. Comece a encher seus pensamentos dos pensamentos de Deus. 

Voltando ao assunto: em casa, na primeira oportunidade, faço uma leitura de todo o capítulo e depois vou destrinchando alguns versículos que me chamam mais a atenção. E foi o que fiz com o Salmo 78. Vou colocar as anotações aqui, porque com certeza irão ajudar você a entender melhor a Deus e a si mesmo. Vamos avaliar nossas atitudes à luz do que aprendermos ao longo desses posts.

“Para que pusessem em Deus a sua esperança, e se não esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os Seus mandamentos. E não fossem como seus pais, geração obstinada e rebelde, geração que não regeu o seu coração, e cujo espírito não foi fiel a Deus.” Salmos 78.7,8

Essa orientação era de ensinar às novas gerações a respeito do que havia acontecido no passado, para que não repetissem os mesmos erros de seus pais. O principal problema do povo que se perdeu no deserto e não conquistou o que Deus tinha para lhes dar foi o fato de não ter regido o seu coração, ou seja, não saber controlar seus próprios impulsos. A pessoa que não rege o coração não tem autocontrole, não é racional, não tem disciplina. 

Reger significa: Fazer exercer ou exercer o governo ou a direção de; governar(-se), regular(-se).

É preciso governar o seu próprio coração. Como se o coração fosse uma nação sem governo, sem rei. Imagina o caos? Quando não controla o seu próprio coração, a pessoa é controlada por ele, que a fica jogando para lá e para cá feito peteca, porque o coração é naturalmente instável. A obstinação e a rebeldia levam a pessoa a deixar seu coração solto, sem controle, se deixando levar pelos pensamentos, sentimentos e impulsos naturais. Nesse estado lastimável, é comum a pessoa ficar tão ensimesmada, tão focada em suas vontades, naquilo que ainda não tem, a ponto de, pela insegurança, se esquecer do que Deus fez por ela e se esquecer da Palavra dEle. 

O antídoto contra esse veneno (e a cura para essa doença) é: colocar a sua esperança em Deus por meio da obediência à Palavra dEle. Quando nossa esperança está em Deus, firmada na Palavra dEle e no que Ele fez por nós, não nos esqueceremos dessas coisas e permaneceremos conectados a Ele, dominando, regendo o nosso coração, e não sendo dominados por ele.

 E nosso espírito permanecerá fiel a Deus, porque a base da fidelidade é a confiança e a base da confiança está em saber quem Deus é e o que Ele já fez, e decidir colocar nEle a sua esperança. Vem dEle a orientação, a resposta e o livramento. 

E quando a orientação vier, obedeça, mesmo que seja contrária ao seu coração. Aliás, é bom anotar em algum lugar bem visível: o segredo para obedecer é um só: sacrifício, no sentido de renúncia. Essa revelação foi um divisor de águas na minha vida. Por muito tempo, desde a infância, eu fui guiada por meu coração. Eu me achava muito racional, mas era puro sentimento. 

Sensível demais, não sabia lidar com minhas emoções. Muito inteligente intelectualmente, mas um jumento emocionalmente. De que adiantou a inteligência? De nada. Morria de medo de tudo e escondia com agressividade. Tinha mudanças bruscas e inexplicáveis de humor. Uma hora estava animada, agitada e eufórica, outra hora estava desanimada, letárgica e depressiva. Não conseguia terminar nada do que começava. Tudo me alterava. Qualquer mudança na minha vida já era motivo para tudo desabar. Não sabia lidar com nada. Minha vida era um caos e não parecia ter prazo para isso acabar. Parecia que a única solução era morrer. 

E não era problema de adolescência. Essa instabilidade veio desde que me conheço por gente, mas ela se agravou a partir dos 11 anos, até culminar na depressão, progressivamente, dos 16 até a véspera de completar 20 anos. No mês em que completaria 20 anos, fui liberta da depressão na Universal. Mas como não me tornei uma nova criatura na época, continuava a ser a mesma pessoa, só um pouco melhorada. Mesmo assim, o ensinamento da fé racional e do sacrifício já foi suficiente para me dar uma vida um pouco mais funcional. 

