Categoria: Sociedade

Chocando a sociedade

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*Chocando a sociedade com uma garrafa de água mineral 😀

Os revoltadinhos estão muito desatualizados. Com exceção de uma minoria congelada no tempo, ninguém mais se choca ao ver um corpo todo tatuado, ao ver uma mulher que resolveu não se casar e fazer uma produção independente ou ao ver uma moça vestida de periguete ou com cabelo azul. Muito menos se choca ao ver meninos e meninas ficando com vinte pessoas em uma festa. Sorry, isso é comum. Co-mum. Perder a virgindade aos 15 anos é a coisa mais banal no mundo de hoje. Se você quer chocar, mesmo, tem que ser diferente de verdade.

Durante minha vida inteira eu me senti fora da lei. Como qualquer adolescente, eu gostava da sensação de estar chocando a sociedade. Mas, ao contrário da maioria dos meus colegas, eu não estava minimamente interessada em chocar vovôs e vovós. O que eu queria mesmo era ser diferente daqueles que estavam ao meu redor. Eles não enxergavam que a repulsa que tinham por meu discurso e meu comportamento era exatamente igual àquela que queriam provocar nos adultos com sua “rebeldia”. Eu achava graça. Humanos são sempre iguais, afinal.

Rebelde entre os rebeldes, aprendi que era legal ser diferente. E isso se estendeu à vida adulta. Hoje nem é por ser legal, mas por já ter se tornado hábito viver fora das caixinhas da sociedade contemporânea. Porque viver fora da caixinha é viver fora da caixinha de 2015, não fora da caixinha de 1950. Não faz o menor sentido continuar a se rebelar contra os padrões de 1950 quando os padrões hoje são completamente diferentes. Você bebe? Grande coisa, todo mundo bebe. Você tinge o cabelo de rosa? Grande coisa, “jeans color” se acha em qualquer esquina. Você se enche de tatuagem? Ba-nal. Hoje tem velhinhas com tatuagens enrugadas por aí. Está cada vez mais difícil ser diferente.

Quando criança ouvia muito minha mãe dizer que eu não deveria ser Maria-vai-com-as-outras. Ela também não se chocava com nada. Acho que isso me fez prestar atenção ao mundo para fazer tudo ao contrário. Meus colegas bebiam? Eu fugia do álcool. Eles fumavam? Eu detestava cigarro. Ficavam com um por semana? Eu não ficava com ninguém. Gostavam de balada? Eu gostava de escrever no meu quarto. Não estavam nem aí para Deus? Eu vivia na igreja. Todo mundo falava palavrão? Eu não falava palavrão. E posso garantir que sempre fui vista como subversiva.

Porém, já aviso: não é fácil ser rebelde. Você tem de ser forte e precisa aprender a assumir suas opiniões de maneira realmente assertiva. Porque vão tentar todas as estratégias para fazer com que você se encaixe na forminha pronta que o mundo tem para pessoas da sua idade (seja qual idade tiver). Questionamentos, tentativa de ridicularização…todo tipo de golpe baixo é testado até que as pessoas vejam que você está falando sério e comecem a respeitá-lo. Por isso, mantenha-se firme.

É facinho chocar a sociedade quando ela é formada por velhinhas bitoladinhas que não assistem a TV (e mesmo essas nem sempre se chocam com coisas que já são banais. Só uma minoria ainda se choca. É sério). E a pessoa ainda quer encontrar sua própria identidade se rebelando contra o “status quo” do século passado, sem se dar conta de que a minoria já se tornou maioria há muito tempo. Forte mesmo é quem vai contra a correnteza do mundo de hoje, mantendo sua opinião contrária à da maioria. Mesmo sendo ridicularizado e perseguido, continua seguindo aquilo que pensa, aquilo que  crê.

Eu olho para os revoltadinhos desatualizados e me pergunto quando eles vão instalar as atualizações.

Não é tão difícil se destacar

Estou fazendo faculdade à distância e, recentemente, tivemos as provas presenciais. As notas demoraram a sair e houve uma certa agitação nos fóruns, com pessoas perguntando aos tutores quando sairiam as notas, pois o prazo para agendar as substitutivas já estava se esgotando. Até aí, tudo normal. Eu não tenho muito tempo para estudar, mas na véspera das provas reli todas as apostilas. As avaliações não foram fáceis (ainda bem que eu tenho vantagem nas questões dissertativas rs), então também fiquei aguardando o resultado com os outros.

Conforme os dias avançavam, alguns comentários surreais começaram a aparecer nos fóruns. Algumas pessoas que receberam notas insuficientes entravam para reclamar que as provas não tinham nada a ver com a matéria que estudaram. Diziam que muitas questões não estavam no material…

Eu apenas li as apostilas. Tentei ver os vídeos, mas percebi que as apostilas eram mais completas, então, me ative à leitura dos PDFs. E posso garantir que toda a matéria que caiu na prova estava nas apostilas. Mas aquelas pessoas estavam realmente indignadas. Elas realmente acreditavam que tinham sofrido uma injustiça. Das duas, uma: ou não leram com atenção e perderam conteúdo ou tiveram preguiça de ler e apenas assistiram ao vídeo.

O segundo tipo de comentário surreal foi algo como: “Quando vocês vão divulgar as notas? Estou sendo prejudicada porque dependo da divulgação das notas para saber se preciso fazer a prova substitutiva. Se demorar mais, não vai dar tempo de estudar!”. E suas variações: “vocês estão me prejudicando, pois por causa desse atraso, não sei se preciso estudar para a prova”.

Sério. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi: COMO ASSIM, CRIATURA? Se sua nota não saiu e existe a chance de você precisar fazer a prova na semana que vem, o que você faz?

a) Começa a estudar. Assim, caso precise fazer a prova, estará preparado.

b) Fica parado, esperando as notas saírem para saber se vai precisar estudar.

Como alguém pode escolher a segunda opção? Como pode? Você precisa estar preparado. Se não tiver necessidade de fazer uma prova, por acaso vai cair uma orelha por ter estudado um pouco mais? Vai perder um braço por ter ficado dois dias sem entrar no Facebook para estudar?

Existe uma multidão vivendo em modo reativo/reclamativo. Quanto menos agem, quanto menos pensam e quanto menos leem, mais dependentes dos outros essas pessoas se tornam. Está cada vez mais fácil se destacar da multidão, é só parar de reagir e começar a agir. Tome a iniciativa. Não espere pelos outros. Não tenha medo de arriscar, não tenha preguiça, não fuja do sacrifício. E – principalmente – não coloque as suas responsabilidades sobre os ombros dos outros. Não é porque a faculdade não fez a parte dela que vou deixar de fazer a minha! Se o seu marido errou com você, você vai errar com ele, também? Se o seu colega não fez a parte dele, você vai deixar tudo ir por água abaixo?

Qual é a graça de se sentir injustiçado enquanto você pode, simplesmente, fazer a sua parte, se esforçar mais e reduzir os danos? Quando lida com a situação de forma racional, tudo se torna mais leve. Você gasta menos energia, resolve tudo mais rápido e não fica perdendo tempo com bobagem. Eu sei que não é fácil assumir responsabilidades, mas 98% das vezes é a única forma de andar para frente.

 

PS: No final das contas, minhas notas foram bem bonitinhas e não precisei fazer segunda chamada de nenhuma matéria. 😀