Consegui voltar para a faculdade de jornalismo, consegui trabalhar e consegui até namorar, casar e manter o casamento por nove anos. Mas era um esforço monumental para me manter controlada e racional. Eu vivia de altos e baixos emocionais, uma montanha-russa. Só não entrava em depressão porque não tolerava mais e aprendi a não abrir essa porta. Mas era levada pelas circunstâncias direto. 

Até que finalmente, aos 29 anos, Deus me mostrou que eu precisava entregar minha vida de verdade para Ele, não só me dizer crente. Entreguei minha vida a Ele, decidi esquecer tudo o que eu achava que sabia e começar do zero. E nasci de novo, me tornei uma nova criatura. Não apenas aprendi a sacrificar, eu aprendi a SER o próprio sacrifício. Como diz a Bíblia, apresentar meu corpo como sacrifício vivo e santo. Viver essa fé sacrificial. Negar a mim mesma. Negar meus impulsos, minha vontade de olhar para as circunstâncias. 

Hoje as circunstâncias não me mudam. Nada mais me altera. E desde que recebi o Espírito Santo, aos 30 anos, eu tenho uma estabilidade emocional que nunca imaginei ser possível. Por isso eu posso dizer: vale a pena! Vale a pena sacrificar. Vale a pena obedecer. Vale a pena viver essa fé, vale a pena abrir mão do mundo, vale a pena se empenhar para se aproximar de Deus. 

Eu era uma das pessoas mais improváveis de conseguir isso. Era uma pessoa totalmente fragmentada interiormente. E achei muito interessante ouvir do meu neurologista um tempo atrás, constatando: “você não tem depressão, não tem perfil de uma pessoa com tendência a depressão. Quem tem depressão tem o ego fragmentado, você não”. Concordo plenamente, mas sei que é um milagre. A pessoa que sou hoje não tem nada a ver com a que fui a maior parte da minha vida (e tenho diários e dezenas de cadernos com pensamentos dela para comprovar). 

É isso o que Deus faz na vida de uma pessoa. Eu não tinha uma fé extraordinária (e não tenho hoje), não era uma pessoa especial (e não sou hoje). Era uma pessoa complicada, difícil, cheia de problemas, que não sabia viver, que tinha dificuldades até nas coisas mais simples. A menor da casa mais pobre. Aquela que não era ninguém e que nunca seria ninguém porque não sabia reger o seu coração. 

Meu coração era um caos. Mas Ele me chamou, me aceitou e me mudou. Demorou muito mais tempo do que deveria, por minha causa, mas não importa, o tempo iria passar de qualquer jeito. O que importa é que agora eu tenho paz dentro de mim, que independe das circunstâncias, que independe até do meu corpo. Renuncie ao que tiver que renunciar pela nova vida que Ele quer te dar.

Lembre-se: O segredo de uma vida estável é reger o coração e confiar em Deus, colocando somente nEle nossa esperança. 

[Link para todos os posts das edições anteriores do Jejum de Daniel]

Jejum de Daniel, dia 9

Mais posts sobre o Salmo 78:

1 – Governando o coração

2 – Negando Jesus

3 – Provocando ao Altíssimo na solidão

4 – Mesa no deserto

5 – Rios em abundância

6 – O pão dos anjos

7 – Maus olhos contra Deus

8 – Com a língua Lhe mentiam

 

PS. Teremos mensagens diárias neste blog durante esses 21 dias do Jejum de Daniel. 

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Quando parece que Deus Se esqueceu

Quem visse Davi na caverna e Saul reinando, pensaria equivocadamente que Saul estava certo e Davi, errado; que Saul estava agradando a Deus (afinal, estava no trono) e Davi estava sendo punido por algum malfeito (afinal, estava se escondendo entre os inimigos). E às vezes passava na cabeça de Davi pensamentos de que aquilo seria permanente. No salmo 13, ele chega a questionar se Deus vai se esquecer dele para sempre, que é a expressão do que ele estava sentindo. Mas logo se recompõe e começa a declarar sua fé. Então isso é algo que podemos aprender com Davi. O pensamento ruim pode até vir, mas você logo o combate com uma resposta da fé: 

“Até quando te esquecerás de mim, Senhor? Para sempre? Até quando esconderás de mim o Teu rosto? Até quando consultarei com a minha alma, tendo tristeza no meu coração cada dia? Até quando se exaltará sobre mim o meu inimigo?”

Aqui Davi desabafa com Deus sobre o que está sentindo. Está triste, cansado, se sentindo humilhado por seus inimigos e com a sensação de que Deus se esqueceu dele. Até imagino o tipo de pensamento que veio a Davi naquela situação: “Deus Se esqueceu de mim. Todos os meus inimigos devem estar achando que venceram, que Deus não é por mim. Até quando isso vai continuar assim? Isso nunca vai mudar”. Esses pensamentos aparecem, mesmo. Mas em seguida, Davi os combate pedindo livramento daquilo que ele teme. Ou seja, não fica lá curtindo o medo e a sensação de abandono:

“Atende-me, ouve-me, ó Senhor meu Deus; ilumina os meus olhos para que eu não adormeça na morte; para que o meu inimigo não diga: Prevaleci contra ele; e os meus adversários não se alegrem, vindo eu a vacilar.”

Davi se coloca na dependência de Deus aqui. Não tenta se apoiar em sua própria força A única forma de ele não vacilar é Deus o atendendo. Se parece que Deus o abandonou, por que ele está pedindo para ser ouvido? Porque, no fundo, ele sabe que Deus não o abandonou. Ou seja, aqueles pensamentos não eram dele, eram plantados pelo mal para fazê-lo desistir. 

“Mas eu confio na Tua benignidade; na Tua salvação se alegrará o meu coração.

Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.”

Davi termina a oração declarando sua confiança em Quem Deus é e reconhecendo o bem que Ele lhe tem feito (o guardou, cuidou dele, salvou sua vida várias vezes, o fortaleceu e o ensinou muito). Desta forma, neutraliza as palavras do mal em sua mente, porque não há nada mais contrário a “Deus Se esqueceu de mim e escondeu o Seu rosto enquanto estou fraco e triste” do que “Deus me tem feito muito bem, Ele é benigno, vai me livrar, eu vou ficar feliz por isso”. Note que não deu tempo do sentimento de Davi mudar. O que mudou foi sua atitude diante daqueles pensamentos. Deixou de acolher aqueles pensamentos negativos e entregou sua causa a Deus, confiando na benignidade dEle. E isso mudou seu sentimento. 

 O gremlin que senta em nosso ombro para sugerir pensamentos ruins sempre vai tentar nos fazer sentir como se aquele momento ruim fosse a descrição de toda a nossa vida, como se nada nunca fosse mudar. Mas nossa vida não é um pedacinho, ela é um conjunto de coisas em um longo espaço de tempo. É preciso tomar uma certa distância para ver o quadro completo. 

Quando você não está se sentindo bem, os pensamentos negativos vêm, às vezes disfarçados de mera constatação. Mas não importa se parecem verdade ou não, o que importa é o que você vai fazer assim que os identifica. O modelo dessa oração de Davi é perfeito para quando estamos andando na Justiça, mas não vimos ainda acontecer o livramento que buscamos e esperamos, e por isso o mal tenta plantar pensamentos nada a ver. 

O que fica no final desse salmo não é o “até quando?” da pergunta de Davi, mas a promessa da salvação que lhe trará a alegria, trazida pela confiança na benignidade de Deus. Ele é benigno, logo, não está ignorando ninguém. Davi se deu conta disso e, por se manter confiando nessa benignidade, um dia enfim tudo se cumpriu e ficou bem claro quem estava certo: Davi, no trono, como o rei mais aprovado por Deus, honrado pelo Rei dos reis.

 

 

PS. Por favor, não deixe essa palavra sumir da sua cabeça. Pense nelas durante a noite e durante o dia. Escreva a respeito do que entendeu e do que aprendeu, releia o salmo 13, leia o texto novamente… Aprenda a ser a boa terra em que a Semente pode se desenvolver. 

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